segunda-feira, maio 26, 2025

A Mulher Hemorroíssa, Uma Exegese Espírita: Entre a Dor e a Redenção



#EstudoBíblico


Marcos 5:

 

²⁴ E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.

²⁵ E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue,

²⁶ E que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior;

²⁷ Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou no seu vestido.

²⁸ Porque dizia: Se tão somente tocar nos seus vestidos, sararei.

²⁹ E logo se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. 


²⁴ E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.


Muitos seguem Jesus. Atualmente, estima-se que haja cerca de 2,2 bilhões de cristãos no mundo, tornando o cristianismo a maior religião do planeta. Entretanto, podemos segui-lo

basicamente de duas maneiras:

  • De perto
  • De longe

Seguir Jesus de perto, significa viver de acordo com seus ensinamentos e exemplo de vida. Isso envolve amor, compaixão, perdão e obediência aos princípios cristãos.

Na prática, seguir Jesus não se resume a frequentar uma igreja, mas sim a uma jornada diária de transformação pessoal, buscando refletir o caráter de Cristo em atitudes e escolhas. Isso inclui servir ao próximo, agir com humildade e manter uma vida de oração e estudo do Evangelho.

Ser um discípulo de Cristo significa moldar a vida conforme seus ensinamentos, enfrentando desafios e resistências, mas sempre com fé e perseverança.

Seguir Jesus de longe, é o símbolo uma fé mais tímida ou hesitante, geralmente significa manter uma certa distância da fé e dos ensinamentos de Cristo. Isso pode ocorrer por diversos motivos, como falta de compromisso, distrações da vida cotidiana ou até mesmo receio de assumir publicamente a identidade cristã.

Algumas consequências desse distanciamento incluem:

  • Perda da comunhão com Deus – A pessoa pode deixar de orar, de estudar com afinco as questões espirituais, participar da vida de sua comunidade de forma positiva.
  • Mornidão espiritual – A fé se torna menos ativa, e a pessoa pode perder o entusiasmo e a dedicação aos princípios cristãos.
  • Improdutividade espiritual – A pessoa pode deixar de exercer seus dons e talentos na obra de Deus, tornando-se espiritualmente estéril.
  • Negação de Cristo – Em alguns casos, o distanciamento pode levar a atitudes que contradizem os ensinamentos de Jesus, chegando até a negar sua fé por vergonha ou medo.

A história de Pedro, que seguiu Jesus de longe durante seu julgamento, é um exemplo clássico desse conceito. No entanto, ele teve a oportunidade de se arrepender e fortalecer sua fé posteriormente.

A Mulher Hemorroíssa teria vindo de Cesareia de Filipe, conforme apontado por Amélia Rodrigues[1] e confirmado por Champlin.

Ela sofria há 12 anos com um fluxo de sangue e, por conta disso, era considerada impura na sociedade da época. Inicialmente, ela seguia Jesus de longe, talvez por medo ou por sua condição social. No entanto, sua fé a impulsionou a se aproximar e tocar a orla das vestes de Cristo, acreditando que isso bastaria para sua cura.

Esse gesto simboliza uma mudança espiritual de alguém que observa à distância para alguém que se entrega completamente à fé. Após ser curada, Jesus reconhece sua atitude e declara: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada do teu mal" (Marcos 5:34).

²⁵ E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue,

 No contexto judaico da época de Jesus, o fluxo de sangue era considerado uma condição de impureza ritual, conforme as leis descritas em Levítico 15. Mulheres que sofriam de hemorragias prolongadas eram vistas como impuras e, por isso, enfrentavam isolamento social e religioso.

Essa impureza significava que a mulher não podia participar de cerimônias religiosas nem tocar em outras pessoas, pois qualquer contato tornava os outros ritualmente impuros. Isso explica por que a mulher hemorroíssa de Marcos 5:25-34 se aproximou de Jesus com discrição, acreditando que, ao tocar sua veste, poderia ser curada sem chamar atenção.

A cura dessa mulher não foi apenas física, mas também social e espiritual, pois Jesus não apenas restaurou sua saúde, mas também a reintegrou à comunidade, reconhecendo sua fé publicamente. Esse episódio demonstra a compaixão de Cristo e sua disposição de quebrar barreiras sociais e religiosas para restaurar vidas.

O sangue é símbolo da vida, e perdê-lo significa a perda de vida em sentido espiritual e fisicamente, a diminuição da vitalidade.

Durante doze anos, essa mulher enfrentava uma perda contínua de vida, algo que pode ser compreendido não apenas no âmbito físico, mas também no espiritual. Sua situação pode simbolizar diferentes formas de enfraquecimento da existência, por motivos como:

Vícios, que escravizam e impedem a verdadeira libertação da alma.

Uso irresponsável da sexualidade, que pode resultar na perda do propósito e da integridade pessoal.

Apego excessivo às coisas materiais, que afasta a pessoa do essencial e do verdadeiro significado da vida.

O período de doze anos possui um significado simbólico mais amplo, indo além da ideia de provas e expiações. Representa um ciclo completo de amadurecimento espiritual, no qual o espírito atravessa desafios que não apenas purificam, mas também promovem aprendizado, fortalecimento da fé e preparação para uma nova fase evolutiva. Essa jornada não é apenas uma etapa de sofrimento, mas um tempo necessário para consolidar virtudes, aprofundar a compreensão da própria existência e alcançar a verdadeira cura, não apenas física, mas principalmente moral e espiritual.

 ²⁶ E que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior;

Este versículo mostra-nos um reflexo do sofrimento diante das limitações da medicina humana e da busca incessante pela cura. A mulher hemorroíssa, ao gastar todos os seus recursos com médicos sem obter melhora, representa aqueles que enfrentam provações e desafios que não podem ser resolvidos apenas por meios materiais.

O Espiritismo enfatiza que as doenças podem ter origens físicas, emocionais e espirituais, muitas vezes ligadas a processos de expiação e aprendizado. A mulher, ao esgotar todas as possibilidades médicas, encontra em Jesus a verdadeira cura, que não se limita ao corpo, mas também à alma. Sua fé e determinação demonstram que a cura espiritual ocorre quando há entrega e confiança na ação divina.

Além disso, essa passagem pode simbolizar a necessidade de buscar a renovação interior, pois muitas vezes o sofrimento persiste até que a pessoa compreenda sua causa mais profunda e se abra para a transformação espiritual.

Ela padeceu intensamente e procurou ajuda em muitos médicos, isto mostra-nos um aspecto positivo: Ela buscava solução, mesmo que inicialmente nos lugares errados. Quando buscamos no caminho errado, a solução não surge. Seu sofrimento foi imensurável, mas nele sua fé foi sendo forjada, preparada pela dor para algo maior.

Em matéria de evolução do Espírito este sofrimento de doze anos pode significar várias reencarnações ou o tempo necessário para o ajuste aos desígnios de Deus.

 ²⁷ Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou no seu vestido.

Ouvindo falar de Jesus – No hebraico e no aramaico, o verbo "ouvir" carrega um significado que vai além da simples captação de sons. No hebraico bíblico, a palavra "Shema" (שְׁמַע) não apenas indica a audição, mas também envolve atenção, obediência e internalização daquilo que é escutado. Esse conceito é fundamental na tradição judaica, como no Shema Israel ("Ouve, ó Israel"), que não apenas convida o povo a ouvir, mas a viver e agir de acordo com o ensinamento recebido.

No aramaico, a ideia de ouvir também se relaciona à escuta ativa, capaz de gerar uma verdadeira transformação interior. Esse entendimento se conecta ao conceito grego κούω (akouō), usado nos Evangelhos para expressar a escuta que transcende o som e implica compreensão e resposta consciente. No Novo Testamento, akouō frequentemente significa não apenas ouvir, mas assimilar e reagir ao chamado divino, como fez a mulher hemorroíssa ao saber de Jesus e decidir tocá-lo, demonstrando sua fé ativa.

Essa visão reforça que ouvir espiritualmente não é um ato passivo, mas um movimento interno que leva à mudança, à busca pela verdade e à transformação da alma.

No contexto do Evangelho, quando a mulher hemorroíssa "ouve falar de Jesus", isso não significa apenas que ela recebeu uma informação, mas que ela compreendeu, acreditou e agiu com base no que ouviu. Esse tipo de "escuta" é essencial na espiritualidade, pois ouvir a mensagem de Cristo implica fé e mudança de vida.

E neste contexto que Paulo diz:  "A fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus" (Romanos 10:17).

Ela ouviu falar de Jesus e compreendeu que estava perdendo vida. Jesus, o "Verbo que se fez carne" (João 1:14), veio para que tivéssemos vida em abundância (João 10:10).

... veio por detrás, entre a multidão - A expressão "veio por detrás, entre a multidão" pode ser interpretada espiritualmente como um gesto de humildade e busca sincera pela transformação. No contexto espírita, essa passagem se relaciona com a questão 625 de O Livro dos Espíritos, onde os Espíritos afirmam que Jesus é o guia e modelo mais perfeito para a humanidade.

Ao se aproximar de Jesus por trás, a mulher hemorroíssa demonstra respeito e discrição, reconhecendo sua própria fragilidade e colocando Cristo à sua frente como referência. Esse ato pode simbolizar a jornada de muitos espíritos que, ao longo de suas encarnações, buscam a luz e a renovação espiritual, abandonando padrões antigos e se entregando à orientação divina.

Além disso, a multidão pode representar os desafios, obstáculos e imperfeições que muitas vezes dificultam a aproximação da verdade espiritual. No entanto, a mulher persevera, demonstrando fé ativa, que é essencial para a verdadeira cura e evolução.

...e tocou no seu vestido. - Ela tocou na orla de sua veste (Lucas 8:44)

A mulher hemorroíssa tocou na orla da veste de Jesus, e esse gesto simboliza fé além do dogma. Ela sabia que o poder não estava no tecido, mas na presença viva de Cristo. Esse episódio ecoa a experiência de Pedro, cuja sombra curava (Atos 5:15), mostrando que a espiritualidade transcende elementos físicos quando há fé verdadeira.

Apesar das proibições impostas pela legislação levítica sobre o contato com impuros, sua fé rompeu essa barreira:

  • Impureza Ritual: Segundo Levítico 15:25-27, a hemorragia tornava a mulher ritualmente impura, impedindo-a de participar da vida religiosa e social. Qualquer toque transmitia essa impureza a outros, aumentando seu isolamento.
  • Marginalização Social: A exclusão não era apenas espiritual, mas também humana e emocional. Vivendo à margem, sem apoio ou dignidade, sua condição representava um profundo sofrimento.

Porém, Jesus rompeu paradigmas. Ao curá-la, Ele demonstrou que aderir a Ele nos eleva acima de qualquer restrição humana, revelando que a verdadeira pureza vem do coração transformado.

Apoiado nessa verdade, encontramos nas Escrituras ensinamentos que reforçam essa ideia:

  • "O amor cobre a multidão de pecados." (1 Pedro 4:8)
  • "A fé opera pelo amor." (Gálatas 5:6)
  • "Contra essas coisas não há lei." (Gálatas 5:23)

Em Mateus 5:20, Jesus ensina:
"Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus."

Note a expressão "de modo nenhum"; seguir regras sem avançar para a verdadeira justiça espiritual não é suficiente. A mulher hemorroíssa avançou além das limitações da Lei, por isso foi curada e salva. Sua fé, impulsionada pelo amor, foi maior do que qualquer dogma.

Como ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo, "Fora da caridade não há salvação" (Cap. XV). Não basta observar normas; é preciso vivê-las com entrega e transformação interior.

 ²⁸Porque dizia: Se tão somente tocar nos seus vestidos, sararei.

 Da Teoria à Ação

·         "Ouvindo" (versículo 27) – Representa o plano conceitual, a compreensão de quem é Jesus.

  • "Porque dizia" (versículo 28) – Reflete o plano operacional, a fé em ação.

A mulher hemorroíssa não apenas ouviu falar de Cristo, mas internalizou a verdade de que Ele tinha o poder de curá-la. Sua crença foi ativa e não meramente teórica: ela transformou a fé em gesto concreto ao tocar na veste do Mestre.

Lembranças de nossos primeiros preceptores

1.      A Fé como Caminho de Libertação
Honório abreu enfatizava que a fé é um processo de libertação espiritual. A mulher hemorroíssa, ao buscar Jesus, transcendeu as barreiras impostas pela sociedade e sua própria condição física. Sua fé foi o instrumento que a conectou ao poder divino, mostrando que a verdadeira cura começa na alma antes de se manifestar no corpo.

  1. O Sofrimento como Ferramenta de Evolução
    Tanto Honório quanto José Damasceno Sobral destacam o sofrimento como meio de aprendizado e evolução espiritual. Os 12 anos de hemorragia podem ser compreendidos como um período de expiação e preparação para um encontro transformador com Jesus. Esse sofrimento forjou nela uma fé madura, resiliente e determinada.
  2. A Inclusão no Reino de Deus
    Sobral ressalta que Jesus sempre acolheu os marginalizados, como a mulher hemorroíssa. Ao chamá-la de "filha", Ele não apenas curou sua enfermidade, mas restaurou sua dignidade e posição na comunidade. Esse gesto reflete o princípio fundamental do Reino de Deus: amor e compaixão acima das convenções humanas.
  3. Ação e Fé
    Honório enfatiza que a fé verdadeira exige ação. A mulher não apenas acreditou, mas tomou a iniciativa de tocar na veste de Jesus, enfrentando normas sociais e religiosas. Esse gesto simboliza a coragem de buscar transformação, independentemente dos obstáculos impostos pelas circunstâncias.

Essa passagem nos convida a agir com fé, não apenas acreditar passivamente. A verdadeira conexão com o divino ocorre quando nossa crença se traduz em movimento, rompendo barreiras e alcançando a verdadeira cura espiritual.

 ²⁹ E logo se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. 

 No contexto de uma moral espírita, Marcos 5:29 pode ser interpretado como um momento de cura integral, que vai além da dimensão física. A mulher hemorroíssa não apenas teve sua enfermidade cessada, mas também experimentou uma transformação espiritual profunda.

Segundo a visão espírita, a doença pode estar ligada a processos de expiação e aprendizado, sendo um reflexo de desafios morais e espirituais que o espírito carrega ao longo de suas encarnações. Os 12 anos de sofrimento podem simbolizar um período necessário para o amadurecimento da fé e da consciência.

Ao tocar na veste de Jesus, sua fé ativa permitiu que a cura ocorresse de maneira imediata, demonstrando que a verdadeira libertação acontece quando há entrega e confiança na ação divina. Esse episódio reforça a ideia de que a cura espiritual precede a cura física, pois a transformação interior é o que realmente restaura o equilíbrio do ser.

Além disso, a sensação de estar curada no próprio corpo representa a reconexão com a vida, a retomada da dignidade e a reintegração ao convívio social, algo que Jesus sempre promoveu ao acolher os marginalizados.

A expressão "tua fé te salvou" (Marcos, 5: 34) usada por Jesus reforça que a mulher hemorroíssa não apenas recebeu a cura física, mas experimentou uma libertação completa, incluindo os aspectos morais, espirituais e cármicos de sua jornada.

No contexto espírita, a salvação significa mais do que livrar-se de um sofrimento passageiro. Representa a quebra dos processos provacionais e expiatórios, indicando que aquela alma, ao atingir um novo nível de compreensão e fé ativa, transcendeu suas dificuldades e se colocou em harmonia com as leis divinas.

Seu sofrimento de 12 anos pode simbolizar um ciclo de aprendizado necessário para que sua transformação ocorresse. E quando sua fé se manifestou não apenas como crença, mas como ação, tocando a veste de Jesus, ela encontrou sua verdadeira cura e libertação.

Cristo reconheceu essa evolução espiritual e a incluiu no Reino de Deus ao chamá-la de "filha", restaurando sua dignidade e mostrando que a entrega sincera à fé e ao amor supera qualquer limitação humana.

Continua... acesse o link ao lado: Espiritismo e Evangelho: A Mulher Hemorroíssa - Final


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[1] As primícias do reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Sabedoria.



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