A imortalidade da alma é uma realidade incontestável. O homem, inclusive o materialista, tem e sempre teve dela, a intuição.
É que tendo sido ele criado por Deus, ou tendo Dele saído, já contém em si mesmo o germe da vida futura. Podemos, então, afirmar com segurança que o Espírito não é eterno, porque teve início, mas é imortal, porque nunca terá fim.
A morte no sentido de acabar, não existe em nenhum lugar do Universo. É que Deus, o Criador de tudo o que existe, não poderia criar nada que um dia acabasse. A morte, portanto, deve ser sempre entendida como uma passagem, como fim de um ciclo e início de outro.
Por que então tem o homem tanto medo da morte?
Podemos analisar o medo da morte sob dois aspectos: um positivo, o outro negativo.
O primeiro é um efeito da sabedoria da Providência. Ele se manifesta como uma conseqüência da lei de conservação. Deus deu a todos os seres vivos a necessidade de viver como forma de evolução, e desta maneira, busca o Ser sempre preservar a vida. Se não houvesse esse instinto, o Espírito deixaria entregar-se à morte sem ter terminado de cumprir a fase que se faz necessária no momento.
Quanto ao segundo, temos a determiná-lo várias causas, as quais podemos destacar a má formação religiosa, o apego aos bens materiais, a culpa de consciência, etc.
Dizemos medo negativo, por ser ele muitas vezes desencadeador de processos obsessivos e outras vezes gerador de temor à própria vida, entre outras formas de manifestação.
É dever da religião informar aos seus adeptos a respeito da vida espiritual. Quando esta informação não se faz, a religião não cumpre um de seus mais importantes objetivos. Como na maioria da vezes fomos formados por uma religião que nunca nos esclareceu de uma forma lógica a respeito da vida futura, e muito pelo contrário procurou sempre nos amedrontar, temos gravado em nosso psiquismo o medo da morte.
Esta falta de lógica e a perseverança em doutrinas complicadas, desprovidas de bom senso e sem fundamentação científica, promoveram um homem céptico, materialista, que valoriza em excesso os bens imediatos, por não crer em nada além de sua acanhada visão. Essa forma de pensar também leva o indivíduo a ter medo do momento da transição, porque não crendo ele em nada, logo pensa, o que será a partir de então? Por isso, afirmamos ser a má formação religiosa uma das grandes culpadas do medo da morte.
Outra causa a destacar é a culpa e os sofrimentos já passados anteriormente pelo Espírito.
Sabemos que antes de encarnarmos, fazemos um programa regenerativo com base em nossas maiores necessidades, todavia, ao reencarnarmos, esquecemos grande parte destes compromissos e reincidimos nos antigos erros. Conscientemente, disso nada sabemos, mas o nosso Espírito guarda todas essas informações em seu íntimo, e esse contrariar nossa consciência é fator determinante do temor da morte, que ainda é agravado pelo fato de isso já ter acontecido muitas vezes em nosso processo reencarnatório e ter gerado muito sofrimento pós-morte, nos deixando uma reminiscência nada agradável.
A Doutrina Espírita transforma por completo esta situação. A vida futura deixa de ser hipótese para ser realidade. E a sua moral por ser a mesma ensinada pelo Cristo, tira do ser a culpa, mostrando a ele a necessidade de transformar-se pela prática das lições evangélicas, tirando, assim, o homem do círculo vicioso do erro.
Pela importância deste tema, e para que todo espírita possa encarar a grande transição com tranqüilidade e segurança, estudaremos no próximo tópico o processo desencarnatório.
O desencarne sempre traz, com raríssimas exceções, alguma perturbação para o Espírito envolvido neste processo.
Os que pautaram sua conduta pelos princípios de renovação espiritual em bases evangélicas sofrem menos esta perturbação. Já os que viveram uma vida materialista baseado no imediatismo mundano, mais forte é o desequilíbrio, visto que as impressões da vida corporal transferem-se para o plano da consciência desencarnada.
O fato a que denominamos morte, só se dá quando do rompimento do cordão fluídico que une a alma ao corpo, mas essa separação não acontece de uma forma brusca.
“O fluido perispiritual só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta quando não mais reste um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo.”[2]
Quando estudava o processo desencarnatório de Dimas no livro “Obreiros da Vida Eterna”, André Luiz, em determinado ponto, faz a seguinte consideração:
“Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém a operação era ainda incompleta. E continua: O assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente preparado para o desenlace mais rápido.”[3]
Aprendemos, desta forma, que o desencarne não termina no instante em que o ser é dado como morto pela ciência médica, mas que ele só se completa algumas horas depois com o desligamento do cordão fluídico.
Podemos afirmar que não existem dois processos de desencarne rigorosamente iguais, visto que não existem dois Espíritos em total identidade. A sensação de maior ou menor sofrimento enfrentada pelo Espírito, está na razão direta da soma de pontos de contato existentes entre o corpo e o perispírito, nos afirma Kardec, e esta é a mesma razão da maior ou menor dificuldade que apresenta o rompimento do cordão de prata.
Assim, temos que o sofrimento gerado pela “morte” é tanto maior quanto maior for a aderência corpo-perispírito, que é sempre determinada pela maior ou menor importância dada pelo homem, enquanto encarnado, às questões materiais. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria.
Isto vem confirmar que o sofrimento das almas moralizadas, é quase nulo, porque nulo é o seu apego às questões materiais. Posto isto, afirmamos que só depende de nós mesmos o nosso sofrer ou não sofrer no instante da grande transição.
Outra questão a considerar, é o tipo de desencarne que sofre o Espírito.
Quando trata-se de morte natural, gerada pela cessação das forças vitais por velhice ou doença, o processo é menos agressivo, e o Espírito penetra a vida espiritual de forma mais tranqüila, se mais espiritualizada foi a sua vida, conforme já dissemos. Mas mesmo no homem mais materializado, apesar das dificuldades geradas pelo apego, a morte mais lenta, mais natural é menos sofrida.
Na morte violenta, as sensações se diferem ao extremo. O Espírito, diante do inesperado, fica como que perturbado, e não entendendo o que se passa, acha que está ainda no mundo dos encarnados, e muitas vezes julga que o seu corpo fluídico é o mesmo corpo material, tendo as mesmas sensações.
É claro que aqui também difere em infinitas modalidades o que sente o Espírito, devido aos seus conhecimentos a respeito da vida espiritual e os progressos feitos em sua existência material. Para quem vivenciou mais na vida os valores do Espírito, a perturbação passa mais rapidamente, aos outros é mais lenta, podendo durar dias, meses, anos ou até séculos.
No caso do suicida então, mais penosa ainda é a transição. Os Espíritos chegam a afirmar que o sofrimento excede a qualquer expectativa. Como se já não bastasse a grave transgressão às Leis Divinas, o corpo está totalmente ligado ao perispírito, e a quantidade de fluido vital é ainda grande. Isto muitas vezes faz com que o Espírito assista, totalmente consciente, todo o processo desencarnatório, sentindo a decomposição de seu organismo molécula a molécula, e a maior surpresa que o espera é a grande decepção de ainda estar vivo.
Resumindo, temos então que o sofrimento do Espírito, na ocasião do desencarne, é sempre maior quanto mais lento for o desprendimento do perispírito. E essa lentidão é sempre maior quanto menor for a evolução moral do indivíduo.
Até então, analisamos o processo desencarnatório, vendo só a influência do Espírito do próprio desencarnante, mas a influência de familiares e amigos também é fator determinante no processo de desligamento do Espírito.
André Luiz, em livro psicografado por Chico Xavier, estuda a desencarnação de Fernando, e em determinado momento, nota que o estado aflitivo dos familiares prejudicam o ato desencarnatório. Veja como é narrado o fato:
“A aflição dos familiares encarnados, aqui presentes (dizia Aniceto), poderá dificultar-nos a ação. Observem como todos eles emitem recursos magnéticos em benefício do moribundo.
De fato, uma rede de fios cinzentos e fracamente iluminados parecia ligar os parentes ao enfermo quase morto.
-Tais socorros – tornou Aniceto – são agora inúteis para devolver-lhe o equilíbrio orgânico. Precisamos neutralizar essas forças, emitidas pela inquietação, proporcionando, antes de tudo, a possível serenidade à família.
E, aproximando-se ainda mais do agonizante, tomou a atitude do magnetizador, exclamando:
- Modifiquemos o quadro do coma.
Após alguns minutos em que nosso mentor operava, secundado pelo nosso respeitoso silêncio, ouvimos o médico encarnado anunciar aos parentes do moribundo:
- Melhoram os prognósticos. A pulsação, inexplicavelmente, está quase normal. A respiração tende a acalmar-se.
Três senhoras suspiraram aliviadas. (…)
As senhoras e mais dois cavalheiros, que se prontificavam a retirar agradeceram satisfeitos e comovidos. Permaneceram no aposento somente o médico e um irmão do agonizante. A melhora súbita tranqüilizara a todos. E, aos poucos, os fios cinzentos que se ligavam ao enfermo desapareceram sem deixar vestígios. (…)
Aproveitou Aniceto a serenidade ambiente e começou retirar o corpo espiritual de Fernando, desligando-o dos despojos, reparando eu que iniciara a operação pelos calcanhares, terminando na cabeça, à qual, por fim, parecia estar preso o moribundo por extenso cordão, tal como se dá com os nascituros terrenos. Aniceto cortou-o com esforço. O corpo de Fernando deu um estremeção, chamando o médico humano ao novo quadro. A operação não fora curta e fácil. Demora-se longos minutos, durante os quais vi o nosso instrutor empregar todo o cabedal de sua atenção e talvez de suas energias magnéticas.” [4]
Como já dissemos, não existe processo desencarnatório igual. A nossa intenção com este estudo é dar uma idéia geral do assunto. Aconselhamos aos interessados em aprofundar os conhecimentos sobre este tema o livro O Céu o e Inferno de Allan Kardec, e Obreiros da Vida Eterna do Espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Os Espíritos têm afirmado a todo instante que a maior dificuldade encontrada pelo desencarnante no outro plano da vida, e a maior dificuldade encontrada pelos guias encarregados de auxiliar neste processo, é a falta de preparo do recém liberto.
E é fácil de entender o porquê. Imagine se qualquer um de nós fôssemos travar conversação com um elemento que desconhecesse o nosso idioma, e nós desconhecêssemos o dele. Já pensaram que dificuldade? E olha que, quanto ao desencarne, a situação é bem mais complexa.
Voltando às comparações, notamos que é comum a qualquer um de nós, quando da realização de uma viagem a um país estranho, realizarmos determinada programação. Que língua é falada neste país? Como vou fazer para me comunicar com seus habitantes? Qual a temperatura que está por lá? Será que a minha vestimenta está adequada? Qual a moeda que tem valor nesta região? Como realizar o câmbio?
Estas e outras questões são levantadas por nós, antes de empreendermos viagem.
E quanto ao desencarne, viagem que todos nós sabemos que mais cedo ou mais tarde vamos realizar, temos nos preparado adequadamente? Como fazer?
O Espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas, traz valiosas anotações a respeito deste tema. Por isto, achamos melhor transcrever sua narrativa.
Segundo ele, devemos modificar em primeiro lugar, nossos antigos maus hábitos.
“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.
Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.
Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.
Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, agüente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia.
E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos aqui muita gente boa carregando consigo inferno rotulado de “amor”.
Se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.
Em família, observe cautela com os testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios.
Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consangüíneos. Ame a sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registrarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando-lhe a volta inoportuna.
Se você já possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.
Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.
Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.
O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas.
Ajude-se através do leal cumprimento de seus deveres.
Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer.”[5]
A questão das penas futuras, sempre foi motivo de muitas dissensões entre os religiosos e aqueles que não possuem fé alguma. E se analisarmos com tranquilidade, em muitas vezes, temos de dar razão aos não religiosos, devido à falta de lógica da teoria professada pelos ditos cristãos.
Também sobre este assunto, a Codificação Espírita trouxe muito esclarecimento. Transcrevemos abaixo, parte do texto escrito por Kardec em sua importante obra O Céu e o Inferno.
“A doutrina Espírita, no que respeita às penas futuras, não se baseia numa teoria preconcebida; não é um sistema substituindo outro sistema (…). Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do corpo, completando, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto (…).
O Espiritismo não vem, pois, com sua autoridade privada, formular um código de fantasia; a sua lei no que respeita ao futuro da alma, deduzida das observações do fato, pode resumir-se nos seguintes pontos:
1. A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.
2. A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda a perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos.
3. Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis conseqüências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de gozo (…).
4. Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre, sem a necessidade de lugar circunscrito. O inferno está em toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes.
5. Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha conseqüências fatais, como não há uma única ação meritória, um só bom movimento da alma que se perca (…).
6. Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez (…).
7. Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: - a única lei geral é que toda falta terá punição e terá recompensa todo ato meritório, segundo seu valor.
8. A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita (…).
9. Dependendo da melhoria do Espírito a duração do castigo, o culpado que jamais melhorasse sofreria sempre, e, para ele, a pena seria eterna (…).
10. O arrependimento conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação, e reparação, constituem as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências (…). A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos.
11. Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, cuja harmonia perturbariam (…).
12. Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos (…).
13. Quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo de guarda (…). A influência do anjo de guarda, contudo, faz-se quase sempre ocultamente e de modo a não haver pressão, pois que o Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição (…).
14. Conquanto infinita a diversidade de punições, algumas há inerentes à inferioridade dos Espíritos (…). A punição mais imediata, sobretudo entre os que se acham ligados à vida material em detrimento do progresso espiritual, faz-se sentir pela lentidão do desprendimento da alma; nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na conseqüente perturbação que pode dilatar-se por meses e anos (…).
15. Um fenômeno mui freqüente entre os Espíritos de certa inferioridade moral, é o acreditarem-se ainda vivos (…).
16. Para o criminoso, a presença incessante das vítimas e das conseqüências do crime é um suplício cruel.
17. Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda (…). Alguns são privados de ver os seres queridos e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram (…).
18. O hipócrita vê desvendados, penetrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos (…). O egoísta, desamparado de todos, sofre as conseqüências da sua atitude terrena; nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte.
19. O único meio de evitar ou atenuar as conseqüências futuras de uma falta, está no repará-la desfazendo-a no presente (…).
20. A situação do Espírito, no mundo espiritual, não é outra senão a por si mesmo preparada na vida corpórea (…).
21. Certo, a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado que ela atinge não fica exonerado, e enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre a conseqüência dos seus erros (…).
22. Às penas que o Espírito experimenta na vida espiritual ajuntam-se as da vida corpórea, que são conseqüentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de presentes e passadas faltas. É na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências (…).
23. Todos somos livres no trabalho do próprio progresso, e o que muito, e depressa trabalha, mais cedo recebe a recompensa (…). O bem e o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para outro.
24. Em que pese a diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios:
1. O sofrimento é inerente à imperfeição.
2. Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.
3. Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.”[6]
Leia também: A Imortalidade da Alma na visão das religiões
[3] XAVIER, Francisco C. /André Luiz (Espírito). Obreiros da Vida Eterna, Rio de Janeiro, FEB, 1971, cap. XIII
[4] XAVIER, Francisco C. /André Luiz (Espírito), Os Mensageiros, 12ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980, cap. 50
[5] XAVIER; Francisco C. /Irmão X (Espírito), Cartas e Crônicas, 8ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. 4