sexta-feira, julho 04, 2025

Mediunidade e Evangelho - Final




 
O Inicio desta publicação pode ser lida em: Espiritismo e Evangelho: Mediunidade e Evangelho

O Apocalipse e a Mediunidade
O Apocalipse pode ser considerado um capítulo à parte quando analisamos a relação entre mediunidade e evangelho. Ele é um livro profundamente simbólico e profético, que, à luz da Doutrina Espírita, pode ser interpretado como um grande relato mediúnico.
O Apocalipse de João é repleto de visões, revelações e comunicações espirituais. Segundo a perspectiva espírita, João Evangelista teria recebido essas mensagens por meio de sua mediunidade, sendo um médium clarividente e inspirado.
João como médium – No início do Apocalipse, João relata que estava em espírito quando recebeu as revelações (Apocalipse 1:10). Esse estado é semelhante ao transe mediúnico descrito na literatura espírita.
Comunicação com espíritos elevados – Ao longo do livro, João recebe instruções de seres espirituais, como anjos e o próprio Espírito de Jesus. No Espiritismo, essa comunicação ocorre quando há sintonia vibratória entre o médium e os espíritos superiores.
Profecias e simbolismo – O Apocalipse traz imagens e metáforas que podem ser interpretadas como mensagens espirituais codificadas. No Espiritismo, os espíritos comunicam-se muitas vezes por meio de símbolos para transmitir ensinamentos profundos.
O Apocalipse como Continuação do Evangelho
Embora seja um livro distinto, o Apocalipse pode ser visto como uma continuação espiritual dos evangelhos, pois reforça a ideia da transformação moral da humanidade e da necessidade de evolução espiritual.
Pentecostes e a Mediunidade
Outro evento significativo na relação entre mediunidade e Evangelho é o Pentecostes, descrito nos Atos dos Apóstolos. Esse episódio marca a descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus, permitindo-lhes falar em diferentes línguas e transmitir ensinamentos espirituais com clareza e autoridade.
À luz da Doutrina Espírita, o Pentecostes pode ser interpretado como um fenômeno mediúnico coletivo, no qual os apóstolos, em estado de elevação espiritual, receberam inspiração e orientação dos espíritos superiores. Esse evento demonstra que a mediunidade, quando utilizada para fins elevados, pode ser um instrumento poderoso para a propagação da verdade e do amor.
Assim como no Apocalipse, o Pentecostes reforça a ideia de que a comunicação espiritual é uma realidade e que os espíritos superiores atuam constantemente para guiar a humanidade em sua jornada evolutiva.
Pentecostes e a Profecia de Joel
No livro de Joel 2:28-29, há uma promessa divina:
"E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, e os vossos jovens terão visões."
Essa profecia se concretiza no Pentecostes, descrito em Atos dos Apóstolos, quando os discípulos de Jesus recebem o Espírito Santo e começam a falar em diversas línguas, transmitindo ensinamentos espirituais com clareza e autoridade. Esse evento pode ser interpretado como um fenômeno mediúnico coletivo, onde os apóstolos, em estado de elevação espiritual, recebem inspiração e orientação dos espíritos superiores.
O Advento do Espírito de Verdade e o Espiritismo
No século XIX, com o surgimento do Espiritismo, temos um novo momento de derramação espiritual, agora sob a orientação do Espírito de Verdade, mencionado por Jesus em João 14:16-17 como o Consolador prometido. Esse espírito, junto a uma falange de espíritos superiores, trouxe ensinamentos por meio da mediunidade, permitindo que Allan Kardec codificasse a Doutrina Espírita.
Assim como no Pentecostes, onde os discípulos receberam inspiração para divulgar o evangelho, no advento do Espiritismo houve uma nova revelação espiritual, esclarecendo temas como a vida após a morte, a reencarnação e a comunicação entre os planos.
A Conexão Entre Esses Eventos
Joel profetiza um derramamento espiritual, que se concretiza no Pentecostes e, posteriormente, no Espiritismo.
Pentecostes marca a expansão do evangelho, com os discípulos recebendo inspiração para ensinar.
O Espírito de Verdade inaugura uma nova era de conhecimento espiritual, trazendo esclarecimentos sobre a vida e a evolução da alma.
Podemos dizer que o Espiritismo representa uma continuação do Pentecostes, pois amplia o entendimento sobre a comunicação espiritual e a missão dos espíritos superiores na orientação da humanidade.
Podemos interpretar a profecia da vinda do Espírito Santo ou Espírito de Verdade como um processo contínuo, que se inicia no Pentecostes e se estende até o advento do Espiritismo, ampliando sua autoridade e alcance.
No Pentecostes, os apóstolos foram inspirados e fortalecidos espiritualmente para divulgar o evangelho, marcando o início de uma nova era de revelações. No século XIX, a chegada do Espírito de Verdade, conforme anunciado por Jesus em João 14:16-17, trouxe uma nova forma de comunicação com o plano espiritual, permitindo que os ensinamentos cristãos fossem compreendidos com mais profundidade à luz da reencarnação, da evolução espiritual e da mediunidade.
Assim, essa revelação contínua tem como objetivo preparar nossos corações para a verdadeira vivência do evangelho, estimulando o despertar da consciência e a transformação moral. Jesus não volta fisicamente, mas sim espiritualmente, em cada ser que se conecta com seus ensinamentos e busca sua reforma íntima.
Essa visão amplia a compreensão da profecia, mostrando que a presença do Cristo Interno se fortalece na medida em que absorvemos os princípios do amor e da verdade.
O papel dos bons espíritos – O evangelho nos orienta a buscar sempre a sintonia com espíritos elevados, evitando influências inferiores que podem desviar o médium de sua missão.
O papel dos bons espíritos na mediunidade é fundamental para garantir que as comunicações espirituais sejam instrutivas, elevadas e moralmente edificantes.
A Influência dos Bons Espíritos
Os bons espíritos atuam como mentores e guias espirituais, auxiliando os médiuns e os encarnados na busca pelo progresso moral. Segundo Allan Kardec, eles se comunicam para esclarecer, consolar e orientar, sempre respeitando o livre-arbítrio dos indivíduos.
Como Identificar a Influência dos Bons Espíritos
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ensina que os bons espíritos possuem características claras:
  • Mensagens elevadas e coerentes – Suas comunicações são sempre voltadas para o bem, trazendo ensinamentos que promovem a evolução espiritual.
  • Ausência de interesses materiais – Eles não incentivam práticas egoístas, vaidade ou busca por vantagens pessoais.
  • Serenidade e paz – A presença dos bons espíritos transmite tranquilidade e harmonia, nunca causando medo ou perturbação.
A Sintonia com os Bons Espíritos
Para manter a sintonia com os espíritos superiores, o médium deve:
  • Praticar o bem – A caridade e o amor ao próximo fortalecem a conexão com espíritos elevados.
  • Evitar sentimentos negativos – Orgulho, egoísmo e vaidade podem atrair espíritos inferiores.
  • Estudar e se aprimorar – O conhecimento espírita ajuda a discernir entre comunicações legítimas e mistificações.
  • Orar e manter bons pensamentos – A prece é um poderoso instrumento de elevação espiritual.
O Perigo das Influências Inferiores
Assim como existem bons espíritos, há aqueles que ainda permanecem em estágios inferiores de evolução. Esses espíritos, por ainda carregarem sentimentos de orgulho, egoísmo ou apego às questões materiais, podem tentar influenciar médiuns e encarnados com mensagens enganosas, manipuladoras ou perturbadoras.
Como Ocorre a Influência dos Espíritos Inferiores?
A influência dos espíritos inferiores pode se manifestar de diversas formas:
Sugestões mentais – Espíritos menos evoluídos podem induzir pensamentos negativos, desmotivação ou sentimentos\ de revolta.
Obsessão espiritual – Quando há sintonia entre o espírito obsessor e o encarnado, pode ocorrer um processo obsessivo, no qual o espírito influencia de maneira constante e prejudicial.
Mistificação mediúnica – Espíritos inferiores podem se passar por entidades elevadas, transmitindo mensagens falsas ou distorcidas para enganar médiuns e grupos espíritas.
Como Evitar Essas Influências?
Para se proteger das influências inferiores, é essencial:
Manter bons pensamentos e sentimentos – Espíritos inferiores se aproximam por afinidade vibratória. Cultivar o bem, a humildade e a caridade afastam essas presenças.
Estudar e aprimorar-se – O conhecimento espírita permite discernir entre comunicações legítimas e mistificações.
Orar e fortalecer a fé – A prece é um poderoso instrumento de proteção espiritual, criando uma barreira contra influências negativas.
Participar de reuniões mediúnicas sérias – O ambiente mediúnico deve ser pautado pela disciplina e pelo compromisso com o bem.
A Responsabilidade do Médium
O médium tem um papel fundamental na filtragem das comunicações espirituais. A vigilância constante e o compromisso com a verdade são essenciais para garantir que sua mediunidade seja utilizada para fins elevados e não seja manipulada por espíritos inferiores.
Educação mediúnica – A mediunidade exige estudo e aprimoramento constante. O evangelho reforça a importância do autoconhecimento e da reforma íntima para que o médium seja um canal puro para as mensagens espirituais.
A educação mediúnica é essencial para que a mediunidade seja exercida de forma equilibrada, ética e produtiva. No Espiritismo, entende-se que a mediunidade não é um dom sobrenatural, mas uma faculdade natural do ser humano, que precisa ser desenvolvida com responsabilidade e conhecimento.
A Importância do Estudo e do Aprimoramento
O Evangelho Segundo o Espiritismo enfatiza que a mediunidade deve ser acompanhada de autoconhecimento e reforma íntima, pois o médium é um instrumento para a comunicação espiritual. Quanto mais elevado moralmente for o médium, mais afinado estará com os bons espíritos.
Aspectos Fundamentais da Educação Mediúnica
  • Estudo Doutrinário – O conhecimento das obras de Allan Kardec, como O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, é fundamental para compreender os mecanismos da mediunidade e evitar mistificações.
  • Disciplina e Equilíbrio – A mediunidade exige disciplina emocional e mental, pois o médium precisa manter sua sintonia elevada para receber comunicações legítimas.
  • Prática com Responsabilidade – O exercício mediúnico deve ser realizado em ambientes adequados, como centros espíritas, onde há orientação e suporte para o médium.
  • Reforma Íntima – O médium deve buscar constantemente sua melhoria moral, pois suas vibrações influenciam a qualidade das comunicações espirituais
Mediunidade Curadora
Existe uma forma de mediunidade voltada para a cura espiritual, que exige ainda mais disciplina e comprometimento.
A mediunidade curadora é uma das formas mais elevadas de mediunidade, pois envolve a transmissão de fluidos espirituais para promover o equilíbrio e a recuperação física, emocional e espiritual dos necessitados. Segundo Allan Kardec, essa faculdade exige disciplina, comprometimento moral e sintonia com espíritos elevados, pois a energia transmitida depende da pureza do médium e da assistência dos bons espíritos.
Como Funciona a Mediunidade Curadora?
A mediunidade curadora pode ocorrer de diferentes formas:
  • Imposição de mãos – O médium canaliza fluidos espirituais para o paciente, promovendo alívio e reequilíbrio energético.
  • Passes espirituais – Técnica utilizada em centros espíritas, onde médiuns aplicam passes para harmonizar o campo energético da pessoa.
  • Magnetismo espiritual – O médium age como intermediário entre os espíritos curadores e o paciente, facilitando a transmissão de energias benéficas.
A Influência dos Espíritos na Cura
Os espíritos superiores atuam diretamente na mediunidade curadora, auxiliando na transmissão dos fluidos e na restauração da saúde. No entanto, a eficácia da cura depende da fé, merecimento e receptividade do paciente.
Exemplos na História Espírita
Jesus Cristo – Suas curas espirituais representam o ápice da mediunidade curadora, como no caso da mulher que, ao tocar suas vestes, foi curada pela força de sua fé (Marcos 5:25-34).
Chico Xavier – Por meio da psicografia e da aplicação de passes, auxiliou inúmeras pessoas a encontrar alívio para dores físicas e espirituais, tornando-se um dos maiores expoentes da mediunidade no Brasil.
Bezerra de Menezes – Reconhecido como o "Médico dos Pobres", utilizava sua mediunidade aliada ao conhecimento médico para oferecer assistência àqueles que necessitavam de cura física e espiritual, sempre pautado pela caridade e pelo amor ao próximo.
José Arigó – Tornou-se famoso por sua mediunidade curadora e pela suposta influência do espírito do médico Dr. Fritz, realizando cirurgias espirituais sem anestesia e ajudando inúmeras pessoas. Seu trabalho gerou ampla repercussão e estimulou debates sobre os fenômenos da mediunidade curativa.
Eurípedes Barsanulfo – Destacou-se como um dos maiores médiuns curadores do Brasil, aplicando passes magnéticos e realizando tratamentos espirituais voltados ao alívio de enfermidades e ao equilíbrio energético dos necessitados.
  • A Responsabilidade do Médium Curador
Por ser uma faculdade delicada, o médium curador deve:
  • Manter uma vida moral elevada para garantir sintonia com espíritos benéficos.
  • Evitar o uso comercial da mediunidade, pois a prática deve ser gratuita e voltada para o bem.
  • Estudar e aprimorar-se constantemente, compreendendo os mecanismos da cura espiritual.
Conclusão
O estudo da mediunidade e sua relação com o evangelho nos revela a importância dessa faculdade como instrumento de crescimento moral, caridade e esclarecimento espiritual. A comunicação com o plano espiritual, quando guiada pelos princípios do amor e da verdade, possibilita a evolução daqueles que a praticam e dos que se beneficiam dela.
Jesus Cristo demonstrou, em sua trajetória, que a mediunidade deve ser empregada com responsabilidade e propósito elevado, sendo Ele próprio um exemplo máximo de sintonia com as leis divinas. Sua capacidade de realizar maravilhas sem derrogar a Lei é prova de seu profundo conhecimento sobre os mecanismos que regem o universo.
Allan Kardec e os espíritos da Codificação nos ensinam que a mediunidade exige educação, disciplina e aprimoramento moral, para que o médium seja um canal puro e confiável para as mensagens espirituais. A caridade, central no evangelho, deve ser o fundamento da prática mediúnica, evitando influências inferiores e favorecendo o auxílio aos necessitados, encarnados e desencarnados.
Assim, compreender a mediunidade à luz do evangelho nos permite enxergar essa faculdade como uma ferramenta de iluminação, um meio para estabelecer maior conexão com o mundo espiritual e promover o bem coletivo. Seu exercício consciente, guiado pelo conhecimento e pela ética, transforma não apenas o médium, mas também a sociedade ao seu redor.
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sexta-feira, junho 27, 2025

Mediunidade e Evangelho



Introdução
Estudar os princípios fundamentais da Doutrina Espírita (DE) é um dever de todos os espíritas, permitindo uma compreensão mais profunda das leis divinas e do propósito da existência. Entre esses princípios, a mediunidade se destaca como um dos mais relevantes, pois foi por meio dela que a DE se consolidou e se expandiu.
Desde os fenômenos das irmãs Fox, passando pelas mesas girantes, a mediunidade serviu como ponte entre o plano espiritual e os encarnados, despertando o interesse de estudiosos e pesquisadores, como Allan Kardec, que se dedicaram a investigar e codificar os ensinamentos transmitidos pelos espíritos. "O Livro dos Espíritos", obra inaugural da Codificação Espírita, é essencialmente mediúnico, bem como os demais livros que compõem essa base doutrinária. Sem a mediunidade, não teríamos acesso às valiosas revelações espirituais que nortearam o Espiritismo.
Além da Codificação Espírita, a mediunidade também foi fundamental para a disseminação das mensagens espirituais através da obra de Francisco Cândido Xavier, cujos escritos trazem ensinamentos profundos e inspiradores para a evolução moral e espiritual da humanidade.
A influência da mediunidade pode ser percebida em diversas tradições religiosas, incluindo o Cristianismo, onde se reconhece a atuação do Espírito Santo na revelação das escrituras sagradas. Sob essa perspectiva, a Bíblia pode ser vista como um livro mediúnico, pois registra inúmeras comunicações entre o plano espiritual e os homens ao longo dos séculos. Dessa forma, compreender a mediunidade à luz do Evangelho permite um estudo mais aprofundado sobre a relação entre o mundo físico e espiritual, promovendo o crescimento moral e o entendimento da missão do ser encarnado.
A proibição da comunicação com os espíritos por parte de Moisés, registrada no Deuteronômio 18:10-13, é um tema frequentemente debatido à luz da Doutrina Espírita. Moisés, como líder do povo hebreu, estabeleceu diversas leis para organizar e proteger sua comunidade, e essa proibição se insere nesse contexto.
Segundo a visão espírita, a proibição não nega a existência da comunicação com os espíritos, mas sim confirma sua realidade, pois uma lei só proíbe algo que de fato ocorre. Moisés buscava evitar abusos e práticas que poderiam desviar o povo da verdadeira espiritualidade, já que, naquela época, muitos recorriam à mediunidade de forma irresponsável, buscando previsões, favores materiais ou até mesmo manipulação espiritual.
O Espiritismo, por sua vez, não proíbe a comunicação com os espíritos, mas orienta que ela seja feita com discernimento, estudo e responsabilidade. Allan Kardec explica que os espíritos superiores não se envolvem em questões frívolas ou materiais, e que o intercâmbio mediúnico deve ser utilizado para o progresso moral e espiritual.
Curiosamente, a própria Bíblia apresenta episódios de comunicação espiritual, como a transfiguração de Jesus, onde Moisés e Elias aparecem e conversam com Ele (Mateus 17:1-9). Esse evento demonstra que a comunicação entre planos existe e pode ocorrer de maneira elevada e instrutiva.
Portanto, à luz da Doutrina Espírita, a proibição mosaica pode ser vista como uma tentativa de evitar práticas mediúnicas irresponsáveis, mas não como uma negação da mediunidade em si.
O trecho de Números 11:26-29 mostra um Moisés bastante aberto à manifestação espiritual, quando dois homens, Eldade e Medade, começam a profetizar fora do grupo principal de anciãos. Josué, seu auxiliar, sugere impedir essa manifestação, mas Moisés responde:
"Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre eles!" (Números 11:29)
Essa passagem sugere que Moisés, longe de condenar a mediunidade ou a comunicação espiritual, desejava que mais pessoas fossem inspiradas pelo Espírito. O profetismo na Bíblia, visto como um contato direto com o plano espiritual, se assemelha muito ao conceito de mediunidade no Espiritismo. Os profetas recebiam mensagens espirituais e as transmitiam ao povo, exatamente como ocorre na mediunidade orientada pelos bons espíritos.
Assim, podemos entender que Moisés não negava a comunicação espiritual, mas queria que fosse utilizada com propósito elevado e legítimo. Sua proibição mencionada em Deuteronômio 18 visava conter práticas supersticiosas e abusivas, mas não descartava a intervenção espiritual genuína. Essa distinção é essencial para compreender por que mediunidade e profetismo se aproximam tanto na tradição bíblica.
A mediunidade é um dos fundamentos essenciais da Doutrina Espírita, sendo compreendida como uma faculdade natural do ser humano que possibilita a comunicação entre os espíritos desencarnados e os encarnados. Conforme Allan Kardec explica, todos possuem algum grau de mediunidade, embora nem todos sejam médiuns ostensivos, isto é, aqueles que apresentam fenômenos mediúnicos de maneira perceptível e frequente.
Fundamentos da Mediunidade
A mediunidade não é um dom exclusivo ou um privilégio, mas sim uma capacidade inerente ao ser humano, tal como a visão ou a audição. Kardec esclarece que os espíritos estão em constante interação conosco, influenciando nossos pensamentos e emoções, mesmo quando não temos plena consciência dessa influência.
Tipos de Mediunidade
A mediunidade pode se manifestar de diversas formas, entre elas:
  • Psicografia – O médium recebe mensagens dos espíritos e as escreve.
  • Psicofonia – A comunicação se dá por meio da voz do médium, que transmite as palavras do espírito comunicante.
  • Vidência – O médium tem a capacidade de visualizar espíritos ou cenas espirituais.
  • Cura – A mediunidade curadora atua na transmissão de energias para promover equilíbrio e bem-estar físico e espiritual.
  • Intercessão – A mediunidade de intercessão se manifesta por meio da oração sincera e consciente em favor de nossos semelhantes. Ao interceder espiritualmente por alguém, fortalecemos laços de amor e auxílio, promovendo a conexão entre o plano físico e espiritual. Como Jesus ensinou, a oração é uma ferramenta poderosa de amparo e harmonização, capaz de mobilizar bons espíritos para auxiliar aqueles que necessitam. Essa mediunidade, acessível a todos, representa um verdadeiro exercício de caridade e fé.
Existem outras formas de mediunidade que não serão abordadas neste texto, pois fogem ao escopo da presente reflexão.
Mediunidade e Evangelho: A Comunicação Espiritual Como Caminho para a Evolução Moral
A relação entre mediunidade e Evangelho na Doutrina Espírita é profunda e essencial para compreender o papel da comunicação espiritual na evolução moral.
O Evangelho Segundo o Espiritismo destaca que a mediunidade deve ser praticada com humildade, responsabilidade e compromisso com o bem. Allan Kardec explica que os bons espíritos só se comunicam com médiuns que possuem intenções elevadas e que buscam a verdade.
Aqui estão alguns pontos fundamentais dessa relação:
  1. Mediunidade como instrumento de caridade – O evangelho ensina que a mediunidade deve ser usada para ajudar o próximo, seja por meio de mensagens esclarecedoras, passes espirituais ou orientações que promovam o crescimento moral.
Mediunidade e Caridade na Doutrina Espírita
A mediunidade não deve ser vista como um dom para benefício pessoal, mas sim como uma ferramenta para auxiliar, consolar e esclarecer aqueles que necessitam. Allan Kardec, como mencionado, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, reforça que a mediunidade deve ser exercida com desinteresse material, pois sua finalidade é espiritual e moral.
Formas de Caridade Mediúnica
A mediunidade pode ser utilizada para a caridade de diversas maneiras:
  • Mensagens de conforto e orientação – Os médiuns podem transmitir mensagens dos espíritos para ajudar aqueles que enfrentam dificuldades emocionais, trazendo consolo e esperança.
  • Passes espirituais e cura – A mediunidade curadora permite que energias benéficas sejam canalizadas para aliviar dores físicas e espirituais, promovendo equilíbrio e bem-estar.
  • Esclarecimento espiritual – Através da psicografia ou da psicofonia, os espíritos podem transmitir ensinamentos que ajudam na evolução moral dos encarnados.
  • Socorro aos espíritos sofredores – Muitos médiuns trabalham no auxílio a espíritos desencarnados que permanecem em sofrimento, ajudando-os a encontrar paz e esclarecimento.
A Gratuidade da Mediunidade
Kardec enfatiza que a mediunidade deve ser gratuita, pois vender comunicações espirituais seria desvirtuar sua finalidade. O médium é apenas um intermediário e não deve lucrar com algo que não lhe pertence. Esse princípio está alinhado com a máxima cristã: "Dai de graça o que de graça recebestes." (Mateus, 10: 8)
Exemplos de Médiuns que Praticaram a Caridade
Grandes médiuns como Chico Xavier dedicaram suas vidas ao serviço do próximo, utilizando sua mediunidade para consolar e orientar milhares de pessoas. Suas obras psicografadas trouxeram ensinamentos profundos e ajudaram incontáveis famílias a encontrar paz. Além disso, suas mais de 400 obras publicadas, todas psicografadas e sem que ele recebesse qualquer remuneração, geraram milhões de reais em receitas, que foram integralmente destinadas a instituições de caridade, hospitais e projetos sociais. Esse compromisso com a gratuidade da mediunidade e com o bem coletivo reforça o verdadeiro propósito da comunicação espiritual: servir como instrumento de auxílio e elevação moral.
  1. Jesus e a mediunidade – Muitos episódios da vida de Jesus podem ser interpretados como manifestações mediúnicas, como a transfiguração no Monte Tabor e suas curas espirituais. Ele demonstrou que a comunicação com o plano espiritual deve ser pautada pelo amor e pela verdade.
A relação entre Jesus e a mediunidade é um tema fascinante dentro da visão espírita. Muitos dos eventos descritos nos evangelhos podem ser interpretados como manifestações mediúnicas, demonstrando que Jesus possuía uma profunda conexão com o plano espiritual.
A Transfiguração no Monte Tabor
Um dos episódios mais emblemáticos é a transfiguração de Jesus, narrada em Mateus 17:1-9. Nesse evento, Jesus se ilumina diante de Pedro, Tiago e João, e aparece conversando com Moisés e Elias. Esse fenômeno pode ser visto como uma materialização espiritual, onde espíritos elevados se tornam visíveis aos encarnados. No Espiritismo, esse tipo de manifestação ocorre quando há uma sintonia vibratória entre os envolvidos, permitindo a comunicação entre planos.
 As Curas Espirituais
Jesus realizou diversas curas que, à luz da Doutrina Espírita, podem ser interpretadas como passes magnéticos ou transmissão de fluidos espirituais. Ele restaurava a saúde de cegos, paralíticos e leprosos, muitas vezes apenas com sua presença ou com o toque das mãos. O Espiritismo explica que os espíritos elevados possuem um magnetismo poderoso, capaz de reequilibrar energias e promover a cura.
Expulsão de Espíritos Obsessores
Outro aspecto mediúnico presente na atuação de Jesus foi a desobsessão, como no caso do espírito que atormentava um homem e foi direcionado para uma manada de porcos (Mateus 8:28-34). No Espiritismo, a obsessão espiritual ocorre quando espíritos inferiores influenciam negativamente os encarnados, e a prática da desobsessão visa libertar essas consciências do sofrimento.
Jesus como o Médium de Deus
Chico Xavier e outros estudiosos espíritas frequentemente se referem a Jesus como o Médium de Deus, pois Ele transmitia ensinamentos divinos e exemplificava a mais pura conexão com o plano espiritual. Sua missão era pautada pelo amor e pela verdade, demonstrando que a mediunidade deve ser utilizada para o bem e para a evolução moral da humanidade.
No Livro dos Espíritos, na questão 625, os espíritos afirmam que Jesus é o maior guia e modelo para a humanidade. Além disso, Kardec explica em A Gênese que Jesus pode ser considerado um médium de Deus, no sentido de ser um intermediário direto entre o Criador e os homens, sem necessitar da assistência de outros espíritos para transmitir sua mensagem. Diferente dos médiuns comuns, que dependem da intervenção espiritual para comunicar-se com o plano superior, Jesus possuía um conhecimento absoluto das leis divinas e operava diretamente por sua própria capacidade espiritual.
Jesus Cristo, como espírito puro e plenamente consciente dos mecanismos da Lei de Deus, possuía um entendimento que transcendia o conhecimento humano. Esse domínio sobre as leis divinas permitia-lhe realizar maravilhas sem as transgredir, mostrando que o que chamamos de "milagres" eram, na realidade, manifestações naturais dessas leis que ainda desconhecemos.
Suas curas espirituais, materializações e manifestações de poder eram demonstrações desse profundo conhecimento e sintonia com as forças universais, exemplificando como a comunicação espiritual deve ser pautada pelo amor e pela verdade.
Você pode ler a continuidade deste texto em:  Mediunidade e Evangelho - Final

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sexta-feira, junho 20, 2025

Rituais, Símbolos e Feitiçaria


#EstudoEspírita #EspiritismoSemRituais
 
A Importância de Compreender a Posição do Espiritismo sobre Rituais, Símbolos e Feitiçaria
 
Para aqueles que estão dando seus primeiros passos no estudo do Espiritismo, é fundamental compreender o que a Doutrina Espírita afirma, de forma clara e direta, sobre a questão dos rituais, símbolos e práticas mágicas ou esotéricas. É bastante comum que os iniciantes confundam o Espiritismo com outras formas de espiritualismo, especialmente quando se deparam com cultos que utilizam abundantes elementos exteriores, como gestos, trajes ou objetos ritualísticos, durante a comunicação com os chamados "espíritos dos mortos".
 Não raramente, surgem expressões como "baixo Espiritismo", "alto Espiritismo", "Espiritismo de mesa" ou "Espiritismo de terreiro", revelando uma profunda desinformação sobre o verdadeiro caráter da Doutrina Espírita. Na realidade, não existem diferentes tipos de Espiritismo. O que existe é o Espiritismo com E maiúsculo, como nos foi legado por Allan Kardec — uma doutrina de natureza científica, filosófica e moral, baseada em princípios revelados pelos Espíritos superiores e organizados metodicamente pelo Codificador.
 No que se refere aos rituais, Deolindo Amorim esclarece de forma precisa:
 
> "As tentativas para fundamentar a introdução de rituais, incensos, imagens e outros objetos de culto material no meio espírita invocam sempre um pressuposto espiritualista, como generalidade, ou fazem apelo à tolerância. Não há, entretanto, razão alguma para tais pretextos, uma vez que o Espiritismo, pelas suas disposições doutrinárias, dispensa completamente qualquer forma de ritual ou peças litúrgicas." 
> — *O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas*
 
Reforçando esse entendimento, recorremos à questão 553 de *O Livro dos Espíritos*, onde Kardec indaga:
 
> "Que efeito podem produzir as fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendem dispor do concurso dos Espíritos?" 
> E os Espíritos respondem: 
> "(...) Todas as fórmulas são mera charlatanice. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais." 
> — *O Livro dos Espíritos*, questão 553
 
Essa resposta nos conduz a uma reflexão inadiável: tudo aquilo que contraria os princípios da Codificação não pode ser considerado Espiritismo. Logo, ao nos referirmos a práticas como rituais, símbolos, invocações cerimoniais e gestos codificados, estamos falando de elementos alheios à Doutrina Espírita.
 É verdade que muitos de nós carregamos em nossa bagagem espiritual experiências anteriores com religiões que fazem uso intenso de sacramentos, indumentárias específicas e ritos formais. Essas vivências acabam gerando condicionamentos inconscientes, levando-nos, por hábito ou conforto emocional, a tentar replicar tais práticas no contexto espírita. No entanto, essa tentativa é incoerente com os fundamentos da Doutrina. O Espiritismo prescinde de exterioridades. Ele convida à reforma íntima, ao raciocínio lúcido e à vivência sincera do bem.
 Não existe misticismo na água fluidificada, no passe ou na comunicação mediúnica. Há, sim, ação inteligente dos Espíritos — uma ação que pode e deve ser compreendida à luz da razão, da lógica e do bom senso. Por isso, não faz sentido atribuir poderes especiais a roupas específicas, exigir que garrafas estejam abertas para serem fluidificadas, ou impor formas fixas de aplicar passes, como se houvesse um protocolo místico. O pensamento, a vontade sincera e a sintonia moral são os verdadeiros instrumentos da prática espírita.
 O Espiritismo não necessita de véus simbólicos — sua luz se projeta pela clareza de seus princípios e pela pureza das intenções. É nesse terreno simples e descomplicado que se manifesta, com mais vigor, a presença dos bons Espíritos.
Feitiçaria: Um Mal-Entendido Dissolvido pela Luz do Conhecimento Espírita
No que tange à feitiçaria, os Espíritos Superiores são categóricos ao afirmar que, muitas vezes, aquilo que se interpreta como feitiçaria nada mais é do que o uso da mediunidade, de forma consciente ou inconsciente. Há indivíduos que possuem uma sensibilidade psíquica mais apurada, outros que possuem forte magnetismo pessoal, e há aqueles que reúnem ambas as faculdades. Essa combinação, quando não compreendida à luz da Doutrina Espírita, pode gerar equívocos e superstições enraizadas, levando muitos a atribuírem efeitos espirituais a práticas ou encantamentos infundados.
Contudo, à medida que a Doutrina Espírita se espalha e esclarece consciências, torna-se cada vez mais inadequado — ou mesmo anacrônico — o uso do termo "feitiçaria" em um contexto em que predomina o conhecimento racional da mediunidade e das leis que regem a ação dos Espíritos.
Vale reforçar que a mediunidade é uma faculdade natural, neutra por essência. Ela não é boa nem má; é o uso que lhe damos — conforme nosso grau de consciência e moralidade — que a qualifica positiva ou negativamente. Assim, cabe a cada um de nós a responsabilidade de utilizá-la de modo digno, coerente com os princípios do bem e do respeito ao próximo.
Não se pode imputar ao Espiritismo a culpa por desvios cometidos por pessoas que, embora se autodenominem espíritas, praticam ações incompatíveis com os fundamentos da Doutrina. A mediunidade, se empregada com intenções egoístas, manipulatórias ou voltadas à exploração alheia, jamais terá respaldo nos ensinos de Kardec ou dos Espíritos superiores. Tal uso indevido é fruto da imperfeição moral de quem a utiliza — e não da Doutrina em si, que repudia expressamente toda forma de prática mágica ou supersticiosa.
Para reflexão final, convidamos o leitor a meditar sobre a questão 557 de O Livro dos Espíritos, onde se pergunta:
> "Podem a bênção e a maldição atrair o bem e o mal para aquele sobre quem são lançadas?" > Ao que os Espíritos respondem: > "Deus não escuta a maldição injusta e culpado perante Ele se torna o que a profere. Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode a maldição exercer momentaneamente influência, mesmo sobre a matéria. Tal influência, porém, só se verifica por vontade de Deus como aumento de prova para aquele que é dela objeto (...). Jamais a bênção e a maldição podem desviar da senda da justiça a Providência, que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção não acoberta senão aquele que a merece." > — O Livro dos Espíritos, questão 557
Essa resposta nos convida à serenidade e ao bom senso. A Justiça Divina opera com sabedoria perfeita, jamais sendo influenciada por fórmulas humanas, desejos egoísticos ou manifestações de ódio. Se há alguma repercussão em nossos caminhos, é porque há mérito ou necessidade educativa envolvida, e não por força de um "feitiço".
A Providência é imparcial, e a Doutrina Espírita nos orienta a cultivar o pensamento elevado, a conduta reta e o uso consciente das faculdades espirituais — que devem sempre estar a serviço do bem.

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