#Pública
5Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José. 6Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta. 7Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: "Dá- me de beber!" 8 Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento. 9Diz-lhe, então, a samaritana: "Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?" (Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos. ) 10 Jesus lhe respondeu: "Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: 'Dá-me de beber', tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!" 11Ela lhe disse: "Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? 12És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?"
Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José.
Segundo alguns estudiosos, a Sicar, mencionada neste texto, é geralmente identificada como a mesma cidade de Siquém do Antigo Testamento. Sicar é provavelmente outro nome para a cidade de Siquém, uma cidade na Samaria, próxima ao poço de Jacó.
Entretanto, esta não é a opinião de Pastorino que distinguia as duas cidades[i]. Escavações recentes levaram alguns a identificar Sicar provisoriamente com a aldeia de Askar, localizada ao norte-noroeste da fonte de Jacó e cerca de 1 km ao noroeste de Siquém.
Sendo ou não sendo, o que importa é que estão na mesma região. A conexão entre as duas cidades é significativa, pois mostra a continuidade dos lugares sagrados e sua importância na história bíblica.
Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta.
A Fonte de Jacó, também conhecida como "Poço de Sicar", é um local histórico significativo. Segundo a tradição, ele está associado ao patriarca Jacó.
Este poço profundo foi escavado na rocha sólida e tem sido associado à tradição religiosa com Jacó por cerca de dois milênios. Atualmente, se encontra dentro do complexo de um mosteiro ortodoxo oriental na cidade de Nablus, na Cisjordânia.
Em Gênesis 33:19, é mencionado que Jacó comprou uma parte do campo dos filhos de Hamor e cavou o poço.
Os samaritanos se consideravam descendentes das tribos de Israel que permaneceram na região após a conquista assíria no século VIII a.C., e Jacó é uma figura ancestral importante para eles. Eles mantêm uma versão própria da Torá e têm práticas e crenças distintas das judaicas tradicionais, adoravam a Deus no Monte Gerizim, não no Monte Sião. Segundo eles, o Monte Gerizim era o local do primeiro sacrifício israelita na Terra (Cf. Deuteronômio, 27: 4 e 5). Eles acreditavam que Betel (Jacob), o Monte Moriá (Abraão) e o Monte Gerizim eram o mesmo lugar. O nome Samaritano, traduzido literalmente do hebraico, significa "Os Guardiões" (de leis e tradições originais)[ii].
Segundo o evangelista, Jesus chega à fonte de Jacó cansado pela caminhada da viagem. A hora sexta se refere ao meio-dia, o que significa que o sol estaria no seu ponto mais alto no céu, indicando que seria um momento de forte calor e luz intensa, especialmente em uma região como a Samaria, onde o clima é tipicamente quente e seco.
Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: "Dá- me de beber!"
A partir deste instante se dará o mais importante da passagem por meio de uma conversa significativa de Jesus com a Samaritana nos trazendo grandes ensinamentos.
O encontro junto a um poço é um tema da comum na literatura do Antigo Testamento. A Bíblia de Jerusalém, em nota, nos lembra:
Os poços e nascentes d'água marcam o itinerário terrestre e espiritual dos patriarcas e do povo do Êxodo (Gn 26:14-22; Ex 15:22-27; 17,1-7, etc.). A água de fonte torna-se, no AT, o símbolo da vida que é dada por Deus, especialmente nos tempos messiânicos (Is 12:3; 55,1; Jr 2:13; Ez 47:1s; cf. Sl 46:5 e Zc 14:8; Sl 36:9-10 e no NT: Ap 7:16-17; 22,17) ou ainda, símbolo da Sabedoria e da Lei, que dão a vida (Pr 13,14; Eclo 15,3; 24,23-29). Esses temas encontram-se na cena evangélica, onde a água viva se toma o símbolo do Espírito (cf. Jo 7:37-39 e 1,33+).
O evangelista não afirma, mas Jesus ao solicitar a seus discípulos que fossem à cidade comprar alimento, já sabia do que iria ocorrer, e que esta seria uma oportunidade de nos deixar grandes ensinamentos. Pois aprenderemos com Ele, e também, com a Samaritana.
"Dá-me de beber"; apesar do objetivo de Jesus ser maior, podemos depreender que ele teve sede, como em outros momentos teve fome. Precisamos compreender que Jesus teve também necessidades físicas, a diferença é que Ele sabia dominá-las, não se deixando vencer por elas. Nós quando em dificuldade, dor, fome, pressão psicológica, temos grande dificuldade de termos ações positivas, geradoras de bem-estar, principalmente para os outros. Ao contrário, Jesus aproveitava estas necessidades como oportunidade de ensinar-nos os valores do Espírito imortal. O pedido de Jesus era apenas para começar a conversa, ao dizer assim, Ele já inicia rompendo convenções religiosas de seu tempo, pois era praticamente proibido conversar publicamente e a sós com uma mulher. E, além disso, não podemos esquecer era uma samaritana, por isto também malvista e evitada pelos judeus.
Diz-lhe, então, a samaritana: "Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?" (Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.)
Pela capacidade premonitória de Jesus a resposta já era esperada. Ela confirma o que já é bem conhecido. Os Judeus não conversavam com os samaritanos; a rivalidade, apesar de irmãos, era grande. Havia um ódio mútuo. Assim, a Samaritana se assusta com a ousadia daquele judeu. Provavelmente Ele foi conhecido por sua maneira de trajar, pelo sotaque... Aprendemos que Jesus não era fisicamente tão diferente de seus irmãos de raça como pensamos que era aqui no ocidente dois milênios depois. Para ser reconhecido pelos soldados que o prenderam, Judas teve de identificá-lo com um beijo. (Cf. Mateus, 26: 47 e 50)
A Samaritana, conforme vamos ver mais adiante conhecia a Torá, sabia dos encontros amorosos realizados nas fontes de água que deram origem à história dos patriarcas Isaac e Jacó e ao casamento de Moisés. Talvez tenha a princípio pensado, apesar das diferenças religiosas que Jesus queria algo semelhante.
Entretanto, Jesus tinha um objetivo maior e não se incomodou.
Jesus lhe respondeu: "Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: 'Dá-me de beber', tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!"
Jesus lhe respondeu; Ele sempre responde aos nossos questionamentos, ocorre, que a resposta nem sempre vem como esperamos.
Se conhecesses o dom de Deus; o "dom de Deus" é para todos, desde que estejamos em comunhão com Ele. O sectarismo religioso é uma das coisas que nos afasta Dele, e este era o caso dos samaritanos e judeus de modo geral, por isso Jesus afirma que ela não conhecia o dom de Deus.
Se conhecesse, reconheceria o Cristo, e o que Ele pode proporcionar, mas não era o caso.
Se fosse, afirma Jesus, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!
Se fosse, afirma Jesus, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!
Aqui começa o diálogo propriamente dito com grandes ensinamentos.
No Evangelho de João estes ensinamentos vêm por etapas, normalmente Jesus diz e os interlocutores não entendem, Jesus dá novas explicações e o entendimento melhora, mas não totalmente, só com novas adequações o ouvinte compreende melhor. Isto aconteceu com Natanael no segundo capítulo, com Nicodemos no terceiro, e o mesmo se dará neste quarto capítulo com a Samaritana.
Água viva; o profeta Jeremias, nos ajuda na interpretação deste verso:
Porque meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a fonte de água viva, para cavar para si cisternas, cisternas furadas, que não podem conter água.
Assim, compreendemos que a expressão água viva refere-se às "bençãos de Deus"; Israel, segundo o profeta, trocou estas bençãos pelas "cisternas" humanas, representando os sistemas religiosos, políticos e sociais. Samaritanos, fariseus, escribas, saduceus, toda liderança religiosa negativa estão inclusos neste verso do profeta.
Jesus oferece a todos a solução destes problemas de renovação espiritual através do conhecimento perfeito de Deus, de Sua Lei, a fim de que todos possam atingir a Vida Eterna
Ela lhe disse: "Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva?
Conforme já comentamos, a Samaritana não entendeu o recado de Jesus. Ela continuava intrigada e desconfiada, pensando só na água física que podia se apanhar no poço. Jesus, segundo ela, não tinha vasilha, e conforme a tradição, não poderia aceitar a sua por ser samaritana.
És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?"
Notamos assim, que ela se considera descendente de Jacó. Os samaritanos tinham expressiva reverência e respeito por este patriarca, considerando-o uma figura importante e venerada.
Este poço não é especificamente mencionado no Antigo Testamento, temos o relato de Gênesis 33:18-20 afirmando que, quando Jacó voltou a Siquém de Padã-Arã, ele acampou antes da cidade e comprou o terreno em que ele armou a sua tenda e construiu um altar.
A Samaritana duvida que Jesus seja maior do que Jacó, como pode Ele ter uma "água via"?
Continuará num próximo post.
[i] Cf. Sabedoria do Evangelho, Vol. 2
[ii] Site: Revisando a História da Mulher Samaritana (João 4) (israelbiblicalstudies.com) acessado em 08/08/2024
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