Artigos e comentários a respeito da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus - O Blog do Evangelho Miudinho
segunda-feira, agosto 28, 2017
Estudo Minucioso do Evangelho - O Endemoninhado Gadareno
O Inferno Não é Eterno
sábado, agosto 26, 2017
Evolução
Evolução do Princípio Inteligente
A existência do princípio espiritual é uma realidade; do mesmo modo que podemos
demonstrar a realidade da matéria, pelos efeitos demonstramos a existência do
princípio espiritual, pois sem ele, o próprio Criador não teria razão de ser.
Como entender um ser superior, com atributos superiores, a governar somente
sobre a matéria? Como compreender que a Inteligência Suprema, que é a própria
Sabedoria, iria criar seres inteligentes, sensíveis, e depois lançá-los ao
nada, após alguns anos de sofrimento sem compensações, e deleitar-se com a sua
criação como faz um artista menor.
Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de
Deus, uma crueldade sem objetivo.
Por ser uma centelha divina, e possuir a imortalidade em sua intimidade, é
inata no homem a ideia da perpetuidade do ser pensante, e essa perpetuidade
seria inútil, não fosse a evolução. Evolução essa que fica clara na resposta
dada pelos espíritos a Kardec na questão 607 de “O Livro dos Espíritos”.
Quando questionados sobre a origem dos Espíritos, nos afirmam que antes de
conquistar as faculdades inerentes ao homem atual, o Espírito estagia “numa
série de existências que precedem o período a que chamamos humanidade”, e
continuam:
“Já
não dissemos que tudo em a natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses
seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente
se elabora, e individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme
acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da
germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação
e se torna Espírito.”
Martins Peralva, no livro “O Pensamento de
Emmanuel”, narra, desta forma, a longa viagem feita pela mônada divina, ou
princípio espiritual:
“Na
fase preambular, a mônada luminosa, que mais tarde será Espírito, ser
inteligente, vai sendo envolvida, como energia divina, em fluidos pesados.
Perde sua luminosidade, condensa-se no reino mineral.
Energia - Suas transformações
a) Condensada, na pedra;
b) Incipiente, na planta;
c) Primária nos irracionais
d) Contraditória, nos homens de mediana evolução
e) Excelsa, nas almas sublimadas”
Honório Abreu assim se manifesta em um artigo de sua autoria:
“Assim
ajustando-se às vibrações dos minerais, em cujo berço hibernam por milhões e
milhões de anos, as “mônadas luminosas” são trabalhadas nos padrões da atração,
preparando-se para novas conquistas, em termos de “sensação” no campo dos
vegetais.
Os reinos mineral e vegetal, como institutos de recepção da onda criadora da
vida, preparam as bases de onde os elementos espirituais partem para as faixas
animais em que o instinto, trabalhando o seu psiquismo, os habilitam, lenta e
gradativamente, para o ingresso nas trilhas da humanidade, onde, já usufruindo
de “pensamento contínuo” elaboram em processo crescente, os valores da razão e
da inteligência.”[1]
Concluindo, deixamos a palavra com o nosso
mentor André Luiz, segundo psicografia de Waldo Vieira, no livro “Evolução
em Dois Mundos”:
“É
assim que dos organismos monocelulares aos organismos complexos, em que a
inteligência disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no
rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com
os fios da experiência a túnica da exteriorização, segundo o molde mental que
traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as
próprias aquisições, desde o estímulo nervoso à defensiva imunológica,
construindo o centro coronário, no próprio cérebro, através da reflexão
automática de sensações e impressões, em milhões e milhões de anos, pelo qual,
com o Auxílio das Potências Sublimes que lhe orientam a marcha, configura os
demais centros energéticos do mundo íntimo, fixando-os na tessitura da própria
alma.
Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de
raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem
para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época
quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de
técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos. Isso é perfeitamente
verificável na desintegração natural de certos elementos radioativos na massa
geológica do globo. E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu há mais
ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a benção do Cristo, para a
responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o caráter recente dos
conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar na constituição
fisiopsicossomática do espírito humano as aquisições morais que lhe habilitarão
a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência
Cósmica.”[2]
Evolução do Espírito
Segundo Pitágoras, “(...) a evolução material dos mundos e a evolução
espiritual das almas são paralelas, concordantes, explicam-se uma pela outra. A
grande alma, espalhada na Natureza, anima a substância que vibra sob seu
impulso, e produz todas as formas e todos os seres. Os seres conscientes, por
seus longos esforços, desprendem-se da matéria, que dominam e governam a seu
turno, libertam-se e aperfeiçoam-se através das existências inumeráveis. Assim
o invisível explica o visível, e o desenvolvimento das criações é a
manifestação do Espírito Divino.” (extraído do Livro Depois da Morte de
Léon Denis, cap. 4)
Edgar Armond, em seu livro “Os Exilados da Capela” faz o seguinte comentário:
“Conforme a ciência oficial, quando o clima da terra se amenizou, em
princípios do ioceno (uma das quatro grandes divisões da Era Terciária, isto é,
o período geológico que antecedeu o atual), surgiram os primeiros seres do qual
descende o homem atual. Entre estes últimos, (que conseguiram se erguer),
prevaleceu um tipo, mais ou menos a 25 milhões de anos, e que era positivamente
um símio.
E os tipos foram evoluindo até que, mais ou menos há um milhão e meio de anos,
surgiram as espécies mais aproximadas do tipo humano.
Na Ásia, na África e na Europa foram descobertos esqueletos de antropóides
(macacos semelhantes ao homem) não identificados.
Nas camadas do Pleistoceno inferior, também chamado paleolítico (período
antigo da pedra lascada), e no Neolítico (era da pedra polida) vieram à luz
instrumentos, objetos e restos de dentes, ossos e chifres, cada vez melhor
trabalhados.
Em 1807 surgiu em Heidelberg um maxilar inferior e em Piltdow (Inglaterra)
um crânio e uma mandíbula um tanto diferentes dos tipos antropóides; até que
finalmente surgiram esqueletos inteiros desses seres, permitindo melhores
exames e conclusões.
Primeiramente, surgiram criaturas do tamanho de um homem, que andavam de pé,
tinham cérebro pouco desenvolvidos e que foram chamadas Pitecantropos e que
viveram entre 550 e 200 mil anos atrás. Em seguida surgiu o Sinantropos, ou
Homem de Pekin, de cérebro também muito precário. Mais tarde surgiram tipos, de
cérebro mais evoluído que viveram de 150 a 35.000 anos atrás e que foram
chamados de Homens de Solo (na Polinésia); de Florisbad (na África); da Rodésia
(na África) e o mais generalizado de todos, chamado de Homem de Neandertal (no
centro da Europa) e cujos restos em seguida foram também encontrados nos outros
continentes.
Como possuíam cérebro bem maior, foram chamados ‘Homos Sapiens’, conquanto
tivessem ainda muitos sinais de deficiências em relação à fala, à associação de
ideias e à memória.
E por fim, foram descobertos os tipos já bem desenvolvidos chamados de
‘Homus Sapiens sapiens’, isto é, ‘homens verdadeiros’.”[3]
Emmanuel, em comunicação dada em 1937, pelo médium Chico Xavier, diz que:
“O processo, portanto, da evolução anímica se verifica através de vidas cuja
multiplicidade não se pode imaginar, nas nossas condições de personalidades
relativas, vidas essas que não se circunscrevem ao reino hominal, mas que
representam o transunto das várias atividades em todos os reinos da natureza.
Todos aqueles que estudaram os princípios de inteligência dos considerados
absolutamente irracionais, grandes benefícios produziram, no objetivo de
esclarecer esses sublimados problemas, do drama infinito do nosso progresso
pessoal.
O princípio inteligente, para alcançar as cumeadas da racionalidade, teve de
experimentar estágios outros de existências nos planos da vida. E os
protozoários são embriões de homens, como o selvagem das regiões ainda incultas
são o embrião dos seres angélicos (...)
O macaco, tão carinhosamente estudado por Darwin nas suas cogitações
filosóficas e científicas, é um parente próximo das criaturas humanas,
falando-se fisicamente, com seus pronunciados laivos de inteligência; mas a
promoção do princípio espiritual do animal à racionalidade humana se processa
fora da terra, dentro de condições e aspectos que não posso vos descrever, dada
a ausência de elementos analógicos para as minhas comparações.”[4]
Como vimos anteriormente, este processo de estágio do princípio inteligente nos
reinos inferiores é demorado, chegando a levar séculos e milênios para passar
de uma fase a outra; sendo ainda necessário que esta “promoção” seja processada
em vários planetas, que, como nos afirma Emmanuel, não podemos ainda entender,
devido ao primarismo de nossa evolução espiritual.
“Quando cessou o trabalho de integração de espíritos animalizados nesses
corpos fluídicos e terminaram sua evolução, o planeta se encontrava nos fins de
seu terceiro período geológico e já oferecia condições de vida favoráveis para
seres humanos encarnados.
Iniciou-se, então, essa encarnação nos homens primitivos, que a tradição
esotérica também registrou da seguinte maneira: espíritos habitando formas mais
consistentes, já possuidores de mais lucidez e personalidade, porém fisicamente
ainda fora dos padrões da humanidade atual.[5]
Mas o tempo transcorreu em sua inexorável marcha e o homem, a poder de
sofrimentos indizíveis e penosíssimas experiências de toda sorte, conseguiu
superar as dificuldades dessa época tormentosa.
Acentuou-se em consequência, o progresso da vida humana no orbe, surgindo as
primeiras tribos de gerações mais aperfeiçoadas, compostas de homens de porte
agigantado, cabeça melhor conformada e mais ereta, braços mais curtos e pernas
mais longas, que caminhavam com mais aprumo e segurança e em cujos olhos se
vislumbravam mais acentuados lampejos de entendimento(…)
(…) Eram nômades; mantinham-se em lutas constantes entre si e mais que nunca
predominava entre eles a força e a violência, sendo que a lei do mais forte era
o que prevalecia.
Todavia formavam sociedades mais estáveis e numerosas, do ponto de vista
tribal, sobre as quais denominavam sob o caráter de chefes ou patriarcas,
aqueles que fisicamente houvessem conseguido vencer todas as resistências, e
afastar toda a concorrência.
Do ponto de vista espiritual ou religioso essas tribos eram absolutamente
ignorantes e já de alguma forma fetichistas pois adoravam, por temor ou
superstição instintiva, fenômenos que não compreendiam e imagens grotescas
representativas tanto de suas próprias paixões e impulsos nativos, como de
forças maléficas ou benéficas que ao seu redor se manifestavam
perturbadoramente (…)
(…) A humanidade, nessa ocasião, estava num ponto em que uma ajuda exterior era
necessária e urgente, não só para consolidar os poucos e laboriosos passos já
palmilhados como, principalmente, para dar-lhe diretrizes mais seguras e mais
amplas no sentido evolutivo (…)”[6]
Nunca em época alguma falta o auxílio do alto. A descida de Emissários divinos
se fazia necessária para a evolução do homem autóctone.
Veja como Emmanuel, Espírito guia de nosso querido Chico Xavier, narra este
momento evolutivo:
“Há muitos milênios, um dos orbes do Cocheiro, que guarda muitas afinidades
com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários
ciclos evolutivos(…)
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução
geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios
de piedade e de virtudes(…)”[7]
E após outras considerações, acrescenta:
“As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo deliberaram então,
localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua(…)
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela
turba de seres sofredores e infelizes (…)
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo
de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam
degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite
dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças
ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos
distantes. ( Cf. Gênesis, 3: 23[8])
Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na
Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.
Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras remotíssimas, as
falanges do Cristo operavam ainda as últimas experiências sobre os fluidos
renovadores da vida, aperfeiçoando os caracteres biológicos das raças
humanas(…)”[9]
Não é à-toa que alguns milênios depois, o próprio Mestre nos afirmava, “eu
não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”[10]; como a
definir sua antiga ligação com esta raça, e nos mostrar que só através da
vivência plena do seu Evangelho, podemos quebrar as algemas que nos conduz a um
círculo vicioso na nossa história evolutiva.
Conclusão
“Estagiando em tipos variados na escala ascensional, o ser ingressa nos
quadros hominídeos, onde alicerça, em bases de consciência desperta, os padrões
intelectivos e morais que lhe assegurem empreender novas escaladas no rumo da
angelitude.
Para toda essa caminhada o ser recebe recursos pela ação benfeitora do Plano
Maior. Encontra terrenos preparados para o seu aprendizado a caracterizarem-se
por mundos constituídos, tal qual ocorre com o reencarnante que é acolhido no
lar, só dando valores aos bens que lhe forem proporcionados na infância mais à
frente, quando já se capacita a raciocinar e ponderar mais claramente.
A posse da razão acarreta novas providências no processo de orientação dos
seres em evolução. Aos embates e obstáculos das reencarnações, agindo de fora
para dentro no esforço de despertamento inicial, somam-se providências
espirituais agora nas áreas da educação.
Atividades artesanais se instauram sob a assistência dos benfeitores
espirituais. Durante o sono físico as primeiras lições são levadas a efeito
quando a entidade encarnada, desdobrando-se com o seu perispírito, entra em
relação com companheiros “instrutores” desencarnados, junto às frentes de
trabalho que constituem objeto de suas preocupações durante a faina diária (…).
Das instruções puramente manuais partem os orientadores da humanidade
nascente para os indicativos morais, trabalhando os seres primitivos no cultivo
das noções de direito, de proteção, de respeito, abrindo leira para o advento,
a seu tempo das grandes revelações das leis vigentes no Universo.”[11]
Desta forma, temos como síntese dos pontos fundamentais do processo evolutivo,
a seguinte informação:
“O ser eterno, emanação divina, transforma-se em “alma vivente”, organizada
para executar as obras da própria edificação (…).
No reino mineral, as leis de afinidade são manifestações primaciais do
Amor-atração.
No reino vegetal, as árvores oferecem maior coeficiente de produção se
colocadas entre companheiras da mesma espécie, porque o Amor-cooperação
ajuda-as a produzirem mais e melhor.
Entre os seres irracionais, a ternura, as providências de alimentação e
defesa e a própria formação em grupos falam-nos do Amor-solidariedade.
Entre os seres racionais, é o Amor o mais perfeito construtor da felicidade
interna, na paz da consciência que se afeiçoa ao Bem.
Nas relações humanas, é o Amor o mais eficaz dissolvente da incompreensão e
do ódio.
Entre os astros, famílias de mundos viajando na amplidão cósmica, em
obediência às leis da mecânica celeste, indicam-nos outra singular expressão do
Amor; o Amor-equilíbrio, que mantém unidos astros e planetas no fabuloso
espetáculo das constelações que cintilam, ofuscantes, na abóbada infinita.”[12]
Temos então o Amor como base da evolução em todos os aspectos. Desde o “Fiat
lux” até o grande momento do retorno do ser ao Criador, momento em que
deixamos de ser filhos de Deus, para sermos “Filhos de Deus”.
Lei do Progresso
Segundo a teologia, o homem foi criado justo, feliz, e assim poderia ter-se
mantido por toda a eternidade. Tentado, porém, por satanás, desobedeceu ao
Criador, vindo a sofrer, em consequência desse grave pecado, a privação da
graça, a perda do paraíso, a ignorância, a inclinação para o mal, a morte e
toda sorte de misérias do corpo e da alma.
Em outras palavras, isso quer dizer que o gênero humano teria surgido na Terra
perfeito, ou quase, mas depois se degradou.
A Doutrina Espírita afirma que o progresso é lei natural, cuja ação se faz
sentir em tudo no Universo.
Grifamos a expressão “tudo no Universo”, para fixarmos em nosso entendimento
que a lei do progresso, sendo uma lei divina, atua em toda a criação, desde o
átomo até o anjo.
No capítulo VIII da 3a parte de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec
estuda esta lei. Faremos a seguir um resumo deste importante capítulo:
A infância da Humanidade é o ponto de partida do desenvolvimento humano. Sendo
perfectível, o homem traz em si o gérmen do seu aperfeiçoamento.
O homem não pode retrogradar ao estado inicial, tem ele que progredir
incessantemente, não podendo voltar ao estado anterior.
Faz parte da lei, a necessidade daquele que é mais evoluído ajudar ao que se
encontra na retaguarda.
O progresso moral vem após o progresso intelectual, porque através deste
distinguimos o bem e o mal, podemos escolher o caminho a seguir, e com isso
aumentando nossa responsabilidade.
O homem não pode paralisar o progresso, mas pode dificultá-lo, sendo por isso
punido pela própria Lei.
Quando um povo insiste em progredir de maneira mais lenta que a esperada, o
Criador o sujeita de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o
transforma.
O orgulho e o egoísmo são os maiores obstáculos ao progresso moral do Espírito.
Há dois tipos de progresso: o intelectual e o moral. O primeiro, como já foi
dito, antecede ao segundo, apesar de este nem sempre vir imediatamente após
aquele. É que a Humanidade insiste em valorizar mais o intelecto, devido ao seu
alto grau de imediatismo, mas há de chegar o momento em que eles caminharão
lado a lado.
Há um progresso na civilização, embora incompleto, porque sendo o homem ainda
imperfeito, tudo o que é criação dele, denota instabilidade.
A civilização completa será uma consequência do desenvolvimento moral da
Humanidade, ou seja, só poderemos dizer-nos civilizados, quando tivermos banido
de nossa sociedade, os vícios, e quando vivermos como irmãos, praticando a
caridade cristã.
Poderia viver o homem regido simplesmente pelas leis naturais, se ele as
compreendesse. Como isso nem sempre é possível, cria ele leis humanas que por
refletir suas instabilidades, evolui à medida de sua própria evolução.
Destruindo o materialismo, dando ao homem a compreensão da vida futura, fazendo
vê-lo esta como um efeito da atual, e revivendo, como consequência deste
entendimento, a moral cristã, o Espiritismo pode e contribui em muito com o
progresso da Humanidade. Cabendo a nós, espíritas, o dever de ampliar o seu
entendimento através da vivenciação do que já conhecemos.
Da Perfeição Moral
A perfeição é a grande meta do Espírito.
Vimos anteriormente que passa ele por várias etapas evolutivas objetivando
sempre o progresso, no afã de conquistar este estado que chamamos de perfeição.
Mas qual é a característica do homem que já atingiu este estado?
Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, diz que “o
verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade
(...)”[13] e que, quando consulta sua consciência sobre seus atos, vê que
fez todo o bem possível, que não se perdeu na ociosidade e que ninguém tem nada
a queixar-se dele.
Tem fé em Deus, na vida futura, possuindo em si de uma maneira desenvolvida o
sentimento de amor e caridade e sabe que todas as vicissitudes que enfrenta têm
um valor significativo na economia da vida, passando-as por isso com
resignação.
Enumera o Codificador vários outros valores que dignificam o caráter deste
homem, mas deixando claro que muitos outros ele ainda os tem.
Mas como atingir este estado?
Dizem os Espíritos que a prática da virtude em detrimentos dos nossos vícios é,
sem dúvida, a forma mais rápida de chegarmos lá.
Alertam ainda na questão 894, de “O Livro dos Espíritos”, que há virtude
sempre que resistimos ao arrastamento de nossos maus pendores, e continuam: “A
mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”
E na questão 895 da obra citada, afirmam que a maior característica da
imperfeição é o interesse pessoal.
Raciocinando sob estas valiosas informações, temos então que o personalismo é
causa atuante da imperfeição, e se quisermos progredir moralmente, temos que
bani-lo de nossa intimidade.
A respeito das paixões, ainda são os Espíritos que informam que, quanto ao
princípio que lhes dá origem, não é maléfica, “o abuso que delas se faz é
que causa o mal.”[14] Visto assim, deduzimos com o Codificador que, quando
dominamos a paixão, ela é útil, quando somos dominados por ela, caímos em
excesso e geramos o mal.
Sobre os vícios, o próprio Codificador é quem pergunta: “Dentre os vícios,
qual o que se pode considerar radical? E os Espíritos respondem: Temo-lo dito
muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. (...)”[15]
Mas como vencê-lo? Sabemos que esta é das uma tarefa mais difíceis, visto ele
estar enraizado em nosso psiquismo, mas nos alertam os maiores da
espiritualidade que ele é sempre maior quanto maior for a influência das coisas
materiais sobre nós, e como consequência
a melhor maneira de vencê-lo é o
desprendimento dos bens do mundo.
E respondendo ainda àquela pergunta de como atingirmos o estado da perfeição,
Santo Agostinho nos faz lembrar a famosa frase divulgada por Sócrates: “Conhece-te
a ti mesmo”[16], a que nós completamos com a de Jesus:
“Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará”[17].
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[1] ABREU, Honório Onofre. “Evolução.” Temas da Atualidade (Grupo Espírita Evolução).
[2] XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira pelo Espírito André Luiz. Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, pg. 35 e 36
[3] ARMOND, Edgar. Os Exilados da Capela. São Paulo: Editora Aliança, 1987, cap. IV
[4] Idem, Ibidem.
[5] Id. ib., Cap. V
[6] Id. ib., Cap. VI
[7] XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980, cap. 3, pg. 34
[8] “O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado”.
[9] (XAVIER/Emmanuel 1980), cap. 3, pg. 35 e 36
[10] Mateus, 15: 24
[11] (ABREU 1982)
[12] PERALVA, Martins. O Pensamento de Emmanuel, 5ª ed. Brasília: FEB, 1994, Pg 103
[13] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, Pg. 284
[14] ------ O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 907
[15] Idem, ibidem, Q. 913
[16] Id., ib., Q. 919
[17] João, 8: 32
quarta-feira, agosto 16, 2017
Jesus
Desde os primeiros momentos do cristianismo oficial, a figura ímpar do meigo Rabi da Galiléia vem sendo confundida com o próprio Deus.
Baseado em errôneas interpretações dos textos evangélicos, muito se tem discutido sobre o tema. Jesus é sem sombra de dúvida a personalidade mais biografada de todos os tempos, e a Bíblia, onde no Velho Testamento é previsto a sua vinda e no Novo temos ensinada a sua Moral, é o livro mais vendido de toda a história editorial.
Coube ao Espiritismo as elucidações necessárias sobre a personalidade augusta do Mestre e mostrar a quem possa interessar que Jesus não é Deus, mas um Espírito criado sem nenhum favorecimento, e que, como todos os demais, foi submetido a uma inevitável marcha de evolução e, de acordo com grau de maturidade intelectual e moral que alcançou, faz parte da Comunidade de Espíritos Puros que auxiliam o Criador a manter a harmonia e a ordem no Universo.
O Espírito Emmanuel, algum tempo depois da Codificação Espírita, nos informa que Jesus é o Governador Espiritual da Terra. Assim nos descreve ele em seu livro A Caminho da Luz:
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias
Essa comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.1
Notamos que esta afirmativa de Emmanuel, nos esclarece acerca das informações anotadas pelo evangelista João, nos primeiros movimentos de seu livro:
No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. (João, 1:1 a 3)
Não podemos entender este “princípio”, como o início da Criação Divina, porque não é dado a nós saber sobre isto ainda, até porque, aprendemos com a Doutrina Espírita que Deus é eterno, isto é, não teve princípio nem terá fim. O “princípio” aqui, quer dizer do nosso Orbe, e nele conforme mostra Emmanuel, Jesus estava no princípio com Deus, e sem Ele, nada do que foi feito se fez.
Como Governador Espiritual da Terra, Jesus diligencia recursos. Ainda antes da fundação do mundo, trabalhou, por intermédio de seus cooperadores na intimidade dos elementos químicos na estruturação geológica do globo; após a cessação das convulsões que levaram à acomodação das energias encadeadas, atua com seus prepostos no grande laboratório de experiências biológicas na fixação das normas adequadas ao mundo que se delineava; supervisiona o trabalho laborioso de ajustamento dos mamíferos superiores às linhas psíquicas e morfológicas do homem na terra, agindo em implementos celulares de que redundou o aparecimento de tipos diversos, catalogados hoje como parapitecos, propliopitecos, (...) ascendentes da humanidade que hoje pisa orgulhosamente o solo do planeta.2
Portanto, Jesus é um dos agentes diretos de Deus. Esses Espíritos que se fizeram puros são as inteligências que animam, santificam e presidem à formação dos universos, das galáxias etc.
Os grandes missionários ligados aos povos antigos e as diversas raças estiveram e estão a serviço do Cristo, todos os profetas de que a Bíblia faz menção foram médiuns predestinados a servirem ao pensamento Dele. É assim que os Provérbios, os Salmos, o Pentateuco Mosaico, o Eclesiastes e também os livros de Confúcio, o livro dos Vedas, as filosofias de Buda, Sócrates e outros são incontestavelmente inspiradas pelo Divino Mestre.
E tanto era Jesus quem dirigia os povos de todos os tempos, que Ele mesmo nos disse:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Mateus, 23:37
2 - A Vida de Jesus – Contexto Histórico
No livro Boa Nova, o Espírito Humberto de Campos nos faz o seguinte relato sobre o período que antecedeu a vinda do Mestre até nós:
Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os profundos contrastes na gloriosa época de Augusto.
Caio Júlio César Otávio chegara ao poder, (...), por uma série de acontecimentos felizes.(...)
Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.(...)
(...) A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Virgílio, Horácio, Ovídio, Salústio , Tito Lívio e Mecenas, (...)
É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais Espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos.(...)
Entre esses Espíritos, destaca-se a iluminada figura de Maria de Nazaré, que aceitou do Plano Maior da Vida a missão de ser a mãe daquele que o mundo conheceria como o “Salvador”.
Qualquer narrativa em torno da incomparável personalidade de Jesus, ou da evocação dos seus feitos insuperáveis, não pode prescindir de uma análise, superficial que seja, da terra onde ele viveu e do povo que a habitava.
Somente assim, se poderá compreender a posição por Ele assumida ante as transitórias governanças política e religiosa então vigentes, características desse povo sofredor, destemido e temente a Deus, que vivia num verdadeiro oásis de monoteísmo, situado num imenso deserto de politeísmo, no qual se desenvolveram as civilizações da antigüidade.
A Palestina, que literalmente significa “terra dos filisteus”, está encravada entre o Mediterrâneo, o Líbano, o deserto da Síria, na região denominada Oriente Próximo. Inicialmente, a sua localização geográfica a punha na encruzilhada das grandes e indispensáveis rotas comerciais, que levaram, na Ásia Menor, do Egito, à Mesopotâmia e à Arábia.
Graças a isso, experimentou sucessivas invasões dos egípcios, mesopotâmios, persas e, por fim, dos romanos, que a destroçaram por largos séculos.
Pelos acontecimentos históricos que ali tiveram lugar, foi denominada como “Terra Santa” face às ocorrências bíblicas que lhe deram notoriedade, unindo fatos e revelações humanas, como espirituais, igualmente por se tornar o lugar de nascimento de Jesus.
A Judéia e os hebreus ofereciam todos os requisitos para o sucesso da missão salvacionista de Jesus. O Velho Testamento sempre considerou o povo judeu como eleito para o advento do Messias prometido.
Com o nascimento do menino Jesus, há como que uma comunhão direta do céu com a terra.
Esse é um momento especial de sua missão ininterrupta. Nasce e cresce no seio de um povo e de uma raça que sempre se caracterizou pela crença no Deus único e que já havia merecido a presença de adiantados Espíritos preocupados em reafirmar ao povo antigas crenças no seu Deus, fé inabalável, transmitindo-lhe adiantada legislação de ordem moral e civil e constantes advertências através do profetismo.
Desde seu aparecimento na Terra, até sua volta aos Páramos Celestes, Jesus, o Messias anunciado e esperado durante séculos, ensinou aos homens as leis de Deus, usando diferentes métodos e formas, mas especialmente através da exemplificação.
Seu nascimento na manjedoura, nos diz Emmanuel: assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes3. Seu crescimento, no seio da família é exemplo de obediência aos pais; sua sabedoria já é destaque aos doze anos, e por volta dos trinta inicia publicamente sua missão, que se desenvolve por três anos; e nos momentos derradeiros dá mostra de submissão aos desígnios do Pai, aceitando uma crucificação injusta e infamante, como a definir que, se quisermos ressurgir como Espíritos em glória, temos que aceitar o momento difícil e solitário da crucificação que diz respeito a cada um.
Ainda durante a sua vida terrena, mostra o poder e o amor de Deus, o criador de todas as coisas, e, que amar ao próximo como a si mesmo é o maior de todos os mandamentos.
Com sua autoridade incontestável, mostra o sentido exato das leis divinas, contrariando usos e costumes do povo hebreu, quando estes não estavam de acordo com o objetivo maior da vida.
Seu poder e domínio sobre a matéria visível e sobre os fluidos são continuamente evidenciados nas mais diferentes curas de cegos, paralíticos, e de variadas doenças físicas. Sua hierarquia espiritual é incontestável ao expulsar demônios (espíritos rebeldes), curar possessos, e ao impor respeito e autoridade moral a legiões de espíritos inferiores, maus e perseguidores. Seus métodos de ensino e transferência de conhecimentos são modernamente conhecidos como os mais eficazes nos campos psicológico e didático, utiliza o exemplo, a palavra, os fenômenos e os elementos da natureza. Sua linguagem é apropriada aos ouvintes e às circunstâncias. A parábola e as experiências mais conhecidas de todos são continuamente utilizadas em suas prédicas. Demonstrou que o importante não era vencer no mundo, mas vencer o mundo. Estar aqui, mas sem ser daqui.
Sua mensagem, como enviado de Deus, imortalizou-se para beneficiar toda a Humanidade. Ao contrário dos valores vivenciados pelos homens, sua força extraordinária é constituída pela bondade, pela humildade, pela paciência , pelo amor, e pela fé absoluta no Poder Supremo.
Em lugar de amigos poderosos, recrutou homens simples, sinceros e humildes, com os quais contou para universalizar sua mensagem. Assim continua a falar, através do seu Evangelho de amor, aos discípulos de ontem e de hoje, aos mansos, aos que têm puro o coração, aos misericordiosos e aos pacificadores.
Para a generalidade dos estudiosos, o Cristo permanece tão somente situado na história, modificando o curso dos acontecimentos políticos do mundo; para a maioria dos teólogos, é simples objeto de estudo, nas letras sagradas, imprimindo novo rumo às interpretações da fé; para os filósofos, é o centro de polêmicas infindáveis; e para a multidão dos crentes inertes, é o benfeitor providencial nas crises inquietantes da vida comum
Todavia, quando o homem percebe a grandeza da “Boa Nova”, compreende que o Mestre não é apenas o legislador da crença, o reformador da civilização, o condutor do raciocínio ou o doador de facilidades terrestres, mas também, acima de tudo, o “Guia e Modelo” para a vida de cada um.
3 – Fatos Extraordinários da Vida de Jesus
Desde o princípio dos tempos, o homem classifica como extraordinário ou milagroso, fatos que ele ainda não tem como explicar. Etimologicamente, a palavra milagre significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. No sentido teológico, é uma derrogação das leis da natureza.
Quando o véu que cobre o mistério é levantado em nome da ciência, o que era milagroso passa `a conta de fato natural. Desde que um acontecimento possa ser reproduzido pela experimentação ou por qualquer outro método, deixa de possuir caráter sobrenatural.
Os milagres relatados no Evangelho, na sua maioria pertencem à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma.
Jesus, assim, não praticou milagres que não pudessem ser explicados racionalmente.
Em conclusão, podemos afirmar que não há milagres no sentido comum do termo, na acepção vulgar da palavra, porque tudo o que acontece é decorrente das leis eternas da criação, leis perfeitas e imutáveis, e Jesus na sua alta categoria espiritual, jamais iria derrogar leis; muito pelo contrário, quanto maior a evolução de um Espírito, maior é sua obediência à vontade do Pai.
Ele mesmo nos afirmou: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. (João, 4:34)
Enumeramos a seguir alguns fatos tidos como miraculosos que, explicados à luz da Ciência Espírita, são facilmente compreendidos:
A Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém
E quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou então Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos.(...) E indo os discípulos, e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho (...) Mateus, 21:1, 2, 6 e 7
Nada apresentam de surpreendentes estes fatos, desde que se conheça o poder da dupla vista e a causa muito natural dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado, e pode-se dizer que ela constituía o seu estado normal, conforme o atesta grande números de atos de sua vida, os quais hoje têm a explicá-los os fenômenos magnéticos e o espiritismo.
A Pesca Milagrosa (Lucas, 5: 1 a 7), A Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus (Mateus, 4: 9 e 18 a 22) igualmente se explicam pela dupla vista e acuidade do pensamento. Jesus não produziu peixes onde não os havia; ele os viu, com a vista da alma. Quando chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que tencionava confiar-lhes. (Cf. A Gênese, cap. XV.)
Cura dum Cego de Nascença
E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar(...) Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo. João, 9: 1 a 4, 6 e 7
Notamos nesta passagem que os discípulos do Senhor já tinham, mesmo que errônea, uma idéia da reencarnação. Segundo Jesus, essa não era uma cegueira expiatória, mas fazia parte de um processo reencarnatório em bases de cooperação, para que se cumprisse o poder dado por Deus a Jesus. (Trataremos melhor este assunto, quando falarmos a respeito da Reencarnação)
Convém que eu faça as obras(...), enquanto é dia, a noite vem, quando ninguém pode trabalhar(...). Interpretadas ao pé da letra, estas palavras de Jesus são incoerentes. Jesus tinha poder para curar em qualquer hora, seja de dia ou de noite. O que Ele queria dizer com isto é que, se não quisermos sofrer as conseqüências das ações indevidas, temos que deixar Ele atuar em nós, enquanto é dia, ou seja, enquanto há possibilidade; porque a partir do momento em que agimos mal através do nosso livre arbítrio, nos vinculamos a uma reação dolorosa que pode ser qualificada como noite, e noite escura de muitas trevas.
Quanto ao meio empregado para a sua cura, evidentemente aquela espécie de lama feita com saliva e terra nenhuma virtude podia encerrar, a não ser pela ação do fluido curativo de que fora impregnada. É assim que as mais insignificantes substâncias, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo ou, se quiserem, de reservatório. (A Gênese, cap. XV)
Ressurreições:
A Filha de Jairo (Marcos,5: 21 a 43) e Filho da Viúva de Naim (Lucas, 7: 11 a 17)
Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter-se a explicação das ressurreições que Jesus operou.
Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais, quão mais freqüentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento era imediato. É , pois, de todo ponto provável que, nos dois casos acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está morta, mas dorme.
Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda não se rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas, o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.
Aconselhamos a todos a leitura do capítulo XV do livro A Gênese de Kardec, de onde transcrevemos parte do texto acima.
Ainda para uma análise mais minuciosa destas curas como de outras sugerimos os Livros “Jesus Terapeuta Vol. 1 e 2”, de nossa autoria, Editora Itapuã.
4 - Moral Cristã
Allan Kardec inicia o livro O Evangelho segundo o Espiritismo propondo uma divisão em cinco partes, as matérias contidas nos Evangelhos: Os atos comuns da vida do Cristo, os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. Continua ele: As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a ultima porém, conservou-se constantemente inatacável.4
E podemos com certeza afirmar que, se a preocupação com a parte moral tivesse sido prioritária quando da análise dos textos evangélicos, a Humanidade já teria progredido muito mais, e o mundo que habitamos já faria parte dos planos mais evoluídos da criação.
Moral - Conceito
Etimologicamente ética vem do grego ethos; em latim temos com o mesmo significado morale (de onde veio moral), ambas expressões significam conduta, ou relativo aos costumes. Podemos assim concluir que etimologicamente ética e moral são palavras sinônimas, porém não é bem assim.
Para alguns estudiosos do assunto, ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas; ética é permanente, moral temporal; ética é universal, moral é cultural; ética é regra, moral é conduta da regra.
Falando de forma mais simples podemos dizer que ética não é moral, mas que moral é o objeto do estudo da ética, ou seja, ética é a parte da filosofia que estuda a moral.
Concluindo temos que ética é então o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade da moral, por isso temos os códigos de ética que norteiam as diferentes sociedades.
Para nós espíritas estes conceitos mudam um pouco, pois conforme nos dizem os Espíritos na questão 629 de “O Livro dos Espíritos”, a moral funda-se na observância da Lei de Deus. Deste modo, se a Lei de Deus é imutável, em última instância, moral também é. Assim, moral não é um conceito temporal ou cultural, mas definitivo. Moral é então maior do que ética, pois a ética evolui, moral não. Em verdade, quando dizemos moral “disso”, ou moral “daquilo” estamos reduzindo o verdadeiro conceito de moral que como dissemos é imutável, pois fundamenta-se na observância da Lei de Deus como nos dizem os Espíritos superiores.
Só para exemplificar o que estamos dizendo, podemos lembrar que há algum tempo atrás era ético ter-se escravos no Brasil, todavia jamais foi uma atitude moral ter-se escravos em qualquer lugar ou época da humanidade. Em algumas sociedades a prática da poligamia é uma atitude ética, porém jamais será uma atitude moral pois é ato contrário à Lei de Deus.
A Moral Cristã está toda baseada no entendimento do que seja Deus, Sua Lei, e na fraternidade decorrida do entendimento real da relação Criador-criatura.
Deus é entendido pelo Cristo, como Pai. E segundo João nos afirma no capítulo 4 de sua 1a epístola, Deus é amor, e continua ele: Se alguém diz eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (I João,4: 8, e 20)
Entendido Deus, e sua relação conosco , temos a chave da compreensão de toda a moral cristã. Por isso, a insistência do Mestre para que nos amássemos uns aos outros, resumo de todos os seus ensinamentos. Moral, segundo o Cristo, é ver em primeiro lugar o interesse do próximo, entendendo como tal, todo aquele que precisa de nós, como nos mostra na Parábola do Samaritano, é dizermos não ao personalismo, é trabalhar não pensando no nosso bem estar, mas em quantos podemos beneficiar com o nosso trabalho.
Quando alguém lhe pedir o vestido, dê-lhe também a capa.
Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Ame o vosso inimigo.
Ore pelo que vos persegue.
Se amardes somente os que vos amam, que galardão havereis?
Faze isso, e viverás, porque aquele que permanecer na minha palavra será meu discípulo, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
E para concluir, ficamos com a visão madura de Joanna de Ângelis:
Jesus se preocupa com a perfeição íntima, ética, intransferível dos homens, conclamando-os a realizarem o “Reino de Deus” interiormente, numa elaboração otimista.
Certamente, a moral cristã ainda não colimou os seus objetivos elevados, conquanto os vinte séculos passados. Todavia, diante dos esforços do Direito e da acentuada luta pacífica das organizações mundiais, a Moral, em diversas apreciações tornadas legais, sancionadas por governos e povos, atingirá, não obstante as dificuldades e transições do atual momento histórico, o seu fanal nos dias do porvir, propondo ao homem moderno, na moderação e eqüidade, nos costumes corretos, aceitos pelo comportamento das gerações passadas, a vivência do máximo postulado do Cristo, sempre sábio e atual: “Fazer ao próximo o que desejar que este lhe faça”, respeitando e respeitando-se, para desfrutar a consciência apaziguada e viver longos dias de harmonia na terra, com felicidade espiritual depois da destruição dos tecidos físicos pelo fenômeno da morte.5
sábado, agosto 12, 2017
Espírito
Dos Elementos Gerais do Universo
Na questão 27 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questiona a espiritualidade sobre os elementos constitutivos do Universo da seguinte maneira:
Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?, respondem os Espíritos: Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, Pai de todas as coisas. Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal (...), informam ainda da existência de um elemento intermediário, que é o fluido universal, elemento este que permite ao Espírito exercer ação sobre a matéria.
Toda constituição tangível do Universo parte do elemento básico, o fluido cósmico que, segundo André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo Sábio.1 Agindo sobre ele, a espiritualidade superior converte-o nas mais variadas expressões. É com ele que os Espíritos Construtores constroem sistemas, constelações, em cujos campos a vida se manifesta e se expande.
Não pode o homem, devido à sua pouca evolução para as questões espirituais, conhecer o princípio das coisas; mas devido à inteligência, atributo superior dado por Deus, tem através da Ciência buscado incessantemente esse conhecimento.
Só que a Ciência humana limitou-se a considerar como únicas realidades existentes, a matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento, chegou à conclusão de que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas, que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada.
Vemos, desta forma, que a Ciência só considerou na constituição do Universo, o elemento material, quer em seu estado denso, ou em suas manifestações energéticas. Nesta particularidade, é que podemos notar o avanço trazido ao mundo pela Ciência Espírita, definindo o elemento material e o elemento espiritual como constitutivos de tudo que há no Universo.
Nem sempre nos é fácil separar esses dois elementos um do outro, devido aos vários estados em que se pode transformar a matéria. Mas o importante é saber que, como nos afirma Emmanuel, através do médium Chico Xavier, é lícito considerar-se espírito e matéria como estados diversos de uma essência imutável…2 (confirmando a orientação dos Espíritos a Kardec),apesar de o ponto de integração dos dois elementos serem ainda desconhecidos de Espíritos do nosso plano de evolução.
Mas afinal, o que podemos entender como matéria?
Esta pergunta também foi feita por Kardec aos Espíritos, respondendo Eles da seguinte forma:
É o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo exerce sua ação.
A partir dessa resposta, o Codificador diz que é através da matéria que o Espirito atua, sendo um elemento essencial para a evolução deste.
E o que é Espírito?
É o princípio inteligente do Universo, afirmam os maiores da espiritualidade, na questão 23 de O Livro dos Espíritos. É importante observar que aí os Espíritos definem o elemento inteligente do universo, e não a individualidade deste, que são os seres inteligentes do Universo, conforme definem na questão 76.
Deus criou o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. No contato com os minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.
Resumindo então, vemos que são dois os elementos do universo: espírito e matéria. O primeiro é o elemento inteligente do universo que, quando individualizado, é o Espírito. O segundo é o elemento material. Todo tipo de matéria que conhecemos é uma modificação da matéria básica, que é o fluido cósmico universal. As propriedades da matéria vêm das modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união em certas circunstâncias.
Origem e Natureza dos Espíritos
Buscando penetrar na realidade e constituição dos Espíritos, o que desvendaria os enigmas incontáveis da existência, os religiosos de todas as épocas estruturaram nele a base das afirmações éticas, estabelecendo a vida na Terra como conseqüência da vida espiritual, que sempre houve, mesmo sem a existência deste orbe.
Doutrinas exóticas estabeleceram a concepção panteísta do Universo, através da qual os Espíritos seriam fragmentos de Deus, que a Ele se reintegrariam, desaparecendo, portanto, pela destruição da individualidade, nisto incluindo todas as coisas, como partes mesmas da Divindade.
Observações apressadas engendraram teorias outras, igualmente absurdas, tais como a metempsicose, mediante a qual os Espíritos que se não houveram com eqüidade e nobreza na Terra a ela retornam, renascidos como animais inferiores.
A Doutrina Espírita, em seu caráter de filosofia, define que os Espíritos – seres inteligentes da criação – foram criados por Deus, simples e ignorantes, isto é, sem saber, e que através dos milênios realizam sua evolução, passando por variadas experiências nos reinos inferiores da criação, recebendo em sua madureza o atributo do livre-arbítrio, com o qual tornam-se senhores de sua destinação.
Portanto, os Espíritos são seres distintos da Divindade. Sendo obra de Deus, é criação sua. Como e quando foram criados, não sabemos; o que podemos deduzir é que Deus sempre os criou, porque sendo eterno, e jamais tendo ficado ocioso, criou-os ininterruptamente.
São formados do princípio inteligente do Universo, sendo uma individualização deste.
São imortais, isto é, não têm fim.
Quando desencarnados, formam o mundo dos Espíritos, que é o principal; por ser preexistente e sobrevivente a tudo.
Estão por toda parte. Apesar de que nem todos possam ir a qualquer lugar e na hora que quiserem.
Temos muitos deles ao nosso lado, influenciando-nos e sendo por nós influenciados.
São instrumentos de Deus, já que o Criador não opera diretamente sobre a matéria.
Sobre sua forma; eles nos dizem que para nós não a têm determinada, mas para eles; sim.
Se comunicam pelo pensamento, e se locomovem com a rapidez do mesmo.
Mas devemos sempre nos lembrar de que cada Espírito, por ser uma individualidade em evolução, tem suas características próprias de acordo com o seu grau de pureza. E são essas divergências que vamos estudar no próximo ítem.
Escala Espírita
São de diferentes ordens os Espíritos, de acordo com o grau de perfeição que tenham alcançado.
Essas ordens são ilimitadas em número, porque não há entre elas, linhas de demarcação traçadas como barreiras. Todavia, considerando-se os caracteres gerais dos Espíritos, e visando facilitar o estudo, a espiritualidade orientou Allan Kardec no sentido de reduzir estas ordens a três principais.
Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhe retardam o progresso, eis o que os caracteriza.
A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Esta classificação, aliás nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta caráter definido. De um a outro grau a transição é insensível.
Terceira ordem: Espíritos Imperfeitos
Caracteres Gerais: Predomínio da matéria sobre o Espírito; propensão ao mal; ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhe são conseqüentes. Têm a intuição de Deus, mas não O compreendem; apresentam idéias pouco elevadas. Na linguagem que usam se lhes revela o caráter. A felicidade dos bons lhes trazem aflição e amargura. Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea. E como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre. É a eles que Jesus falava do fogo eterno, não que o suplício fosse para sempre, mas que devido ao grande sofrimento, o ardor seria uma eternidade.
Esta ordem apresenta cinco classes principais:
Décima Classe: Espíritos Impuros – O mal é o objeto de suas preocupações; sua linguagem é grosseira e revela a baixeza de suas inclinações. Alguns povos os arvoraram em divindades maléficas; outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos do mal. Quando encarnados são propensos a todos os vícios geradores das mais sórdidas paixões.
Nona Classe: Espíritos Levianos – São ignorantes e inconseqüentes, mais maliciosos do que propriamente maus; linguagem irônica e superficial. Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente tratados de duendes, trasgos, gnomos, diabretes.
Oitava Classe: Espíritos Pseudo Sábios – Possuem conhecimentos bastante amplos, mas julgam saber mais do que sabem; sua linguagem tem caráter sério, misturando verdades com suas próprias paixões e preconceitos.
Sétima Classe: Espíritos Neutros – Apegados às coisas do mundo, sentem saudades de suas grosseiras alegrias. Não são bons o suficiente para praticarem o bem, nem maus o bastante para fazerem o mal.
Sexta Classe: Espíritos Batedores e Perturbadores – Esses não formam uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais. Podem pertencer a todas as classes da Terceira Ordem; sua presença manifesta-se por efeitos sensíveis e físicos, como pancadas e deslocamento de corpos sólidos. Parecem ser agentes dos elementos do globo; quer atuem sobre o ar, a água, o fogo, mas é que deles se servem os Espíritos Superiores para produzir esses fenômenos físicos do planeta, quando julgam úteis as manifestações deste gênero.
Segunda Ordem: Bons Espíritos
Caracteres Gerais: Predomínio do Espírito sobre a matéria; desejo do bem; compreendem Deus e o infinito, mas ainda terão de passar por provas; uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantados juntam ao seu saber as qualidades morais. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. Quando desencarnados, suscitam bons pensamentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na vida os que se lhe mostram dignos de proteção. Quando encarnados, são bondosos e benevolentes com seus semelhantes, não os movem orgulho, nem o egoísmo. A essa ordem pertencem os Espíritos designados, nas crenças populares, pelos nomes de protetores, anjos da guarda, Espíritos do bem.
Esta ordem apresenta quatro classes principais:
Quinta classe: Espíritos Benévolos – Seu progresso realizou-se mais no sentido moral do que no intelectual; a bondade é a qualidade dominante.
Quarta Classe: Espíritos Sábios – Amplitude de conhecimentos aplicados em benefício dos semelhantes; têm mais aptidão para as questões científicas do que para as morais.
Terceira Classe: Espíritos de Sabedoria – Elevadas qualidades morais e capacidade intelectual que lhes permitem analisar com precisão os homens e as coisas.
Segunda Classe: Espíritos Superiores – Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade; buscam comunicar-se com os que aspiram à verdade. Encarnam-se na Terra apenas em missão de progresso e caracterizam o tipo de perfeição a que podemos aspirar neste mundo.
Primeira Ordem: Espíritos Puros
Caracteres Gerais: Nenhuma influência da matéria; superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras ordens.
Esta ordem apresenta apenas uma única classe:
Primeira Classe. Classe Única – Os Espíritos que a compõe percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas nem expiações. Não estando mais sujeitos a reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém não é a ociosidade monótona, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal.3
Anjos e Demônios
Anjo
Segundo a conceituação da palavra, anjo é o ser espiritual que exerce o ofício de mensageiro entre Deus e os homens.
Todas as religiões têm tido a intuição da existência destes mensageiros sob vários nomes. Já o materialismo, negando a existência espiritual, classifica os anjos como ficção ou alegoria.
A crença nos anjos é parte essencial dos dogmas da igreja. O princípio geral resultante dessa doutrina é que os anjos são seres puramente espirituais, anteriores e superiores à humanidade, criaturas privilegiadas e votadas à felicidade suprema e eterna desde a sua formação, dotadas por sua própria natureza de todas as virtudes e conhecimentos, nada tendo feito para adquiri-los. Estão, por assim dizer, no primeiro plano da criação.
Que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A Revelação Espírita neste ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer, entretanto, a origem e natureza de tais seres.
Anjos são Espíritos que como todos os outros foram criados, como já dissemos anteriormente, simples e ignorantes, isto é ,sem conhecimentos nem consciência do bem ou do mal, porém aptos a conseguir o que lhes falta através do trabalho árduo da evolução. Se o trabalho é o meio de aquisição da sabedoria, a perfeição é a finalidade. Conseguem-na mais ou menos prontamente em virtude do bom ou mau uso do livre-arbítrio, e na razão direta de seus esforços. Todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porque é a própria Justiça; e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções.
Portanto anjos não são seres especiais, mas espíritos que já passaram por este processo. Acham-se no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.
Muitas das vezes, são designados com esse nome todos os seres bons e maus que estão fora da humanidade. Diz-se “o anjo bom” e “o anjo mau”; “o anjo de luz” e “o anjo das trevas”. Mas a doutrina quando fala de anjo, refere-se a Espírito Puro. Quanto aos anjos guardiões, espíritos encarregados de proteger-nos e nos livrar do mal, melhor seria chamá-los de “Guias Espirituais” .
A Humanidade não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no espaço circula; já habitou os desaparecidos e habitará os que se formarem.
Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que hora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do criador. De toda eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência humana se passou num longínquo passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos.
Realiza-se assim a grande lei da unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros Espíritos, experimentados e esclarecidos para a transmissão de suas ordens e direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus necessidade de Criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos enfim são filhos de sua própria obra.
E, desse modo, completa-se com igualdade a Soberana Justiça do Criador.
Demônio
Do grego. daimónion, pelo lat. daemoniu.
Nas crenças da Antigüidade e no politeísmo, a palavra demônio significa gênio inspirador, bom ou mau, que presidia o caráter e o destino de cada indivíduo. Seria o mesmo que alma, ou espírito.
Nas religiões judaica e cristã, anjo mau que, tendo-se rebelado contra Deus, foi precipitado no Inferno e procura a perdição da humanidade; gênio ou representação do mal; espírito maligno, espírito das trevas; Lúcifer, Satanás, Diabo.
Portanto o termo demônio, na sua origem, não implica idéia do Espírito mau. Só a significação vulgar da palavra nos dá a entender que seriam seres essencialmente malfazejos.
Sendo criação de Deus, e sendo Este soberanamente justo e bom, é ilógico ter criado seres predispostos ao mal por sua natureza, e o que é pior, serem eles condenados por toda a eternidade.
O dogma das penas eternas deve prender-nos a atenção. Arma temível nas mãos da igreja, nas épocas da fé cega, ameaça suspensa sobre a cabeça do homem, ele foi para esta instituição um instrumento incomparável de domínio.
Donde procede essa concepção de satanás e do inferno? Unicamente das noções falsas que o passado nos legou a respeito de Deus. Toda a Humanidade primitiva acreditou nos deuses do mal, nas potências das trevas, e essa crença traduziu-se em lendas de terror, em imagens pavorosas, que se transmitiram de geração a geração, e inspirando grande números de mitos religiosos.
Essas potências malignas foram personificadas, individualizadas pelo homem. Desse modo, criou ele os deuses do mal. E essas remotas tradições, legado das raças desaparecidas, perpetuadas de idade em idade, encontram-se ainda nas atuais religiões.
Daí Satanás, o eterno revoltado, o inimigo eterno do bem, mais poderoso que o próprio Deus, pois que reina como senhor do mundo, e as almas criadas para a felicidade caem, na maior parte, debaixo do seu jugo.
Os homens fizeram com satanás, ou demônio, como queiram, o que fizeram com os anjos. Da mesma forma que acreditaram em seres perfeitos de toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores, aqueles que ainda se acham estagnados na ignorância sem simplicidade, por seres perpetuamente maus. Portanto, a doutrina Espírita nos convida a ver nos chamados demônios, Espíritos impuros que, freqüentemente, não valem mais que as entidades designadas por tal nome, mas com a diferença de que eles não foram sempre assim, e seu estado é transitório. São Espíritos imperfeitos que murmuram contra as provas que devem suportar, e que, por isso, suportam-nas por mais tempo. Chegarão, porém, por seu turno, a sair desse estado, quando o quiserem. Essa a grande diferença, de um lado a doutrina da igreja, a nos ensinar que os demônios teriam sido criados bons e tornaram-se maus por sua desobediência, ou seja, anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. E de outro, a Doutrina Espírita que diz que os demônios são espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que colocados na base da escala, hão de nela graduar-se pela sua própria vontade e esforço.
Notas:
1 - Evolução em Dois Mundos pg. 19
2 - Emmanuel pg. 170
3 - Extraído de O Livro dos Espíritos
terça-feira, agosto 08, 2017
Deus
É de todos os tempos a crença em uma entidade superior.
Na questão n° 6 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec pergunta aos Espíritos, se esse sentimento íntimo que temos da existência de Deus, não é fruto da educação que recebemos. Eles respondem que não: “Se assim fosse, por que existiria nos vossos selvagens esse sentimento ?”
Já no homem primitivo, naquele momento em que podemos chamar de “horizonte agrícola”, ou seja, o mundo das primeiras formas sedentárias de vida social, vemos duas formas gerais de racionalização do universo: a concepção da Terra-Mãe e a do Céu-Pai. O céu é o deus-pai, que fecunda a terra, deusa-mãe.1
Na civilização egípcia, há uma inversão de posições; o céu é a mãe e a terra é pai. Isso se dá devido à maior importância da terra ou do céu para a vida das tribos.
Com o desenvolvimento mental do homem, há um progresso natural da divindade, e o surgimento da mitologia popular, impregnada de magia
Num outro momento, encontramos a primeira forma de religião antropomórfica, conseqüência da experiência concreta do culto dos ancestrais: deuses-lares, manes e deuses-locais, como os deuses dos “nomos” egípcios, ou seja, das regiões do antigo Egito.
Esse entendimento humano de vários deuses, neste momento evolutivo, é explicado por Kardec na questão 521 de “O Livro dos Espíritos”, como uma confusão feita pelos antigos, dos espíritos com o próprio Criador: Os antigos fizeram, desses Espíritos, divindades especiais. As musas não eram senão a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates, simbolizavam os Espíritos protetores da família.(...)
Emmanuel, o iluminado guia de Chico Xavier, conta em seu livro, A Caminho da Luz, que já no antigo Egito, sabia-se da existência do Deus-Único:
Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de todas as criaturas, e Providência de todos os seres, mas os sacerdotes conheciam igualmente, a função dos Espíritos prepostos de Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária (...)
Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu então, a idéia politeísta dos numerosos deuses(...)2
Mas foi em Moisés, na sua qualidade de mensageiro Divino, que vimos pela primeira vez a popularização da idéia do Deus Único. Voltemos ao livro já citado de Emmanuel:
Todas a raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado, que consiste na revelação do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres.
O Grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo. A missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a ocultar.3
Apesar da grandeza espiritual do líder hebreu, a inferioridade do povo daquela época, fez a necessidade de um entendimento humanizado de Deus, conforme vemos nos textos do Velho Testamento, onde o Criador é tratado como vingativo, sanguinário; o verdadeiro “Senhor dos Exércitos”.
A história de certa forma se repete com Jesus:
Desce dos Planos Maiores da Espiritualidade, aquele que é o Espírito mais evoluído que já pisou neste planeta, trazendo a idéia mais clara a respeito de Deus: Pai de toda a Humanidade.
O Deus do entendimento do Cristo não é o déspota zeloso e parcial, mas o Pai que acolhe a todos com sua infinita Misericórdia.
Ele está presente no amor do “Samaritano”, na recuperação daquela que era obsidiada por “Sete demônios” e na conversão de Saulo de Tarso.
Mas os “ditos cristãos” fizeram Dele, um ser à imagem e semelhança do homem. Novamente o ser vingativo que mandava queimar quem não seguisse seus preceitos, um ser misterioso, complicado, envolvido no “mistério da santíssima trindade”, algo sem lógica e inexplicável até os dias de hoje.
Por isso, coube ao Espiritismo explicar, à luz da ciência e com a simplicidade dos verdadeiros Cristãos, o entendimento real do Criador.
2 - Visão Espírita de Deus
As revoluções comercial e industrial trouxeram para Humanidade um grande desenvolvimento tecnológico e científico, mas também uma grande mudança na maneira de pensar.
A fé e a existência de Deus passaram a ser questionadas, buscando uma lógica e um bom senso apoiado nestas mudanças realizadas.
A igreja, que até então era a dona da verdade, começava a ser desmentida pelos fatos. A idéia da criação em sete dias de 24 horas, o aparecimento do homem na Terra há 4.000 anos antes de Cristo já não tinha apoio científico, e as divergências da moral pregada e da moral praticada começava a jogar por terra a existência de Deus, e o materialismo passou a se tornar uma tendência crescente entre os homens.
É nesse momento de amadurecimento da Humanidade, que os Espíritos nos induzem a ter a verdadeira compreensão de Deus.
A questão é tão importante para a formação de uma nova mentalidade, que o Codificador dedica todo o primeiro capítulo da primeira parte de O Livro dos Espíritos a um estudo sobre Deus, aprofundando o tema mais tarde em vários artigos da Revista Espírita e em outras obras de sua autoria.
Allan Kardec trata o tema com tanta competência que, já na primeira pergunta de “O livro dos Espíritos”, questiona: “O que é Deus ?”
Notamos sua sabedoria já no formular da questão; a pergunta é “O que é Deus”, e não “Quem é Deus”. Desta forma, o grande pensador francês tirou a idéia de personalidade e individualidade do Criador, pensamento este muito bem desenvolvido pelo filósofo italiano Pietro Ubaldi em sua obra A Grande Síntese, quando estuda a idéia do Monismo. Deus conforme o entendimento espírita é não só transcendente, mas também imanente.
É então que os Espíritos nos respondem: Deus é a Inteligência Suprema, Causa primária de todas as coisas, nos mostrando o caráter de Criador do Ser Supremo. Tudo o que existe veio Dele, ou seja, Ele é a Causa primária, ou primeira (como querem alguns), de tudo o que existe. E para mostrar aos intelectuais de então que esta afirmativa tem base científica, os Espíritos nos esclarecem sobre a prova da existência de Deus: um axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa, esta é a prova da existência de Deus. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.4
Portanto, se há uma casa em algum lugar, alguém a construiu, se existe uma determinada música, houve um compositor que a fez. Desta forma, procuremos o que não pode ser obra do homem, e veremos que houve uma Entidade Superior que assim a fez.
Não importa, como diz o próprio Codificador em seu livro Obras Póstumas, se chamamos essa Causa Primária de Deus, Jeová, Alá, Brama, Fo-Hi, Grande Espírito, etc. O que temos que ver é que se os efeitos são inteligentes, é sinal que a causa é inteligente. E é devido à perfeição dos efeitos que os Espíritos nos mostram ser Deus, não um ser inteligente, mas, a Inteligência Suprema.
Uma outra questão tratada pelo Codificador que devemos aqui lembrar, é a da natureza divina. Pode o homem ver Deus? Entender a sua intimidade ? E ele responde no item 8, do capítulo 2, do livro A Gênese:
Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio que só se adquire por meio de completa depuração do Espírito. Mas se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Atributos divinos
Deus é eterno. Se tivesse tido começo, alguma coisa havia existido antes dele, ou ele teria saído do nada, ou então, um ser anterior o teria criado. É assim que, degrau a degrau, remontamos ao infinito na eternidade.
É imutável. Se tivesse sujeito à mudança, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
É imaterial. Sua natureza difere de tudo a que chamamos matéria, pois do contrário, ele estaria sujeito às flutuações e transformações da matéria e, então, já não seria imutável.
É único. Se houvesse muitos Deuses, haveria muitas vontades e, nesse caso, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
É onipotente. Se ele não dispusesse de poder soberano, alguma coisa ou alguém haveria mais poderoso do que Ele; não teria feito todas as coisas e as que ele não houvesse feito seriam obra de outro Deus, então Ele não seria único.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas mínimas coisas como nas maiores e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça, nem da sua bondade.
A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto se Ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só das criaturas, já não seria soberanamente justo, e em conseqüência, já não seria soberanamente bom.
Deus é infinito em todas as suas perfeições.
Se O supuséssemos imperfeito em um só de seus atributos, se Lhe tirássemos a menor parcela de eternidade, de imutabilidade, de imaterialidade, de unidade, de onipotência, de justiça e de bondade, poderíamos imaginar um ser que possuísse o que lhe faltasse, e esse ser, mais perfeito do que ele, é que seria Deus.
Para finalizar, gostaríamos de lembrar de um outro ponto tratado pelos Espíritos, quando respondem a questão 536 de O Livro dos Espíritos: (...) Deus não exerce ação direta sobre a matéria (...), como a definir para todos nós que o Criador tem em seus Filhos já mais evoluídos, verdadeiros co-criadores a auxiliá-Lo na execução de Suas Leis.
3 - Lei de Deus
Conceito de Lei: Regra de direito ditado pela autoridade estatal e tornada obrigatória para manter numa comunidade a ordem e o desenvolvimento.
O que é a Lei de Deus?
Também chamada Lei Divina ou Natural, é a Lei com a qual o Criador regula o funcionamento do Universo. Deus criou esta Lei , como a nos indicar o que devemos ou não fazer. É Lei natural, porque é a tendência natural da criatura respeitar esta Lei, e só somos felizes quando estamos em acordo com Ela.
É eterna e imutável como o próprio Deus; se assim não fosse não seria obra de Deus, e geraria o maior transtorno nas relações universais.
Segundo os Espíritos, respondendo a questão 621 de O Livro dos Espíritos, ela está gravada na consciência de cada um de nós. E podemos afirmar que isto assim se realiza desde o princípio da nossa existência, sendo este o porquê de estarmos sempre buscando a nossa evolução, através do aperfeiçoamento de nós mesmos.
O Criador, que é todo Sabedoria, ao criar esta Lei, instituiu a mecânica de equilíbrio do Universo. Quando desrespeitamo-la, não desequilibramos nada, a não ser nós mesmos (porque um desequilíbrio do microcosmo não pode alterar o macrocosmo), e desta forma somos induzidos a voltar à observância da Lei, pelos mecanismos da mesma. É o que chamamos de Lei de Causa e Efeito que, segundo orientação de nossos mentores da espiritualidade, é uma subdivisão da grande Lei.
Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo(...), afirmam os Espíritos na questão 617 de O Livro dos Espíritos, e continuam: O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma.
Vem daí o próprio entendimento do que seja moral. Na questão 629 do livro citado, vemos a seguinte afirmativa: A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da Lei de Deus(...).
Em todos os tempos, Deus enviou até nós, mensageiros com a missão de nos fazer lembrar de suas leis. Moisés, Buda, Lao Tsé, entre outros, fizeram parte destes. Mas é em “Jesus” que vemos o modelo e o tipo mais perfeito que temos condição de aspirar na Terra, e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da Lei do Senhor.
Mas podemos nos perguntar: se o bem é a tendência natural, porque existe o mal? Não poderia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
Deixamos a resposta com nosso querido mentor Emmanuel:
[Pergunta] Se o determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?
[Resposta] O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para a comunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, o homem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesma lei, efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina.
Eis o mal.
Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.
Eis o resgate.
Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado, não pode existir para Deus, em virtude de representar um desvio do homem, sendo zero na Sabedoria e na Providência Divinas.
O Criador é sempre o Pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando os filhos transviados como incursos em vastas experiências. Mas, como Jesus e os seus prepostos são seus cooperadores divinos, e eles próprios instituem as tarefas contra o desvio das criaturas humanas, focalizam os prejuízos do mal com a força de suas responsabilidades educativas, a fim de que a Humanidade siga retamente no seu verdadeiro caminho para Deus.5
Como vimos, o mal não é criação divina, mas opção do homem quando se afasta de Deus, no seu incerto caminhar. E como conseqüência, o Arquiteto do Universo, na sua infinita Misericórdia, permite que o mal cure o mal, trazendo o homem de retorno à Ele.
Concluindo: podemos dizer que, como afirmam os Espíritos na questão 648 de “O Livro dos Espíritos”, a subdivisão da Lei Divina em outras leis pode ser usada, mas não em caráter absoluto, e sim com finalidades didáticas, porque, na verdade, toda a Lei está contida na máxima evangélica: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.” – Jesus (João:13,34)
4 - Providência Divina
Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.
Segundo anotações de Kardec no livro A Gênese:
…a providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte(...), continua o codificador, (...) tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
Está intimamente no Universo, manifestando-se em todas as coisas e por meio de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde as mais elementares ações para a manutenção da vida orgânica e a sua transmissão, garantindo a perpetuação da espécie, até a faculdade superior do livre arbítrio, que dá ao homem o mérito da conquista consciente da felicidade, através da observância de suas leis.
A providência é, ainda, o Espírito Superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida.
Concluindo, podemos afirmar que é o Amor Divino a manifestar-se em nós, através da circunstância que, por sua vez, é a vontade do Criador em favor da criatura.
Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores íntimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?
Para responder a esta questão, temos um exemplo anotado por Allan Kardec, tirado de uma instrução dada por um Espírito, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 1867:
O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, e analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.
Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a Criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda a parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com Ele, como todas as células do corpo humano se acham em contato imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica num e noutro caso.
Um membro se agita: O Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.
Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.” (Quinemant )
Finalizando este sintético estudo, gostaríamos de deixar para meditação algumas palavras do nosso iluminado Allan Kardec, no seu livro A Gênese:
Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do princípio que os produz. Será então racional neguemos o princípio divino, por que não o compreendemos? (...) Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não poderemos duvidar. É infinitamente justo e bom; essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode ele querer. Donde se segue que devemos confiar nele: é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.
Notas:
1 - Cf. Herculano Pires em "O Espírito e o Tempo"
2 - Emmanuel, "A Caminho da Luz", pag. 43
3 - Idem, ibidem, pag. 68 e 69
4 - O Livro dos Espíritos Questão 4
5 - O Consolador Q. 136