sexta-feira, abril 20, 2018

O Inferno Eterno não é Para Sempre


Certa vez perguntei a um Pastor protestante o porquê dele acreditar que a punição do Inferno seria eterna.

Ele me respondeu prontamente:


- "Porque a Bíblia afirma que é."


Nós Espíritas não acreditamos que exista um Inferno eterno, as penas não são para sempre. Isto quer dizer que a Bíblia errou? Ou nós não acreditamos na Bíblia?

Nem uma coisa nem outra. Allan Kardec, na questão 59 de O Livro dos Espíritos, comentando outro texto das Escrituras, já afirmava:


"a Bíblia não é um erro, erraram os homens em interpretá-la".


Nesta questão do Inferno ou do Fogo Eterno, podemos dizer a mesma coisa: "...erraram os homens em interpretá-la"


A língua original da Bíblia é o hebraico; mesmo o Novo Testamento que foi originariamente escrito em grego, foi vivido na palestina, por isso a língua original dos acontecimentos é o hebraico ou o aramaico. O Novo Testamento em grego é uma tradução dos acontecimentos reais.

A palavra hebraica que foi traduzida por "eterno" ou "eternamente", é "olam".

Acontece que na língua original bíblica do tempo de Jesus ou mesmo do tempo do Antigo Testamento olam, ou "eterno" não significa "para sempre" como nós entendemos hoje no ocidente.

"Eterno" era sempre relativo a um certo tempo, que poderia durar muito dependendo do caso, mas não para sempre.


No Salmo 23:6 temos:


"...habitarei na casa do Senhor por longos dias" (Grifo Nosso)


Ou seja, não é para sempre, mas por "longos dias". Algumas Bíblias traduzem como "para sempre" o que não é a mesma coisa, mas podemos dizer que o tradutor não foi fiel ao contexto, mas colocou um pensamento seu, o que não deveria acontecer com as traduções.


Existem muitos outros textos da Bíblia que poderíamos citar para confirmar o que estamos dizendo; escolhemos mais um que reflete bem esta diferença do hebraico antigo com o nosso idioma de hoje.


Em Isaías, 32: 14 e 15, temos:


"14 Porque o palácio será abandonado, a cidade populosa ficará deserta; e o outeiro e a torre da guarda servirão de cavernas para sempre, para alegria dos asnos monteses, e para pasto dos rebanhos;15 até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto, e o deserto se torne em campo fértil, e o campo fértil seja reputado por um bosque."


Grifamos a expressão "para sempre" e "até que" para explicarmos melhor.


Veja que o texto de Isaías diz de um evento que se daria para sempre..., até que... acontecesse um outro evento que mudaria os acontecimentos.


Ora, como uma evento pode ser para sempre, até que? Em nosso idioma não dá para entender, mas no hebraico antigo era plenamente compreensível. Mesmo o para sempre era relativo a um tempo, e não eternamente.


Também no Novo Testamento, escrito em grego, vamos encontrar exemplos dentro deste contexto:

Em Filemon, 15, Paulo escreve a Filemon sobre Onésimo:


"Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre"

Ora, não era ideia de Paulo que Onésimo fosse de Filemon "eternamente", mas enquanto vivesse, ou seja, dentro de um tempo limitado, mesmo que durasse muito.


Desta forma, podemos compreender que quando Jesus se referia a um "fogo eterno", ou um "fogo que queimaria para sempre", não estava dizendo de um tormento eterno como nós entendemos hoje, trata-se de uma punição que pode durar muito, mas não eternamente.


Se assim não fosse um dos atributos de Deus que é o "Amor" ficaria comprometido, e isto é que não pode, reduzir ou negar qualquer dos atributos de nosso Pai Eterno.


Ademais, se o Inferno fosse Eterno, o próprio Jesus teria dado ensinamento errado, o que também é inadmissível. Pois o que alimenta o Inferno é o mal, e se o Inferno fosse eterno, o mal também teria que ser, e Jesus foi claro:


Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. (Mateus, 15: 13)


O mal não foi plantado por Deus, portanto será arrancado (extirpado) um dia, não existirá pela eternidade. Desta forma, sem o mal, o Inferno também não existirá pela eternidade, lhe faltará alimentação.