terça-feira, junho 25, 2024

Lendo os Salmos à Luz do Novo Testamento e da Doutrina Espírita - Sl, 22: 1 a 6

 

 
 
Salmo 22: O Salmo que Jesus Orou 

Leia aqui Salmo 22: 1 a 6

Este é um Salmo mais que especial. É um dos mais citados e utilizados pela tradição cristã.  Os relatos da paixão de Cristo se inspiram nele.

Esteve como oração na boca do próprio Jesus. É sem dúvida um Salmo de profecia messiânica; e mais, ao nos dizer da humanidade do Messias fala dEle como modelo. Neste passo nos identificamos e passamos à condição do Orante,

Devido a especialidade do Salmo, iremos comentá-lo mais detalhadamente.

Podemos ver nele dois lances distintos

  •  Súplica: Versículos de 1 a 22
  •  Louvor e agradecimentos futuros como esperança de libertação: Versículos 23 a 31

 Importa-nos ainda destacar a urgência do salmista devido ao seu grande sofrimento, e sua atitude nobre: não pede punição para aqueles que o fazem sofrer e nem relaciona o sofrimento a nenhuma culpa ou transgressão que tenha cometido.

Neste ponto temos importante aprendizado principalmente para nós espíritas: nem todo sofrimento é expiação pode ser apenas uma prova aperfeiçoando o Espírito.

Talvez esteja aqui a compreensão do sofrimento de Jó. Não se trata de retribuição, nem mesmo de causa e efeito, talvez oportunidade de crescimento espiritual.

O primeiro versículo foi repetido como oração por Jesus:

 

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste (Salmo 22:1)

É preciso ver as diferenças dele na boca de Jesus e na nossa quando oramos.

Jesus é o Guia e o Modelo para toda humanidade (cf. O Livro dos Espíritos, Questão 625)

Ele não precisava passar por nada que passou, se assim o fez, foi por amor e para ensinar-nos o "caminho" para Deus. Pode até mesmo se identificar com o "caminho” por ter feito ele com excelência; assim, adquiriu autoridade.

Desta forma ao orar este verso participando de nossa humanidade Ele carinhosamente nos ensina dizendo que vamos passar por momentos de tão grande dificuldade que sentiremos como se Deus tivesse nos abandonado. Estes momentos são aqueles em que ninguém pode nos ajudar, temos de passá-los em solidão.

Existem circunstâncias em nossa vida que somos só nós quem temos que resolver. Neste instante temos não o abandono de Deus, mas Ele fica oculto, os amigos espirituais se afastam não por negligência, mas para nos deixar testemunhar. É este instante que está em foco no verso, é uma realidade pela qual temos de passar; em Jesus é ensinamento, é Ele educando nosso Espírito imortal.

Ensinando-nos que em nossa boca a oração não deve ser protesto, mas clamor confiante.
 O Segundo versículo quebra a sequência de outros Salmos. Normalmente aquele que ora clama e o Senhor responde.

Aqui Ele não responde, nem à noite o salmista tem descanso.

Como comentamos trata-se daquele momento provacional por qual todos passamos, momento de grande significação, em que o Criador e os Espíritos Consoladores nos observam de "longe".

Muitas vezes, neste instante, buscamos o conselho de um amigo e não o encontramos, outro, e também não; buscamos nos socorrer com uma página de um livro edificante e a mensagem sorteada é completamente distante da nossa necessidade. Faz parte, nas horas definidoras de nossa evolução temos de decidir a sós, escolher o caminho e nos mantermos nele, é a opção de cada um.

"Deus é Santo", habita em nossos louvores (Vers. 3), que são nossas atitudes em obediência a Ele. Só assim, em santidade, que é a realização do projeto Dele para nossa vida, habitaremos em Seu santuário e Ele em nós, em nosso coração.

Nossos pais (Vers. 4) representam aqueles que nos antecederam na doutrina do Cristo. Podemos vê-los na revelação primeira do Antigo Testamento, na segunda do Novo Testamento, ou na terceira, a dos Espíritos consoladores.

No quarto e quintos versículos a expressão de confiança se repete por três vezes. Já dissemos alhures que no contexto do Antigo Testamento confiar é testemunhar Deus e entregar a Ele a vida e as atitudes.

No Novo Testamento esta confiança e fidelidade é tratada como "fé", que é o ato de estar comprometido com o amor de Cristo.

Nossos pais serviram de exemplo e foram salvos, e nós, que exemplo estamos deixando para os nossos filhos?

O vocábulo "verme" (Vers. 6) é usado outras vezes na Escritura em outros contextos, aqui ele tem uma conotação social.

Sabemos que somos quase nada diante de nossa destinação futura, porém, quando assumimos uma vida buscando espiritualidade, somos vistos por aqueles que nos rodeiam como um "bichinho esquisito", eles ainda presos à retaguarda não compreendem a transformação que está operando em nós, não somos mais vistos como "homens" comuns.

(continuará na próxima postagem)

 

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                       Maria de Nazaré, Paulo de Tarso; Mulher e Homem em Cristo

                       Salmo 18 - Breves Considerações

 

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terça-feira, junho 18, 2024

Sermão do Monte - Eu Porém Vos Digo...

#Pública






Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa...
(Mateus, 5: 38 a 40)
Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
Ouvistes que foi dito - A formação da personalidade é feita por etapas. Ouvimos o que é dito. Elaboramos novos conceitos a partir do que ouvimos, selecionamos o que convém, desfazemo-nos daquilo que não encontra apoio em nossa consciência. Agimos, fixando os novos valores.
O Cristo, a manifestar-se em nossa intimidade, constantemente nos impulsiona a rever o que já foi dito e assimilado, indicando um novo caminho mais seguro a seguir.
É preciso conhecermo-nos, ouvir o que grita em nosso interior; analisar e gravar para sempre os valores libertadores do Amor.
Olho por olho e dente por dente – É a lei de talião. Segundo entendimento dos Escribas e Fariseus, era a lei da vingança.
Olho  por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, assim está escrito no Êxodo 21:24. Em Levítico 24:20 está ainda mais explícito: quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará
Nenhum texto das escrituras pode ser analisado somente em seu sentido literal. Este foi o erro dos antigos, e é ainda o de muitos dos novos fariseus.
Para analisar este trecho, temos que observar dois aspectos. Primeiro, que o olho por olho realmente é uma realidade como aplicação da Lei de Causa e Efeito.

…porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão[1].
Falando desta forma, Jesus nos alerta para a necessidade de buscarmos as causas de nossos sofrimentos atuais em nossa própria conduta..
Assim se lhe fará, diz o texto bíblico, ou seja, não fomos designados pelo Criador para fazer justiça; isto é função da Lei e não do homem. Este entendimento antigo é deficiência de interpretação dos textos sagrados. Ademais, se a justiça é um dos componentes da Lei Maior da Vida, não podemos esquecer que a Misericórdia também o é. Se o próprio Cristo disse: Misericórdia quero e não sacrifício[2], como a mostrar a necessidade de vivenciarmos o sentimento do perdão, o que não dizer de Deus que é Todo Amor e Infinito em Perfeição?
Não temos jamais, devido às nossas deficiências, condições para avaliar o processo em que o nosso semelhante está envolvido. Isto fica explícito na afirmativa de Jesus: Não julgueis… Portanto, se não nos é lícito julgar, como condenar?
O segundo aspecto a ser visto é como era o comportamento da sociedade no tempo de Moisés. Não existia lei regulando a convivência; era a força que determinava o direito. Então, quem tinha mais poder e condições ditava as regras. Implantando assim a lei de justiça, Moisés dava um passo enorme como preparação para o advento do amor, que teve no Cristo a sua personificação.
Pensando desta forma, o olho por olho, dente por dente era um avanço para a humanidade daquele tempo. Mas hoje não é mais assim, já temos os ensinamentos de Jesus e a Revelação Espírita a nortearem a nossa conduta.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra…
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal – Resistais é o verbo "resistir" no presente do subjuntivo; que em seu significado natural quer dizer "oferecer resistência". Mal é aquilo que traz prejuízo; o que é nocivo. Genericamente, podemos dizer que mal é tudo aquilo que contraria às sábias Leis do Criador; é tudo que é contrário ao bem.
A princípio, a afirmativa de Jesus – não resistais ao mal - parece contrária aos Seus ensinamentos. Mas notamos que o Eu ,porém, vos digo, vem afirmar que é Ele, o Governador Espiritual da Terra; Espírito Puro incapaz de errar, quem diz. Desta forma não há erro, é preciso retirar destas palavras o ensinamento devido.
Quando analisamos a questão da resistência, vemos que para opor resistência a alguma coisa é preciso fazer uma força igual em sentido contrário. Aqui, trata-se de resistir ao mal. E, raciocinando desta maneira, para oferecer tal resistência, é preciso fazer a mesma força ,ou seja, o mal, em direção contrária, isto é, àquele que nos fez. Esta fórmula induz à vingança, a alimentar o ódio em suas origens. É por isso que Jesus condena a resistência ao mal; não que não devamos lutar contra ele, mas a forma é que deve ser diferente, segundo observação do convertido de Damasco:

Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.[3]

…mas… - O mas é uma conjunção que neste caso contrapõe a ideia que vai ser exposta, à anterior. Assim Jesus explica o que Ele quer dizer, e como fazer para que o não resistais ao mal, seja uma atitude positiva.
…se qualquer… isto é, quem assim o fizer; indistintamente.
…te bater na face direita… - a expressão bater na face direita nos leva a pensar em uma ação agressiva. Sempre que esta ação ocorre contra a nossa pessoa ou às pessoas de nossa relação ou ainda a quem achamos ter sofrido alguma injustiça, a nossa primeira reação é contra-atacarmos no mínimo com outra agressão no mesmo nível. O que nos leva a tal procedimento senão posições de orgulho, vaidade, ou presunção de nossa parte? Quando realizamos esta autoanálise a que o Cristianismo Redivivo nos remete, é importante notar que se a agressão for desferida sem fundamento, pouco ou nenhum valor damos a ela, e que quando há reação de nossa parte, é porque a consciência nos acusa de alguma forma.
Assim, antes de reagirmos contra aqueles a quem nos achamos com o direito de tal procedimento, observemos se não é o melindre, o orgulho ferido ou ainda a vergonha de ter sido descoberto em erro que nos induz a tal posicionamento. Se for, a proposta do Cristo é a de autocorrigenda, conforme expressam as palavras do Apóstolo Paulo:

E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.[4]

…oferece-lhe também a outra… - Oferecer a outra face, longe está de satisfazer-se em ser agredido. O Evangelho não apoia posturas de baixa estima.
A proposta do Cristo, com relação à agressão, é mostrar o outro lado da questão. Se somos vítimas da incompreensão, atendamos à necessidade de compreender; se a ira alheia nos atinge, exemplifiquemos a paz dissolvente do ódio; se prejudicados pelo egoísmo, lembremos que só o amor nos liberta do sofrimento.
Novamente nos socorremos das sábias palavras do Apóstolo das Gentes:

Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.[5]
No instante em que realmente conquistamos a condição de pacificadores, nosso agressor sente seu erro; e a sua atitude negativa leva-o a um necessário remorso – indutor de transformações - muito bem definido pelas palavras brasas de fogo sobre sua cabeça.
…e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa…
…e ao que quiser … - …e ao que quiser, exprime uma ação em favor do seu querer, do objeto de seu desejo. É comum discutirmos com as pessoas sobre como se movimentam em busca do que querem, e até com referência ao próprio objeto de cobiça. Se é lícito ou não, ou se não seria melhor buscar alternativas. Isto tudo é muito natural, principalmente após adotarmos uma conduta renovadora como a prática cristã. Se foi bom para nós, logo queremos que os amigos, parentes e afins adotem o mesmo comportamento. Mas daí a exigir-lhes que assim o façam é outra história. Cada um elege para si, comportamento conforme o seu grau evolutivo; a nossa hora é agora, todos terão a sua.
É importante esta observação do Cristo: ao que quiser. Tem de haver o querer; a vontade é fator decisivo para todas as conquistas, só de posse dela passaremos com segurança pelas provas inerentes ao próprio aperfeiçoamento. Nós já conhecemos; como temos encaminhado o nosso querer?
…pleitear contigo … - A ação definida pelo verbo pleitear inspira disputa, luta, discussão. O verdadeiro cristão não é afeito a estas contendas. Sabe ele quais são os valores verdadeiros, e que estes não são motivo de disputa, pois tais conquistas são individuais, intransferíveis. Entende ele com muita naturalidade, o a César o que é de César; a Deus o que é de Deus.
O pronome contigo define a pessoa com quem se fala. Neste caso, somos nós que já estamos escutando as palavras do Mestre. A partir deste instante em que o nosso sentimento já consegue captar a Verdade proferida por Ele, nova criatura somos, portadora de mais responsabilidades, digna de novas atitudes.
…e tirar-te a vestimenta… - tirar-te, arrancar-te, tomar-te.
A vestimenta é algo necessário, sem a qual não podemos nos manifestar diante das pessoas. Desta forma, o seu significado no contexto é o das coisas necessárias para nos apresentarmos tais quais somos. O verdadeiro discípulo do Evangelho sabe o objetivo de sua existência. Conhecedor das Leis Universais, têm a certeza de que nada lhe faltará para o cumprimento de sua tarefa.
Assim, mesmo sendo de caráter necessário, a vestimenta não é sua preocupação maior. Se lhe tirarem esta, a Vida lhe encaminhará outra. Afinal, não é o corpo mais importante que o vestido? E o Criador, quando se fez necessário não lhe deu um novo, objetivando a reencarnação?
…larga-lhe também a capa… - o larga-lhe a que se refere o Cristo tem no desapego uma de suas características.
É comum aos Espíritos situados em nossa faixa de evolução deixar determinadas coisas em favor daqueles que dizem amar. Acontece que constantemente estão reclamando a falta do objeto ou da exigência do ser amado em possuí-lo. É que ainda presos às conquistas mundanas, cultivamos o apego a tudo e a todos. Não nos esqueçamos de que o Cristo, Libertador de Almas por Excelência, ao dizer para o Jovem Rico quais as condições necessárias para segui-lo, colocou o desapego como primordial:

…vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me.[6]

Assim mostra o Senhor que é preciso não só largar os bens, mas acima de tudo desvincular deles.
O advérbio também designa que já foi deixado a vestimenta, é preciso dar mais, largar também a capa.
A capa, ao contrário da vestimenta, é acessório. Encobre-nos de uma forma ou de outra, nos fazendo parecer o que não somos. Se a proposta da renovação cristã por nós adotada nos faz despreocupados com a vestimenta básica, o que não dirá dos acessórios. Logo, é preciso abandonar este mundo de coisas que vamos acumulando com o decorrer do tempo, em favor de outros que mais necessitam.
A roupa em nossos aposentos que há meses não usamos, pode aquecer a muitos de nossos irmãos.
O pão que alimenta a nossa gula; sustentará quem nada tem.
A louça que se empoeira em nossos armários; pode ser vasilha necessária a muitos…
Assim, meditemos nas palavras Daquele que é todo Sabedoria:

…e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa…


[1] Mateus, 26: 52
[2] Mateus, 12: 7
[3] Romanos, 12: 21
[4] Romanos, 12: 2
[5] Romanos, 12: 20
[6] Mateus, 19: 21


Texto extraído do livro:

                                                  

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terça-feira, junho 11, 2024

Sermão do Monte - Bem-Aventurado os Pobres de Espírito

 


 

E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos e abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo... (Mateus, 5: 1)[i]

E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte - Nos mínimos detalhes o Evangelho nos traz grandes ensinamentos. Narra o evangelista que Jesus, para ensinar, subiu ao monte. A expressão subir ao monte nos dá a entender, elevar a vibração, se quisermos transmitir os valores cristãos, temos que estar acima das nossas imperfeições, representadas pela multidão ali presente. A multidão se deixa levar por qualquer novidade, mesmo que seja falsa, isso devido à instabilidade de seus sentimentos calcados em valores puramente transitórios. O próprio Jesus, após ser reverenciado quando de sua entrada triunfal em Jerusalém, foi logo depois condenado por aqueles que o aplaudiram.

Kardec, ao se referir à capacidade premonitória, nos faz entender que esta possibilidade é fruto da experiência do Espírito em termos evolutivos. Explica o Codificador, que é como o elemento que estando em uma montanha consegue enxergar à frente do que caminha no plano inferior, sabendo o que acontecerá a este antes mesmo que ele passe pela situação. O Cristo nos dá todos os recursos para estarmos em cima do monte e, consequentemente, traçarmos nosso destino em bases de maior segurança.

Depreendemos ainda destes versículos, a presença de três faixas distintas em matéria de evolução, presente ali, naquele instante. A primeira representada por Jesus em cima do monte, como o Grande Doador por excelência; a segunda por seus discípulos, um pouco mais abaixo, como aqueles em que a mensagem da Boa Nova já poderia dar frutos mais imediatos; e por fim, a multidão, representando aqueles que mesmo ouvindo, ainda não conseguem assimilar e se acham bem distante da vivência. De acordo com este entendimento, podemos perguntar: e nós, onde nos situamos?

E assentando-se… - A palavra “assentando”, em alguns instantes, pode dar a ideia de comodismo, mas em se tratando de Jesus, é impossível fazer esta análise. Ele mesmo afirma: O meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Portanto, o assentando-se aqui nos mostra uma ação tranquila, segura. Nós mesmos quando nos sentimos seguros em determinado assunto, agimos com tranquilidade, com calma. A aflição é por nós externada, somente nos momentos de instabilidade, devido à falta de um piso seguro.

Aproximaram-se dele os seus discípulos… - A Doutrina dos Espíritos como instrumento a nos capacitar para reverenciarmos o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferece a oportunidade de nos tornarmos seus discípulos. Mas, para isso, é preciso nos aproximarmos do Mestre, conforme Ele mesmo nos disse, permanecendo nas Suas palavras. Portanto ao nos vermos envolvidos em uma faixa negativa, aproximemo-nos de Jesus, sejamos um com Ele, como Ele é um com o Pai.

E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo - Jesus, como Guia e Modelo para a Humanidade, não podia em momento algum se fazer ocioso, os Espíritos mais evoluídos são os que mais trabalham. Ele não perdia tempo, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo. Sua palavra era, e continua sendo sempre consolo e ensinamento. Portadora de imenso magnetismo, curava, porque conduzia os necessitados à prática do bem, trabalhando o processo de autocura. O Cristo a agir em nossa intimidade deve nos fazer sempre dinâmicos, trabalhando sempre para o bem de todos, fazendo de nossa palavra, não um falatório, mas lição constante.

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. (Mateus, 5: 2)

Bem-aventurados… - Bem-aventurado é sinônimo de feliz. E a felicidade promovida pelo Cristo, não é a felicidade que conhecemos, fugaz, momentânea porque embasada em valores temporários. A felicidade a que se refere o Mestre é definitiva, porque é conquistada pelos valores do espírito. Seus ensinamentos são baseados na verdadeira moral, aquela que nos conduz à faixa vibratória do Criador, nos fazendo retornar para o seio amoroso do Pai.

Os pobres de espírito …- A expressão pobre de espírito é usada no mundo se referindo à pessoas sempre fracassadas. “Fulano é um pobre de espírito” indica que este não passa de uma pessoa qualquer, incapaz de realizar algo de bom.

A conotação dada por Jesus é bem diferente. A palavra pobre nos leva a pensar em necessidade. O pobre é o que verdadeiramente não tem, por isso tem necessidade, e consequentemente vai atrás, vai em busca do que lhe falta.

O pobre de espírito, a que se refere Jesus, é o que tem consciência da sua pequenez em relação à grandeza do Universo. Diante da Sabedoria Divina, reconhece que nada sabe, ou sabe muito pouco. Cônscio de seus parcos recursos espirituais, trabalha sabedor de suas necessidades e busca em tudo mais aprender, para melhor entender a vida, e dela recolher os preciosos frutos. Em outras palavras o pobre de espírito destacado pelo Meigo Rabi da Galileia é o humilde. E esta virtude é tão importante, que foi o primeiro grande ensinamento de nosso Mestre, que, como Governador Espiritual da Terra, podia encarnar como bem quisesse. E assim o fez, vindo entre nós no seio de uma família pobre, tendo como primeiro leito uma manjedoura, e, como narra o evangelista, sua mãe o envolveu em panos.[1]

Porque deles é o Reino do Céus - O conceito de céu dado pela Doutrina Espírita é bem diferente da que fora, até então dada pelas outras religiões. Céu não é uma região física, mas um estado do Espírito que se encontra harmonizado com as Leis Divinas. Esta ideia não é nova, Jesus já divulgara este pensamento, quando nos falava sobre o reino de Deus:

O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós.[2]

 

A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe é adversa, sabe compreender e se situar de acordo com a realidade, sabedor ele, de que os bens definitivos são os do espírito e não o estado transitório das coisas. Este é o motivo por que Jesus nos afirmou ser deles o Reino dos céus. Deles, porque qualquer um que atingir este estado d’alma, se capacita a ser habitante do Reino.

Texto extraído do Livro:


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 Leia também (Clicando nos Links): Jesus - Governador Espiritual da Terra

                       Maria de Nazaré, Paulo de Tarso; Mulher e Homem em Cristo

 

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[1] Lucas, 2: 7

[2] Lucas, 17: 20 e 21



[i] André Chouraqui, grande estudioso e tradutor dos textos sagrados propõe uma tradução diversa para este texto. Ao invés de Bem-aventurados... ele propõe Em marcha... Segundo ele, bem-aventurado é fruto da tradução do original grego “Makarioi”, porém o Sermão original foi proferido em hebraico, e a palavra usada por Jesus foi ashréy, primeira palavra dos salmos 1 e 119. Ashréy (plural) tem como radical ashar, que não evoca uma vaga felicidade de essência hedonista, mas implica uma retidão (yashar) do homem marchando na estrada sem obstáculos que leva a IHWH... (A Bíblia Matyah – o Evangelho segundo Mateus, página 84). Ainda segundo este autor todos os dicionários etimológicos do hebraico bíblico dão como primeiro sentido do radical “ashar” o de marchar; ser feliz é um sentido secundário e tardio. (Idem) Depreende-se daí que a Bem-Aventurança, fruto da dinâmica da salvação, não vem antes do fim da estrada, e que é preciso caminhar com retidão dentro das propostas que serão trazidas por Jesus no decorrer do Sermão para obter a felicidade final. A nossa interpretação deste texto de Mateus levou em conta a versão tradicional da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida, revista e corrigida, editada pela Imprensa Bíblica Brasileira; porém, entendemos que são tão grandes as lições da Grande Mensagem do Monte, que as duas interpretações são, não só possíveis, como até mesmo coerentes, pois o Evangelho mostra-nos sempre um dinamismo construtivo como base de sua mensagem de amor. Seu seguidor deste modo está sempre em marcha, sendo ao mesmo tempo bem-aventurado, pois a Lei atua sempre em favor daquele que com Ela comunga.