Reencarnar quer dizer encarnar outra vez, ou seja, tomar de novo um corpo de carne.
Só pode aceitar a reencarnação quem aceita a existência do Espírito e a vida futura, porque aquele que duvida de uma destas duas afirmativas, não pode jamais aceitar a volta do Espírito a um outro corpo de carne. Logo para tratarmos deste assunto, pressuporemos que todos com quem estamos tratando, sejam defensores destas duas idéias.
Usa-se também o termo palingenesia para designar tal fato. Esta palavra é etimologicamente originária do grego: palin = de novo, e gênesis = geração; ou seja, nascer de novo.
A reencarnação é assunto tão antigo, que vários povos já a tinham como realidade, não só nos setores religiosos, mas também nos da Filosofia.
Podemos seguramente afirmar que a história da reencarnação se confunde com a própria história da evolução do pensamento religioso.
“Na Índia, desde remotíssima antigüidade, de que nos dão notícias os Vedas e o Bhagavad-Gitâ, o conhecimento da reencarnação era sobejamente divulgado através dos cantos imortais da formação moral e cultural do homem.” [1]O Bramanismo e o Budismo nela se inspiraram.
Encontramos no Mazdeismo, antiga religião Persa, o Espírito encontrando a bem aventurança final, não sem ter antes passado por uma purificação progressiva através de provas expiatórias.
No Egito, a doutrina das transmigrações também era conhecida. Ao nascer, o egípcio era representado por duas figuras, uma era a sua personalidade e a outra seu duplo. Durante a vigília, as duas se confundem, mas durante o sono, ao passo que uma descansa, a outra se lança no mundo dos sonhos.
Na cultura grega, foi Pitágoras quem a introduziu após suas viagens realizadas junto aos egípcios e persas. Vamos encontrá-la ainda nos poemas órficos, em Sócrates, Platão, Empédocles etc.. Ela é afirmada com clareza no último livro da “República”, em “Fedra”, em “Timeu” e em “Fédon”.
“É certo que os vivos nascem dos mortos e que as almas dos mortos tornam a nascer” (Fedra).
“Alma é mais velha que o corpo. As almas renascem incessantemente do Hades para tornarem à vida atual.” (Fédon)Sófocles como Aristófones também adotaram a mesma crença.
Virgílio, Ovídio e Cícero, pensadores romanos, infiltraram-na em suas lições. Virgílio, na “Eneida”, assevera que a alma, mergulhando no Letes, perde a lembrança das suas existências passadas.
Os druídas apoiavam toda a sua filosofia na justiça palingenésica.
A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. A Bíblia dá reiteradas confirmações disto. Somente os Saduceus, que eram os materialistas da época, não criam nela. Mas as idéias dos judeus sob este ponto não eram muito claras. Acreditavam eles que o homem que vivera, podia renascer, mas não sabiam precisar como.
Os primeiros padres da Igreja, como Orígenes e S. Clemente de Alexandria, eram adeptos da idéia reencarnacionista. S. Gregório de Nysse chega a afirmar que há necessidade natural para a alma imortal de ser curada e purificada e que, se ela não o foi em sua vida terrestre, a cura se opera pelas vidas futuras e subsequentes. Todavia, a Igreja não podia conciliar seus dogmas e artigos de fé, armas imprescindíveis que eram para o poder desta instituição, com a justiça da doutrina reencarnacionista.
Assim sendo, no Concílio de Constantinopla em 553, os maiorais da Igreja tiraram definitivamente a idéia da reencarnação, toda aceita entre os primeiros Cristãos, de seu corpo doutrinário.
Com isto, o que a Igreja fez foi afastar ainda mais os homens de bom senso, do Criador, porque ao invés de uma doutrina simples e clara a respeito da imortalidade da alma e da vida futura, edificou todo um complexo conjunto de dogmas, lançando o homem na obscuridade e no completo desconhecimento de seu destino.
Desta forma, a reencarnação desaparece temporariamente das cogitações filosóficas ocidentais, ainda que alguns pensadores medievais tenham tido o atrevimento de entregar-se aos estudos destes conceitos. O que lhes valeram pela intolerância e ignorância religiosa, muitas vezes, a perda da própria vida.
Apesar da idéia reencarnacionista, como vimos, ser de todos os tempos, foi só nos meados do século XIX, com a Codificação Espírita, que tal doutrina recebeu uma explicação lógica e um inegável bom senso. A partir dos estudos dos pioneiros do Espiritismo, pudemos entender melhor sua fundamentação, sua justiça, seu mecanismo, e a comprovação bíblica deste misericordioso artigo da Grande Lei.
Justiça da Reencarnação
Em que se fundamenta? - Segundo os Espíritos codificadores, na resposta da questão 171 de O Livro dos Espíritos, a doutrina reencarnacionista se fundamenta na própria Justiça Divina.
Na análise do conteúdo desta resposta, verificamos que se não fosse a oportunidade reencarnatória, Deus estaria privado de um de seus atributos: a justiça, e consequentemente já não seria Deus.
Para facilitar o nosso raciocínio, citamos a seguir um texto em que Kardec disserta sobre a lógica da pluralidade das existências:
“Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento, e se o estado em que se achava não constituía uma existência sob forma qualquer. Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha ou não consciência de si mesma? Se não o tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade, era progressiva ou estacionária? Num e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que antes de encarnar, só dispõe de faculdades negativas perguntamos:Através deste raciocínio kardequiano, vimos acima de tudo que a reencarnação é fundamentada na justiça divina, e que assenta na mais perfeita lógica e no maior bom senso.
1º Porque mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das idéias que a educação lhe fez adquirir?
2º Donde vem a aptidão extra normal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?
3º Donde, em uns, as idéias inatas ou intuitivas, que noutros não existem?
4º Donde em certas crianças, o instinto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?
5º Por que abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?
6º Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton? (…)” [2]
Provas da Reencarnação
Mas que provas podemos ter da reencarnação, além destas explícitas neste raciocínio?
Podemos dividir estas provas em duas categorias: provas filosóficas e provas experimentais.
Filosóficas - Como entender a justiça divina, sem aceitar o princípio reencarnatório? Por que nascem uns pobres e outros ricos? Uns desfrutam da maior saúde, outros lutam a vida toda com várias doenças. Há os que vivem muitos anos, e os que vivem poucos meses ou dias. E como a justiça divina irá julgar estes que não tiveram tempo para serem nem bons nem maus. Irão para o céu ou para o suplício eterno?
Há também a questão do progresso. Por que a humanidade de hoje é mais adiantada intelectual e cientificamente do que a passada? Poderão dizer que a sociedade é que faz o homem assim. Mas como explicar a diferença brutal que existia entre a capacidade de um homem primitivo e a do homem atual, se ambos fossem criados no instante do nascimento, e suas conquistas para nada servissem?
Nos dêem explicações melhores para estes e outros questionamentos e abandonaremos nossas certezas reencarnatórias.
Experimentais - Entre as provas experimentais, podemos citar a fenomenologia mediúnica com todas as suas nuanças. A comunicação dos Espíritos por si só prova a imortalidade da alma e, consequentemente, a possibilidade reencarnatória, mas é o conteúdo destas comunicações que nos dizem da certeza desta doutrina.
Temos ainda o aspecto relacionado com a regressão da memória, hoje bastante difundido nos meios cientificistas e não espíritas. A partir desta possibilidade vemos a incursão do ser em muitos momentos de suas existências pregressas.
E para finalizar as questões das provas, podemos ainda falar das lembranças de outras vidas, faculdade bastante rara, mas que já aconteceu com muitas pessoas.
Sobre este assunto indicamos a leitura do livro A Reencarnação de Gabriel Delanne, do qual tiramos, para ilustração, a narrativa abaixo, dentre tantas outras existentes nesta obra:
“Há cinqüenta anos, duas crianças nasceram em uma aldeia chamada Okshitgon, um rapaz e uma menina. Vieram ao mundo no mesmo dia, em casas vizinhas, cresceram juntos, brincaram juntos, amaram-se.Objetivo da Reencarnação
Casaram-se e fizeram uma família (…)
A morte os levou no mesmo dia; enterraram-nos fora da aldeia, depois os esqueceram (…)
Nesse ano, após a tomada de Mandalay, a Birmânia inteira sublevou-se (…) Tristes tempos para os homens pacíficos, e muitos, fugindo de suas habitações, refugiavam-se nos lugares mais habitados (…)
Okshitgon estava nos centros de um dos distritos mais castigados; grande números de seus habitantes fugiram, e entre eles um homem chamado Maung Kan e sua jovem mulher. Eles se estabeleceram em Kabyn. Tiveram dois filhos gêmeos, nascidos em Okshitgon, pouco antes de abandonarem o lar. O mais velho chamava-se Maung-Gyi, isto é, Rapaz Grande. As crianças cresceram em Kabu e começaram logo a falar. Seus pais notaram com espanto que, durante os brinquedos, chamavam-se, não Maung-Gyi e Maung-Ngé, mas Maung San Nyein e Ma-Gyroin; este último é nome de mulher; Maung Kan e a esposa lembraram que assim se chamavam os cônjuges falecidos em Okshitgon, na época em que as crianças nasceram.
Eles pensavam, pois, que as almas daqueles defuntos haviam entrado no corpo dos filhos, e os levaram a Oksitgon, para os experimentar. As crianças conheceram toda Okshitgon, estradas, e casas e pessoas; chegaram a reconhecer as roupas que vestiam na vida anterior.
Não havia dúvidas. Um deles, o mais moço, lembrou-se de ter tomado emprestado duas rupias a um certo Ma-Thet, sem que seu marido o soubesse, quando era Ma-Gyroin, e essa dívida não fora saldada. Ma-Thet vivia ainda. Interrogaram-no e ele se lembrava, com efeito, de haver emprestado esse dinheiro. (…)
(…) O menino mais velho (…) é um bom burguês, gordo rechonchudo, mas o gêmeo cadete é menos forte e tem uma curiosa expressão sonhadora. Contaram-me muitas coisas da vida passada. Disseram que, depois da morte, viveram, algum tempo, sem corpo nenhum, errando no espaço, ocultando-se nas árvores, e isso por causa dos pecados; e, alguns meses depois, nasceram gêmeos (…)” [3]
Já sabemos que o Espírito reencarna, e que a reencarnação se fundamenta na Justiça Divina. Mas por que o Espírito reencarna? Com que fim?
Allan Kardec também perguntou isto aos Espíritos. Porém, pela sua capacidade didática, fez duas perguntas:
132 - Qual o objetivo da encarnação?
167 – Qual o fim objetivado com a reencarnação?
A primeira foi assim respondida: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros missão. (…)” [4]
E a segunda, assim: “Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde a justiça?” [5]
Analisando o conteúdo destas duas respostas temos: o objetivo principal da encarnação dos Espíritos, ou da reencarnação, é a evolução: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição”. Acontece que em uma vida só não dá para cumprir tal objetivo. O que representa sessenta ou oitenta anos para uma pessoa, em matéria de aprendizado de todas as coisas para que ela chegue à perfeição?
Assim sendo, reencarnando inúmeras vezes, quantas forem necessárias, o Espírito atinge o objetivo primordial de sua existência.
Desta forma, entendemos que expiar não é o objetivo da reencarnação, mas pode vir a ser se o Espírito não quiser evoluir pelo caminho natural do bem.
Trocando em miúdos: o Espírito só passa pela expiação quando quer, ou seja, quando não quer seguir as Leis Divinas.
Como já vimos anteriormente, a evolução também é uma Lei de Deus; portanto o Espírito tem de evoluir, consciente ou inconscientemente. Quando ele entende isso e busca esta evolução por conta própria, ele a faz sem dor. A expiação só entra na história, quando a rebeldia fala mais alto, quando ele, sabendo qual caminho a seguir, escolhe outro.
Assim, provocando sofrimento em seus semelhantes, o ser estaciona. Como ele tem de evoluir, passa pelo sofrimento como que para despertar a centelha divina que existe dentro de si, que o induz ao aperfeiçoamento.
É aí que entendemos a misericórdia que é a oportunidade reencarnatória; não é à toa que Emmanuel nos afirma:
“Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por esse motivo, o ser humano deve amar a sua existência de lutas e amarguras temporárias, porquanto ela significa uma bênção divina, quase um perdão de Deus.”[6]Reencarnação na Bíblia
A reencarnação acha-se claramente expressa nos textos bíblicos. Muitas são as passagens do Velho e Novo Testamento que nos servem para elucidar tal afirmativa.
Podemos ainda dividi-las em partes que nos mostrem seu caráter provacional, evolutivo, missionário e, acima de tudo, como Lei Divina.
A seguir analisamos algumas passagens:
“Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos.” [7]
A crença nos renascimentos era vista entre os judeus sob o nome de ressurreição. Por isso o Profeta usa este termo, mas no fundo quer dizer a mesma coisa, ou para ser mais preciso, no seu sentido de renovação para uma nova vida, logo, a ressurreição é um objetivo da reencarnação.
Isaías diz que os mortos viverão, isto não pode ser entendido como viverão após a vida terrena, porque senão ele diria: ainda vivem. O termo viverão quer dizer tornar a viver; e para completar, e a terra lançará de si os mortos, nos dá claramente a idéia de voltar ao corpo de carne.
“E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.Esta é a passagem clássica em que o texto evangélico mostra a reencarnação com o objetivo de chegar à perfeição; aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus.
Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus
Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espirito.
Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabe donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre em Israel, e não sabes isto? (…)” [8]
Jesus não podia ser mais claro no sentido de afirmar a necessidade reencarnatória. E diante da ignorância de Nicodemos, Ele explica: “nascer da água e do Espírito (…)”
A água sempre foi tida como o início da vida. “Na Cabala hebraica, a água era a matéria primordial; o elemento frutificador.” [9]
Na Gênese mosaica, o autor diz que no princípio, “o Espírito de Deus se movia sobre as águas.” [10]
E este ensinamento é também dado por Emmanuel:
“O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre (…) Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos.” [11]
“Os modernos conhecimentos científicos atestam que as primeiras formas de vida, desde a concepção, se fazem no ambiente aquoso, seja a própria constituição do gameta feminino como o masculino, de cuja fusão (água) nasce o novo corpo, que adquirindo personalidade diversa da que possuía antes (espírito), recomeça o cadinho purificador, expungindo males e sublimando experiências para entrar no reino do Céus.” [12]
E é por isso já ser conhecido dos judeus daquela época , que Jesus diz: “Tu és mestre em Israel, e não sabes isto?”
“E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.” [13]
“E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; mas digo que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.
Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.” [14]
Mas existe também em seu processo reencarnatório um caráter expiatório.
“Considerando a severidade com que Elias tratara os adoradores do deus Baal, mandando-os passar a fio de espada, pela espada padeceu, ao impositivo das paixões de Herodíades e do terrível medo do reizete Herodes.” [15]
Mecanismos da Reencarnação
Podemos tratar este tema sob dois aspectos: científico e filosófico.
O aspecto científico vai requerer um maior aprofundamento, e um maior conhecimento das ciências biológicas e da física, o que não é o objetivo deste texto. Portanto, trataremos aqui somente do aspecto filosófico.
Tomaremos como roteiro o capítulo 13 do livro “Missionários da Luz” de André Luiz. Não é que todos os processos reencarnatórios sejam desta forma, mas acreditamos que este capítulo fala de uma forma geral e bastante completa da programação e da assistência espiritual realizada, quando este processo está em vias de execução
Para iniciar, André Luiz esclarece que irá visitar em companhia do instrutor Alexandre, o lar de Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo.
Numa encarnação anterior, Adelino tinha sido vítima de Segismundo. Este o tinha assassinado, e no momento presente havia sido programado para ambos uma reencarnação de reajuste em bases de perdão.
Notamos no princípio um momento de angústia por parte do reencarnante, o que é natural no instante que antecede o processo reencarnatório. Para melhores esclarecimentos, recomendamos a leitura do capítulo 47 do livro Nosso Lar, “A volta de Laura”, do mesmo autor espiritual.
Mas o instrutor Alexandre o tranqüiliza: “Tenha coragem. O ensejo próximo é divino para o seu futuro espiritual. Organizaremos as coisas; não tenha receio.” [16]
A condição espiritual de Adelino, o pai, não era das melhores. Apesar das promessas no plano espiritual, este não tinha trabalhado o perdão em sua intimidade, e toda vez que Segismundo aproximava-se espiritualmente, a aflição era o sentimento que o dominava.
É digno de destaque, a assistência espiritual recebida pelo casal, quando este sintoniza com as determinações do Alto, dando assim condição para que se execute o programa traçado na espiritualidade. Além de Alexandre e André Luiz, existiam vários outros Espíritos a amparar toda a família neste momento.
Havia ali naquele ambiente, não obstante a proteção espiritual, uma grande dificuldade de execução do programa, devido aos conflitos vibratórios causados pela incompreensão das criaturas envolvidas no processo.
Dessa forma, os Espíritos que realizavam a proteção do lar de nossos irmãos programaram um momento de contato entre eles durante o sono físico, a fim de que algumas arestas pudessem ser aparadas.
Não foi fácil; a princípio houve uma grande aversão entre pai e filho. “É que a aproximação de Segismundo despertava em Adelino reencarnado as reminiscências do passado sombrio”, nos esclarece o autor, e continua: “Ele, a vítima de outro tempo, não conseguia localizar os fatos vividos, mas experimentava, no plano emotivo, as recordações imprecisas dos acontecimentos, cheias de ansiedades dolorosas.”[17] Mas como prova de que o amor é mais forte em todos os cantos do universo, a interseção de Alexandre trabalhando o perdão entre ambos, promoveu uma paz momentânea entre os dois.
Poderíamos perguntar, por que a necessidade do pai de aceitar o filho. Não poderia a espiritualidade impor a reencarnação sem maiores embaraços?
Informa Alexandre que:
“O pensamento envenenado de Adelino destruía a substância de hereditariedade, intoxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza, entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da Criação, porque pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a ação (…)” [18]
Passados os primeiros momentos, em que o equilíbrio entre os elementos envolvidos no processo era o mais importante, os mentores do Plano Maior passaram a trabalhar diretamente no processo de ligação do Espírito às suas necessidades reencarnatórias.
Mas antes de tratarmos com maiores detalhes sobre a ligação do Espírito com o corpo, lembremos da afirmativa de Alexandre de que nem todas as criaturas passam por esse instante, de uma forma consciente:
“(…) A maioria dos que retornam à existência corporal na esfera do globo é magnetizada pelos benfeitores espirituais, que lhe organizam novas tarefas redentoras, e quantos recebem semelhante auxílio são conduzidos ao templo maternal de carne como crianças adormecidas.(…). São inúmeros os que regressam à Crosta nessas condições, reconduzidos por autoridades superiores de nossa esfera de ação, em vista das necessidades de certas almas encarnadas, de certos lares e determinados agrupamentos.”[19]
“Não é necessária a nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos do tálamo conjugal são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você sabe que a fecundação do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois da união genesíaca. O elemento masculino deve fazer extensa viagem, antes de atingir o seu objetivo. Temos tempo (…)” [20]
“Os Espíritos Construtores começaram o trabalho de magnetização do corpo perispirítico, no que eram amplamente secundados pelo esforço do abnegado orientador, que se mantinha dedicado e firme em todos os campos de serviço.Quando é dito que o corpo espiritual de Segismundo foi reduzido para o tamanho de uma criança, precisamos analisar esta palavra num sentido mais amplo.
Sem que me possa fazer compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que ‘alguma coisa da forma de Segismundo estava sendo eliminada’. Quase que imperceptivelmente, à medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos lúcido.
A certa altura, Alexandre falou-lhe com autoridade:
Segismundo, ajude-nos! Mantenha clareza de propósitos e pensamento firme!
Tive a impressão que o reencarnante se esforçava por obedecer.
Agora, continuou o instrutor, sintonize conosco relativamente à forma pré infantil. Mentalize sua volta ao refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal, faça-se pequenino! Imagine sua necessidade de tornar a ser criança para aprender a ser homem!
Compreendi que o interessado precisava oferecer o maior coeficiente de cooperação individual para o êxito amplo. Surpreendido, reconheci que, ao influxo magnético de Alexandre e dos Construtores Espirituais, a forma perispiritual de Segismundo tornava-se reduzida.
A operação não foi curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução necessária.
Segismundo parecia cada vez menos consciente. Não nos fixava com a mesma lucidez e suas respostas às nossas perguntas afetuosas não se revelavam completas.
Por fim, com grande assombro meu, verifiquei que a forma de nosso amigo assemelhava-se à de uma criança.” [21]
A que tamanho terá sido restringido o perispírito de Segismundo? O instrutor pediu ao reencarnante: “Lembre-se da organização fetal, faça-se pequenino”. Particularmente, entendemos que aqui o corpo espiritual fica exatamente do tamanho da célula-ovo.
Em seguida, os Espíritos construtores analisam os mapas cromossômicos e concluem que está tudo bem, à exceção do tubo arterial na parte a dilatar-se para o mecanismo do coração. Mas nos informam ainda que se o reencarnante souber valorizar as oportunidades do futuro, possivelmente conquistará o equilíbrio do aparelho circulatório. É a aplicação da máxima evangélica: “O amor cobre a multidão de pecados”[22].
Através desta obra, ficamos sabendo também que o trabalho torna-se mais atuante por parte da espiritualidade até os sete anos de idade do Espírito reencarnante, época em que o processo reencarnacionista estará consolidado.
Chegado o momento, era necessário realizar o ato de ligação inicial, em sentido direto, de Segismundo com a matéria orgânica.
“Logo após penetrávamos o aposento conjugal, onde o espetáculo íntimo era divinamente belo (…)Devido a importância deste esclarecimento, continuamos com Alexandre:
Os amigos invisíveis do lar, companheiros de nosso plano, haviam enchido a câmara de flores de luz (…)
Mais de cem amigos se reuniam ali, prestando-lhe afetuosa homenagem (…)
O quadro era lindo e comovedor (…)
Valendo-me daquele instante (…), perguntei:
Nosso irmão reencarnante apresentar-se-á, mais tarde, entre os homens, tal qual vivia entre nós? Já que suas instruções se baseiam na forma perispiritual preexistente, terá ele a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam em nossa esfera?
Alexandre respondeu sem titubear:
Raciocine devagar, André! Falamos da forma preexistente, nela significando o modelo de configuração típica ou, mais propriamente, o uniforme humano. Os contornos e minúcias anatômicas vão se desenvolver de acordo com os princípios de equilíbrio e com a lei da hereditariedade (…) Adicione porém, a esse fator primordial, a influência dos moldes mentais de Raquel, a atuação do próprio interessado, o concurso dos Espíritos Construtores (…), e poderá fazer uma idéia do que vem a ser o templo físico que ele possuirá, por algum tempo, como dádiva da Superior Autoridade de Deus (…)
Segismundo terá então, insisti, uma forma física eventual, imprecisa, por enquanto, ao nosso conhecimento?
O instrutor esclareceu sem demora:
Se estivéssemos diretamente ligados ao caso dele, estaríamos de posse de todas informações referentes ao porvir, nesse particular, mas a nossa colaboração neste acontecimento é transitória e sem maior significação no tempo. Os orientadores de Segismundo, porém, nas esferas mais altas, guardam o programa traçado para o bem do reencarnante. Note que me refiro ao bem e não ao destino.” [23]
“Os contornos anatômicos da forma física, disformes ou perfeitos, longilíneos ou brevilíneos, belos ou feios, fazem parte dos estatutos educativos (…) Pormenores anatômicos imperfeitos, circunstâncias adversas, ambientes hostis, constituem, na maioria das vezes, os melhores lugares de aprendizado e redenção para aqueles que renascem (…). Em vista disso, o mapa alusivo a Segismundo está devidamente traçado, levando-se em conta a cooperação fisiológica dos pais, a paisagem doméstica e o concurso fraterno que lhe será prestado por inúmeros amigos daqui. (…)” [24]Finda esta conversa instrutiva, Alexandre atendendo o pedido dos Espíritos Construtores, realiza uma prece, para depois entregarem o reencarnante aos braços maternais.
É quando André Luiz nos informa:
“Segismundo ligara-se a ela como a flor une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne.”[25]E dando continuidade, Alexandre disse:
“Agora, auxiliemos nosso amigo no primeiro contato com a matéria mais densa. (…)
(…) Auxiliado pelo concurso magnético do mentor querençoso, passei a observar as minúcias do fenômeno da fecundação.
Através dos condutos naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do óvulo (…). Surpreendido, reconheci que o número deles se contava por milhões e que seguiam, em massa, para a frente, em impulso instintivo, na sagrada competição.
(…) Segundo depreendi, ele (Alexandre) podia ver as disposições cromossômicas de todos os princípios masculinos em movimento, depois de haver observado, atentamente, o futuro óvulo materno, presidindo ao trabalho prévio de determinação do sexo do corpo a organizar-se.
Após acompanhar, profundamente absorto no serviço, a marcha dos minúsculos competidores que constituíam a substância fecundante, identificou o mais apto, fixando nele o seu potencial magnético, dando-me a idéia de que o ajudava a desembaraçar-se dos companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a pequenina bolsa maternal. O elemento focalizado por ele ganhou nova energia sobre os demais e avançou rapidamente na direção do alvo. (…) Sempre sob o influxo luminoso magnético de Alexandre, o elemento vitorioso prosseguiu a marcha, depois de atravessar a periferia do óvulo, gastando pouco mais de quatro minutos para alcançar o seu núcleo. Ambas as forças, masculina e feminina, formavam agora uma só, convertendo-se ao meu olhar em tenuíssimo foco de luz (…).
Depois de prolongada aplicação magnética, que era secundada pelo esforço dos Espíritos Construtores, Alexandre aproximou-se de mim e falou: Está terminada a operação inicial de ligação. Que Deus nos proteja.”[26]Após esta operação, André Luiz diz que estava boquiaberto com o que vira, e podemos dizer: nós também!
Através destas breves narrativas, quisemos simplesmente mostrar algo a respeito do mecanismo da reencarnação (que não termina aqui), e que durante todo o processo reencarnatório há uma linda programação a ser executada.
É claro que nem todos os casos são tratados desta forma, mas como sabemos que Deus é Justiça, podemos seguramente dizer que Ele, através de Seus prepostos, de uma forma ou de outra, preside todos os movimentos palingenésicos.
Notas:
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[1] FRANCO, Divaldo P. / Joanna de Ângelis (Espírito). Estudos Espíritas, 5a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. 8
[2] (KARDEC 1980), questão 222
[3] DELANNE, Gabriel. A Reencarnação. 9a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1994, cap. XI
[4] (KARDEC 1980), questão 132
[5] (KARDEC 1980), questão 167
[6]XAVIER, Francisco C. / Emmanuel. Emmanuel, 15a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. 5
[7] Isaías, 26:19
[8] João, 3: 1 a 10
[9] DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo, 10a Ed., Rio de Janeiro, FEB, 1994, cap. IV
[10] Gênesis, 1: 2
[11] XAVIER, Francisco C. / Emmanuel. A Caminho da Luz, 10a ed., Rio de Janeiro, FEB,1980..
cap. II
[12] (FRANCO / Joanna de Ângelis [Espírito] 1991), cap. 8
[13] João, 9: 1 a 3
[14] Mateus, 17: 10 a 13
[15] (FRANCO / Joanna De Ângelis [Espírito]1991), cap. 8
[16] XAVIER Francisco C. / André Luiz (Espírito). Missionários da Luz. 24a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1993, pag. 182
[17] (XAVIER / André Luiz [Espírito] 1993), pag. 194
[18] Idem, ibidem, pag. 197
[19] Id., ib., pag. 206
[20] (XAVIER / André Luiz [Espírito] 1993), pag. 207
[21] (XAVIER / André Luiz [Espírito] 1993), pags. 214 e 215
[22] I Pedro, 4: 8
[23] (XAVIER / André Luiz [Espírito] 1993), pag. 226
[24] Id., ib., pag. 227
[25] (XAVIER / André Luiz [Espírito] 1993), pag. 230
[26] Op. Cit., pg. 231 a 233