quinta-feira, junho 23, 2022

Haja Luz - 7º Dia - Descanso de Deus

#interna






Gênesis, 2:1-3

Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. 2 E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. 3 E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.


Neste ponto podemos fazer uma breve pausa para rememorarmos algumas questões.

O Universo se expressa em uma Lei de Unidade onde em tudo há grande sabedoria. O evolucionismo está presente em todos os passos como sendo o processo restaurador de toda criação. Nada é criado pronto, há uma constante mutação em que a obra é aperfeiçoada a todo instante.

Tudo está encadeado, do átomo ao anjo. Não há como se encaminhar através da evolução sozinho, há a necessidade do grupo.

A Lei foi feita de tal modo que é imprescindível sempre a colaboração. Tudo que recebemos de certo modo pesa, o que doamos alivia; a instrução recebida responsabiliza, metabolizar a instrução através da vivência tranquiliza, regenera, cura.

A evolução dos sentidos se dá do seguinte modo:

  1. Tato

  2. Olfato e paladar

  3. Visão e audição

Após o sexto dia vêm os sentidos que transcendem a matéria: sentimento, intuição, sensibilidade mediúnica, etc. Ao sétimo dia muda-se de estágio. O perispírito é formado como resultado do corpo mental. Com o homem surge o raciocínio lógico, o ato de pensar melhor se expressa e o perispírito com este desenvolvimento mental aperfeiçoa-se.

O falar expressa e fortalece o pensamento, o agir dá autoridade ao falar.

Assim, o agir no bem sublima o perispírito.


"(…) o ser viaja no rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com os fios da experiência a túnicada própria exteriorização, segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições (…)"1

(EDM, XAVIER F. C. / Waldo Vieira / André Luiz [Espírito], 1993), cap. 3, 1ª parte)


E viu Deus que era muito bom, é o ciclo que se completa.


Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados. (Gênesis, 2: 1) (iniciar aqui) ****


Céus e terra expressando completude, conforme já comentado, no sentido de, planos de manifestação da vida, espiritual e físico.

No campo pessoal podemos ver também como nossas projeções mentais [céus] e o plano de concretude das realizações [terra] através das quais alcançamos pontos de maior segurança na evolução.

E todo seu exército; exército, em hebraico tsaba, é palavra que pode significar também estrelas, como pode dar a ideia de um exército de anjos, os Espíritos colaboradores de Deus ( Cf. Deuteronômio, 4: 19; Isaías, 40: 26.)

 No capítulo 32 de Gênesis, Jacó se depara com os "anjos de Deus", e diz: "este é o exército de Deus". ( Gênesis, 32, : 1 e 2 (em algumas versões, Gênesis, 32: 2 e 3)

Fazemos parte do exército de Deus cada um na sua área de atuação, cada um na posição que está na atualidade. Daí concluímos, como consequência moral que todos devemos fazer, onde estivermos, o melhor ao nosso alcance, pois somos sempre instrumentos do Senhor para a realização de Sua obra.

Em vários momentos para que esta obra se concretize temos que realmente empreender lutas e esforços que são verdadeiras guerras [íntimas] onde como participantes do "Exército do Pai" devemos dar testemunho de ajuste ao Seu Plano Operacional. Só realizando deste modo - naqueles que são os "seis dias" da criação, representando trabalho e realizações reeducativas - podemos completar o ciclo, conforme as palavras foram acabados, atingindo assim o descanso da consciência que fez o melhor que podia na hora devida.

Lembrando sempre que a obra de Deus nunca termina, pois sempre há serviço a realizar - meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também ( João, 5: 17) -, concluímos assim, que a expressão foram acabados refere-se ao fim de uma fase que nos projetará numa nova dimensão a outras oportunidades de crescimento através do serviço realizado confirmando a máxima kardequiana de que fora da caridade não há salvação  (ESE KARDEC 1991), cap. XV


E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. (Gênesis, 2: 2)

O sétimo dia é assim, consequência dos anteriores, e havendo Deus acabado…, descansou. Quando terminamos um serviço dentro do melhor que podemos o descanso é algo natural, podemos dizer inclusive, que faz parte da Lei do Trabalho.

Como dissemos a obra de Deus nunca termina, portanto, este acabado deve ser compreendido como aquele momento que fecha um ciclo. É importante sua colocação no texto a mostrar-nos que Deus, em seu aspecto "Lei" realiza sempre o melhor, dando perfeito acabamento a tudo que é feito. Assim, se algo nos acontece sem que tenha sido fruto de nossa intervenção direta, devemos analisar melhor as circunstâncias, pois são elas fruto da Vontade do Pai a nosso favor.

O Sétimo dia é, deste modo,dever cumprido, e quando este se cumpre iniciam-se os fundamentos do amor. O amor transcende a tudo, a toda experiência no campo material; agir no sétimo dia é também buscar as questões espirituais. Nos seis primeiros se trabalha fundamentado na lei, no dever, na imposição de fora para dentro, no sétimo temos o amor, a espontaneidade, a atitude de dentro para fora.

A aquisição da virtude é complementada, fixa-se o valor como conquista do Espírito. Fazer o Bem deixa de ser uma preocupação da criatura, pois o Ser tornou-se Bom, e quem assim é, faz o Bem de forma natural.

Destarte, este descanso no dia sétimo não significa ociosidade como podemos supor, mas trabalho estruturado numa conquista realizada. Não existe ociosidade na criação divina, não há a mínima chance de encontrarmos Deus ocioso em momento algum.

O descanso do Criador é como a "paz do Cristo". Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá… (João, 14: 27) Dizendo assim, Jesus mostra-nos que a idéia que fazemos das coisas no mundo em que vivemos é invertida; "o essencial é invisível aos olhos".

Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus…(i Coríntios, 3: 19)7

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens…(i Coríntios, 1: 25)8;

Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.(i Coríntios, 2: 14)9

Outra colocação importante é a do pronome sua antes de obra, a definir que o descanso é relativo à obra de cada um, não há transferência de responsabilidade na criação:

a cada um segundo as suas obras. (Mateus, 16: 27)


E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. (Gênesis, 2: 3)

E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; a santificação do dia representa assim, esta conquista do Espírito conforme descrevemos nos comentários anteriores.

O "descanso de Deus" passa a ser entendido, desta maneira, como a oportunidade para o Espírito realizar. Importa aqui considerar que Deus Cria; Ele é assim, Fonte Irradiadora. O Espírito é quem realiza.

Portanto, esta santificação, que é a bênção de Deus, é o momento em que a obra criada está madura para o co-criar, assim santificando ao Pai. É o fim da tutela de Deus.

O Espírito se capacita a, em conexão com a Fonte, fazer luz.


resplandeça a vossa luz diante dos homens… (Mateus, 5: 16)


porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. Pouco podemos comentar deste trecho por ser ele a repetição do que já fora dito.

Cabe aqui apenas confirmar a questão do descanso estar diretamente ligado à obra de cada um, pois as palavras são claras e preciosas, nele descansou, dizendo que o descanso se deu no dia sétimo, que também é trabalho. Entretanto um trabalho diferente, pois dirigido a atender não mais aos interesses pessoais, mas ao do semelhante de um modo geral.

Nosso querido Honório Abreu sempre nos lembrava: "O trabalho voltado para si cansa, o trabalho do Espírito não cansa". É este na realidade, o descanso da alma.


Repara Jesus e perceberás que o nosso problema não é de ganhar para fazer, mas de fazer para ganhar. (XAVIER, Francisco C. /Emmanuel (Espírito). Palavras de Vida Eterna, 34ª ed., Uberaba, Comunidade Espírita Cristã, 2007. Cap. 64)


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quarta-feira, junho 08, 2022

Haja Luz - 6º Dia - Surgimento do Homem

#Pública






E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. (Gênesis, 1: 26)


Façamos o homem…; através do encaminhamento da evolução o homem já vem sendo preparado em todos os movimentos.

É chegado o momento culminante em que a consciência adormecida se acha em condições de ser desperta na faixa hominal.

O Princípio Inteligente que culmina no Espírito começa a se preparar para gerenciar seus próprios sentimentos.

A expressão façamos o homem tem desafiado os religiosos de todas as épocas, pois se Deus é único, por que aqui o uso do verbo no plural?

Os padres da igreja viram nesta expressão a insinuação da Trindade; os conhecimentos revelados pelos Espíritos e que formam a doutrina espírita nos apontam para outra interpretação.

Dizem os Espíritos que Deus não atua diretamente sobre a matéria, que para tal Ele tem agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.1

Deduzimos daí que Deus Cria, mas quem "faz" são os Espíritos, são eles que operam em nome do Criador. Já comentamos sobre isto quando analisamos a palavra Elohims que é um dos nomes de Deus nas Escrituras e que é plural.2

Assim, aqui, o verbo façamos refere-se aos Espíritos colaboradores de Deus que o auxiliam em seu processo de Criação. André Luiz denominou estes Espíritos de Co-Criadores em plano maior.3

O próprio livro Gênesis nos autoriza esta interpretação quando em seu terceiro capítulo encontramos os seguintes registros:


Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal4 (Grifo meu)


à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; neste ponto com a ajuda da doutrina espírita podemos compreender melhor este verso.

O homem não podia ser criado à semelhança de Deus. Semelhante significa que é da mesma espécie, da mesma qualidade, natureza ou forma.5 O homem foi feito à semelhança dos Espíritos superiores, eram da mesma natureza e origem destes, que também eram Criação Divina.

Quanto à imagem, o homem pode ser considerado tanto uma imagem de Deus como dos Espíritos Co-Criadores.

Imagem significa um reflexo, uma reprodução invertida de um ser ou objeto6. Uma imagem está sempre em uma dimensão menor. Uma sombra de um objeto é a imagem do objeto, e não o objeto em si.

Há um texto de um místico mulçumano do século XIII que comentando a criação do homem diz assim:

"Tudo é reflexo de Deus, e a réplica se assemelha à pessoa: se os cinco dedos se abrem, a sombra se abre também, se o homem se inclina, também a sombra se inclina (…) Nem todos os atributos de Allah se manifestam nesta sombra, mas apenas parcialmente."7

Desta forma podemos compreender que este versículo diz que o homem foi feito à imagem e semelhança dos Espíritos superiores.

e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. Deus vem expressando Sua Soberana Vontade em todos os dias da criação; entretanto, neste passo ele fala de seu desejo para o homem mais especificamente.

Que ele exerça domínio sobre o reino animal foi bem compreendido pois a ele foi dado além dos cinco sentidos, inteligência, razão, a até mesmo a possibilidade mediúnica.

Portanto, podemos ver aqui um pouco mais e aprofundar nosso entendimento em relação à Vontade do Criador.

Se passamos por todas estas experiências evolutivas, se construímos nosso psiquismo estagiando em todos os reinos da criação, é natural que ainda tenhamos em nossa intimidade o instinto destas feras e que se não nos fizermos vigilantes aja uma eclosão destes sentimentos em nossas manifestações do dia a dia.

Analisando desta forma podemos entender que o Criador sugeria neste instante que o homem, de posse dos recursos já conquistados, e por nós enumerados, trabalhasse por dominar seus instintos pregressos, e que se foram úteis por um tempo, agora diante da possibilidade de um sentimento mais nobre, que o ligaria a seu objetivo final de espiritualidade, não teria mais fim.

Kardec com sua compreensão superior e seu magistral poder de síntese conclui assim ser objetivo da encarnação do Espírito a sua evolução, e na mesma noúre do redator bíblico afirma:

Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.8


E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; importante notar a coerência do redator bíblico, quando inspirado usou o verbo no plural, "façamos", que como dissemos é atributo dos Espíritos, dizendo ser o homem a "imagem e semelhança" destes. Neste momento em que se refere a Deus, no singular, usa o verbo criar, em hebraico bara, que é um verbo que só tem Deus como sujeito, e não mais diz sobre a "semelhança", mas que à imagem de Deus o criou.

Já dissemos em nossos comentários anteriores, a imagem reflete o objeto, porém numa dimensão menos expressiva. O homem foi feito à imagem de Deus, entretanto, não semelhante a Ele. O Espírito criado foi feito da mesma Substância do Criador, todavia não possui os mesmos recursos, um é Criador incriado, o outro, criatura.

Não dá para avançar mais por nos faltar vocabulário, o Absoluto não pode ser apreendido pelo relativo, é o que conseguimos expor no momento.

Mesmo assim, podemos caminhar um pouco mais deduzindo daí importante consequência moral. O Espírito criado à imagem de Deus, como dissemos, não tem, na totalidade, os mesmos recursos de Seu Criador, mas tem um potencial ainda não imaginado por seres de nossa faixa evolutiva, de realização positiva. Basta ver que os a Ele mais dedicados e afeiçoados, conseguem formar mundos e gerenciar sua evolução. Não por outro motivo que Jesus nos ensinou:


Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas (…)9


Assim, se quisermos aumentar a nossa capacidade de realização, de bem estar, e de equilíbrio, basta nos ajustarmos à Vontade de Deus, o que significa uma adesão à proposta transformadora do Evangelho. Não é milagre o que fazem os que assim procedem, eles simplesmente trabalham em si ampliando potenciais, construindo na intimidade o Reino que os capacitarão a tudo realizar, desde que em nome do Senhor.

homem e mulher os criou. Podemos ver neste versículo que aquela história do homem (masculino) ter sido criado antes da mulher, e que esta veio da costela dele, por isso o homem deve dominar a mulher, não está de acordo com o que nos informa o texto bíblico.

Sim, no capítulo segundo deste mesmo livro Gênesis temos esta afirmativa, da criação do homem primeiro e depois a mulher, mas quando chegar lá vamos ver que outra deve ser a interpretação.

Este capítulo primeiro, nos traz com lógica e bom senso que o "humano" em hebraico Adam surgiu na Terra por um processo evolutivo, e que esta humanidade era composta de homens e mulheres, ou de machos e fêmeas.

Jesus confirma esta interpretação quando questionado sobre a questão do divórcio:


Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez?10


Podemos ainda aprofundar um pouco mais e depreender destas colocações que o Espírito já em sua origem possui qualidades intrínsecas definidas de sua sexualidade, sendo assim positivo ou opositivo, masculino ou feminino desde o princípio. O que não impede, como sabemos, que na faixa humana, eles possam reencarnar ora como homem, ora como mulher.


André Luiz nos informa mais a respeito:

Todas as nossas referências a semelhantes peças do trabalho biológico, nos reinos da Natureza, objetivam simplesmente demonstrar que, além da trama de recursos somáticos, a alma guarda a sua individualidade sexual intrínseca, a definir-se na feminilidade ou na masculinidade, conforme os característicos acentuadamente passivos ou claramente ativos que lhe sejam próprios.

A sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa.

E o instinto sexual, por isso mesmo, traduzindo amor em expansão no tempo, vem das profundezas, para nós ainda inabordáveis, da vida, quando agrupamentos de mônadas celestes se reuniram magneticamente umas às outras para a obra multi­milenária da evolução, ao modo de núcleos e eletrões na tessitura dos átomos, ou dos sóis e dos mundos nos sistemas macrocósmicos da Imensidade.11


E em outro capítulo amplia:

Os princípios espirituais, nos primórdios da organização planetária, traziam, na constituição que lhes era própria, a condição que poderemos nomear por "teor de força", expressando qualidades predominantes ativas ou passivas. E entendendo-se que a evolução é sempre sustentada pelas Inteligências Superiores, em movimentação ascendente, desde as primeiras horas da reprodução sexuada começou, sob a direção delas, a formação dos órgãos masculinos e femininos que culminaram morfologicamente nas províncias genésicas do homem e da mulher da atualidade.12



1 (KARDEC 1980), Q. 536 b)

2 Sugerimos aos leitores voltarem ao nosso comentário de Gênesis, 1: 1 no início deste livro.

3 Cf. (XAVIER / André Luiz [Espírito], 1993), cap. 1

4 Gênesis, 3: 22

5 HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa, versão 1.0, ed. Objetiva, 2001

6 Idem, ibidem.

7 Extraído de (CHOURAQUI 1995), pg. 48

8 KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991. Cap. XVII Item 4

9 João, 14: 12

10 Mateus, 19: 4

11 (XAVIER/Waldo Vieira/André Luiz [Espírito] 1993), 1ª parte, cap. 18

12 Idem, ibidem, 2ª parte, cap. 32


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quinta-feira, junho 02, 2022

Haja Luz - O Dia Primeiro

#interna





3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 5 E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.


E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

O Princípio espiritual já vinha sendo trabalhado por milênios para que pudesse absorver a luz através da vida. A luz começa, assim, a refletir sobre a organização planetária. Os Co-Criadores estão trabalhando no andamento da evolução…

E disse Deus; este dizer de Deus representa a Sua Vontade Soberana, é o que conhecemos como sendo a Lei de Deus.

É preciso compreender esta vontade superior em cada evento universal e a ela ajustar-se. Deus é Perfeição e Misericórdia, Sua Vontade é assim a realização de tudo o que Ele É. Assim, se estivermos realizando-a nos manteremos no estado de equilíbrio, de paz, de saúde e felicidade.

A dor, a angústia, ou qualquer estado de negatividade é justamente o rompimento com este estado pleno de harmonia.

Mais à frente vamos estudar sobre o surgimento do mal e da desarmonia através do símbolo da "queda do Espírito". Maria, a mãe de Jesus, que representa o elemento gerador da volta do Espírito a este estado de Ordem assim se expressou:

Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra1.

Esta é a verdadeira senha para a felicidade, para o estado integral de realização de si mesmo. Só a partir deste estado de obediência consciente nos faremos virgens, imaculados, propiciando assim que o "Filho do homem" nasça em nós.

Haja Luz. Podemos dizer que este é, pelo menos cronologicamente, o primeiro mandamento de Deus. Nele está contido o amor a Deus e ao próximo. Trata-se da realização de toda positividade do plano operacional do Criador.

Fora do tempo, quando da criação primária, representava a manutenção da Ordem e do Equilíbrio, o viver na Harmonia Celestial.

Com o surgimento da matéria, do tempo e do espaço, há um desmoronamento de dimensões, de perda de valores espirituais que se condensam surgindo uma nova realidade.

A consciência é esquecida…2 perde-se a autonomia, passa a vigorar o determinismo das faixas iniciais da evolução.

A partir daí surge a necessidade evolutiva que nada mais é do que realização de potenciais latentes, reconstrução da Ordem original, volta ao Bem através da espiritualização. Sobe-se ganhando consciência, diminui o império do determinismo na medida do progresso do Ser, surge o livre arbítrio nas faixas hominais…

Quando Jesus, o Revelador de Deus, diz: brilhe a vossa luz3, ele sintetiza de forma magistral todo este processo evolutivo. É vossa luz porque é a de cada um, que se apagou, e que resplandecerá na realização da Lei de Deus na medida da conscientização individual através das boas obras que glorificarão o Pai pela consumação de Sua Vontade.

Tudo isso é obra dos milênios, trata-se da realização do mandamento, é o "e houve luz". É passado, porque no Campo Mental do Criador já aconteceu, para nós representa o futuro, a reconstrução do Elo Perdido com Ele.

E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.

E viu Deus que era boa a luz; passa-se o tempo, neste passo já estamos a uma boa distância em termos de tempo do segundo versículo.

O Eclesiástico nos lembra:

Quando no princípio o Senhor criou as suas obras, assim que foram feitas atribuiu um lugar a cada uma.

Ordenou sempre a sua atividade e suas tarefas pelas gerações.

Elas não sentem fome nem cansaço e não abandonam suas atividades.

Nenhuma delas jamais se choca com a outra e jamais desobedecem à sua palavra.

Depois disso o Senhor olhou para a Terra e a encheu com os seus bens4

Não conseguimos alcançar toda grandeza da Criação Universal:

Tudo isso é o exterior das suas obras, e ouvimos apenas um suave eco. Quem compreenderá o estrondo do seu poder?5

Viu Deus que era boa a luz; a luz precisava de passar por um processo de adequação.

Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.6

A expressão viu Deus que era boa a luz, ou viu Deus que era bom, repete-se várias vezes no texto, designa também o plano de Qualidade Total na criação divina. Como também em Gênesis, 1: 31:

E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom…

Podemos aqui pensar em contradição já que a luz vinda de Deus só pode ser boa; entretanto, é bom compreendermos que estamos no relativo onde esta "boa" luz pode ser transformada em nós em trevas:

Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!7

Como? Se recebermos algo do Alto, e não o aplicarmos no desenvolvimento do Bem, se não damos um fim útil ao que detemos por extensão de misericórdia, estagnamos a luz, colocamos sobre ela algo que a impede de manifestar-se, a luz que há em ti são trevas…

e fez Deus separação entre a luz e as trevas. Luz e trevas são duas forças que estão presentes em toda realidade universal, são forças que mantêm o equilíbrio do universo em sua linha dinâmica.

É preciso caminhar com tranquilidade e segurança. Se isso compreendermos vamos desvinculando-nos das pressões, das crendices, pois luz e trevas fazem parte do andamento natural do universo, temos que realizar no âmbito do possível, sem, no entanto, deixar de usar de misericórdia.

Não podemos, deste modo, termos a pretensão de acabar com a treva, é preciso trabalhar com o que chega até nós, não vamos resolver todos os problemas do mundo, mas estaremos contribuindo se agirmos pelo Bem na faixa que nos diz respeito e com o que vem até nós.

Na criação original temos a unidade existente dentro do processo natural, aqui acontecem separações vibracionais, separações de matérias diferenciadas, plano físico e plano espiritual, componente físico e psíquico.

O despertar espiritual acontece com a luta entre as duas partes. É o conflito produzindo progresso.

Separou a luz das trevas havia a necessidade da busca.

A partir da luz toma-se consciência da treva.

Quando o conhecimento é desperto em nós passamos a visualizar a treva existente na fase anterior, que até então não era percebida. Só a partir deste momento separamos a luz das trevas, é a tomada de consciência.

Na ignorância estamos em treva, porém, devido à inconsciência não percebemos esta treva. Pelo processo de iluminação, isto é, quando surge a luz passamos a visualizar a treva em que estamos imersos. Percebemos a necessidade da busca da autoiluminação, passamos a selecionar, não mais aceitamos o que antes era para nós natural e até fonte de prazer.

Este é o momento em que o Deus imanente ou Cristo interior separa a luz das trevas, é o fechamento daquele ciclo, "dia primeiro". Houve uma "tarde", amadurecimento relativo à fase anterior, e uma manhã, uma nova proposta que se inicia.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Já existe aqui um amadurecimento onde se pode nomear as coisas. Luz ganha um nome, dia; treva, noite. Os dois se alternam como num processo de gestação do próprio amadurecimento. É nesse fluxo e refluxo que o Ser evolui e se autoilumina.

A luz é o momento em que recebemos do Alto, para aplicarmos em baixo [trevas] que é o campo operacional. Dinamizando nas trevas alcançamos mais condições de receber mais luz. Ou seja, a luz é constante e sempre presente, quando nos capacitamos e fazemos com ela sintonia a refletimos melhor. [é como quando liga-se o interruptor]

Estamos em um ponto onde a Unidade inicial se decompôs surgindo a dualidade. A partir daí temos: luz e treva, bem e mal, dia e noite, amor e ódio; entretanto, não foi assim desde o princípio.8

Notemos que este é o único momento desta narrativa inicial onde não é dito "e viu Deus que era bom", talvez por ter havido o rompimento com a Unidade, rompimento este que é temporário, passará, tempo e espaço fazem parte de um instante transitório, só a eternidade prevalecerá.

Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.9

Podemos concluir então, que os fatores positivos são absolutos, os negativos relativos, transitórios; estes últimos serão um dia absorvidos pelos primeiros, são materiais didáticos necessários ao processo evolutivo, quando perdem a finalidade deixam de existir.

É preciso compreender que a "luz" sempre existiu, há luz inclusive na intimidade da "treva". Nesta é como se houvesse um "congelamento" daquela. Ela está lá, quietinha, aguardando que o calor das emoções, que a luta gerada entre os pólos da dualidade a descongelem, isto é, criem campo propício para que ela se manifeste.

Em nosso Universo há a necessidade da treva para que a luz se manifeste, não conseguimos perceber esta se não houver aquela, mas isso acontece porque este é um Universo de imperfeição, gerado justamente por esta separação. Na Criação original, na Perfeição do início, no mundo plenamente espiritual o qual só podemos conceber pelo pensamento10, há manifestação de luz sem treva, é o Reino dos Céus de que falou Jesus. Viemos dele e para ele caminhamos.

E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. A manhã significa o momento de nossas concepções, é o estado inicial do entendimento.

Aprendemos com nosso querido e saudoso Honório Abreu que "no plano das percepções temos tomado conhecimento, identificado mecanismos, sistematizado, coordenado, encaminhado no processo evolucional que tange nosso campo de dedução após a manhã, nunca na manhã."

Assim, tomamos o conhecimento sempre dos fatos à tarde, no próprio contexto observador do nosso despertar, nunca somos causa sempre efeito, somos preparados, amadurecidos, para depois tomarmos conhecimento. E no contexto geral somos observadores, só tomamos conhecimento do que já existe. Em relação ao início, à gênese, na realidade nós somos espectadores. Só temos a percepção dos eventos após estes terem acontecido, mesmo que seja fração de segundos depois. Dentro desta ótica somos sempre co-criadores, só Deus é o Creador11 de todas as coisas.

Assim, compreendemos o porquê de na narrativa bíblica a tarde vir antes da manhã. É que existe sempre algo anterior àquilo que percebemos como princípio. O dia bíblico começa com a tarde, mas não podemos deixar de entender que sempre existiu uma outra manhã anterior, sempre haverá uma manhã, um início que não conseguimos alcançar. É o que compreendemos do que não podemos compreender: a eternidade.


1 Lucas, 1: 38

2 KARDEC, 1980, questão 621 item a)

3 Mateus, 5: 16

4 Eclesiástico, 16: 24 a 29

5 Jó, 26: 14

6 (KARDEC, 1980) questão 628

7 Mateus, 6: 23

8 Mateus, 19: 8

9 Marcos, 13: 31

10 Cf. (KARDEC, 1980), questão 26

11 Palavra muito usada por Huberto Rohden em se referindo a Deus. Segundo este respeitado escritor e filósofo "Crear" é a manifestação da essência em forma de existência, enquanto criar é a transição de uma existência para outra.



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