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E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro consolador, para que fique convosco para sempre, O Espírito da verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque habita convosco e está em vós. ( João, 14: 16 e 17)
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro consolador, para que fique convosco para sempre…
E eu rogarei ao Pai… – A oração de Jesus em favor de qualquer um de nós é a intercessão Dele junto ao Pai. Ela tem um grande valor, pois Jesus, como Espírito superior que é, conhece leis que desconhecemos, sabe de mecanismos que regulam o funcionamento do Universo que ainda ignoramos; desta feita, Ele pode atuar visando ao melhor para todos. Todavia, é preciso que se saiba que Ele nada pode fazer por nós se não consentirmos; portanto, melhor ainda é a intercessão feita pela própria criatura, quando esta, de posse de um entendimento superior, deixa o seu Ser divino entrar em contato com a Inteligência Suprema do Universo, fazendo com que o Bem presente nela se manifeste espontaneamente.
Eu rogarei ao Pai, ou, o Eu [profundo] através do Cristo intercederá perante a Divindade…
Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.[1]
…e ele vos dará um outro consolador… – O grego parákletos, aqui traduzido como consolador, está em outras versões como paráclito, conselheiro, ajudador ou, ainda, advogado. Optamos pelo tradicional consolador, pois se advogado, que talvez seja a tradução literal mais correta, expressa um defensor, um representante diante do mundo exterior, consolador exprime melhor algo que nos aquieta o íntimo sendo, assim, um melhor recurso para a edificação do Espírito.
Devemos analisar este versículo em um plano coletivo, e também em um âmbito mais íntimo.
O Movimento Espírita tem visto neste consolador prometido por Jesus o advento do Espírito de Verdade, ou seja, o Espiritismo em sua feição consoladora e em seu aspecto de Verdade. E, se analisarmos devidamente, essa situação se faz clara, pois a Doutrina dos Espíritos preenche todos os requisitos, de acordo com o que prometeu o Sábio Rabi da Galileia. Assim, no aspecto de evolução coletiva, de acordo com o estado de maturidade alcançado pela humanidade, era preciso que uma filosofia unisse religião[2] e ciência para que a evolução intelectual e moral caminhassem juntas, permitindo maior avanço do Espírito.
No campo íntimo, esse consolador é o próprio amadurecimento do Espírito quando opta pela vivência do Evangelho ou quando se integra espontaneamente no trabalho como cocriador em um grau maior de consciência. Neste momento se dará a vinda do Filho do homem, conforme expressa este mesmo Evangelho em um versículo que analisaremos mais adiante:
Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.[3]
…para que fique convosco para sempre… – A expressão é clara: para que fique convosco para sempre. É que o valor conquistado, o amadurecimento alcançado, a autoridade adquirida pela vivência moral são definitivos, não se perdem jamais.
Esse estado íntimo definido pelo Senhor é adquirido pela prática do amor, que, conforme o termo grego agapáô, usado no versículo anterior, significa o amor de união profunda, sintonia perfeita entre o ser amado e aquele que ama, ou seja, é o amor superior capaz de despertar a essência crística em cada um de nós.
O Espírito da verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque habita convosco e está em vós.
O Espírito da verdade… – O Espírito da verdade é o espírito de verdade característico do amadurecimento da própria criatura. A evolução nos leva a despertar e a exteriorizar o estado crístico que existe em nós desde o princípio, por herança divina. A Lei nos impulsiona para adiante, e cada conquista adquirida mais nos aproxima desse momento. Quando atingido esse aperfeiçoamento que nos distingue da massa, dizemos que a verdade já é a tônica de nosso comportamento. É nos informando sobre essa conquista que Jesus asseverou:
…e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.[4]
…que o mundo não pode acolher… – O mundo é a representação do que é material e de seus interesses imediatistas. O estado de espírito que mencionamos é incompatível com esse sentimento de cobiça ou vantagem pessoal. Desta forma, ele – o mundo – não pode acolher algo que é eminentemente espiritual e que só vise ao ganho do Ser imortal. Por isso ele não pode acolher esse sentimento, é incompreensível para ele.
Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo…[5]
…porque não o vê, nem o conhece. – Ver é conhecer ou perceber pela visão[6]; é, dentro deste aspecto, uma atitude física, pois no plano em que nos situamos é preciso que tenhamos olhos bons para que possamos ver.
O mundo, que como dissemos representa os interesses materiais e transitórios, tem enorme dificuldade de ver e compreender o que não é perceptível fisicamente falando; desta forma, por não entender as atitudes nobres daquele que se acha em um grau maior de evolução espiritual, não acolhe com naturalidade seu comportamento típico de um ser evoluído.
Assim, se é difícil para aquele que se acha movido por interesses mesquinhos ver o que é próprio do domínio espiritual, muito mais difícil é conhecer, pois conhecer denota análise e vivência, o que está em um plano ainda mais adiante.
Vós o conheceis… – Jesus distingue assim os Seus seguidores. Apesar de muitas vezes eles demonstrarem não perceber o alcance da missão do Senhor, e das próprias falhas que eles tiveram, eram os discípulos, Espíritos escolhidos para exercer aquela missão. Já tinham eles um grau de amadurecimento superior ao da média dos demais habitantes do planeta naquele momento. Por isso Jesus diz: vós o conheceis…, e as anotações de Marcos confirmam:
…porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.[7]
…porque habita convosco e está em vós. – É aquilo que já dissemos, o estado íntimo de amadurecimento dos discípulos permitia que o consolador já habitasse com eles, e que estivesse neles; ou seja, era uma conquista já realizada por eles devido à opção pelo Evangelho em suas vidas.
É o que deve acontecer conosco se assim também fizermos, isto é, se realizarmos em nós o trabalho de reeducação moral com base nos ensinamentos da Boa Nova. Reeducação esta que, além de nos capacitar para o trabalho permanente em nome do Bem, promoverá esse constante dinamismo característico daqueles que se ajustaram aos preceitos divinos.
Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.[8]
[1] Mateus, 6:6.
[2] Aplicamos aqui ao termo religião seu significado de instrumento capaz de religar a criatura ao Criador, e não no sentido de organização religiosa.
[3] João, 14:23.
[4] João, 8:32.
[5] João, 18:36.
[6] Dicionário Aurélio.
[7] Marcos, 4:34.
[8] João, 5:17.
Texto extraído do Livro:
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