terça-feira, agosto 16, 2022

Diante da Cólera

#interna


                                                           

Diante da Cólera

"Vai, pois, povo meu, entra nos teus aposentos e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te por um pouco de tempo até que a cólera tenha passado." (Isaías, 26: 20)

Um dos grandes segredos para que mantenhamos o equilíbrio e possamos alcançar a paz e a harmonia está no gerenciamento correto de nossas emoções.

Somos os construtores do nosso destino, e assim, de bom ou de mau, o que nos ocorre foi semeado por nós mesmos, tendo na base de todo foco de tensão uma administração indevida de nossos anseios, e, consequentemente, dos pensamentos e ações.

Só podemos controlar o resultado de um sentimento se ele não for exteriorizado, pois a partir de então perdemos o domínio por entrar em ação forças que independem de nossa vontade. Resulta daí a importância que temos de dar à máxima: "vigiai e orai".

Assim, se algo nos aborrece, se alguém nos irrita, ou se temos qualquer emoção em desequilíbrio, lembremos que somos nós quem comanda a reação; e se a carne é por vezes fraca, o espírito é sempre forte e é ele quem dirige as ações podendo muito bem ser controlada a emotividade e assim ajustado o comportamento à ordem natural.

Em momentos onde os transtornos imperam lembremos do poder "mágico" da oração e aquietemos em Deus o nosso coração. Jamais, se buscarmos com consciência, fé e amadurecimento, o auxílio do Eterno, ele faltará com Sua presença, a nos aquietar.

O aconselhamento do Profeta é sábio, e toda sabedoria deve ser praticada já, por tratar-se da Ciência de Deus: entra nos teus aposentos e fecha as tuas portas sobre ti, ou seja, vivencie propostas de auto-conhecimento, e reflita se na origem do aborrecimento não estivemos nós a lançar a primeira pedra. Esconde-te …, isto é, deixemos de lado fatores ligados ao personalismo, pois é essa a chaga dos tempos atuais a desencadear tantas enfermidades, basta um pouco de tempo de sintonia Superior para que possamos alcançar momentos indizíveis de paz e equilíbrio.

Quando tiver passado a cólera, que nada mais é do que uma superestimação de si mesmo, estaremos mais preparados para avaliar e agir; porquanto, com os pés no chão e o coração voltado ao Alto, aí sim poderemos nos manifestar, porque só quando nossas ações forem alicerçadas em sentimentos que encontrem sonoridade em Deus, teremos a convicção de não arrependermos diante das conseqüências que virão, com toda certeza.


Observa, pois, os mandamentos, os estatutos e as normas que eu hoje te ordeno cumprir. Se ouvirdes estas normas e as puserdes em prática, o Senhor teu Deus também, manterá a Aliança (…) ele te amará, te abençoará, e te multiplicará… (Deuteronômio, 7: 11 a 13)

Texto Extraído do Livro: 

Seja Feliz: Este é o Projeto de Deus para Você

 

Disponível na Amazon E Books


terça-feira, agosto 09, 2022

I Tessalonicenses - A Volta de jesus

#Pública






Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele.
(i tESSALONICENSES, 4: 14)

Puro raciocínio lógico expresso pelo converso de Damasco. Se Jesus morreu e ressuscitou, isto é, morreu e não se extinguiu, o mesmo se dará a todos nós que somos seus irmãos e filhos do mesmo Pai, segundo seus próprios ensinamentos.

Sendo Deus a expressão máxima de Justiça, não pode haver privilégio na criação; deste modo, se há um simples ser que continue a viver após o trespasse físico, o mesmo se dará com todos os outros, simples questão de bom senso.

Quanto ao destino dos seres neste continuum da vida, podemos tomar um outro ensinamento de Jesus para justificar a teoria contrária à extinção da vida e a das penas eternas. Qual dentre vós é o homem, disse Ele em Seu Imortal Sermão, que pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?1

Portanto, diante deste sensacional ensinamento, como justificar a teoria das penas eternas, ou da infelicidade futura das almas, ou da extinção da consciência depois da morte?

Mesmo que de forma inconsciente, o maior entre todos os pedidos que faz o ser humano a Deus, mesmo os materialistas, é o de que não seja extinta a vida, portanto, porque Deus não atenderia este pedido comum, tão insistentemente feito por toda Humanidade? Negar esta possibilidade é negar a própria existência do Criador, ou o seu atributo essencial que é a Misericórdia.

Com esta certeza da vida plena, Paulo ensinava aos seus discípulos, todos os que em Jesus dormem, ou seja, os que mesmo desencarnados têm Jesus por Senhor, Deus os tornará a trazer com ele, seja pelas vias da reencarnação seja pela própria presença do Senhor com eles como desencarnados trabalhadores no plano em que se encontram. O mesmo se dará com aqueles que dormem sem a presença de Jesus em suas vidas. Deus através de Sua Lei os fará também retornar, só que do modo como se encontram, isto é, sem o Cristo a orientá-los; serão estes guiados pela Lei, no plano da inconsciência, que os fará sofrer no fluxo e refluxo da existência até que adquiram o conhecimento da verdade que os libertará conforme ensinamento do Cristo quando esteve fisicamente entre nós.

Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.2

Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. (I TESSALONICENSES, 4: 15)

Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor; a autoridade de Paulo estava em que ele ensinava de conformidade com o que lhe era revelado por Jesus. Esta revelação podia vir através dos manuscritos de Levi, a que os primeiros cristãos tiveram acesso, pelo testemunho daqueles que com o Mestre estiveram pessoalmente, ou pela via da mediunidade, já que esta era uma prática comum entre os primeiros discípulos do Senhor. As próprias epístolas eram, como já dissemos, inspiradas por Jesus através de Estevão.

Esta mesma autoridade se ampliava na medida em que Paulo não só recebia e transmitia os ensinamentos pela palavra, mas principalmente pelo exemplo de sua conduta sempre coerente com o Evangelho.

Este texto serve assim de reflexão para todos nós os que hoje nos predispomos a divulgar a mensagem pura do Manso Galileu; temos sido fiéis ao Evangelho? Temos interpretado as lições despidos do interesse pessoal? Como tem sido a nossa conduta diante daqueles a quem mais temos que testemunhar nossa adesão às propostas renovadoras do Cristo?

A vinda do Senhor como já dissemos não será material, mas espiritual; e isso dizemos baseado nas palavras do próprio Paulo, que por sua vez se inspirava em Jesus. Após um texto genial e esclarecedor que deve ser lido por todos e que está contido no capítulo 15 da primeira epístola aos Coríntios, conclui o apóstolo:

O mesmo se dará com a ressurreição dos mortos [que segundo ele se dará na vinda do Senhor], semeado corpo corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita espiritual.3

E continua:

Digo-vos irmão: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus…4 

Em João temos o próprio Jesus ensinando:

Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.5

Portanto, e não estamos inventando, pois usamos as próprias palavras contidas no Novo Testamento, a ressurreição definitiva, que é a máxima realização da criatura que retornará ao Criador, se dará espiritualmente, e esta será, para cada um, no seu momento próprio, o Dia do Senhor, ou dentro da terminologia da época, a "parusia do Cristo".

Neste momento não haverá privilégios, não será o fato de estar desencarnado (os que dormem) ou encarnado (os que ficarem vivos) que indicará quem receberá primeiro a Glória do Senhor, até porque, primeiro e depois são expressões relativas, que dizem respeito à cronologia deste mundo, no Reino do Pai, já foram superadas as dimensões tempo e espaço.

Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro… I TESSALONICENSES, 4:16)

Como dissemos nos comentários relativos ao versículo anterior, as expressões primeiro, depois, primeiro dia, dia segundo, entre outras contidas nos textos bíblicos, têm sentido relativo e devem ser interpretadas em espírito, dentro da lógica, do bom senso, e da razão.

É preciso saber que Paulo como os demais evangelistas estavam realizando um trabalho de educar almas que não tinham a mínima noção de espiritualidade. Ou eram religiosos ortodoxos mais ligados ao plano exterior, ou pagãos ainda no início de suas projeções espirituais.

Portanto Paulo tinha que adequar a mensagem do Evangelho de tal forma que todos compreendessem. Afinal, seu objetivo era universalizar a mensagem do Cristo tirando-a das paredes do templo e dos dogmas que tanto a descaracterizava.

Como já analisamos, Paulo tinha por meta que seus leitores compreendessem, que com relação ao novo advento do Senhor, não era o fato de estar ou não encarnado que daria ao homem maior ou menor facilidade diante deste evento, mas sim a postura íntima em relação às verdades trazidas por Jesus e sua fiel adesão a estas.

Quanto à manifestação do Senhor neste dia de redenção, era característica da literatura da época a utilização de símbolos como nuvens, trombetas, vozes etc.; tanto textos mais antigos como os livros Êxodo, Deuteronômio, entre outros, quanto alguns do Novo Testamento, usam e abusam destas simbologias que sempre reforçam a manifestação espiritual das entidades celestes (os Espíritos) nestes momentos de glória.

O mais importante neste verso é a colocação do redator da carta com relação aos que morrerem em Cristo, significando a desativação em nós das necessidades e desejos ligados às questões materiais. Pois morrer em Cristo é justamente a desvinculação do mundo através do viver nele sem ser dele, ou seja, sem paixão e apego. Jesus com muita propriedade disse ter vencido o mundo, e não no mundo como é desejo dominante na maioria da Humanidade, e em outra oportunidade nos alertou que o Seu Reino não era deste mundo, se referindo ao imperativo de nos espiritualizarmos para atingirmos a meta da felicidade.

depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras. (I TESSALONICENSES, 4:17 e 18)

Estes versículos que encerram o capítulo quarto desta carta não sugerem muitos outros comentários, pelo menos a nós diante do que já expusemos anteriormente, sem cairmos em repetições que julgamos desnecessárias neste momento.

Importa-nos, portanto, analisar algumas expressões.

a encontrar o Senhor nos ares; expressando justamente que este encontro se dará fora do plano comum da matéria, ou seja, será um encontro espiritual. Neste ponto repetimos, pois a terminologia usada vem reforçar nossa conclusão pelo caráter espiritual do advento.

e assim estaremos sempre com o Senhor; nos mostrando que depois da morte gerada pela ilusão do que é transitório retornaremos ao plano original e estaremos com o Senhor para sempre. Deste modo, tudo o que passamos anteriormente como sacrifício para atingirmos este desiderato, mesmo que seja num período de milênios, fica minimizado, pois a felicidade será eterna, isto é, para sempre, numa dimensão em que o tempo jamais passará pois a conquista existirá na intimidade de todos os que tiverem vencido o último inimigo; a morte.6

consolai-vos uns aos outros com estas palavras; é mais uma vez a preocupação de um Espírito superior com a tranquilidade e a paz de todas as criaturas; preocupação de que as suas palavras possam gerar somente o bem e a alegria.

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.7

1 Mateus, 7: 9 a 11

2 Marcos, 4:23

3 1 Coríntios, 15: 42 a 44

4 Ibidem, 50

5 João, 14: 23

6 Cf. 1 Coríntios, 15: 26

7 Mateus, 5:9

Texto Extraído do Livro 

Maria de Nazaré, Paulo de Tarso; Mulher e Homem em Cristo: E Outros Estudos do Evangelho

Disponível em:  l1nq.com/kz2jk
 
  


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terça-feira, agosto 02, 2022

Maria de Nazaré - Quem foi?

#Pública




Quem foi Maria?

Falar de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, não é fácil devido a falta de informações que temos dela, e entre as que temos poucas são confiáveis, isentas e imparciais do ponto de vista religioso.

Estão no Novo Testamento, apesar de raros, os melhores esclarecimentos que temos da Mãe de nosso Senhor Jesus.

Nós, os espíritas, ainda temos o privilégio de termos algumas anotações vindas do Plano Espiritual que nos ajudam a esclarecer sobre a grande evolução e a missão deste nobre Espírito.

Não temos informação de como foi sua infância, nem de sua adolescência; a tradição cristã nos informa que Maria era filha de Joaquim e Ana. Seus pais eram judeus e pelo que podemos depreender dos textos do Evangelho formavam uma família simples e praticantes fieis de seus princípios religiosos.

Provavelmente nasceu entre os anos 18 e 20 a.C., e como era habitual àquele tempo, deve ter casado por volta de seus 14 anos, às vezes até antes.

Os historiadores do cristianismo apontam como data provável do nascimento de Jesus o ano 6 a.C., o Espírito Humberto de Campos através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier define o ano 5 a. C. como sendo o correto para a vinda do Cristo à carne1. O casamento de Maria deve ter acontecido de seis meses a um ano do nascimento de seu primogênito.

Outra questão que não temos como certa é se Maria teve ou não outros filhos além de Jesus. O Evangelho não é totalmente claro a respeito; Mateus fala que Jesus teve irmãos e irmãs, e até dá o nome de seus irmãos2. Entretanto, em hebraico ou em aramaico, os primos também eram chamados de irmãos.

Muitos estudiosos contestam esta questão de os supostos irmãos de Jesus serem seus primos. Afirmam estes que é uma realidade que o termo hebraico designava tanto irmão quanto primo, porém ressaltam que o Evangelho foi escrito em grego, e no grego temos duas palavras distintas, adelphos, para irmão, e anepsios que é literalmente primo. Portanto, insistem, se os autores do Novo Testamento, que à época sabiam se eram primos ou realmente irmãos, quisessem falar em primos, usariam anepsios e não adelphos3.

Outro argumento a favor de serem irmãos é que na maioria das vezes em que eles são citados no Evangelho estão acompanhados de Maria; por que, perguntam, eles estariam sempre acompanhados da tia? Entretanto, há argumentos fortes também, por parte daqueles que defendem que Maria e José não tiveram outros filhos, como o fato de Jesus ter, no momento da crucificação entregado Maria – sua mãe - a João, o discípulo amado, para que este tomasse conta dela a partir de então. Se formassem uma família numerosa, com vários outros filhos, não seria natural que estes cuidassem de Maria?

Há uma terceira hipótese, menos comentada e menos provável, a de que José ao casar com Maria já teria outros filhos de casamento anterior, e estes é que seriam os irmãos de Jesus.

Como este não é o objetivo principal deste estudo, não vamos mais nos ocupar com este tema. No judaísmo era comum o casal ter muitos filhos, era uma benção de Deus, o que faz crer a alguns que José e Maria seriam pais de uma prole maior; todavia, não há esta necessidade, a família de Jesus era sem dúvida uma família especial, e poderia, portanto, ser diferente das demais sem nenhum desmerecimento para eles.

O certo, é que Maria era um Espírito de altíssima evolução, um dos mais puros que encarnou neste Orbe governado espiritualmente por Seu Filho Jesus.


A Gravidez Virginal

Outro tema polêmico e complexo é o da gravidez de Maria que alguns creem ter acontecido sem contato sexual entre ela e José, seu marido.

Dissemos ser complexo, porque tudo o que dissermos a respeito não passa de opinião pessoal, já que não temos condições de provar nem a tese da gravidez virginal nem a da gravidez comum.

Mesmo o Espiritismo não elucida o tema, não há informações confiáveis a respeito. Para um assunto de tal complexidade teríamos que retomar o Controle Universal do Ensino dos Espíritos4, o que foi por nós abandonado há muito tempo.

Como dissemos, as melhores informações que temos tanto sobre Jesus, quanto sobre Maria, são as narradas nos Evangelhos. E o que dizem eles a respeito?

Marcos e João não comentam nada a respeito, Mateus e Lucas são claros: Maria e José não tiveram contato sexual antes da concepção de Jesus.

As igrejas cristãs ligadas ao catolicismo e à reforma protestante defendem a literalidade dos Evangelhos. Segundo os adeptos da primeira, Maria era virgem antes e continuou após o nascimento de Jesus. Para os seguidores da reforma, pelo menos os atuais, Maria era virgem ao conceber Jesus, porém após o nascimento deste teve relações normais com seu marido, tendo, inclusive, outros filhos.

Dentro do Espiritismo, que tem por norma uma investigação mais segura baseada em padrões científicos, as opiniões são divididas, uns creem como os cristãos tradicionais, outros não aceitam a gravidez virginal.

Dizem os defensores desta última hipótese que as narrativas dos Evangelhos a respeito do nascimento de Jesus são expressões de um simbolismo profundo, e que nada têm de históricas.

Pode ser, aliás, todo o Evangelho tem um conteúdo simbólico de grande profundidade, entretanto, cremos, que o simbolismo do Novo Testamento – a não ser no caso das parábolas - tem por princípio eventos reais, e não acontecimentos imaginados. Jesus escolhia momentos, lugares, personagens, didaticamente perfeitos para seus ensinamentos, mas antes de buscarmos o conteúdo espiritual de suas lições, é preciso que compreendamo-las em seu sentido literal, histórico e cultural, só a partir daí devemos buscar seu sentido espiritual.

Não estamos com este argumento defendendo a gravidez sem contato sexual, como dissemos, o tema é complexo e deverá ser melhor estudado hoje e no futuro.

Estes que defendem a gravidez natural de Maria e o relacionamento sexual dela com seu marido antes da fecundação de Jesus, partem do princípio de que se assim não fosse estaria sendo ferida uma Lei Universal, e Espíritos Superiores jamais derrogam uma lei qualquer que seja, antes, cumprem-na com fidelidade.Têm razão, porém, será que uma gravidez sem contato sexual fere alguma Lei Natural? Não temos hoje vários exemplos de gravidez gerada em laboratório?

Estamos tentando fazer uma análise espírita do tema, e deste ponto de vista, a ciência do Mundo Espiritual mesmo no tempo de Jesus era muito superior à nossa atual do mundo em que vivemos, e se esta pode algo fazer, aquela podia com muito mais facilidade. Assim, uma fecundação espiritual para Jesus, não é algo que fere nenhum princípio de ciência segundo cremos. Voltamos a repetir, não estamos com isto dizendo que assim se deu, só estamos analisando possibilidades.

De onde surgiu esta idéia de uma gravidez virginal?

Na literatura pagã há muitos casos de nascimentos virginais, alguns heróis dos clássicos gregos e romanos eram semideuses, ou seja, filhos de Deus com uma mulher carnal. Há também na Bíblia Hebraica nascimentos sob a intervenção divina.

No caso de Jesus a idéia surge num texto de Isaías. Segundo a narrativa do livro deste profeta temos:

Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.5


Porém, a palavra hebraica usada por Isaías que traduzida deu virgem é almah que significa literalmente mulher jovem em idade para casar ou recém casada. Quando se traduziu a Bíblia Hebraica para o grego, na versão da Septuaginta, almah foi traduzida por parthenos. "Parthenos" quer dizer tanto uma moça jovem, quanto uma mulher que nunca teve relação sexual com homem, é como no português falado no Brasil a palavra "moça", que tem tanto o sentido de uma mulher jovem, como a que ainda não teve relações sexuais.

Assim, no texto original de Isaías não é passado esta idéia de virgindade, mas que uma jovem geraria o Messias.

Portanto, a dúvida continuará e só com o nosso amadurecimento espiritual, o que se dará em paralelo ao desenvolvimento moral, teremos melhores condições de analisar o fato.

O que importa para nós é que Maria era virgem no sentido de fidelidade a Deus. Os antigos profetas várias vezes se referem a Israel como um "prostituta" por ter sido esta nação infiel à aliança feita com Deus. Virgem é o oposto de prostituta, dentro deste contexto é justamente ser fiel à Divindade.

Neste sentido Maria de Magdala ao ser desligada de seus obsessores e se converter ao Cristo, tornou-se uma grande virgem do Novo Testamento, e nós se quisermos também gerar em nós o "Filho do homem", ou o homem novo, teremos que, do mesmo modo nos tornarmos virgens, sem pecado.


Maria era culta ou iletrada?

Esta é outra questão que não é fácil de ser respondida.

Nos dias de hoje dizemos que uma pessoa é culta se ela tem o hábito de ler e estudar, se tem muita informação intelectual. Entretanto, no que diz respeito ao primeiro século de nossa era o julgamento não pode ser feito desta forma.

Neste século, o marcado pela vida física de Jesus, grande era o percentual de analfabetismo. Quase não haviam livros para serem lidos, e era caríssima a produção de um, desta forma, não era qualquer pessoa que tinha acesso a livros, sendo assim, poucos sabiam ler, e muito menos ainda os que tinham o hábito de estudar como fazemos hoje.

Porém, não podemos dizer por isso que eram mal informados os habitantes da Palestina daquela época. O processo de aprendizado era diferente, o que tínhamos era uma cultura oral; as cartas de Paulo eram lidas na comunidade cristã através de uma leitura coletiva, muitos apenas ouviam o que este valoroso apóstolo escreveu.

Tal hábito fazia com que a memória destes que se dedicavam ao estudo das escrituras fosse de grande capacidade, pois era preciso saber os textos de cor já que nem sempre era possível lê-los.

Portanto, saber ler não era pré-requisito para se ter cultura. Além disso, em se tratando de uma mulher na palestina no tempo de Jesus, eram bem poucas as chances de que a ela fosse dada a oportunidade de saber ler.

Assim, do ponto de vista de percentuais, grande é a chance de Maria não ter sido alfabetizada, o que não estamos querendo dizer com isso, que não tenha sido. Apenas dizemos de probabilidades.

O que é certo, e podemos dizer com total segurança, é que a Mãe de Nosso Senhor tinha grande cultura, e muito mais ainda, uma cultura espiritual, uma espiritualidade inteligente.

Muitos chegam a dizer que Maria teria sido educada no Templo, que era não só boa leitora, como também, boa redatora. É possível, porém, não certo. Não estamos querendo trabalhar com hipóteses.

No tempo de Maria, o judaísmo não era simplesmente uma religião, era uma cultura. Entre os hebreus não se podia escolher a que religião seguir, simplesmente eram judeus. Não havia shoppings, cinemas, teatros, ou outras diversões quaisquer, o que havia era uma sinagoga, e que todos frequentavam, a sinagoga era a vida das pessoas. Nazaré era uma pequena cidade, a sinagoga deveria ser próximo de tudo, e era ali onde eles aprendiam e praticavam seus princípios de moral elevada.

Como dissemos Maria era um Espírito elevado e sem comprometimentos no campo expiatório, por isso aprendia fácil, com certeza memorizava bem, e vivenciava o que aprendia, não era culta dentro de nosso padrão atual, era sábia.

Por que podemos dizer isso com certeza? O Evangelho nos dá mostra disso a toda hora, e além do mais, Maria foi a educadora do maior Sábio de todos os tempos, e só isso bastaria para dizer que ela foi entre todas a melhor educadora.


1 XAVIER, Francisco C. / Humberto de Campos. Crônicas de Além Túmulo, cap. 15, Rio de Janeiro, FEB, 1937.

2 Cf. Mateus, 12: 46 e Mateus, 13: 55 e 56. Ver também Marcos, 6: 3

3 Existem controvérsias. Segundo PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho Vol. 8. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1967, Pg. 197, a palavra adelphos "irmão", referia-se também a "primos", e ainda cita vários autores profanos como Heródoto, Thucidides, etc. onde isto acontecia.

4 Cf. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991. Introdução, item II

5 Isaías, 7: 14