12 E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro;
E virei-me para ver quem falava comigo; foi dito anteriormente que a voz se fez ouvir detrás do médium; comentamos sobre isto, que trata-se da manifestação do Cristo em nossa vida no sentido inverso ao que é proposto pelo mundo.
João, como servo do Senhor, vivia uma vida voltada para as questões do Evangelho, seus interesses eram espirituais; mas aqui temos de ver a simbologia. Ele como elemento encarnado representa a humanidade que vive uma vida na ilusão do que pode ser visto pelos olhos.
Ao "virar-se", ele demonstra interesse, ele volta a frente para ver quem falava com ele.
Ele ouvia, para ouvir não era preciso virar, portanto, não bastava apenas ouvir a mensagem, era preciso ver de quem ela partia, verificar qual a sua origem, o que nos sugere discernimento.
O Apocalipse nos ensina a discernir, o próprio autor encarnado deste texto já nos dissera:
Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus1
Portanto, era preciso ver quem falava, de quem era aquela voz tão significativa; e ainda hoje ver quem fala. Se a mensagem vem da Esfera do Cristo, estejamos atentos, vivenciá-la é questão de bom senso, obra do homem prudente.
E a misericórdia divina é pródiga em nossa vida, se manifesta através das palavras de um pai, de um amigo, de um livro edificante, de um líder religioso…
Aprendamos com a Revelação, é preciso "virar-se" para quem tem para nós propostas reeducativas.
E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e virando-me, atitude obediente à consciência esclarecida.
Faz-se preciso não só conhecer a verdade, mas obedecê-la. Quantas vezes mesmo sabendo em nossa vida qual o melhor caminho seguimos por outro?
O Apocalipse é altamente simbólico, desvendar estes símbolos é o desafio de todos os que se propõem a estudar esta revelação. De nossa parte não temos a pretensão de compreender todos, pois não há em nós condições para tal. Retirar do texto uma proposta edificante para nossa vida, ou seja, aplicar a mensagem em nosso dia a dia é o objetivo maior. Mas para isso é preciso ir trabalhando estes símbolos e ver neles o que eles podem nos acrescentar em matéria de transformação moral.
A partir do quarto capítulo estes símbolos vão aumentar e exigir mais de nossa capacidade interpretativa, aqui, é apenas uma prefiguração do que vai acontecer mais adiante.
Sobre os sete castiçais de ouro, o próprio texto, no último versículo deste capítulo, nos esclarece: "são as sete igrejas"
Vamos comentar mais no desenvolvimento do texto, mas podemos ver neste castiçal, que é um suporte onde se coloca uma vela com o objetivo de iluminar, não apenas as igrejas; sim, toda comunidade que se reúne em torno de um princípio moral é um castiçal, todavia, nós também temos, individualmente, de sermos um castiçal através do qual a luz divina possa se irradiar.
Não é pretensão nenhuma de nossa parte dizer desta forma. O objetivo da luz é encerrar com a treva, e qual de nós diante de uma grande escuridão ainda não se serviu de um simples palito de fósforo para iluminar em volta? Portanto, qualquer um de nós tem esta prerrogativa. Não são palavras do próprio mestre que resplandecêssemos a nossa luz diante dos homens?2
O Evangelho por si só tem esta missão, iluminar as almas. Se o Antigo Testamento é uma grande trombeta a anunciar a existência de Deus e de Sua Lei, o Novo é a voz suave e doce que diz da necessidade de através do combustível da fé operacionalizada fazermos luz em favor de todos.
13 …e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro.
…e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem; num plano mais coletivo vimos que os sete castiçais representam as igrejas, o sete pode dar a ideia que é a totalidade delas. Entendamos por igreja não a instituição religiosa em si, mas qualquer comunidade reunida a serviço do Cristo, independente de a que escola esteja ligada. Trata-se de um grupamento que, no plano físico, possa fazer manifestar o Pensamento Divino.
Importa ver que são sete igrejas onde não há destaque de nenhuma, todas têm o seu papel e devem ser respeitadas igualmente; o mais importante é que todas sejam fontes irradiadoras de luz.
A expressão seguinte, um semelhante ao Filho do homem, nos remete ao Cristo.
Filho do homem foi um dos títulos que Jesus usou para si mesmo. Etimologicamente, no contexto hebraico, esta palavra quer dizer simplesmente "ser humano", ou "homem". Todavia, em se referindo a Jesus, esta expressão tem um sentido diverso, ela quer dizer de um Ser que ultrapassa a condição humana; um Messias é o melhor entendimento.
O texto deixa uma dúvida, pois o médium relata que viu um semelhante, e não o próprio Filho do homem. Todavia a alusão é clara, evoca o Cristo.
Como dissemos, a linguagem apocalíptica é altamente simbólica, temos que ir aos poucos desvendando estes símbolos. O que mais importa aqui é que os castiçais, fontes irradiadoras de luz, estão sofrendo, por sua vez, irradiação direta do Messias, estão a Ele conectados, estão em plena harmonia. Harmonia esta que é de tal forma que o Cristo está no meio deles, é um deles.
Talvez esteja aí o segredo da expressão "semelhante ao Filho do homem". É que num plano mais elevado de irradiação, não é o título que mais importa, mas estar na mesma frequência, na Alta Frequência de Deus. Pois como nos orienta o Espírito São Luis em mensagem publicada na Revista Espírita em fevereiro de 18683, não devemos dar importância se aqui é à personalidade de Jesus de Nazaré que esta expressão se refere, o que importa é que este Espírito está animado do mesmo pensamento superior.
Se quisermos, individualmente, ou coletivamente [nossa comunidade cristã], estarmos cumprindo bem o nosso papel irradiador de luz, produzindo valores de ordens reeducativas, é preciso estarmos na frequência do Cristo, esta é a essência do versículo.
…vestido até aos pés de uma veste comprida; vamos ter a partir daqui e nos próximos versículos citações a respeito de algumas funções messiânicas, têm elas suporte na literatura veterotestamentária.
A veste comprida define a sua função sacerdotal, referindo-se a uma ampla conexão com Deus.
…cingido pelo peito com um cinto de ouro. O cinto de ouro nos diz da realeza do Messias, o ouro era um metal nobre, o cinto de ouro era uma das insígnias dos reis. Porém vemos que aqui não se trata de um poder temporal apenas, pois o cinto cingido pelo peito diz de uma realeza fundamentada também pelo sentimento, que por estar associado à razão dá plena autoridade, uma capacidade de refletir com maior fidelidade o sentimento divino.
1 I João, 4: 1
2 Cf. Mateus, 5: 16
3 (KARDEC, Os Messias do Espiritismo Fevereiro de 1868)