Lavai-vos,
purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus
olhos; cessai de fazer o mal. (Isaías, 1: 16)
O
tema do batismo tem nos desafiado a compreensão no que diz respeito
ao entendimento evangélico sobre o assunto.
As religiões cristãs
tradicionais batizam seus seguidores, cada uma a seu modo. O
espiritismo que é também de origem cristã não prega a necessidade
do batismo. Com quem está a razão?
João Batista que era
um Espírito de alta evolução, que tinha a missão de ser o
precursor de Jesus, batizava. E mais, disse que Jesus também
batizaria. Apesar disso, João, o evangelista, afirma que Jesus mesmo
não batizava, e sim os seus discípulos.
Polêmicas à parte, se
Jesus batizava ou não, o certo é que segundo as anotações de
Mateus, uma das últimas orientações do Rabi antes de subir
definitivamente aos Mundos Superiores, foi exatamente para que seus
seguidores fizessem discípulos batizando-os em nome do Pai, do
Filho, e do Espírito Santo.
Isto está nas
Escrituras, e conforme diz o próprio Senhor, a Escritura não
pode ser anulada.
Portanto, sendo Jesus o
Guia e o Modelo para a humanidade conforme nos orientam os próprios
Espíritos codificadores, e sendo Seu Evangelho roteiro
imprescindível para nossas vidas, não estaria o espiritismo em
erro, e nós espíritas não deveríamos também batizar e sermos
batizados?
Fundamentados nestes
pensamentos resolvemos estudar mais minuciosamente o assunto já que
bem poucas são as referências espíritas sobre o tema e muito raro
é nos Centros Espíritas abordarem tal questão.
A origem da palavra
batismo é o grego baptizo que quer dizer mergulhar,
imergir, que por sua vez deriva de bapto que tem basicamente o
mesmo significado. Entretanto em um dicionário bíblico encontramos
uma anotação que faz ligeira distinção entre os termos:
O
exemplo mais claro que mostra o sentido de “baptizo”
é um texto do poeta e médico grego Nicander, que viveu
aproximadamente em 200 A.C. É uma receita para fazer picles. É de
grande ajuda porque nela o autor usa as duas palavras. Nicander diz
que para preparar picles, o vegetal deveria ser primeiro ‘mergulhado’
(“bapto”) em água fervente e então ‘batizado’ (“baptizo”)
na solução de vinagre. Ambos os verbos descrevem a imersão dos
vegetais em uma solução. Mas o primeiro descreve uma ação
temporária. O segundo, o ato de batizar o vegetal, produz uma
mudança permanente.
Segundo alguns
estudiosos, a origem de se batizar vem da Caldeia. Cairbar Schutel,
espírita e estudioso do Evangelho, nos diz de forma diversa:
Esta prática,
que assinala períodos milenários, parece ter nascido na Grécia
Antiga, logo após a constituição de uma seita que cultuava a deusa
da torpeza, a quem denominavam Cotito e a quem os atenienses rendiam
os seus louvores. Esta seita, constituída de sacerdotes que tinham
recebido o nome de baptas, porque se banhavam e purificavam com
perfumes antes da celebração das cerimônias, deixou saliente nas
páginas da História esse ato como símbolo de purificação.
Segundo o professor
Paulo Dias, historiador e espírita de origem judaica, os judeus, no
Ano Novo, na Páscoa, no Shabat, costumam fazer a MIKVA, o banho de
lavagem total ou da casa, ou dos vasilhames, ou do corpo conforme o
caso.
No judaísmo mesmo
anterior a João Batista este banho de imersão era usado quando
algum gentio se convertia, batismo dos prosélitos; ou como ritual de
purificação. Por exemplo, as mulheres judias praticantes deveriam
se purificar a cada período menstrual. Segundo a Torah antes de
entrar no Templo a pessoa necessitava se purificar através de alguns
rituais.
Segundo os textos do
Novo Testamento o batismo de João, que foi um divisor de águas, era
para o arrependimento. Os batizados entravam no rio Jordão e
confessavam seus pecados. Podemos pensar que esta imersão na água
simboliza a imersão do Espírito na nova doutrina a que ele deve se
converter.
Temos assim, no batismo
de João um grande diferencial em relação aos mergulhos anteriores;
seu batismo não tinha sentido ritual, mas moral, ele não se
repetia, o batizado não precisava de ficar se purificando sempre, já
que ele se convertia e não se contaminava mais, esta era a ideia.
Fazendo uma relação com a citação do poeta e médico grego
Nicander, a imersão de João não deveria ter ação temporária,
mas permanente.
Mesmo assim, o Batista
dizia que seu ato iria ser superado pelo de Jesus, este não
batizaria com água, mas com fogo e com o Espírito.
Temos aprendido em
nossos estudos que o batismo com água, que é o batismo do
arrependimento, que pode muito bem lembrar a própria reencarnação
do Espírito, simboliza a justiça. Aliás, este é o símbolo do
Precursor, é a justiça humana em seu grau máximo antes da chegada
do amor que é o próprio Cristo em nossos corações.
Por isso o batismo de
Jesus supera o de João, já que o amor é maior do que a justiça,
esta está contida naquele.
Assim, chegamos a uma
primeira conclusão. O batismo de João simboliza a reencarnação. O
Espírito reencarnante também mergulha na água do líquido
amniótico para iniciar sua vida física, e seu corpo nada mais é do
que expressão deste líquido divino sendo ele quase todo de
componente aquoso.
A reencarnação também
é para o arrependimento, purificação e conversão do Espírito;
sem ela não há progresso legítimo e nem mesmo podemos falar em
justiça divina. Ela é a maior expressão da Justiça do Criador.
Dentro desta ótica
podemos dar uma primeira resposta à nossa questão. O espírita deve
se batizar? Sim, não só os espíritas, mas todos os cristãos. Não
só os cristãos, mas todos os filhos de Deus.
Resta-nos apenas
resolver uma pendência para seguirmos adiante. Dissemos que o
batismo de João não se repetia. Daí podem nos perguntar: mas como
ele representa a reencarnação já que esta se repete várias vezes?
Deixamos a palavra com
Kardec e com os Espíritos codificadores:
Todos os
Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de
alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal.
Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o
que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
A cada nova
existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do
progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem
mais necessidade das provas da vida corporal.
Deste modo, o objetivo
da encarnação do Espírito, como do batismo, é o de fazer o
Espírito atingir a perfeição.
Todavia como este não a alcança numa só experiência física, ele
tem oportunidade de outras. O mesmo se dá muitas vezes nas próprias
igrejas cristãs, é comum um adepto se batizar e não se converter
totalmente tendo a necessidade de confirmar posteriormente o batismo.
Por isso o próprio Batista disse que o batismo de Jesus seria mais
poderoso do que o dele, pois ao ser batizado com o fogo e o Espírito
a criatura não mais necessitaria reencarnar, se daria a queima de
todas as impurezas e o aperfeiçoamento pleno pela vivência do amor.
Destarte, como
compreendermos o batismo de Jesus? O que é ser batizado com o fogo e
com o Espírito Santo? Qual o real sentido destas palavras?
Continuemos analisando
alguns textos:
Vendo ele,
porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes:
Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?
Produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento.
Já está posto
o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz
bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
Os fariseus e saduceus
somos nós mesmos que, pecadores necessitamos reencarnar e assim
conhecermos Jesus
e sermos por Ele batizados.
Entretanto, por nos
identificarmos mais com as questões exteriores, queremos logo
receber o batismo por meio de rituais como fazem as igrejas
tradicionalmente. João os alertou:
…quem vos
induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento.
A ira futura
representa o retorno de nossas ações no campo da irreflexão.
Queremos o perdão de fora para dentro sem construí-lo no dia a dia.
É nesse sentido que aguardamos o Messias poderoso e salvador, o que
vai nos livrar da escravidão. É preciso produzirmos frutos
dignos de arrependimento, e isto se dá quando, como nos ensina
o Codificador do Espiritismo,
nos arrependermos, expiarmos e repararmos o mal feito.
Quando isto não se dá,
não produzimos bons frutos e somos assim, lançados ao fogo, fogo
este que simboliza os desafios a que somos submetidos com o objetivo
de purificação de nossas imperfeições no cadinho da vida.
Deste modo, o batismo
do fogo é a queima destes resíduos inúteis e perniciosos que
produzimos com nossas imperfeições. Do mesmo modo que o ouro ou os
metais se purificam em altas temperaturas, nos estamos sujeitos a
todo tipo de dores, contrariedades, e dificuldades com objetivos
redentores na temperatura elevada das lutas reencarnatórias.
Entretanto, para que este seja o autêntico batismo do Cristo é
preciso que tudo isto se dê de forma consciente, e possamos no plano
aplicativo das lições do Mestre assim fazer com alegria.
Ainda exemplificando
sobre como seria este batismo o próprio Jesus nos disse ter vindo
trazer não a paz, mas a espada,
em se referindo à luta íntima que teríamos de empreender durante
nosso processo reeducativo.
Só depois deste
batismo, o do fogo, é que podemos nos candidatar a sermos batizados
com o do Espírito Santo, que é justamente aquele em que redimidos
nos tornamos santificados pela implementação em nós das virtudes
evangélicas como conquista definitiva do Espírito. Ser batizado com
o Espírito Santo é, portanto, ser promovido e passar a fazer parte
do grupo dos Espíritos do Senhor que não só são ajudados, mas que
efetivamente ajudam o próprio Criador e Seu Cristo no encaminhamento
das almas ainda desajustadas.
Dito isto, podemos
pensar em concluir este nosso estudo, cuidando apenas de comentarmos
sobre a orientação de Jesus para que fizéssemos discípulos em
todas as nações batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do
Espírito Santo.
Este versículo contido
nas anotações de Mateus simboliza todo o plano de nossa colaboração
com o Pai no que diz respeito à implantação de Seu Evangelho -
porque em última instância o Evangelho é de Deus -, no coração
de Seus filhos. Só assim tomamos posse de nossa salvação.
Compreendendo isto, o salmista assim se expressou:
Devolve-me o
júbilo da tua salvação
E que um
espírito generoso me sustente.
Vou ensinar teus
caminhos aos transgressores,
Para que os
pecadores voltem a ti.
Deus Pai é a Fonte
Irradiadora de Todo Bem, de Todo Amor. O Filho, que simboliza Jesus,
o Cristo, é o plano operacional deste Bem, do Amor. O Espírito
Santo são todos os Espíritos agregados a Deus em Plena Comunhão
Harmônica, pela dinamização do próprio amor. São aqueles que em
uníssono com o Pai trabalham em favor de Seus filhos.
Deste modo, batizar em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo sintetiza todo trabalho do
apóstolo induzindo as criaturas a realizarem o processo de evolução
consciente ajustada aos três níveis da Trindade Universal:
recebendo a irradiação superior do Alto, operando na faixa de
responsabilidade individual como filho obediente, tornando-se assim
um Espírito redimido pela recomposição de sua consciência.
É a marcha da
evolução. Saímos do Pai que é Deus nos tornando filhos, e sendo
filhos ajustados ao Pai voltamos a Ele como Espíritos Santos
plenamente realizados dentro do plano de aperfeiçoamento possível
de ser realizado.
Conclusão
Ou não sabeis
que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que
fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele
na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela
glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova.
O verdadeiro batismo
não se trata de um ritual, mas de disposição moral de conversão,
por isso é mudança permanente, vida nova.
Devemos ser batizados?
Sim, mas é preciso conscientizarmos que ninguém poderá fazer isto
por nós. Nós é que temos que realizar este processo
individualmente, de dentro para fora.
O apóstolo Paulo
nestes belíssimos versos da Carta aos Romanos nos mostra como
realizar este batismo em Cristo Jesus. A proposta dele é que assim
façamos em três níveis.
Morte, sepultamento e
ressurreição.
Se os dois primeiros
lances dizem respeito ao homem velho, aos anseios humanos que nos
dirigem, o terceiro marca o nascimento da Nova Criatura, nosso
destino final em Deus.
O batismo assim,
significa morte, e por mais que isto possa nos assustar, pois não é
prazeroso pensar em morrer, trata-se de algo imperativo, morrer para
as necessidades antigas, para os velhos hábitos, para as companhias
que não nos ajudam na promoção espiritual. Este é o primeiro
passo, matarmos todas as ilusões da transitoriedade. Todavia, quando
esta morte acontece, ainda fica um resquício, muitas vezes ficamos
ligados a estes sentimentos passados por um fio fluídico que por
mais fino que seja ainda nos atrai para a retaguarda. É preciso dar
o segundo passo e sepultar todas estas formas negativas de vida.
O sepultamento
representa assim, o rompimento dos laços fluídicos que nos ligam ao
passado, é o corte na onda mental do atraso, a desvinculação
definitiva com os laços escravizantes da matéria.
Só após este segundo
passo definitivamente dado nasce a Nova Criatura, ressurge o Espírito
que faliu, recompõe-se a consciência denegrida. Só após a sexta
feira da crucificação dos interesses pessoais atingimos a
Ressurreição no primeiro dia santo de uma nova vida santa.
Portanto, não nos
entristeçamos, o batismo é morte, mas morte para que obtenhamos a
Vida, e Vida Abundante, Vida Eterna.
Este é o verdadeiro
sentido do batismo a que temos de nos submeter, o rompimento total
com a velha criatura, com o príncipe deste mundo, para que possamos
Nascer de Novo, tornando-nos senhores de nós mesmos, e príncipes do
Reino, Filhos de Deus, Herdeiros do Eterno.
Bibliografia
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Paulinas, 1992.
BibleWorks
For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks,
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Dicionário
Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica
do Brasil, 2002.
KARDEC,
Allan. O Céu e o Inferno.
Rio de Janeiro: FEB, 1944.
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O Livro dos Espíritos. 50ª ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1980.