sexta-feira, setembro 23, 2011

Maria de Nazaré, a Educadora de Jesus (continuação)


Maria era culta ou iletrada?
Esta é outra questão que não é fácil de ser respondida.
Nos dias de hoje dizemos que uma pessoa é culta se ela tem o hábito de ler e estudar, se tem muita informação intelectual. Entretanto, no que diz respeito ao primeiro século de nossa era o julgamento não pode ser feito desta forma.
Neste século, o marcado pelo nascimento de Jesus, grande era o percentual de analfabetismo. Quase não havia livros para serem lidos, e era caríssima a produção de um, desta forma, não era qualquer pessoa que tinha acesso a livros, sendo assim, poucos sabiam ler, e muito menos ainda os que tinham o hábito de estudar como fazemos hoje.
Porém, não podemos dizer por isso que eram mal informados os habitantes da Palestina a esta época. O processo de aprendizado é que era diferente, o que tínhamos era uma cultura oral, as cartas de Paulo eram lidas na comunidade cristã através de uma leitura coletiva, muitos apenas ouviam o que este valoroso apóstolo escreveu.
Tal hábito fazia com que a memória destes que se dedicavam ao estudo das escrituras fosse de grande capacidade, pois era preciso saber os textos de cor já que nem sempre era possível lê-los.
Portanto, saber ler não era pré-requisito para se ter cultura. Além disso, em se tratando de uma mulher na palestina no tempo de Jesus, eram bem poucas as chances de que a ela fosse dada a oportunidade de saber ler.
Assim, do ponto de vista de percentuais, grande é a chance de Maria não ter sido alfabetizada, o que não estamos querendo dizer com isso, que não tenha sido. Apenas dizemos de probabilidades.
O que é certo, e podemos dizer com total segurança, é que a mãe de Nosso Senhor tinha grande cultura, e muito mais ainda, uma cultura espiritual, uma espiritualidade inteligente.
Muitos chegam a dizer que Maria teria sido educada no Templo, que era não só boa leitora, como também, boa redatora. É possível, porém, não certo. Não estamos querendo trabalhar com hipóteses.
No tempo de Maria, o judaísmo não era simplesmente uma religião, era uma cultura. Entre os hebreus não se podia escolher a que religião seguir, simplesmente eram judeus. Não havia shoppings, cinemas, teatros, ou outras diversões quaisquer, o que havia era uma sinagoga, e que todos frequentavam, a sinagoga era a vida das pessoas. Nazaré era uma pequena cidade, a sinagoga deveria ser próximo de tudo, e era ali onde eles aprendiam e praticavam seus princípios de moral elevada.
Como dissemos Maria era um Espírito elevado e sem comprometimentos no campo expiatório, por isso aprendia fácil, com certeza memorizava bem, e vivenciava o que aprendia, não era culta dentro de nosso padrão atual, era sábia.
Por que podemos dizer isso com certeza? O Evangelho nos dá mostra disso a toda hora, e além do mais, Maria foi a educadora do maior Sábio de todos os tempos, e só isso bastaria para dizer que ela foi entre todas a melhor educadora.

terça-feira, setembro 06, 2011

Maria de Nazaré, a Educadora de Jesus (Continuação)



A Gravidez Virginal
Outro tema polêmico e complexo é o da gravidez de Maria que alguns creem ter acontecido sem contato sexual entre ela e José, seu marido.
Dissemos ser complexo, porque tudo o que dissermos a respeito não passa de opinião pessoal, já que não temos condições de provar nem a tese da gravidez virginal nem a da gravidez comum.
Mesmo o Espiritismo não elucida o tema, não há informações confiáveis a respeito. Para um assunto de tal complexidade teríamos que retomar o Controle Universal do Ensino dos Espíritos1, o que foi por nós abandonado há muito tempo.
As melhores informações que temos tanto sobre Jesus, quanto sobre Maria, são as narradas nos Evangelhos. E o que dizem eles a respeito?
Marcos e João não comentam nada a respeito, Mateus e Lucas são claros: Maria e José não tiveram contato sexual antes da concepção de Jesus.
As igrejas cristãs ligadas ao catolicismo e à reforma protestante defendem a literalidade dos Evangelhos. Dentro do Espiritismo, que tem por norma uma investigação mais segura dentro de padrões científicos, as opiniões são divididas, uns creem como os cristãos tradicionais, outros não aceitam a gravidez virginal.
Dizem os defensores desta última hipótese que as narrativas dos Evangelhos a respeito do nascimento de Jesus são expressões de um simbolismo profundo, e que nada têm de históricas.
Pode ser, aliás, todo o Evangelho tem um conteúdo simbólico de grande profundidade, entretanto, cremos, que o simbolismo do Novo Testamento – a não ser no caso da parábolas - tem por princípio eventos reais, e não acontecimentos imaginados. Jesus escolhia momentos, lugares, personagens, didaticamente perfeitos para seus ensinamentos, mas antes de buscarmos o conteúdo espiritual de suas lições, é preciso compreendermo-las em seu sentido literal, histórico e cultural, só a partir daí devemos buscar seu sentido espiritual.
Não estamos com este argumento defendendo a gravidez sem contato sexual, como dissemos, o tema é complexo e deverá ser melhor analisado no futuro.
Estes que defendem a gravidez natural de Maria e um relacionamento sexual dela com seu marido antes da fecundação de Jesus, partem do princípio de que se assim não fosse estaria sendo ferida uma Lei Universal, e Espíritos Superiores jamais derrogam uma lei qualquer que seja, antes, cumprem-na com fidelidade.
Têm razão, porém, será que uma gravidez sem contato sexual fere alguma Lei Natural? Não temos hoje vários exemplos de gravidez gerada em laboratório?
Estamos tentando fazer uma análise espírita do tema, e deste ponto de vista, a ciência do Mundo Espiritual mesmo no tempo de Jesus era muito superior à nossa atual do mundo em que vivemos, e se esta pode algo fazer, aquela podia com muito mais facilidade. Assim, uma fecundação espiritual para Jesus, não é algo que fere nenhum princípio de ciência segundo cremos. Voltamos a repetir, não estamos com isto dizendo que assim se deu, só estamos analisando possibilidades.
De onde surgiu esta ideia de uma gravidez virginal?
Na literatura pagã há muitos casos de nascimentos virginais, alguns heróis dos clássicos gregos e romanos eram semideuses, há também na Bíblia Hebraica nascimentos sob a intervenção divina.
No caso de Jesus a ideia surge num texto de Isaías. Segundo a narrativa do livro deste profeta temos:
Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.2
Porém, a palavra hebraica usada por Isaías que traduzida deu virgem é almah que significa literalmente mulher jovem em idade para casar ou recém casada. Quando se traduziu a Bíblia Hebraica para o grego, na versão da Septuaginta, almah foi traduzida por parthenos. “Parthenos” quer dizer tanto uma moça jovem, quanto uma mulher que nunca teve relação sexual com homem, é como no português falado no Brasil a palavra “moça”, que tem tanto o sentido de uma mulher jovem, como a que ainda não teve relações sexuais.
Assim, no texto original de Isaías, não é passado esta ideia de virgindade, mas que uma jovem geraria o Messias.
Portanto, a dúvida continuará e só com o nosso amadurecimento espiritual, o que se dará em paralelo ao desenvolvimento moral, teremos melhores condições de analisar o fato.
O que importa para nós é que Maria era virgem no sentido de fidelidade a Deus, os antigos profetas várias vezes se referem Israel como um “prostituta” por terem sido infiéis à aliança feita com Deus. Virgem é o oposto de prostituta, é justamente ser fiel à Divindade.
Neste sentido Maria de Magdala ao ser desligada de seus obsessores e se converter ao Cristo, tornou-se uma grande virgem do Novo Testamento, e nós se quisermos também gerar em nós o “Filho do homem”, ou o homem novo, teremos que, do mesmo modo nos tornarmos virgens.

1 Cf. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, item II
2 Isaías, 7: 14