Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão; saudações. (tiago,1: 1)
O autor desta carta se revela logo no primeiro versículo, é Tiago.
Mas quem seria esse Tiago? Não pode ser o irmão de João, o filho de Zebedeu, pois este desencarnou antes desta carta ser escrita. É então Tiago menor, o filho de Alfeu (Mt, 10: 3), irmão de Judas (Jd, 1: 1)?
Paulo diz que é o irmão do Senhor (Gl, 1: 19), e lhe chama de "coluna da igreja" (Gl, 2: 9); ao que tudo indica sua mãe chamava Maria (Mt, 27: 56) e era parenta da mãe de Jesus, talvez irmã. Provavelmente esteja aí o motivo de Paulo dizer que era o irmão do Senhor, é que àquele tempo os primos de primeiro grau eram tratados como irmãos.
Para Emmanuel (cf. livro Paulo e Estevão), era Tiago filho de Alfeu, e irmão de Levi. Para Humberto de Campos sua mãe chamava Cleofas, seu Pai era mesmo Alfeu e era irmão de Levi e de Tadeu.1
Ainda segundo alguns estudiosos este Tiago seria um terceiro Tiago, irmão de Jesus (cf. Mt, 13: 55) e que só teria se convertido ao cristianismo depois do episódio da ressurreição, teria desde então assumido a liderança do movimento junto com Pedro e João. Josefo, historiador judeu do Século I, afirma ser Tiago, irmão de Jesus e que foi martirizado no ano 62 a. C..
Há ainda outra dificuldade para estabelecer o autor desta carta, é que ela foi escrita em um grego elegante e rico em vocabulário, o que não era comum em um galileu.
Seja lá como for Orígenes cita esta epístola como escritura inspirada.
Para a nossa análise onde o que mais importa é conteúdo reeducativo do texto, cabe o destaque de que Tiago se denominava servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
O Evangelho de Jesus nos mostra a todo instante que o objetivo do Cristo era educar o Espírito em trânsito na Terra a fim de que ele se ajustasse à necessidade de maior espiritualidade.
O meio para que isto se efetivasse como conquista do Ser imortal, é que este estivesse em conexão com as inteligências do Alto e buscasse no seu dia a dia aplicar o aprendido em seu campo de ação com aqueles que lhe fossem próximos.
Amar e servir estes os verbos que mais deveriam ser praticados pelos seguidores do Messias.
Ao se qualificar como servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, Tiago mostra que compreendeu a lição e no decorrer do texto tanto quanto no da vida daquele que Emmanuel diz ser o irmão de Levi, vamos ver que ele tinha autoridade para assim dizer.
Dois mil anos se passaram, nós demos muitas voltas em nossa trajetória evolutiva na busca daquilo que denominamos felicidade. Hoje compreendemos que ela está mais em dar do que em receber, mais em servir do que em ser servido, mais em amar do que ser amado; porém, será que com a mesma naturalidade do companheiro de Simão Pedro podemos nos qualificar de servos de Deus e do Senhor Jesus Cristo?
Concluindo este primeiro versículo o autor mostra que dirige este texto às doze tribos da dispersão.
Dispersão vem do grego diáspora, que designava os judeus emigrados da palestina. As doze tribos eram a totalidade do povo judeu.
Na carta Tiago usa esta expressão talvez se dirigindo aos judeus-cristãos espalhados pelo mundo Greco-romano, ou ainda, a todos os cristãos de um modo geral.
Analisando o número doze em seu sentido de completude, e a profundidade do conteúdo desta epístola, podemos com segurança dizer que ela foi conservada sob a orientação dos Espíritos Superiores no cânone neo-testamentário, endereçada a todos nós cristãos de todas as eras que buscamos o nosso aperfeiçoamento moral em busca de nos tornarmos homens de Bem sob a égide do Cristo de Deus.
Meus irmãos, tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações… (tiago, 1: 2)
Meus irmãos; mostra o carinho com os seguidores do Evangelho, nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros2, havia ensinado o Mestre, necessário era que todos fossem tratados com muito afeto.
Irmão é palavra comum na boca de muitos cristãos ao se referirem aos confrades, porém, tão poucos dizem assim usando esta expressão em seu verdadeiro sentido segundo a entendia Jesus.
Uma das dificuldades que os estudiosos desta carta tiveram foi estabelecer a data em que ela foi escrita. Para uns, hoje menos comuns, ela foi escrita entre os anos 45 e 50 de nossa era. Seria assim um dos primeiros escritos do Novo Testamento. Para outros, data a carta do final da vida do apóstolo.
Nós não temos autoridade para opinar sobre o assunto, porém vemos neste texto um amadurecimento tal de seu autor que é pouco provável a primeira hipótese, ou seja, a da data mais antiga.
O texto da epístola em muitos momentos é muito parecido com o da mensagem do Sermão do Monte, mostra um Tiago burilado pelas provações, provações estas que trabalharam nele a paciência como veremos mais adiante.
Neste versículo mesmo que ora comentamos, ele usa do artifício usado por Jesus, que é o de impactar com um pensamento estranho para os homens de sua época, e até mesmo para os de nossa era.
Tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações; este não é um pensamento facilmente aceito, quem pode ter alegria por ser submetido a múltiplas provações?
No entanto, o Espírito maduro, o cristão autêntico, sabe que aqui não viemos a passeio, mas para promover nossas possibilidades espirituais, e que estas só desabrocham através de muita luta e esforços consideráveis.
Portanto, se o objetivo é o crescimento espiritual, a promoção moral, e esta condição só é alcançada após múltiplas provações, este acontecimento é motivo de grande alegria; raciocínio puro e lógico, digno do bom senso kardequiano.
Aliás, esta é a mesma mensagem que encontramos em outros evangelistas:
Na vossa paciência, possuí a vossa alma.3
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.4
…e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.5
Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.6