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A Epístola aos Hebreus é um dos documentos mais fecundos de todo Novo Testamento, apesar disto nenhum deles é tão problemático no que diz respeito a análise sobre sua autoria, sobre quando foi escrito, onde e para quem. Isto para citar somente algumas das dificuldades que encontram os estudiosos desta valiosa carta.
Sobre o seu autor desde os tempos dos Pais da Igreja têm-se dúvidas sobre quem seria, a ponto de, segundo Euzébio, Orígenes ter dito que só Deus sabe quem escreveu esta epístola. Outros dizem que o autor de Hebreus é como Melquisedec, sem pai, sem mãe, e sem genealogia, tudo isto para confirmar o estado de indefinição sobre quem a teria escrito.
É quase unanimidade entre aqueles que se têm ocupado com a análise deste texto que ele não é de Paulo.
Os que defendem esta ideia têm argumentos muito sólidos. Falam de um estilo e uma linguagem completamente diferente das epístolas anteriores do apóstolo dos gentios, de um grego muito superior ao comumente usado pelo autor de Gálatas. Isto para citar apenas algumas dificuldades em se estabelecer o autor que uns pensam ser Barnabé, Lucas, Apolo, Prisca, Áquila ou outro de uma lista ainda maior.
Quanto ao lugar em que foi escrita a dificuldade em localizá-lo não é menor. O mais comum é aceitar Roma, todavia há-se a hipótese de Jerusalém e até mesmo Alexandria. A data da redação mais aceita é entre os anos 60 e 70 de nossa era, entretanto alguns eruditos pensam que pode ir até o ano 90 a possibilidade de sua origem.
Até mesmo quanto aos destinatários os estudiosos têm dúvidas apesar do título Aos Hebreus. É que este título não fazia parte do documento original.
Muitos outros pontos poderiam ser analisados a respeito desta carta como literatura, entretanto este não é nosso objetivo, que sempre é o de saber o que verdadeiramente este texto pode nos ajudar em nosso aperfeiçoamento moral, de como podemos aplicar seus ensinamentos em nossa vida diária atingindo assim o objetivo de nossa encarnação.
Só para findar estes breves comentários, e isso não pode deixar de ser dito e levado em conta para nós que interpretamos o Evangelho pela ótica Kardequiana, Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, no Livro Paulo e Estevão1, dá-nos importantes informações sobre os temas que comentamos. Segundo este autor espiritual, Hebreus foi escrita por Paulo, e diz mais, foi talvez a única toda escrita por Ele de próprio punho; que ele foi visto muitas vezes escrevendo em lágrimas. E que foi dirigida aos seus irmãos de raça e que foi grafada enquanto estava preso em Roma entre os anos 61 e 63.
Diz sim, que ela tinha um estilo singular e ideias grandiosas e incomuns, mas era mesmo de autoria do grande apóstolo converso às portas de Damasco.
Sendo assim, na continuidade de nossos estudos vamos considerar que Paulo é o autor de Hebreus, independente de ser esta ou não a realidade aceita pelos eruditos modernos. Não desconsideramos suas razões, mas se assim fazemos é porque se ninguém sabe qual é a realidade preferimos seguir o lúcido e bem informado guia de Chico Xavier; e por considerar que se ele foi o Espírito destacado pelo próprio Espírito de Verdade para ser o responsável pela orientação da obra deste valioso médium encarregado de evangelizar o Brasil e consequentemente o mundo pelas diretrizes do Cristianismo Redivivo, achamos que ele tem autoridade sobre este assunto e sobre qualquer outro de natureza evangélico moral.
Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas (hebreus, 1: 1)
Muitas vezes e de modos diversos falou Deus; em grego as palavras polumeros - muitas vezes - e polutropos - de modos diversos -, são sinônimas, ambas querem dizer "de muitas maneiras". Trata-se de um estilo do autor de dar ênfase à ideia que expõe, isto é habitual em Paulo e também na literatura hebraica de um modo geral.
O autor prepara aqui seus leitores para a informação principal que quer dar e que está no próximo versículo. Apesar de considerar que ele aqui se refere aos profetas do povo hebreu, não podemos deixar de dizer que Israel hoje deve ser entendida por nós na análise dos textos bíblicos como toda humanidade que caminha para Deus; assim não podemos deixar de ver nestas palavras a Misericórdia de Deus que sempre deu revelações importantes a todos os povos, várias vezes, e de diversos modos.
Todos somos filhos amados do Criador de todas as coisas; assim, Buda, Lao Tsé, Moisés, Sócrates, Isaías, Jeremias, Oseias, Maomé, são todos enviados do Senhor para orientar povos em graus distintos de evolução.
Fo-Hi, os compiladores dos Vedas, Confúcio, Hermes, Pitágoras, Gautama, os seguidores dos mestres da antiguidade, todos foram mensageiros de sabedoria que, encarnando em ambientes diversos, trouxeram ao mundo a ideia de Deus e das leis morais a que os homens se devem submeter para a obtenção de todos os primores da evolução espiritual.2
Deus é a Fonte de todas as Revelações espirituais que têm por objetivo conduzir os homens a um estado moral mais elevado e de maior espiritualidade. Quando a humanidade está preparada Ele permite que Espíritos Superiores se dirijam a ela trazendo informações de relevância que podem auxiliá-la a desempenhar sua função. É através deles que Deus fala já que não podemos pensar que Ele por si mesmo tenha uma manifestação pessoal; Deus não é um Espírito, é a Alma do Universo se assim podemos nos expressar.
Isto aconteceu em todos os tempos, outrora, e poderá acontecer novamente sempre que Nosso Pai assim desejar.
…aos Pais pelos profetas; é porque a carta é dirigida mais objetivamente a judeus, sejam eles judeus cristãos ou não, que ele se expressa deste modo.
Ao dizer aos pais, se referia aos ancestrais do povo hebreu, aqueles que receberam as orientações dos profetas, e também aos patriarcas que sempre receberam de Deus orientações por meio dos Espíritos Dedicados que sempre estão a serviço do Criador.
Profetas, são todos que trouxeram revelações diretas de Deus ou de Seu Cristo em todas as épocas da humanidade. Aqui nosso autor se refere a todos, desde Abraão até o último que se manifestou com este caráter.
1 XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. 2ª Parte Cap. IX, Pág. 640
2 XAVIER, Francisco C. / Emmanuel (Espírito). Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1937. Cap. 2