Em se tratando de um estudo sobre Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, o Magnificat, merece um capítulo à parte, é um dos mais belos textos de todo Novo Testamento. Só Lucas entre os evangelistas, e numa entrevista pessoal com a mulher de José, teria a capacidade de registrar para a posteridade tão belo poema, e que prova tudo o que dissemos anteriormente: grande era a espiritualidade inteligente e equilibrada desta que sem a menor dúvida é a nossa Senhora.
Imagino a beleza da cena, aquela que é a mãe de todos os que sofrem, cantando este lindo poema para o médico amigo de Paulo. Ela deve ter dito de cor, pois o sabia de coração, e ele, que à época não tinha celular nem gravador de voz, deve ter tido dificuldade para anotar, pois deve ter se emocionado ao extremo, talvez ela tenha repetido para ele várias vezes:
Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, porque olhou para a humilde posição de sua serva.
Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor.
Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem.
Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso.
Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.
Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência para sempre![1]
Não pretendemos neste momento estudar minuciosamente estes versos, mas não podemos deixar de destacar a cultura espiritual de Maria.
Ela abre o texto falando de sua comunhão com Deus de uma forma que só Jesus falará mais tarde. Coloca-se em sua digna posição de serva e assim se faz grande, engrandecendo o Senhor através de sua vivência em harmonia com Ele.
Ela faz uma síntese do Antigo Testamento, mostrando seu perfeito conhecimento de toda Escritura.
Sintetiza também a religião das boas obras e a Lei de Deus que alimenta aquele que se faz dependente Dele, e despede os que se acham ricos e que têm as mãos ociosas.
Dissemos no parágrafo anterior que ela faz uma síntese magistral do Antigo Testamento. O Magnificat tem dez versículos, nestes ela faz quinze citações do Antigo Testamento os harmonizando com profunda sabedoria.
Só quem conhecia e bem as Escrituras, e tinha uma espiritualidade superior poderia construir esta oração. A seguir vamos destacar cada versículo e as citações a que se referem no texto da Bíblia Hebraica.
- Minha alma engrandece o Senhor,
O meu coração exulta ao SENHOR (I Samuel, 2: 1)
- E meu espírito exulta em Deus em meu Salvador,
Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, (Isaías, 61: 10)
Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. (Habacuc, 3: 18)
- Porque olhou para a humilde posição de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada,
SENHOR dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha. (I Samuel, 1: 11)
Então disse Lia: Para minha ventura; porque as filhas me terão por bem-aventurada; e chamou-lhe Aser. (Genesis 30:13)
- Pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo
Redenção enviou ao seu povo; ordenou a sua aliança para sempre; santo e tremendo é o seu nome. (Salmo, 111:9)
- E sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem.
Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos; (Salmo, 103: 17)
- Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso.
Tu quebraste a Raabe como se fora ferida de morte; espalhaste os teus inimigos com o teu braço forte. (Salmo, 89:10)
- Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
Aos sacerdotes, leva-os despojados do seu cargo e aos poderosos transtorna. (Jó, 12: 19)
- Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.
Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta. (Salmo, 107: 9)
- Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia
Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, e te chamei dentre os seus mais excelentes, e te disse: Tu és o meu servo, a ti escolhi e nunca te rejeitei. (Isaías 41:8-9 8)
Lembrou-se da sua benignidade e da sua verdade para com a casa de Israel; todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus. (Salmo, 98:3)
- – Conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência para sempre!
E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:3)
Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. (Genesis 13:15)
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz. (Genesis 22:18)
É importante imaginar como foi a cena em que tal evento ocorreu.
Narra-nos Lucas que após Maria receber o aviso através do anjo, a respeito de sua concepção, que diga-se de passagem era um aviso mediúnico, e não fica nenhuma dúvida quanto a isso, ela se dirigiu a uma cidade de Judá para fazer uma visita a sua prima Isabel.
Esta cidade foi identificada segundo uma tradição do século V como sendo Ain Karim, e situava-se a aproximadamente 6 Km de Jerusalém.
A viagem de Nazaré a Ain Karim, segundo alguns autores, se fazia em quatro ou cinco dias. Como? Provavelmente no lombo de um animal. Era, portanto, uma viagem através de uma estrada ruim, cansativa, principalmente para quem estava nas primeiras semanas de gravidez. Maria devia ter a esta época algo em torno de 14 anos. Ela deve ter chegado à casa de sua prima, extenuada.
Diz o Evangelista que ao entrar na casa de Zacarias, saudou Isabel[2]; Isabel, ouviu a saudação e exclamou o que no futuro viria a ser uma conhecida prece: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre![3]. E após ouvir a prima, Maria profere o belíssimo poema-oração a que estamos nos referindo. Ou seja, ela teve a capacidade de fazer a genial síntese, o poema magnífico, em uma condição de extremo cansaço, em condições físicas precárias; mesmo assim ela se manifestou em profunda harmonia espiritual.
Nós quando estamos cansados perdemos a criatividade e até mesmo a capacidade de pensar com inteligência, queremos repor as energias e só depois realizar algo que exija um trabalho mais elaborado.
Voltemos à nossa questão inicial, era Maria culta ou iletrada? Não sabemos, porém, podemos com certeza dizer: "era sábia", e uma sabedoria de profunda significação espiritual.
[1] Lucas, 1: 46 a 55
[2] Lucas, 1: 40
[3] Idem, Ibidem, 42
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