terça-feira, maio 14, 2024

A Lei de Deus e Suas Consequências Morais (Parte 1)




A Evolução do pensamento a respeito de Deus

O homem evolui, e com ele evolui a ideia sobre a Divindade.

Num primeiro momento é o Criador confundido com os fenômenos da natureza. Por não os compreender, e por algo dizer aos homens que por trás destas manifestações havia uma inteligência que as dirigia, imaginaram eles se tratar do próprio Deus.

Avançando um pouco mais o homem distingue o fenômeno de seu Criador, todavia ainda bem atrasado em compreensão imagina para cada manifestação um Deus. É o politeísmo.

A evolução continua... alguns emissários da mais alta hierarquia universal vêm até nós e ensinam-nos que um só Deus há, o verdadeiro Criador de todas as coisas. Todavia, como a evolução não dá saltos, a compreensão do Eterno ainda é imperfeita e temos um Deus antropomórfico, isto é, à imagem e semelhança do homem.

O Gênesis, 6: 6 nos diz que Deus se arrependeu de ter feito o homem sobre a terra, devido a maldade que havia em seu coração. Como se Deus pudesse se arrepender de algo.

O tempo passa, e mesmo com a evolução da ideia de Deus, do Deus-general para o Deus-Pai, ainda temos muito da visão antropomórfica do Criador.

Em meados do século XIX os Espíritos nos revelam o que seria um mais avançado conceito de Deus: "Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas." (O Livro dos Espíritos, Questão 1)

Deus deixa de ser um ser inteligente para ser a Inteligência Suprema, (os espíritos é que são os seres inteligentes da criação)[1], e é confirmado como a Causa Primária de todas as coisas, ou seja, é o Criador de tudo o que existe.

A partir daí pudemos analisar e partir para entendimento ainda mais amplo. Em A Grande Síntese, que Emmanuel afirma ser o Evangelho da ciência, a palavra de "Sua Voz" nos revela:

E o conceito é este: como do politeísmo passaste ao monoteísmo, isto é, a fé num só Deus, agora passais ao monismo, isto é, ao conceito de um Deus que É a criação.[2]

 

 

E ainda no mesmo livro:

 

Ele é a grande alma que está no centro do universo. Não centro espacial, mas centro de irradiação e de atração.[3]

 

Segundo o livro A Gênese, de Allan Kardec, Deus é Infinito[4]. Deste modo podemos compreender que Deus tirou de Si a Criação, ou seja, como afirma o saudoso Huberto Rohden, manifestou de Sua essência a existência.

Ainda conforme expressão dos textos bíblicos temos que Deus é espírito (João, 4: 24); Deus é o Verbo (João, 1: 1); e que o Verbo se fez carne (João, 1: 14).

A partir daí deduzimos um novo conceito da trindade:

Espírito  (Deus)                      Lei                             Pensamento

    ê                                         ê                                      ê

Verbo (Agentes dedicados)[5]   Movimento                Vontade

    ê                                         ê                                      ê

Carne (Matéria)                   Criação                              Ação

                                                                                                                   (Plano Operacional)

Deste modo, a Lei que é a ideia pura, o primeiro modo de ser do universo, é um dos aspectos de Deus, como também a criação ou forma que é a realidade exterior.

 

Estamos Nele, como Ele está em nós.[6]

… nele vivemos, e nos movemos, e existimos…[7]

«Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.» (Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)[8]

A Lei de Deus

A Lei de Deus é a constituição do Cosmos. É ela que regula a harmonia e o perfeito funcionamento do universo.

No plano físico temos a lei de gravidade, as leis da eletricidade, as leis químicas entre outras que são como que, artigos da Constituição Maior.

No plano moral temos o livre arbítrio, a reencarnação, a lei de causa e efeito que são também, manifestações dela. Podemos basicamente resumi-la como amor.

 

A Lei é Amor

 

Pois como nos informa o Evangelho: Deus é amor. [9]

Em nosso mundo temos leis para regular a convivência. Assim temos:

 

Leis de trânsito

Leis civis

Leis comerciais etc.

 

A infração a estas leis geram punições. Porém, como vivemos em mundo onde ainda domina a astúcia, muitas vezes pode-se driblar a lei e não ser punido aquele que a violou.

Com a Lei de Deus a mecânica é a mesma, quando a violamos sofremos o impacto da correção, só que neste caso a astúcia não pode enganá-la, pois ela, a Lei, é a mais sábia; ela tudo vê, regula cada movimento da criatura. Como nos ensinaram os Espíritos Superiores, a Lei de Deus está escrita na consciência de cada um[10], sendo assim, impossível violá-la sem ser percebido.

Fazendo uma comparação para que possamos ser melhor compreendidos, a Lei funciona como paredes invisíveis e indestrutíveis colocadas em nosso caminho. A sabedoria está em se movimentar sem chocar-se contra ela, pois o choque contra a Lei gera a dor que é a conseqüência da infração ou de não sabermos nos mover de acordo com os seus regulamentos.

A dor é componente didático a nos fazer voltar ao caminho correto. De tanto o Ser chocar-se contra as paredes invisíveis da Lei e com isso sofrer dano, ele aos poucos aprende como caminhar sem violar os princípios universais.

Lembremos de Jesus:

Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.[11]  

Faz-se importante salientar que a Lei não premia nem pune, sua "reação" é força inserida no próprio fenômeno. Faz parte de sua própria estrutura e funcionamento, conforme nos alerta Pietro Ubaldi em "A Técnica Funcional da Lei de Deus." Todavia, há nela um aspecto consolador:

A lei é por natureza positiva, sempre construtiva, tende ela sempre à salvação.


(Continua no próximo Post)



[1] O Livro dos Espíritos Questão 76

[2] A Grande Síntese, pág. 32

[3] Ibidem, pág. 37

[4] A Gênese, cap. 2 item, 21

[5] O Livro dos Espíritos Questão 536b

[6] Ibidem, cap. II item, 24

[7] Atos, 17: 28

[8] A Gênese, cap. II item, 27

[9] I João, 4: 8

[10] O Livro dos Espíritos, Questão 621

[11] João, 14: 6



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quinta-feira, maio 09, 2024

No Princípio



 
"No Princípio era o Verbo..." (João, 1: 1)
Assim inicia o evangelista o quarto Evangelho. Enquanto outros iniciam nos apresentando Jesus, a origem de sua família, seu nascimento e as ocorrências deste, o autor de João nos fala da origem profunda do Cristo. Em uma tradução mais fiel, "no princípio: o Logos".
A expressão no princípio, em grego en arkê, em hebraico, beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto este princípio desvinculado de qualquer ideia de tempo, seria assim atemporal; Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de tudo.
Assim, temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros aceitam com facilidade a preexistência da alma. Entre estes últimos há os que creem que a vida inteligente só acontece a partir do reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já veem o princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.
O evangelista escreveu em grego, todavia, pensava em hebraico, daí a importância de analisarmos este beréshit. De que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua possibilidade evolutiva.
Os rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o "aleph". Esta simbolizaria Deus em sua unidade; "beth", a segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.
No princípio: o Logos. Logos é uma palavra grega que foi traduzida como verbo, ou palavra. Todavia, seu correspondente hebraico davar, significa também inteligência, informação criadora. Deste modo logos não é verbo ou palavra em seu sentido habitual, mas a palavra criadora, o poder criador. Seria o espírito de Deus manifesto na criação, o Deus imanente.
Assim podemos entender melhor o primeiro versículo deste inspirado Evangelho:

"No princípio era o Logos e o Logos estava em Deus e o Logos era Deus."
 
Façamos agora uma analogia deste versículo com versículo inicial do Gênesis:
 
"No princípio, criou Deus os céus e a terra." (Gn, 1: 1)

No texto original temos o nome Elohîms para designar o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém Elohîms é plural. Segundo Chouraqui (1995, pág.31)[1], nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo André Luiz realizam uma Cocriação em plano maior. Relata-nos o autor espiritual:

"Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível…"
"(…)Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas…" (Evolução em Dois Mundos, Cap. 1, 1ª parte)

Emmanuel também nos esclarece a respeito:

"Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenómenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias." (À Caminho da Luz Cap. 1)

Estas anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos na Codificação, em O Livro dos Espíritos encontramos:

"Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos." (Questão 536 letra b).

Portanto, quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e Elohîms, Cristos, Logos, na verdade são nomes que expressam esses "agentes dedicados" que servem a Deus desde o princípio dos tempos.
A partir das ideias expostas neste texto colocamos a seguinte questão:
Informa-nos O Livro dos Espíritos na questão 17 que não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, que isto tudo ainda é para ele um mistério. E esta palavra repete-se por várias vezes nesta obra mostrando nossa incapacidade de compreensão. Porém, já podemos questionar algumas coisas que nos parecem claras.
Deus é Uno, sua Lei é imutável e sua criação tem um modelo único, não sendo possível que sua Lei determine que uma ocorrência aconteça ora de um jeito ora de outro.
Se assim é não podemos conceber que em sua origem o espírito tenha sido criado simples e ignorante. É preciso refletir sobre isso, e os espíritas têm de discutir esta questão. Pensamos que quando os Espíritos assim disseram na questão 115 de "O Livro dos Espíritos" não estavam se referindo à origem e sim ao início de um ciclo evolutivo. A prova de que esta pode ser a realidade é que eles mesmos repetem várias vezes que o princípio das coisas ainda é para o homem um mistério.
Uma outra prova desta impossibilidade é que se os espíritos fossem criados simples e ignorantes e tivessem necessidade de passar pelo mundo material para chegarem à condição de Espíritos Puros, quem seriam os "agentes dedicados", os Cristos, ou Construtores dos primeiros mundos físicos? E estes quando criados seriam habitados por quem? Teria Deus operado diretamente sobre a matéria no início da Criação e só depois parado de assim o fazer? Particularmente cremos que não.
Este não é um artigo de contestação, sinceramente não temos esse objetivo. Não gostamos de polemizar. A nossa proposta é simplesmente levar os espíritas atuais a pensar sobre o assunto e ajudar-nos no eterno questionamento:
Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?


[1] CHOURAQUI, André. No princípio. Rio de Janeiro: Imago, 1995.


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