quarta-feira, março 16, 2022

Carta aos Hebreus - Menor que os Anjos (Continuação)

Vemos, todavia, a Jesus, que foi feito, por um pouco, menor que os anjos, por causa dos sofrimentos da morte, coroado de honra e de glória. É que pela graça de Deus ele provou a morte em favor de todos os homens. (Hebreus, 2: 9)

Vemos; este verbo quer dizer perceber com os olhos, com o órgão da visão. O autor lembra-nos assim, apesar dele mesmo não ter visto a Jesus, que Ele era um personagem histórico, que existiu, que não era mera invenção. Há uma mensagem espiritual da Cruz a partir de um fato que aconteceu de verdade.

Todavia, a Jesus; o personagem em questão, aquele que o autor mostra a seus leitores ser a encarnação do Messias.

Ele foi visto, se não pelo autor da carta, mesmo que alguns de seus leitores também não tenham avistado com Ele, por muitos presentes nesta época e estes podiam testemunhar.

que foi feito, por um pouco, menor que os anjos; este trecho fala da encarnação do Cristo. Ele foi feito, por um pouco, menor que os anjos.

Os judeus leitores deste tratado não tinham a ideia sobre anjos que nós espíritas temos hoje. Os anjos eram para eles seres espirituais que pertenciam à corte de Deus, eram mensageiros Deste. Não tinham, entretanto, a oportunidade da encarnação, eram seres especiais.

Eles estavam acima do homem; nosso autor está constantemente dizendo que o Messias estava acima dos anjos, aqui ele explica a humanidade do Messias, que Ele, mesmo sendo superior aos anjos, fizera-se por um pouco de tempo, menor do que estes, isto, é encarnou-se.

É usada aqui a mesma palavra do sétimo versículo, brachus, que lá tem o sentido de "pouco" conforme no Salmo citado, expressando este assumir uma posição inferior aos anjos. Aqui o autor que era profundo conhecedor do grego, do significado de cada expressão, joga com as palavras usando-a em sentido duplo, ele se fez "um pouco" menor que os anjos, mas por um pouco de tempo; quando terminasse a encarnação ele assumiria novamente sua posição nas esferas espirituais superiores.

Este processo encarnatório de um Messias não é de fácil execução, pois trata-se de submeter um Espírito que já não pertence à raça humana, que já possui um perispírito em condições para nós inimagináveis, com uma psicologia inabordável por nossa mente, ou seja, um Construtor de Mundos, um Co-criador em Plano Maior, a um processo ajustado às leis de nosso mundo físico.

Alguns Espíritos chegam a dizer que a adaptação deste Espírito para encarnar-se demorou milênios. Não podemos confirmar tal afirmativa, mas também não temos como desmenti-la. É algo que está cima de nossa compreensão, mas ela tem a sua lógica.

Também não é objetivo deste trabalho explicar o processo encarnatório de Jesus, até mesmo porque não temos condições para tal, se isto citamos, é para lembrar a nossos leitores o quanto este Espírito de evolução para nós ainda indescritível teve de se submeter para realizar o projeto de Deus, o quanto ele teve de obedecer, de fazer-se pequeno.

Visto por este ângulo notamos que a mensagem poética da manjedoura ainda é bastante pequena e simples para nos dizer da enorme humildade deste Grande Espírito.

Ele pode, com autoridade, submeter, porque submeteu-se a Deus, ao seu plano, por amor, espontaneamente, assim exemplificando o quanto podemos e devemos fazer se estivermos ajustados ao Criador.

Diante de tal realidade, pode-se perguntar, mas será que seria mesmo necessária esta encarnação, não teria como fazer diferente?

É uma grande presunção de nossa parte fazer esta pergunta, pelo simples fato de que não cabe a nós, pobres criaturas humanas, pedir satisfação a Deus de Suas atitudes. Concluímos assim, que se fosse possível fazer de outro modo o Criador teria feito.

Mas como ele é Misericórdia, permite melhores explicações, é o que vamos tentar fazer comentando a continuidade do versículo.

por causa dos sofrimentos da morte; esta é em parte, parte da resposta à nossa pergunta. Mas aqui é preciso analisar por dois aspectos, pois o texto é tão rico que nos permite várias abordagens.

Jesus foi coroado de honra e glória por causa do sucesso de sua missão realizada em perfeição com os Desígnios do Pai, isto não resta dúvida, e pode ser visto isto neste verso.

Entretanto, queremos ir além, justificar a encarnação por causa dos sofrimentos da morte.

Deus tem um projeto para a recomposição da raça humana que caiu no erro afastando-se assim da Unidade Divina. Trata-se de um projeto longo que vem sendo realizado minuciosamente através dos milênios de nossa evolução.

Em determinado momento, quando a humanidade atinge certo grau de amadurecimento Ele envia Seu Filho Amado para a realização mais importante de todo o projeto, ensinar aos homens que só através do amor e ajustado ao Pai esta recomposição se faria e concluiríamos o processo de volta ao Criador.

Os pedagogos de nosso mundo já concluíram que o exemplo não é um modo de educar, mas é o único eficiente. Como este processo de recomposição trata-se de um processo reeducativo, só pelo exemplo os filhos de Adão poderiam aprender e apreender os verdadeiros ensinamentos que os levariam à libertação final. Por ser sabedor de tudo isso, o Pai permite e envia à encarnação Seu Filho já Cristo.

É preciso aqui compreender que a morte de Jesus não foi só a acontecida no dia do Calvário, ela foi a própria encarnação do Espírito Puro. Ao sair de Seu Reino de Pura Espiritualidade e tomar um corpo de carne, isto para um Espírito de seu nível já é a morte, viver diante de tanta imperfeição já significa morrer. Jesus não conheceu o pecado quando da sua encarnação, mas participar da vida dos pecadores foi sua maior provação.

A morte no sentido bíblico é consequência do desvio dos Desígnios de Deus, o que as religiões denominaram pecado. Morrer, deste modo, não é deixar o mundo físico, ou seja, desencarnar, morrer é muito mais encarnar, pois deixa-se o plano de origem, que é o espiritual e vem-se para o mundo material que não é adequado ao Espírito.

Portanto, é por causa da morte e dos sofrimentos desta, que o Espírito Jesus veio até nós, se fazendo um pouco menor que os anjos, por um pouco de tempo, para nos resgatar dela, parar nos trazer a Vida em Abundância1, Vida esta que ele já adquirira através de Seu processo evolucional.

Isso não poderia ter sido feito só do Mundo Espiritual, era preciso que Ele se fizesse semelhante à humanidade e pela provação, que significa "participar em", testemunhasse ser possível a vivência do amor neste plano tão distante do ideal.

coroado de honra e de glória. Trata-se do coroamento de um processo. Como Jesus atendeu ao chamado do Pai, veio, realizou o melhor e finalizou o processo não deixando nada por completar, ele foi coroado de honra e glória. Por quem? Quem o corou? O Pai, Deus o Coroou.

O mundo O coroou com uma coroa de espinhos, com a humilhação, com o escárnio, mas Ele mostrou-nos ter vencido o mundo, não foi para a glória efêmera que Ele veio, mas para cumprir uma missão do Pai, uma missão espiritual que o mundo não compreendeu e ainda não compreende.

Deste modo, estejamos atentos a que tipo de honra e glória estamos buscando. A do mundo, ou a de Deus? A segunda, que é a do Cristo, tem um gosto amargo de fel, mas traz-nos a paz da consciência que é a definitiva glória do Espírito como sinal de coroamento do Bem realizado; a primeira, que é a mais valorizada em nosso estado atual, traz-nos imensa satisfação, alegria e prazer. Porém lembremos, na maioria das vezes é alegria fugaz, transitória, pois alegria em função da tristeza de outros. Parafraseemos o apóstolo Paulo, "a coroa do mundo é loucura para Deus, a coroa de Deus é loucura para o mundo, mas poder para o Espírito imortal".

É que pela graça de Deus ele provou a morte em favor de todos os homens. Graça, esta palavra tem sido interpretada como significando "favor", "graciosidade", algo gratuito, como um favor divino.

No Novo Testamento, em especial nos escritos de Paulo é preciso vê-la com o sentido de "amor". O pensamento do apóstolo dos gentios de que a salvação vem pela graça e pela fé, tem sido muito mal interpretado se entendermos isto como sendo um favor de Deus pelo ato de crer. Salvação pela graça e pela fé em Paulo deve ser entendida como salvação pelo "amor e pela fidelidade", ou pelo amor e pela verdade o que na cultura hebraica tinha o mesmo sentido.

Como em João, 1: 17, em que nos é revelado que a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ou como em Êxodo, 34: 6, na definição que Deus dá a Moisés de si mesmo:

Deus de compaixão e de piedade, lento para cólera e cheio de amor e fidelidade (em algumas versões "verdade").

Portanto, como Kardec nos orientou em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem.2 Trata-se de um dom de Deus sim, mas que só se recebe através do esforço de realizar a transformação moral.

Portanto, o versículo quer dizer, que é pelo amor de Deus que o levou a testemunhá-Lo, é que ele provou, isto é, sentiu o sabor, experimentou a morte.

Como já comentamos não se trata só da morte e do sofrimento no dia da Cruz, mas da morte de todo processo encarnatório. E por que Jesus fez isso? Em favor de todos os homens, isto é, de toda humanidade. E aqui é preciso ver cristãos e não cristãos, Ele por amor veio para resgatar a todos, principalmente, e é o que Ele afirma, aqueles que estavam mais distantes de Deus pela transgressão da Lei.

E isto nos traz a seguinte lição, não devemos ver aqui o simples fato de alguém que sofre por outro, mas o exemplo do que devemos fazer como testemunho do Novo Mandamento3, que é aquele com o qual selaremos a nossa amizade ao Cristo4.

Não há outra alternativa para a nossa libertação a não ser a do amor, a de dar a própria vida em favor do semelhante, a de provar a morte pelos filhos de Deus.


1 Cf. João, 10: 10

2 (KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. 1991), Introdução.

3 Cf. João, 13: 34

4 João, 15: 14





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"...amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo." (O Espírito de Verdade, ESE Cap. VI)

quarta-feira, março 09, 2022

Carta aos Hebreus - Menor Que os Anjos

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Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste (Hebreus, 2: 7)

Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos; continua a citação do Salmo 8, onde originalmente este verso fala do homem.

No hebraico original do Salmo temos a palavra me`at que quer dizer "pouco", "pequenez", "um pouco". Quando o texto foi traduzido para o grego na versão dos LXX, a palavra usada foi brachus que tem o sentido de "pouco", mas também de "por um pouco" significando um curto período de tempo, um momento.

No texto que estamos comentando o autor cita através da versão grega e a versão que usamos traduziu com o sentido de "por um pouco".

Talvez tenha sido intencional esta citação grega por parte do autor de Hebreus, para, como rotineiramente o faz, jogar com as palavras para melhor fazer compreender o que quer dizer. Vamos perceber melhor a sutileza da colocação quando no verso 9 ele usa a mesma palavra e a referência é claramente ao Cristo.

Assim, preparando nossa mente para o que verdadeiramente ele quer dizer, ele, que conhecia o sentido exato do Salmo, cita dizendo que o homem, e aqui podemos entender o Espírito, foi feito através de seu processo evolucional, menor que os anjos, pois como já comentamos, os anjos são os Espíritos já em um nível superior de evolução.

O homem, que é o Espírito encarnado, é inferior aos anjos, mas tem, como diz a Bíblia, o domínio sobre os outros seres da criação:


E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.1


No contexto do Salmo esta é a glória e a honra com que o coroaste [o homem], dizendo do estado superior da humanidade em relação aos outros seres criados.

Como dissemos o autor de Hebreus prepara o terreno para o que vai dizer nos versos 9 e 10 que é onde vai ficar mais claro o sentido espiritual que ele deseja dar ao texto. Numa linguagem bem judaica podemos dizer que ele faz uma ótima midrash.

Deste modo, devemos entender que ainda somos Espíritos inferiores aos anjos, somos em verdade, bem atrasados quanto ao fator espiritual, mas já fomos coroados com a glória e a honra do estado de humanidade o que nos dá o dever de dominar não só os seres inferiores da criação, mas também os sentimentos inferiores que cultivamos em nossa milenaridade.

Meditemos sobre isto…

e todas as coisas colocaste debaixo dos seus pés. Se Deus lhe submeteu todas as coisas, nada deixou que lhe ficasse insubmisso. Agora, porém, ainda não vemos que tudo lhe esteja submisso. (Hebreus, 2: 8)

e todas as coisas colocaste debaixo dos seus pés. É ainda a citação do mesmo Salmo, do domínio do homem sobre todas as coisas. Debaixo dos seus pés.

Nosso missivista, que neste ponto parece mais um tratadista, começa a deixar claro aqui o sentido espiritual que quer dar ao texto para o melhor entendimento de seus leitores.

Muitos têm analisado este versículo como se ele, como no Salmo original, dissesse a respeito só do homem. Entretanto, particularmente achamos que o Homem, isto é Jesus, já é aqui referido também como extensão do entendimento.

O homem comum, biológico, tem todas as coisas materiais e mesmo os seres inferiores sobre o seu domínio, debaixo dos seus pés.

O Homem-Cristo, o Homem Espiritual, tem todas as coisas, também as espirituais, até mesmo o mundo vindouro, como no quinto versículo, debaixo dos seus pés, simplesmente porque, Ele, o Homem Espiritual, já tem a si mesmo debaixo dos seus pés, já conseguiu dominar e vencer suas próprias imperfeições equilibrando emoções e sentimentos.

Este foi o objetivo claro de Jesus, que foi dito segundo os evangelistas, de vários modos, transformar o homem biológico em Homem Espiritual.

Pois o filho do homem veio buscar e salvar o que está perdido.2

eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância.3


Se Deus lhe submeteu; é importante trabalharmos o significado da palavra hupotasso (submeter):


"Obedecer, estar sujeito, um termo militar grego que significa "organizar [divisões de tropa] numa forma militar sob o comando de um líder". Em uso não militar, era "uma atitude voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade, e levar um carga"4.


Deus não submete ninguém a nada, pois Deus é amor, e amor não constrange.

Assim, devemos entender esta expressão como uma atuação da Lei de Deus gerenciando a criação divina, colocando uns sujeitos a outros de acordo com o uso individual do livre arbítrio, sabendo que, sob o aspecto espiritual a liderança é exercida por aqueles em melhores condições morais, ou seja, aqueles melhores ajustados à própria Lei de Deus.

Deste modo, o homem, como ser mais evoluído do planeta, apesar de suas imperfeições, tem sujeito a si seres inferiores na escala evolutiva. Jesus, o Homem, espiritualmente, devido a sua imensa evolução espiritual, dominava todas as situações em que se envolvia, sujeitava dores, enfermidades, Espíritos, e por isso realizava maravilhas ainda não compreendidas pelo homem comum. Espiritualmente, Ele, o Cristo, lidera, em nome do Pai, muito mais, pois foi delegado a Ele nosso próprio orbe para que Ele gerenciasse sua evolução até que os Espíritos a Ele entregues se redimissem e voltassem para a Unidade Divina.

Assim, a Lei que é perfeita, e devido a grande evolução do Espírito Jesus, nada deixou que lhe ficasse insubmisso. Ele é maior então, que todos os principados e potestades, que os anjos, estando tudo a Ele sujeito, até mesmo a natureza que sofre influência dos Espíritos comandados por Sua Força Moral.

Entretanto, diz ainda, o texto em análise: agora, porém, ainda não vemos que tudo lhe esteja submisso.

Com referência ao homem é fácil explicar o porquê de ainda não ter tudo sobre sua sujeição, é que suas próprias imperfeições morais ainda não lhe dão esta total prerrogativa. Ele, devido a sua ação ainda imperfeita, causa desajustes no meio em que vive de tal forma que a própria Lei age corrigindo estes desajustes, originando daí as dores, as tragédias naturais, e tudo que for preciso para levar a humanidade à perfeição.

Mas, e em relação a Cristo, o Espírito Puro já plenamente Integrado ao Pai, porque tal sujeição ainda não se dá?

Em primeiro lugar porque Ele como a maior expressão do amor de Deus que conseguimos alcançar, também não constrange ninguém a estar sob o seu jugo suave; os Espíritos têm a liberdade de a Ele e ao Bem se insurgirem, cabendo a cada um a consequência do que fizer.

É como se tivéssemos ao nosso pé amarrado um elástico imenso, com uma elasticidade muito grande, porém, limitada, preso do outro lado a Deus. Temos a liberdade de Dele se afastar o quanto quisermos, e ficarmos por lá no bate e rebate da vida, escravizados aos impactos. Haverá um momento, no entanto, que, chegamos ao fim da elasticidade e o Centro Universal que é Deus passa a nos atrair de volta a Ele, a fim de alcançarmos a glória para a qual fomos criados.

Quando tal se der com todos os Espíritos vinculados à governança de Jesus, poderemos dizer que tudo e todas as coisas lhe estarão submissas numa imensa harmonia celestial.

Poderá ser dito que isto se demorará muitos milênios a acontecer, até que todos estejam espontaneamente sob a direção do Messias Jesus, e assim, a Jerusalém Celestial do Apocalipse ficará adiada por muito tempo, o que não parece ser uma realidade.


Sim, esta adesão de todos os Espíritos à Mensagem da Cruz ainda levará algum tempo muito longo, cremos; entretanto, a Sabedoria Universal, tem seus meios, através de um processo de imigração e emigração de Espíritos aos mundos vários existentes em nosso Universo para sanear nosso orbe e assim implantar esta Jerusalém em nossa Terra num tempo mais ou menos próximo, mesmo que falte a presença de alguns Espíritos ainda em evolução em outros ambientes planetários. Quando de sua definitiva redenção voltarão estes Espíritos um à sua casa de origem, integrando-se assim à harmonia planetária.

Mas este é outro assunto e não é o tema primordial de nosso atual estudo, deixaremos para outra oportunidade uma abordagem mais completa sobre o assunto.


1 Gênesis, 1: 26

2 Lucas, 19: 10

3 João, 10: 10

4 Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.





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quinta-feira, março 03, 2022

Carta aos Hebreus - Diabo, o Dominador da Morte?


Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue, por isso também ele participou da mesma condição, a fim de destruir pela morte o dominador da morte, isto é, o diabo… (hebreus, 2: 14)

Através deste versículo o autor aprofunda o tema da encarnação do Messias e de seu objetivo.

Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue; o versículo refere-se à nossa necessidade – humanidade – de estarmos vinculados ao processo da encarnação através de um corpo físico.

Os filhos somos todos nós. Nós, temos em comum, esta necessidade, a de estarmos vinculados a um corpo de carne e sangue buscando a nossa evolução que será a recomposição de nosso destino objetivando a Vida em Deus.

Trata-se da alegoria da "queda do Espírito". Por termos nos distanciado de Deus através da infração de Sua Lei, criamos para nós a necessidade de estarmos associado à matéria – laço que prende o Espírito1 – num processo de morte e renascimento até que nos desobriguemos deste ciclo pela Perfeição Espiritual.

Assim, planejamos no Mundo dos Espíritos, e vimos para a realidade física realizar o projeto; esta é forma de evoluirmos e conquistarmos o direito da Vida Abundante.

Como não conseguimos realizar todo processo de aperfeiçoamento numa só experiência física, renascemos várias vezes com este objetivo nos tornando cada vez melhores e mais próximos do ideal.

Quando, após alguns milênios, a humanidade sob Sua responsabilidade adquiriu certo estado de amadurecimento, Jesus veio até nós para dar o recado final, o do amor, sem o qual seria impossível progredirmos para Deus.

Sendo uma das características básicas do amor a adequação, não tinha como Jesus nos iniciar neste sentimento superior, senão adequando-o às nossas possibilidades, e por ser o exemplo instrumento essencial de educação, conforme já dissemos, e devido a importância da lição, Ele mesmo para se fazer compreendido encarnou; por isso também ele participou da mesma condição, ou seja, ele tornou-se humano, fez-se homem:

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.2

Neste passo é preciso compreender que Jesus jamais perdeu, com a encarnação, Sua superioridade de Espírito, todavia ele tomou um corpo de carne e sangue semelhante ao nosso. Esta era a ideia daqueles que o conheceram pessoalmente:

Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus3

A lição é de grande valia para nós que estamos matriculados na escola do aperfeiçoamento consciente. Se quisermos aprender, ensinar e exemplificar o amor é preciso participarmos da experiência daquele a quem amamos. Não há como ensinar o Sentimento Sublime, Alimento das Almas, simplesmente no quadro-negro de uma escola, é preciso descermos às experiências de nossos semelhantes, na mesma condição deles, e operar exemplificando o que desejamos ver por eles assimilado. Este foi o processo educacional trazido Jesus e que deve ser também o nosso

É mais uma vez o Evangelho se completando dentro da realidade que já expusemos, não existe Evangelho sem comprometimento com a vivência de seus ensinamentos por parte daquele que o prega.

a fim de destruir pela morte o dominador da morte; é à morte de Jesus que o autor se refere, apesar de que a morte aqui não representa só a morte da cruz, não obstante ser ela importantíssima, essencial mesmo, por se tratar do coroamento do processo.

Todo processo encarnatório do Cristo desde a preparação para a Manjedoura até o Gólgota representa esta morte, a descida de um Espírito Puro até a matéria.

A necessidade encarnatória se dá pela transgressão do Espírito. É uma bênção de Deus, diga-se de passagem, mas só há necessidade dela devido a sermos ainda impuros; em outras palavras poderíamos dizer que estamos "mortos".

Esta morte só será destruída pela vida, vida que há em Cristo e que Ele veio nos trazer, vida do amor vivenciado.

Em nosso mundo ainda involuído não há como sabermos da saúde, senão pela doença, não há como percebermos a luz senão através das trevas. Do mesmo modo, a vida se contrapõe à morte e só através desta pode ser vista como tal.

Para destruir a morte do afastamento de Deus, Jesus teve de encarnar, isto é, morrer como Puro Espírito, lembremos da parábola:

Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.4

Assim, através da morte, de sua encarnação, pôde ensinar o meio de eliminarmos de nossa história a morte do afastamento de Deus pela transgressão de Sua Lei.

Isto é o que quer dizer a fim de destruir pela morte o dominador da morte, isto é, o diabo.

Vejamos, a morte é o afastamento de Deus. Nós nos afastamos Dele através da desobediência (pecado original) transgredindo Sua Lei. Não é esta a lição da parábola de Adão e Eva?

Deste modo, quem é o dominador da morte? O diabo?

O dominador da morte, o gerador dela, é o nosso sentimento desequilibrado, sentimento este que pode se manifestar através da rebeldia, do inconformismo, da presunção, da cobiça, e de inúmeras outras formas, mas que na essência é o mesmo.

Enquanto estivermos presos a estes sentimentos inferiores podemos dizer que estamos mortos, afastados de Deus, necessitados do ciclo encarnatório, pois só pela morte da encarnação evoluiremos, o que quer dizer espiritualização, nos reeducando, assim, em moral, para a Perfeição Divina.

Mas e o diabo, quem é ele e o que tem ele a ver com isso?

Em primeiro lugar precisamos compreender que a Bíblia é um conjunto de livros altamente simbólicos. Existe verdade histórica na Bíblia? Sim, muita. Entretanto, temos história e alegoria nos desafiando a todo instante, e a fim de ampliarmos a nossa compreensão é preciso diferenciá-las.

O diabo é um exemplo destas alegorias que permeiam todo o texto. Não estamos com isto reduzindo sua importância no contexto, mas buscando dar-lhe o melhor entendimento tirando da letra que mata o espírito que vivifica.

Diabo vem do grego diabolos e significa aquele que desune (inspirando inveja, ódio, orgulho); caluniador maledicente. É derivado do verbo "diaballo" (separar, desunir, atacar, acusar, caluniar, enganar)…5

Deste modo, todo aquele que realiza o que este verbo exprime pode ser considerado um diabo.

No contexto bíblico ele é aplicado àqueles que se opõem à causa de Deus, assim, do mesmo modo que podemos dizer que o egoísmo e o orgulho são os nossos maiores inimigos, pois são os sentimentos que mais atrasam a nossa evolução, é certo também afirmarmos que diabo é todo sentimento que se opõe à realização de Deus, do Cristo, do Evangelho, em nossas vidas. Como dissemos, são estes sentimentos inversos à proposta de Deus que nos levam à transgressão da Lei e à morte como consequência.

Se não dermos lugar em nossos corações a estes sentimentos, jamais Inteligência alguma conseguirá nos tirar do caminho reto do Bem.

Portanto, compreender o diabo como um ser criado por Deus e que está fadado eternamente ao mal e que deseja por isso corromper toda a criação levando-a para o inferno eterno, é um grande erro de interpretação.

Não estamos com isto dizendo que não possam algumas Inteligências voltadas provisoriamente ao mal, por certo período, encarnarem a personalidade opositora ao Bem e tornarem verdadeiros "diabos". Isto existe, é real como nos mostra a literatura espírita, e mais comum do que podemos supor. A codificação Kardequiana, tanto quanto as obras subsidiárias do Espiritismo tratam muito bem este assunto, mas daí dar a estas almas transviadas um valor eterno que elas não têm vai uma distância muito grande.

Portanto, como dissemos, é preciso nos acautelarmos contra o diabo dos nossos sentimento inferiores e contrários ao Evangelho, eles é que são os dominadores da morte, sem eles, Espírito nenhum, mesmo que amplamente maldoso pode nos fazer mal algum.



1 (KARDEC, O Livro dos Espíritos. 50ª ed. 1980), Q. 22 item a)

2 João, 1: 14

3 I João, 4: 2

4 João, 12: 24

5 DIAS, Haroldo Dutra (tradutor). O Novo Testamento. Brasília: Conselho Espírita Internacional, 2010





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