Artigos e comentários a respeito da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus - O Blog do Evangelho Miudinho
quinta-feira, dezembro 13, 2018
terça-feira, dezembro 11, 2018
sexta-feira, setembro 14, 2018
João, 5:2-10 - O Paralítico de Betesda
Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas… - Recordando o que já dissemos em outro momento; Jerusalém era a capital dos judeus; cidade de grande importância, era onde situava-se o Templo de Salomão. Era o centro de toda movimentação religiosa.
Hoje, buscando o sentido espiritual do Evangelho, é importante entendermos o significado do termo Jerusalém no que diz respeito às nossas necessidades em matéria de conquistas definitivas do Espírito.
Assim temos, que Jerusalém é o centro de nossas cogitações espirituais. Todas as vezes que nos situamos próximos dos valores imperecíveis, ou de acordo com as Leis Universais, estamos em nossa Jerusalém particular. A Nova Jerusalém da mensagem apocalíptica, nada mais é do que a edificação em nós do Reino do Senhor, ou seja, o momento em que o Filho do homem não estiver mais fora, mas dentro de cada um de nós.
Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas…; havia a porta das ovelhas como também muitas outras, isto mostra-nos que se geograficamente esta era a realidade da "Cidade Santa", no campo íntimo podemos dizer que o mesmo se dá; ou seja, muitas são as portas em que podemos adentrá-la.
Torna-se importante não confundirmos porta com caminho. Este é um só, o do Evangelho. Entretanto, muitos são os meios de chegarmos até ele. O próprio Centro Espírita é uma porta para a nossa Jerusalém íntima; e quantas não são as portas por onde podemos adentrá-lo? Só para lembrarmos podemos dizer que temos a porta escola; a porta hospital; a porta caridade; e muitas outras de acordo as necessidades.
João, o mais rico em espiritualidade entre os evangelistas, nos diz que, em Jerusalém há… a porta das ovelhas.
A ovelha é um símbolo, de grande importância, do sacrifício cristão. Se a docilidade, a resignação, a paciência e a compreensão, são virtudes a serem conquistadas pelos discípulos do Nazareno de todas as épocas, nela encontramos todas estas qualidades. Todos os animais ao serem sacrificados reagem de forma negativa e até violenta, a ovelha aceita com tranquilidade e simplesmente chora em silêncio. O próprio Jesus foi o "Cordeiro" que Se deixou imolar.
Em Jerusalém há a porta das ovelhas, isto define que as nossas conquistas espirituais passam pela prática de todas as virtudes que este dócil animal representa; e podemos afirmar que esta não é uma simples porta, mas uma das mais significativas.
Grande multidão, porque são muitos, e de todas as espécies; de enfermos, ou ainda, de necessitados.
A encarnação do Espírito tem por principal objetivo a evolução deste. Acontece que, devido aos erros cometidos durante as oportunidades de volta à carne, a criatura se manifesta enferma em seu psiquismo, gerando com isso, a somatização destas moléstias, e, consequentemente, um processo expiatório, onde aquele que adoeceu no mundo, tem de nele buscar sua cura. Desta forma, o mundo físico, em planetas atrasados como o nosso, torna-se um gigantesco hospital, jazendo nestes uma grande multidão de enfermos.
…cegos, mancos e ressicados… - Na realidade entre os que se acham necessitados do processo palingenésico – os "filhos de mulher" referenciado pelo próprio Cristo -, acham-se enfermos de todas as modalidades, não só os aqui citados. Entretanto, cegos, mancos e ressicados, representam bem a totalidade de nossas deficiências.
Cegos são os de imperfeita visão espiritual, os que não têm bem desenvolvida a virtude da compreensão. Não enxergando bem, não veem os acontecimentos como eles se dão, deturpando muitas vezes os fatos, gerando males cada vez maiores.
Mancos são os que caminham com dificuldade. Possuem muitas vezes as duas pernas, mas não se equilibram bem nelas. Representam aqueles que não têm bem harmonizados as questões do sentimento e da razão. Ora erram pela excessiva predominância de um, ora de outro.
Ressicados são os secos de sentimento, os sem amor. Por serem excessivamente egoístas, agem somente de acordo com o interesse próprio, em prejuízo dos demais. Desta forma também têm dificuldades de se movimentarem, não tendo assim, bom trânsito entre as criaturas.
…esperando o movimento das águas. – Como já dissemos anteriormente, todos os males têm na reencarnação do Espírito seu melhor remédio.
Deste modo, temos no movimento das águas – processo reencarnatório -, o alívio de que necessitamos. Por sermos ainda bastante imperfeitos, estamos escravizados aos nossos próprios erros, não sendo assim, senhores dos acontecimentos.
O Evangelho é claro: esperando …, ou seja, temos de aguardar pelo instante propício, e pela Misericórdia do Criador, trabalhando em nós a virtude da paciência. Portanto, se estamos tendo a oportunidade agora, não a desprezemos, pois não sabemos quando será novamente o momento oportuno, ou quando a teremos de novo.
O verbo "descer" expressa uma ação feita de cima para baixo. Não de uma forma impositiva, mas demonstrando uma atitude comum entre os mais evoluídos. Ou seja, a criatura deixa seu patamar de conquistas superiores já realizadas, em favor de um auxílio àqueles que por acharem-se em condições inferiores necessitam desta ajuda.
A evolução é assim, seu sentido é para cima, mas em sua mecânica temos que descer atendendo àqueles que estão abaixo, para que possamos alcançar níveis mais altos.
…em certo tempo ao tanque, e agitava a água… - Em certo tempo, porque em se tratando de ação feita por Espíritos mais evoluídos, tudo é programado, tem sempre a hora certa.
Esta ação do anjo descendo ao tanque, e agitando a água, representa bem a atitude dos guias espirituais organizando a reencarnação, auxiliando seus tutelados a conseguirem condições adequadas, visando as conquistas necessárias no plano físico; objetivando assim, escaladas a planos superiores; pois estes – os guias ou anjos da guarda – estudam minuciosamente cada caso, oferecendo o que há de melhor a seus protegidos.
…e o primeiro que ali descia… - Esta expressão define uma condição para receber o auxílio. Era preciso descer, ou seja, reencarnar. O verbo "descer" é mais uma vez bem empregado; pois a ação é mesmo de descida, visto que o plano espiritual é o de origem, o de condições melhores. Nascer, segundo os próprios Espíritos, é muito mais difícil e pior do que "morrer".
O advérbio primeiro, em matéria de reencarnação, não define que só este será o beneficiado, e sim nos adverte para a necessidade de esforço e de seleção; pois do mesmo modo que para chegar em primeiro no mundo é preciso passar por uma batalha e esforçar-se, no que se refere à reencarnação também é necessário o sacrifício e a renúncia de determinados valores.
…depois do movimento de água… - Depois do movimento de água, é findo o processo reencarnatório. É quando este já tiver cumprido o seu papel e não for mais necessário. Primeiro o trabalho, depois o salário. Aliás, como diz uma canção popular, "só fecha o seu livro quem já aprendeu…"
…sarava de qualquer enfermidade que tivesse. – Confirmação do que já dissemos; a reencarnação é remédio para qualquer enfermidade. Qualquer, aqui, designa todas; e sobre a enfermidade fica claro, todas podem e serão curadas, não havendo nas palavras de Jesus nada que abone o sofrimento eterno, pois este tendo origem em uma causa, cessa assim que se extinga o fato gerador.
Muitas vezes, nós que também podemos auxiliar, visto que há muitos mais necessitados que nós mesmos, encontramos com um homem ou com outro, que merecendo atenção de nossa parte, não é apercebido. Em outros instantes, temos até o impulso de algo fazer, mas diante daquele que sem dúvida é instrumento de nosso progresso, insistimos em questionar: de onde veio? Por quê? Para onde? Será mesmo merecedor? Será que estamos agindo com prudência? E não nos deixando envolver na "compaixão samaritana", passamos de largo, e, criticando levitas e sacerdotes, fazendo uso de filosofias e ciências, simplesmente esquecemos, que estava ali um homem…
…que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. – Trinta e oito anos não são trinta e oito dias, mas tempo de longo sofrimento.
A enfermidade não é eterna, teve início e terá fim. Para aquele homem, iniciara a trinta e oito anos, este era o tempo que estava afastado das Leis Universais.
Em nossa faixa de evolução não fazemos ideia das coisas se não as sentirmos na própria pele. Assim, só valorizamos o alimento em períodos de fome; o companheirismo na solidão; a saúde, na doença.
Não temos como avaliar quais necessidades teve aquele paralítico; entretanto, durante aquele longo período de enfermidade, estamos certo de que, passando por dificuldades soube refletir, valorizar o bem, trabalhar seu sentimento, se preparar para um futuro melhor. …se achava enfermo, porém, estava pronto para a cura.
E Jesus, vendo este… - Jesus não viu apenas este, Seus olhos têm longo alcance; assim, viu a todos; entretanto, percebeu que este, era o que estava mais preparado para receber o que Ele tinha para dar. Era em quem a Vida já tinha trabalhado melhor os recursos divinos.
…deitado… - Apesar de já ver nele possibilidades, o Sublime Terapeuta detecta a causa de tanto sofrer: sua posição. Estava deitado, isto é, ocioso.
A Providência nos supre com os recursos de que necessitamos, porém, se não fazemos bom uso do que recebemos, criamos em nós verdadeira paralisia espiritual, e como tudo que não produz, também deterioramos.
A oportunidade desperdiçada trará portanto, a dificuldade restauradora, o silêncio reflexivo, a escassez necessária.
Só assim, necessitando do que já tivemos, aprenderemos, para o dia em que, certamente, de novo formos fartos.
…e sabendo que estava neste estado havia muito tempo… - Aquele que é maior sabe perfeitamente o que se passa com o menor. Deste modo, Jesus sabia através de um simples olhar, o que ia no íntimo de cada um, ou ainda, o de que ele realmente necessitava. Assim, vendo aquele homem deitado, tinha perfeito conhecimento de suas dores, e por quanto tempo estava naquele estado.
Isso mostra Sua objetividade em atendê-lo, e a Imensa Misericórdia de que se fazia portador.
Outro fator que deve ser notado, é que o Senhor coloca nas mãos do enfermo sua própria cura. Queres ficar são? Diz Ele, ensinando-nos que nossa felicidade, ou vitória sobre os momentos difíceis, depende de nós mesmos, a partir do modo em que conjugarmos o verbo querer.
A saúde é resultado do que fizermos; e a nossa ação será sempre direcionada pelo desejo, que se alimentado pela Boa Vontade de nos encaminharmos segundo a segurança cristã, trará benefícios plenos.
Portanto, a pergunta pode ser feira por qualquer um, até mesmo pelo Cristo, mas a resposta é individual, cabe a cada um de nós.
A uma pergunta ou a uma expectativa, sempre respondemos, independente de por quem é feita. Mas se numa ação mostramos um ponto que ainda podemos atingir, é na reação, ou melhor dizendo, na resposta, que demonstramos quem realmente somos.
Deste modo, ao sermos advertidos pela Vida com determinados chamamentos, lembremos que é ao Cristo que estamos respondendo, pois Ele é nosso Protetor e Amigo, é quem realmente cuida de tudo para que tenhamos sucesso em todas as nossas aspirações maiores.
…Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque… - Questões importantes devem ser por nós levantadas nesta resposta, fazendo um paralelo com a nossa situação atual.
Quantas vezes em nosso cotidiano, já possibilitados de algo fazer, ficamos simplesmente aguardando que o outro, ou um homem algum, venha por nós realizar, quando esta atitude cabe é a nós mesmos? Em outras situações, não muito diferentes, se não queremos que o semelhante tudo faça, aguardamos pelo menos que ele tome a iniciativa, para se for do nosso agrado, darmos continuidade. Ou ainda, em quantas ocasiões não responsabilizamos quem quer que seja pelos nossos fracassos, dizendo que se ele não agisse de tal forma nós não estaríamos passando por isso ou aquilo?
Lembremos sempre que o cristão tem por diferencial agir de acordo com o Bem e pelo Bem, e que se algo nos acontece, é da Lei que a causa foi gerada por nós mesmos, apesar de que momentaneamente possa não transparecer.
Outro fator que não podemos deixar de considerar, é quanto ao processo reencarnatório. Sabemos que reencarnar é uma necessidade devido às nossas complicações espirituais. Em contra partida sabemos também, que este não é um processo aleatório, e que dependa exclusivamente de nós mesmos; há interesses globais a serem atendidos.
Portanto, o mínimo que nos cabe fazer, é cultivar amizade e confiança entre aqueles com quem convivemos, pois podemos precisar deles para tomarmos um novo corpo; porque na condição de interventores, ou mesmo de pais ou irmãos, quem quererá abonar ou sacrificar-se por uma pessoa intransigente, intolerante e que ao invés de auxiliar, dificulta sempre as coisas? Não podemos esquecer, que tudo na vida, inclusive o companheirismo, deve ser cultivado.
Caso não realizemos de uma forma positiva, estaremos sempre na condição daquele enfermo, que diante da oportunidade da sua vida, disse:
Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque…
… mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. – Outra situação que muito nos atrapalha é a questão da indecisão.
A vida, em se tratando das conquistas individuais, não é uma competição; pois o que temos de realizar cabe só a nós mesmos, e cada um tem o seu espaço e as suas necessidades.
Porém, do mesmo modo que em relação às conquistas materiais, no que se refere às do Espírito, temos de nos esforçar, perseverar, e acima de tudo ter decisão, porque uma oportunidade perdida, é sempre algo que se esvai, e que pode ser indício de muitas dores.
A tentativa daquele enfermo de justificar sua ociosidade, não pode se repetir conosco. Ele apesar de já trabalhado pelo sofrimento, ainda se mostrava indeciso, necessitado de despertamento.
De nossa parte é bom deixarmos a Boa Nova ressoar na acústica de nossa alma, a fim de que o Cristo interno se exteriorize em atitudes renovadas e produtivas, lembrando sempre a alerta do Senhor à igreja de Laodicéia:
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma a tua cama, e anda.
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma a tua cama, e anda. – A orientação de Jesus é clara. Aquele homem estava enfermo havia trinta e oito anos, por se posicionar de maneira indevida diante da vida, O Mestre então lhe pergunta: queres ficar são? Ao que ele responde se desculpando, mostrando suas dificuldades.
Suas razões são até certo ponto lógicas e justas, mas isto se levarmos em consideração os valores do mundo. Entretanto, saúde não é conquista mundana, e sua aquisição é proporcional às virtudes conquistadas no que diz respeito aos bens do Reino. É então que o Divino Médico lhe propõe: esquece o mal, desvincule-se da retaguarda, saia da ociosidade, do comodismo; levanta-te… As dificuldades são reais, porém não desanime. Dificuldade não é empecilho, antes de tudo é oportunidade de exercitarmos nossa capacidade de resolvê-la. Só aquele que vence os obstáculos está realmente preparado e amadurecido para seguir adiante. Portanto, não só levante, mas também toma a tua cama, carregue a sua cruz, vença as intempéries. E anda, pois só tomando direção contrária aos erros, resgataremo-nos para a Vida, para a saúde, para a felicidade. Andar é caminhar, seguir adiante, para frente; é dinamizar toda a capacidade e recursos que dispomos, com um só objetivo: nos reintegrarmos na Vida Plena.
Logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era Sábado.
Logo aquele homem ficou são… - O Evangelho se completa e se explica momento a momento. O evangelista não fala explicitamente que aquele homem se levantou, mas diz em outras palavras a mesma coisa: logo aquele homem ficou são.
Esta afirmativa vem confirmar a nossa anterior interpretação quando afirmamos que a causa da enfermidade era a própria ociosidade em que se achava aquele homem.
Conforme dizemos alhures segundo colocação do Espírito Joseph, saúde é a perfeita conexão entre a criatura e o seu Criador. Sendo Este, dinamismo constante – o meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também -, se quisermos estar integrados Nele, é imperioso que também estejamos nos movimentando em favor do Bem.
O fato se deu deste modo: Jesus percebendo a causa, disse ao enfermo: levanta-te… E ele influenciado pelo magnetismo superior do Divino Terapeuta, levantou e logo, isto é imediatamente, ficou são. Em outras palavras, curou-se daquele mal.
…e tomou a sua cama… - Curar-se não significa estar com saúde. Pode simplesmente ser um alívio temporário, que se não devidamente cuidado, venha a se tornar problema num instante próximo.
Uma das grandes dificuldades da medicina atual, é que geralmente ela trata da doença, quando na realidade deveria tratar é do "doente". O ser humano não é simplesmente um aglomerado de células, mas um ser complexo onde Espírito, perispírito, corpo, meio ambiente, experiências pregressas e muitas outras coisas interagem, criando necessidades e soluções numa só direção: o progresso do Espírito.
Portanto, ao levantar, isto é, decidir pela movimentação, é necessário dar uma direção segura à caminhada; e assim, tomar a sua cama. Sua, porque é a de cada um, necessidade individual; e desta forma não só curar-se, mas também manter seu estado de saúde. A cama é a dificuldade, é o compromisso particular, inadiável.
…e partiu… - Isto é, saiu deixando para trás as lamentações, as dificuldades que o impediam caminhar e foi, segundo orientação do próprio Jesus, buscar uma nova vida, baseado em princípios diferentes daqueles que conhecia anteriormente.
O mesmo acontece conosco toda vez que, reconhecendo um erro, ou determinadas vinculações ligadas à retaguarda, e que atrasam o nosso processo evolutivo, desligamos delas, interessando-nos por construir um homem novo, partindo-nos assim para vencer o velho que ainda existe em nós.
E aquele dia era Sábado. – Dia ou momento em que completamos um determinado ciclo em matéria de evolução. Não é ociosidade, mas a paz de termos cumprido um dever, qualificando-nos para realizações futuras. Paz esta que normalmente vem após uma "Sexta-feira" de crucificação de valores que até então eram considerados importantes, mas que hoje sabemos prejudiciais à efetivação do homem do Reino.
(Retirado do livro: "Jesus Terapeuta". Instituto d'Esperance)
sexta-feira, abril 20, 2018
O Inferno Eterno não é Para Sempre
Ele me respondeu prontamente:
- "Porque a Bíblia afirma que é."
Nós Espíritas não acreditamos que exista um Inferno eterno, as penas não são para sempre. Isto quer dizer que a Bíblia errou? Ou nós não acreditamos na Bíblia?
Nem uma coisa nem outra. Allan Kardec, na questão 59 de O Livro dos Espíritos, comentando outro texto das Escrituras, já afirmava:
"a Bíblia não é um erro, erraram os homens em interpretá-la".
Nesta questão do Inferno ou do Fogo Eterno, podemos dizer a mesma coisa: "...erraram os homens em interpretá-la"
A língua original da Bíblia é o hebraico; mesmo o Novo Testamento que foi originariamente escrito em grego, foi vivido na palestina, por isso a língua original dos acontecimentos é o hebraico ou o aramaico. O Novo Testamento em grego é uma tradução dos acontecimentos reais.
A palavra hebraica que foi traduzida por "eterno" ou "eternamente", é "olam".
Acontece que na língua original bíblica do tempo de Jesus ou mesmo do tempo do Antigo Testamento olam, ou "eterno" não significa "para sempre" como nós entendemos hoje no ocidente.
"Eterno" era sempre relativo a um certo tempo, que poderia durar muito dependendo do caso, mas não para sempre.
No Salmo 23:6 temos:
"...habitarei na casa do Senhor por longos dias" (Grifo Nosso)
Ou seja, não é para sempre, mas por "longos dias". Algumas Bíblias traduzem como "para sempre" o que não é a mesma coisa, mas podemos dizer que o tradutor não foi fiel ao contexto, mas colocou um pensamento seu, o que não deveria acontecer com as traduções.
Existem muitos outros textos da Bíblia que poderíamos citar para confirmar o que estamos dizendo; escolhemos mais um que reflete bem esta diferença do hebraico antigo com o nosso idioma de hoje.
Em Isaías, 32: 14 e 15, temos:
"14 Porque o palácio será abandonado, a cidade populosa ficará deserta; e o outeiro e a torre da guarda servirão de cavernas para sempre, para alegria dos asnos monteses, e para pasto dos rebanhos;15 até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto, e o deserto se torne em campo fértil, e o campo fértil seja reputado por um bosque."
Grifamos a expressão "para sempre" e "até que" para explicarmos melhor.
Veja que o texto de Isaías diz de um evento que se daria para sempre..., até que... acontecesse um outro evento que mudaria os acontecimentos.
Ora, como uma evento pode ser para sempre, até que? Em nosso idioma não dá para entender, mas no hebraico antigo era plenamente compreensível. Mesmo o para sempre era relativo a um tempo, e não eternamente.
Também no Novo Testamento, escrito em grego, vamos encontrar exemplos dentro deste contexto:
Em Filemon, 15, Paulo escreve a Filemon sobre Onésimo:
"Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre"
Ora, não era ideia de Paulo que Onésimo fosse de Filemon "eternamente", mas enquanto vivesse, ou seja, dentro de um tempo limitado, mesmo que durasse muito.
Desta forma, podemos compreender que quando Jesus se referia a um "fogo eterno", ou um "fogo que queimaria para sempre", não estava dizendo de um tormento eterno como nós entendemos hoje, trata-se de uma punição que pode durar muito, mas não eternamente.
Se assim não fosse um dos atributos de Deus que é o "Amor" ficaria comprometido, e isto é que não pode, reduzir ou negar qualquer dos atributos de nosso Pai Eterno.
Ademais, se o Inferno fosse Eterno, o próprio Jesus teria dado ensinamento errado, o que também é inadmissível. Pois o que alimenta o Inferno é o mal, e se o Inferno fosse eterno, o mal também teria que ser, e Jesus foi claro:
Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. (Mateus, 15: 13)
O mal não foi plantado por Deus, portanto será arrancado (extirpado) um dia, não existirá pela eternidade. Desta forma, sem o mal, o Inferno também não existirá pela eternidade, lhe faltará alimentação.
terça-feira, janeiro 02, 2018
Tiago, Irmão de Jesus?
Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão; saudações.
Meus irmãos, tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações... (Tiago, 1: 1 e 2)
Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão; saudações.
O autor desta carta se revela logo no primeiro versículo, é Tiago.
Mas quem seria esse Tiago? Não pode ser o irmão de João, o filho de Zebedeu, pois este desencarnou antes desta carta ser escrita. É então Tiago menor, o filho de Alfeu (Mt, 10: 3), irmão de Judas (Jd, 1: 1)?
Paulo diz que é o irmão do Senhor (Gl, 1: 19), e lhe chama de "coluna da igreja" (Gl, 2: 9); ao que tudo indica sua mãe chamava Maria (Mt, 27: 56) e era parenta da mãe de Jesus, talvez irmã. Provavelmente esteja aí o motivo de Paulo dizer que era o irmão do Senhor, é que àquele tempo os primos de primeiro grau eram tratados como irmãos.
Para Emmanuel (cf. livro Paulo e Estevão), era Tiago filho de Alfeu, e irmão de Levi. Para Humberto de Campos sua mãe chamava Cleofas, seu Pai era mesmo Alfeu e era irmão de Levi e de Tadeu.2
Ainda segundo alguns estudiosos este Tiago seria um terceiro Tiago, irmão de Jesus (cf. Mt, 13: 55) e que só teria se convertido ao cristianismo depois do episódio da ressurreição, teria desde então assumido a liderança do movimento junto com Pedro e João. Josefo, historiador judeu do Século I, afirma ser Tiago, irmão de Jesus e que foi martirizado no ano 62 a. C..
Há ainda outra dificuldade para estabelecer o autor desta carta, é que ela foi escrita em um grego elegante e rico em vocabulário, o que não era comum em um galileu.
Seja lá como for Orígenes cita esta epístola como escritura inspirada.
Para a nossa análise onde o que mais importa é conteúdo reeducativo do texto, cabe o destaque de que Tiago se denominava servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
O Evangelho de Jesus nos mostra a todo instante que o objetivo do Cristo era educar o Espírito em trânsito na Terra a fim de que ele se ajustasse à necessidade de maior espiritualidade.
O meio para que isto se efetivasse como conquista do Ser imortal, é que este estivesse em conexão com as inteligências do Alto e buscasse no seu dia a dia aplicar o aprendido em seu campo de ação com aqueles que lhe fossem próximos.
Amar e servir estes os verbos que mais deveriam ser praticados pelos seguidores do Messias.
Ao se qualificar como servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, Tiago mostra que compreendeu a lição e no decorrer do texto tanto quanto no da vida daquele que Emmanuel diz ser o irmão de Levi, vamos ver que ele tinha autoridade para assim dizer.
Dois mil anos se passaram, nós demos muitas voltas em nossa trajetória evolutiva na busca daquilo que denominamos felicidade. Hoje compreendemos que ela está mais em dar do que em receber, mais em servir do que em ser servido, mais em amar do que ser amado; porém, será que com a mesma naturalidade do companheiro de Simão Pedro podemos nos qualificar de servos de Deus e do Senhor Jesus Cristo?
Concluindo este primeiro versículo o autor mostra que dirige este texto às doze tribos da dispersão.
Dispersão vem do grego diáspora, que designava os judeus emigrados da palestina. As doze tribos eram a totalidade do povo judeu.
Na carta Tiago usa esta expressão talvez se dirigindo aos judeus-cristãos espalhados pelo mundo Greco-romano, ou ainda, a todos os cristãos de um modo geral.
Analisando o número doze em seu sentido de completude, e a profundidade do conteúdo desta epístola, podemos com segurança dizer que ela foi conservada sob a orientação dos Espíritos Superiores no cânone neotestamentário, endereçada a todos nós cristãos de todas as eras que buscamos o nosso aperfeiçoamento moral em busca de nos tornarmos homens de Bem sob a égide do Cristo de Deus.
Meus irmãos, tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações…
Meus irmãos; mostra o carinho com os seguidores do Evangelho, nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros3, havia ensinado o Mestre, necessário era que todos fossem tratados com muito afeto.
Irmão é palavra comum na boca de muitos cristãos ao se referirem aos confrades, porém, tão poucos dizem assim usando esta expressão em seu verdadeiro sentido segundo a entendia Jesus.
Uma das dificuldades que os estudiosos desta carta tiveram foi estabelecer a data em que ela foi escrita. Para uns, hoje menos comuns, ela foi escrita entre os anos 45 e 50 de nossa era. Seria assim um dos primeiros escritos do Novo Testamento. Para outros, data a carta do final da vida do apóstolo.
Nós não temos autoridade para opinar sobre o assunto, porém vemos neste texto um amadurecimento tal de seu autor que é pouco provável a primeira hipótese, ou seja, a da data mais antiga.
O texto da epístola em muitos momentos é muito parecido com o da mensagem do Sermão do Monte, mostra um Tiago burilado pelas provações, provações estas que trabalharam nele a paciência como veremos mais adiante.
Neste versículo mesmo que ora comentamos, ele usa do artifício usado por Jesus, que é o de impactar com um pensamento estranho para os homens de sua época, e até mesmo para os de nossa era.
Tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações; este não é um pensamento facilmente aceito, quem pode ter alegria por ser submetido a múltiplas provações?
No entanto, o Espírito maduro, o cristão autêntico, sabe que aqui não viemos a passeio, mas para promover nossas possibilidades espirituais, e que estas só desabrocham através de muita luta e esforços consideráveis.
Portanto, se o objetivo é o crescimento espiritual, a promoção moral, e esta condição só é alcançada após múltiplas provações, este acontecimento é motivo de grande alegria; raciocínio puro e lógico, digno do bom senso kardequiano.
Aliás, esta é a mesma mensagem que encontramos em outros evangelistas:
Na vossa paciência, possuí a vossa alma.4
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.5
…e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.6
Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.7
2 Boa Nova, cap. 5
3 João, 13: 35
4 Lucas, 21: 19
5 Romanos, 5: 3 e 4
6 Apocalipse, 2: 3
7 Apocalipse, 14: 12