Possuindo apenas a sombra dos bens futuros, e não a expressão
própria das realidades, a Lei é totalmente incapaz, apesar dos mesmos
sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de levar à
perfeição aqueles que deles participam. (Hebreus, 10: 1)
A lei aqui não representa a Lei de Deus, mas a lei
que dava sustentação ao sacerdócio antigo.
O inspirado missivista a trata como sombra dos bens futuros.
A sombra é uma imagem de qualidade inferior. Não que a lei
mosaica fosse ruim, mas que ela era menos elevada que a Lei do Evangelho. Era
ainda uma cópia imperfeita.
Por bens futuros entendemos a herança do Evangelho e tudo que ele é em matéria de
aperfeiçoamento do Espírito e redenção deste. A qualidade de vida está inclusa
em todas as suas nuances; é a vida em abundância (Cf. João, 10:10)
Ela, a lei citada no versículo em comento, não é segundo o
apóstolo evangelista, expressão própria das realidades. Quer
dizer que ela não expressa com perfeição e exatidão a realidade, que é a
vida espiritual superior. O vocábulo grego eikon tem por significado
imagem verdadeira (as coisas celestiais), era usado para expressar a semelhança
moral dos homens renovados com Deus.[1]
Destarte, a lei não era ruim, era
ineficaz (devido aos mesmos sacrifícios sempre repetidos a cada ano)
apesar de seus recursos, para aperfeiçoar o Espírito.
A lei tem a função de regular as
relações. Ela mostra-nos o erro, isto é bom, mas por si só não aperfeiçoa, não
transforma o ser intimamente.
Por exemplo, a lei dizia da
necessidade de santificação, porém, não ensinava como obtê-la.
Ela é uma imposição de fora para
dentro, de cima para baixo; o Evangelho espontâneo, único capaz de aperfeiçoar
em termos de moral, leva à transformação de dentro para fora. A lei é boa para
evitar o mal, o Evangelho é melhor por ensinar-nos a praticar o bem.
Em síntese, nosso autor deseja
mostrar a seus leitores a diferença entre
a antiga aliança (lei) e a nova (Evangelho) que é a imagem perfeita que
leva-nos à Vida proporcionada por Deus.
O autor deste admirável tratado tem se esforçado ao máximo
para mostrar a seus leitores originais e a todos nós a questão essencial da
vida.
O problema da dor, do sofrimento e do destino humano, é antigo e ainda não resolvido.
Por intuição, ou mesmo revelação, todos os movimentos
religiosos têm atribuído ao pecado – transgressão das leis universais – a causa
de todos os males que nos acometem.
A questão é então livrar-nos dos pecados, nos purificar
deles.
O texto desta Carta aos Hebreus tem mostrado a
ineficácia dos sacrifícios feitos pelo antigo sistema sacerdotal.
Se estes que prestam o culto fossem uma vez por todas,
purificados, não seria preciso oferecer sacrifícios repetidamente a cada ano é
o que afirma este segundo versículo em estudo.
No próximo ele continua esclarecendo:
Mas, ao contrário, é por meio destes sacrifícios que,
anualmente, se renova a lembrança dos pecados; ou seja, o que a lei antiga
faz é trazer à memória nossas transgressões; ela renova a lembrança dos
pecados. Como disse nas Carta aos Romanos a lei tem o poder apenas de
mostrar ao homem sua condição de pecador nada podendo fazer quanto à eliminação
definitiva do mal.
A lei é santa… diz a Carta citada acima (Romanos, 7: 12),
pois já é um avanço para a inconsciência humana. Entretanto o que é necessário
é fazer-se “Nova Criatura”, e este poder o autor não vê no antigo sistema de
ofertas.
Ele continua a explicar:
Além do mais, é impossível que o sangue de touros e bodes
elimine os pecados.
Por que esta impossibilidade? Simplesmente porque o problema
é moral.
Todas as crises pelas quais passamos no fundo tratam-se de
crises morais. É uma conclusão a que chega o autor desta Carta, conclusão esta
que é plenamente atual em se tratando também das nossas dificuldades de hoje.
Enquanto não resolvermos estas questões mais enraizadas de
nossa alma, não solucionaremos os problemas últimos de nossa existência.
...sangue de touros e bodes, regimes de esquerda ou
de direita, não têm o poder de satisfazer nossos anseios, pois não podem eliminar
nosso desajuste consciencial, nosso afastamento de Deus.
A saudade inexplicável que sentimos é a Dele – de Deus -, e
isto só a nossa comunhão com a Lei Maior pode eliminar.
A recomposição de nosso Ser espiritual só se dará com este
ajustamento. Esta será a glória da última casa (Ageu, 2: 9), a reconstrução
definitiva de nosso Templo interior.
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