segunda-feira, janeiro 30, 2012

Maria de Nazaré a Educadora de Jesus - Administrando Emoções


Augusto Cury, em seu livro “Maria, a Maior Educadora da História” defende a idéia de que um dos motivos de Maria ter sido tão bem sucedida em sua tarefa de educar o menino Jesus, é porque ela sabia, e muito bem, proteger a sua emoção; ela fazia questão de ensinar a seu filho esta arte.
Faz ele interessante raciocínio:
Respeitados educadores ensinam os jovens a ter cuidado com seus objetos, não destruir seus materiais didáticos, não manchar suas roupas e a cuidar de seu corpo evitando acidentes e tendo higiene pessoal. Mas esquecem de ensiná-los a proteger o mais difícil espaço do ser humano, a sua emoção.1
Continua o autor na sequencia:
Quem não aprender a proteger a sua emoção pode até conquistar o mundo, mas será sempre infeliz; pode ser aplaudido, mas será sempre opaco; pode comprar todo tipo de seguro, mas será sempre frágil.
Todos nós que habitamos um planeta de expiações e provas, e principalmente nestes dias de transição, temos motivos para nos tornarmos tristes, depressivos, angustiados, preocupados e até mesmo contrariados. Entretanto, importa-nos reconhecer que Maria teve motivos ainda muito maiores que os nossos.
Conforme narram os evangelistas, teve uma gravidez incompreensível para a mentalidade comum, isto gerou nela, em seu noivo, e em toda sua família, sérias apreensões. Após o menino nascer envolto em mistérios, teve que deixar sua cidade, sua zona de conforto, o calor dos familiares, e partir para um novo país, sem saber por quanto tempo, em que condições lá viveria, com quais recursos, etc. Sua sensibilidade era grande, pois quanto mais o Espírito é evoluído, mais é sensível; assim, deve ter muito sofrido com a perseguição de Herodes aos inocentes por causa de seu filho. Tudo isso devia ser para ela e para os seus, motivo de grandes pressões psíquicas; não esqueçamos ela era uma adolescente, e estava num dos momentos de maior sensibilidade para uma mulher, o período pós parto.
Como será que reagiríamos numa situação destas? Por muito menos nós nos tornamos angustiados, depressivos, inconformados e paralisamos todo processo criativo em nossa vida. Qual a diferença entre nossas posições e a de Maria? Simplesmente de atitude. Maria sabia administrar seus conflitos, gerenciar suas emoções.
Em momento anterior neste nosso estudo fizemos uma breve comparação entre Maria e Eva, aqui podemos ampliá-la. Através do sentimento de Eva entramos em queda por ser ela a representação de um sentimento dissociado da razão. Maria por representar a sublimação de Eva, ensina-nos a usar o emocional e o racional em plena harmonia. Não é um sobrepondo-se ao outro, não é a razão dando a palavra final, mas o perfeito equilíbrio entre estes dois componentes tão importantes para o nosso progresso em todos os níveis.
Neste passo podemos fazer mais uma importante reflexão. Não sabemos se Maria não agisse desta forma, se poderia comprometer a missão de Jesus. Teoricamente sim, pois se ela se tornasse uma inconformada, se ela trabalhasse um sentimento de autopiedade, dificultaria sem dúvida o desenvolvimento de seu filho. Porém, como este acontecimento - a vinda até nós de Jesus - foi o mais importante de nosso planeta, desde a sua origem, o Pai não delegaria para esta missão quem tivesse a chance de falhar. Todavia, o Evangelho não é uma telenovela ou um romance comum, é preciso trazer para o nosso dia a dia as suas lições imortais.
Assim, é importante refletirmos, pois nós não sabemos quem o Pai colocou em nossa vida como filho, qual a missão de cada um deles. A mãe de um futuro presidente de uma nação não sabe o que ele será quando criança, o mesmo podemos dizer em relação a um grande cientista, ou, a um importante educador. Será que não estamos atrapalhando o projeto de Deus ao agirmos de forma tão destemperada como em muitas vezes fazemos? Não estaremos dificultando a vida de nossos filhos sendo inconformados, ensinando-os com a vida prática a não perdoarem quando contrariados, a serem violentos e irracionais?
São pontos a serem trabalhados por todo aquele que já está cônscio de sua necessidade reeducativa e da importância de agir como um colaborador de Deus.
Voltando ao citado escritor e psicoterapeuta, Augusto Cury, na obra já aqui comentada, ele sugere-nos três ferramentas para trabalharmos em nossa vida, e para ensinarmos aos nossos educandos - pois não tenhamos dúvida todos somos, em maior ou menor escala, educadores - a fim de evitarmos transtornos depressivos, suicídios, enfermidades psíquicas e perda de oportunidades. São elas:
  • Doar-se sem esperar muito do outro.
  • Compreender o outro na sua dimensão interior.
  • Saber que ninguém pode dar o que não tem.
Sem dúvida são três princípios de grande importância para todos nós e que se os praticássemos diminuiríamos e muito nossas dores e dissabores.
Temos muitas vezes dito e ouvido que Deus nos criou para amar e sermos amados. É preciso repensar esta informação e analisá-la com carinho.
Ao nosso ver ela é em parte verdade, mas há nela um pouco de contaminação de nossa psicologia inferior.
Sim, fomos criados para amar. Deus é amor. A matéria prima da criação é amor. Assim, se quisermos estar ajustados a Deus, caminhar no fluxo natural da vida de acordo com a Vontade Soberana e sermos agraciados por sua Misericórdia, temos de amar, pois este é o “idioma” de Deus, é através dele que nos comunicamos com o Criador.
Entretanto, a segunda parte da afirmativa “ser amado” deve ser observada de forma diferente. Não fomos criados para sermos amados como uma pré-condição básica. Ser amado é efeito, consequência, retorno. A causa é amar, se amarmos seremos naturalmente amados. Isto se dará sem nenhuma ansiedade, espontaneamente. É da Lei, e ela se cumprirá sempre.
Esta questão mal compreendida é que dificulta trabalhar em nós a primeira ferramenta, pois até admitimos que devemos doar, até nos sentimos satisfeitos por assim proceder, porém não abrimos mão de esperarmos retorno, temos o grande defeito de criarmos expectativas e esse é o problema. Se não criássemos expectativa em relação ao outro noventa por cento de nossas dificuldades de convivência estariam resolvidas.
Vamos trabalhar a terceira ferramenta, saber que ninguém pode dar o que não tem, junto com a primeira, pois em nosso modo de ver ela é um acessório desta. Quem não espera muito do outro, sabe que ele só pode dar o que tem, uma virtude maior contém naturalmente uma menor. Ou ainda, a vivência da terceira ferramenta, leva naturalmente à primeira.
Aqui nos permitimos uma ressalva muito bem colocada pelo Espírito André Luiz através da mediunidade gloriosa de nosso querido Chico Xavier, a alegria é a única coisa que podemos dar ao outro mesmo se não possuirmos.
Portanto, se ainda não conseguimos, como seria desejável, não esperar muito do outro, iniciemos o processo de defender a nossa emoção pelo menos não pedindo a ninguém algo que ele esteja incapaz de dar. Proceder deste modo não é ainda ser bom, mas é pelo menos agir com inteligência, o que já é um grande passo para a conquista da sabedoria.
A outra ferramenta colocada por Cury e também de fundamental importância é compreender o outro na sua dimensão interior.
Compreender o outro por si só é uma virtude de grande alcance e que evita muitas contrariedades.
Perdoar é uma atitude nobre, compreender é ainda mais, pois aquele que verdadeiramente compreende o outro não chega nem a sentir a ofensa, não tendo assim o que perdoar.
Compreender é desativar os pontos de conflito, significa transitar com segurança na área da emoção. E compreender o outro na sua dimensão interior torna-se ainda mais nobre, pois além de enxergar o outro, o que não é habilidade comum entre nós, é se aperceber do que está para além do visível, é também saber do outro em suas dimensões emocionais, espirituais e sentimentais.
Só Espíritos de boa condição moral e espiritual têm esta capacidade, e fazendo deles modelos a serem seguidos temos de ser obstinados em trabalharmos também nosso interior na conquista deste valor.
E Augusto Cury ainda nos faz, na mesma obra e capítulo, importante consideração sobre este tema: por trás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida. Como a nos dizer: “quando nos sentirmos atacados, ou agredidos por alguém, trabalhemos nossa acuidade espiritual e enxerguemos nela não um agressor comum, alguém de má índole, mas um enfermo necessitado de um médico para a sua alma”. E Jesus, o filho de Maria, já nos alertara, o doente é que precisa de médico. Ele é o Médico dos médicos, e nós, seus efetivos colaboradores na implantação de sua Boa Nova no coração de todos.
Tu me amas, ainda fala o Senhor na intimidade de nossos corações, então, apascenta as minhas ovelhas. O que de outro modo pode significar: “educa as minhas ovelhas.”
1 CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São Paulo, Ed. Planeta do Brasil, 2007, cap. 6.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Maria a Educadora de Jesus: Continuação...

O Anúncio do Nascimento de João Batista e o Anúncio do Nascimento de Jesus

Vejamos a grandeza da Mãe de nosso Senhor e a segurança com que agia analisando seu comportamento num momento que seria de tensão para qualquer um, o anúncio de que seria a mãe do Filho do Altíssimo.
Um anjo fez esta revelação para Maria, ela seria mãe do Messias. Só isto já bastaria para deixar qualquer um apreensivo.
O povo hebreu esperava um Messias há muitos séculos, ele seria o libertador dos seguidores de Moisés, reunificaria as doze tribos e faria de Israel a maior entre todas as nações.
Vivia-se um período de conflitos, o império romano dominava a nação judaica, e o povo de Israel desejava ardentemente alguém que revertesse esta situação. Muitos àquele tempo diziam ser o Messias, ele era aguardado ansiosamente…
Por que ser ele filho de uma mulher tão simples? Deve ter pensado, Ele poderia ser filho de um sumo sacerdote, de um rei, de alguém realmente preparado para lhe dar melhores condições. Ela deve ter tido vários conflitos a respeito. Deve ter perdido várias noites de sono se perguntando como educar o menino, um verdadeiro Filho de Deus. E se ela falhasse, atrapalharia os planos do Todo Poderoso? Deus tem seus mistérios e Maria tudo refletia em seu coração.
Nós gostaríamos de analisar dois aspectos na passagem do anúncio do anjo a Maria, comparando–a a um anúncio semelhante feito pela mesma entidade espiritual a Zacarias, aquele que seria o pai de João Batista. Quem narra é Lucas:
Anúncio a Zacarias
Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. 6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade. 8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, 9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. 10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. 11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. 12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. 13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. 14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, 15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. 16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao SENHOR seu Deus, 17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. 18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade. 19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.1
O Anúncio a Maria
No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. 29 Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. 32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. 34 Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?2
É nas reações que percebemos o estágio evolutivo de um Espírito, assim vamos analisar apenas as reações de nossos personagens:
Ao ser abordado pelo anjo, narra o evangelista que Zacarias turbou-se, e caiu temor sobre ele. E após Gabriel, o anjo, lhe falar sobre a gravidez de Isabel, sua esposa, e sobre a evolução do Espírito que viria ao mundo como enviado de Deus, através deles, Zacarias inquiriu: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
Com Maria se deu um pouco diferente.
O mesmo Espírito, Gabriel, lhe apareceu e saudou-a. Conta-nos Lucas que ela ao ouvir a saudação, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Do mesmo modo que com Zacarias, ele explicou que ela iria dar à luz um filho e que ele seria chamado Filho do Altíssimo e ainda comentou sobre os prodígios que ele faria. Ela reagiu dizendo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?
Antes de entrar propriamente na análise do comportamento dos dois, é importante saber um pouco sobre quem eram e em qual ambiente receberam a mensagem da Espiritualidade Superior.
Zacarias era um sacerdote, ou seja, trabalhava no templo, era pessoa que cultivava as questões espirituais e estudava a Torah. E não só isso, segundo o texto evangélico era considerado um justo, e além de estudar, seguia de modo irrepreensível os mandamentos e estatutos de Deus. Informa-nos ainda Lucas, que era de idade avançada, o que significa que tinha amadurecimento.
Em que ambiente estava quando recebeu a mensagem? No templo, no Santuário do Senhor; realizava o ofício de queimar o incenso. Podemos dizer em linguagem moderna e espírita, que estava num serviço espiritual em comunhão com os Espíritos e diz o texto evangélico que as pessoas que o aguardavam do lado de fora estavam em oração. É como se ele estivesse numa mesa mediúnica, e os que estavam na assistência orassem mantendo a vibração e auxiliando-o em seus trabalhos.
Neste ambiente de vibrações elevadas, e sendo ele já experiente no serviço e de moral elevada, seria muito natural uma manifestação espiritual como a que aconteceu, mesmo assim, apesar de todo o seu preparo e também do ambiente, quando a manifestação aconteceu ele teve medo: caiu temor sobre ele. E teve mais, ele ficou cético, não acreditou no que o anjo lhe falava e pediu um sinal, uma prova: Como saberei isto?
Maria por sua vez era uma adolescente. Não sabemos bem a sua idade, mas muito provavelmente tinha entre doze e quatorze anos. Ou seja, pelo menos em matéria de idade não tinha grande amadurecimento e preparo. O evangelista não diz onde ela estava, mas provavelmente estava em casa, onde habitualmente não é comum a manifestação de Espíritos. Mesmo assim o anjo se manifesta, era natural que ela também se perturbasse, e foi o que aconteceu. Entretanto, o redator bíblico nos informa que ela pôs-se a pensar no que significaria esta saudação, o que podemos depreender que apesar da perturbação ter sido grande, diz o texto que perturbou-se muito, ela equilibrou-se rápido pois exerceu uma ação que só quem está senhor de si assim faz, pôs-se a pensar. No momento do susto, quem está sob o impacto do medo não pensa, reage simplesmente. Ela teve tranquilidade, oxigenou o cérebro, e buscou compreender o porquê daquela saudação. Como era natural, o anjo a orientou que não temesse, o mesmo já havia acontecido com o marido de sua prima, todavia ela surpreendeu até mesmo o Mensageiro do Senhor, pois o texto não fala que ela temeu, e após a exposição de Gabriel sobre a gravidez maravilhosa por que ela passaria, o que seria mais um motivo de apreensão, ela ao contrário de Zacarias, creu imediatamente, e se inquiriu o anjo a respeito não foi pedindo-lhe provas, mas buscando entender como se daria o processo já que não tivera relações com nenhum homem.
O texto é claro: Como será isto, se eu não conheço homem algum? A partir do momento em que ela pergunta como será isto…? É porque já admitia o fato, sua fé já lhe abastecera, porém ela quis saber mais já que não tivera contato sexual com seu noivo. Podemos com segurança dizer que o que Maria teve foi muita lucidez e naquele momento ela praticou o que Kardec dezenove séculos depois chamaria de fé raciocinada, ela não creu de forma cega, mas tendo a confiança superior, raciocinou, inquiriu e aprofundou seu estado intuitivo. Mostrou que já tinha vindo preparada para sua missão e que era um Espírito superior, acima da média, até mesmo de Zacarias que também fora preparado no plano espiritual, que também era de boa condição moral, mas em quem o nível de esquecimento era maior devido sua menor condição em relação a Maria.
E consumando sua atitude de fé, pois como falaria mais tarde Tiago, a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma3., pôs-se a serviço em nome de Deus dando para todos nós significativo exemplo: Eu sou a serva do Senhor; faça em mim segundo a tua palavra.4
1 Lucas, 1: 5 a 19
2 Lucas, 1: 26 a 34
3 Tiago, 2: 17
4 Lucas, 1: 38

terça-feira, janeiro 17, 2012

Jonh Hus o Mártir


John Hus - o Mártire from FEEAK - Frat. de Est. Espíritas on Vimeo.

Maria a Educadora de Jesus - Jesus Precisava Ser Educado? (continuação)


Humberto de Campos, este excelente repórter do Mundo Invisível nos conta que:
Desde os mais tenros anos, quando [Maria] o conduzia [Jesus] à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!… Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos.1
Desculpem-nos repetir, mas é importante para nossas reflexões, como deve ter sido desafiadora a tarefa de Maria de educar um filho que desde criança era um sensacional educador…
Normalmente os pais transmitem a seus filhos seus traumas particulares, suas angústias, seus fracassos, seus medos. Teria Maria estes sentimentos? Teria ela passado isto para Jesus?
À primeira pergunta podemos responder que é bem provável que teria, ela era uma mãe genial, todavia não estava isenta de conflitos como podemos notar na literatura que temos analisado. Quanto à segunda, é mais difícil de saber a resposta, talvez em alguns momentos tenha até se mostrado apreensiva diante de seu filho, porém é certo que ela sabia e bem administrar suas emoções, o que é uma das tarefas mais complexas para o homem comum e que mais distinguem aqueles que se destacam na arte de educar.
Retomaremos este assunto mais adiante.
Temos feito algumas colocações baseadas em alguma literatura consultada, mas principalmente nas anotações dos evangelistas. E a partir destas reflexões chegamos à conclusão que Maria não era nem insegura e nem superprotetora, dois sentimentos, diga-se de passagem, que perturbam e muito o processo educacional, era intrépida e destemida. Por que assim dizemos?
A insegurança na educação gera a superproteção, ambas são consequências do temor, do receio diante do perigo; a mãe de Jesus podia, como já dissemos, ter tido alguns momentos de apreensão, todavia não era sua característica o medo.
Além da passagem da crucificação de Jesus, já citada, há outras que podem nos ajudar nesta conclusão.
Infelizmente como é rara a literatura a respeito e o próprio Evangelho fala pouco sobre ela, às vezes depreendemos nossas conclusões a partir das atitudes de Jesus.
Quem é educado num ambiente de superproteção raramente se sai bem diante dos desafios da vida. As primeiras adversidades têm a função de preparar a criatura para adversidades maiores que virão, ninguém pode evitá-las; nem a mãe pode, nem mesmo nenhum educador. Como o organismo que reage positivamente a uma enfermidade através de seu mecanismo de defesa, e assim é fortalecido seu sistema imunológico, as contrariedades fortalecem o nosso Espírito para os desafios que a vida nos propõe como num processo de recomposição de nossa estrutura íntima.
Se Maria fosse insegura e superprotetora jamais Jesus conseguiria dar bom termo à sua missão. Ela deve ter incentivado-o desde criança a superar todos os obstáculos, a jamais temê-los. Se ela desde a infância não o ensinasse a perseverança, a nunca desistir de seus objetivos, a terminar tudo o que começou, é bem provável que ele no momento supremo, o da crucificação, desistisse e realmente apelasse para que o Pai enviasse mais de doze legiões de anjos2 para socorrê-lo.
Aqui é importante lembrar que Jesus enfrentava as situações, as classes dominantes, a hipocrisia, o falso moralismo, tocava em pontos de alta significação para a alma, numa sociedade presa a antigas tradições e que punia severamente quem os contrariava. Em síntese Jesus tinha grande coragem e se é lógico que isso era fruto de sua evolução espiritual, não é menos verdade que sua educação deve ter contribuído para esta realidade. 

(Continua...)

1 (XAVIER/Humberto de Campos 1982), Cap. 30
2 Cf. Mateus, 26: 53

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Maria a Educadora de Jesus 2ª Parte


Sobre este assunto há algumas reflexões que devem ser feitas.
Jesus precisava ser educado? Precisava que alguém lhe ensinasse alguma coisa ou já sabia tudo?
Este é mais um desafio em nossa tarefa de compreender o Mestre maior. Sinceramente penso que não há como responder estas e outras questões a respeito com certeza, é mais uma área em que o que falarmos não passa de opinião pessoal.
Jesus é a maior expressão de amor que temos. Uma das maiores características daquele que ama é a capacidade que este tem de adequação.
Portanto, Jesus ao vir a até nós adequou-se para que melhor pudesse cumprir sua missão. Não haveria como ele nos ensinar algo se assim não tivesse feito.
Assim, para que pudesse ter autoridade fez-se como habitante comum de nosso orbe, restringiu-se para que melhor pudesse servir. Pelo que depreendemos de nossos estudos trata-se de uma restrição que fez de forma consciente e espontânea, e não por imposição. O que significa que a qualquer momento que quisesse poderia retomar suas possibilidades.
Assim, tinha um corpo semelhante ao nosso, não fluídico como chegaram a supor, entretanto era um corpo mais perfeito que o habitual dos habitantes de nosso orbe. Ele não adoecia, tinha uma memória profunda, podia se tornar visível e invisível quando quisesse etc.
Compreendemos então, que Jesus foi um menino como qualquer outro, teve infância, adolescência e tudo mais, todavia foi especial porque era especial, tinha uma evolução espiritual que nos escapa.
Deste modo era natural alguém lhe ensinar as primeiras lições, todavia este aprendizado era mais que uma recordação, ele sabia em seu coração e em seu espírito. Era apenas um despertar.
Dizem os que estudam a respeito de educação que educar é tirar do educando aquilo que ele já possui, e com Jesus isto foi ainda muito mais claro, ela já possuía todas as virtudes.
Educar uma criança é tarefa complexa, talvez seja a mais importante e difícil que temos, imagine então, ter a missão de educar Jesus.
Ele surpreendia seus pais a toda hora. Talvez a maior missão destes era realmente não atrapalhar o seu desenvolvimento, e podemos dizer com segurança, que apenas isto, não atrapalhar, já era uma missão desafiadora.
Narra-nos o evangelista, que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens.1
É de grande profundidade esta citação. Mostra-nos que Jesus fora uma criança que cresceu naturalmente como qualquer outra e que isso aconteceu aos olhos de todos com quem convivia. Que ele recebia informações, porém não as guardava somente no campo intelectual, as transformava em sabedoria pela aplicação do que “aprendia”. E isto fazia de maneira completa, diante de Deus, observando a sua Lei, e diante dos homens convivendo com todos, auxiliando, compreendendo, aproximando cada um do Pai, o que Ele sabia ser uma necessidade de todos.
Kardec nos ensinou que educação é a arte de formar os caracteres2, o que ele definiu como educação moral. Esta é a que todos precisamos, é o maior objetivo para vida de cada um. Podemos afirmar com segurança que sob esta ótica Jesus foi um emérito educador desde criança.
Não foi o que ele fez quando aos doze anos foi encontrado por seus pais entre os doutores no Templo? Não foi o que, invertendo os papeis, fez com José e Maria quando os levou à reflexão dizendo: Não sabeis que devo me ocupar com as coisas de meu Pai?3

Continua...

1 Lucas, 2: 52
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 685, comentários.
3 Lucas, 2: 49

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Resposta a um Protestante a Respeito da Reencarnação


Querido irmão, Paz em Cristo,
Você me questiona sobre a teoria da reencarnação, dizendo que ela não tem fundamentação bíblica, e que se esta palavra não está na Bíblia, que é o Livro dos livros, é porque ela não é uma realidade.
Antes de propriamente te responder gostaria de esclarecer que a palavra reencarnação é um neologismo, e que eu saiba criado no século XIX de nossa era, portanto, sendo o último livro da Bíblia escrito nos fins do sec. I, não há mesmo a possibilidade de sua presença na Bíblia.
Entretanto é preciso considerar que a ideia da reencarnação é mais antiga do que a Bíblia. No grego existe uma palavra, paliggenesia, que expressa o mesmo conceito, o de nascer de novo; e paliggenesia tem na Bíblia, cf. Mateus, 19: 28, Tito, 3: 5. Porém, os tradutores tradicionais deram a ela o sentido de regeneração, o que é apenas um dos objetivos da reencarnação.
Todavia, para te responder sobre esta questão eu vou usar de um argumento que não é original, vou me inspirar em um pastor protestante, que é lógico, não defende a reencarnação, mas me deu argumentos para te responder.
Eu o questionei sobre a questão da “trindade”. Disse a ele que vocês dizem que não tendo a palavra reencarnação na Bíblia, é porque ela não é uma realidade. Entretanto, a palavra “trindade” também não existe no Texto Sagrado, e mesmo assim, é defendida por todos cristãos ligados ao protestantismo. E daí, é preciso ou não estar na Bíblia para ser verdade?
Ele me respondeu dizendo que na realidade a palavra “trindade” não se encontra na Bíblia, porém o ensinamento dela sim.
É engraçado este argumento, quando interessa se tira da letra o espírito, quando não, não tira e interpreta-se a “Palavra” em sua literalidade.
Portanto, me acho no mesmo direito, e te digo:
“A palavra reencarnação não está na Bíblia, porém o seu ensinamento está, Ok?”
E digo mais, se o ensinamento da reencarnação não existisse na Bíblia, ela teria que ser reescrita, pois estaria incompleta.
Sei você acha um absurdo eu dizer isso, mas é uma realidade. Vejamos por que.
Todas as religiões concordam que Deus é amor, que Ele é Perfeição e Bondade em grau Supremo. Acho que nenhum de nós tem dúvida quanto a isso. Porém te digo, só o Espiritismo prova isso através da Lei da reencarnação.
Caro amigo, você acha justo que uma criança nasça com deficiência física, faltando às vezes um braço ou uma perna, ou cega, ou deficiente mental enquanto tantas outras nasçam perfeitas, saudáveis e felizes?
Ou ainda, que uma nasça filha de um traficante, e que viva no meio do crime, enquanto outra filha de um pastor evangélico. Qual das duas vai ter maior facilidade de ter uma vida moral ajustada ao bem e ser praticante do Evangelho? Eu sei que a filha do criminoso também pode se revelar uma ótima pessoa cristã, porém, será que as oportunidades das duas são iguais?
Digo ainda, se uma criança nasce, e morre dias depois, ela vai para o inferno ou para o céu? Será justo ela ir para o inferno? Creio que não e não precisa nem explicar o porquê. Todavia, será justo ela ir para o céu, e nós para chegarmos lá termos que sofrer tanto como sofremos?
Querido, só a Lei da reencarnação soluciona estes problemas, não há outra solução melhor para esta equação, pelo menos que eu saiba.
Não quero me estender muito nesta resposta, senão você não vai nem lê-la, e aí perde-se o objetivo deste texto, mas preciso dar pelo menos mais dois argumentos.
Não pode um castigo ser maior do que a culpa, nem um efeito ilimitado ser gerado por uma causa limitada. Trocando em miúdos, não pode uma vida limitada em anos, seja ela de 60, 70, 80, ou 90 anos, gerar uma felicidade ou tristeza pela eternidade, isto não tem a mínima lógica, é só pensar um pouco.
Outro ponto em que concordamos, é que Deus é Onisciente, ou seja, que Ele sabe tudo, do que aconteceu, do que acontece, e do que ainda vai acontecer. Daí podemos deduzir, se Deus sabe tudo, quando ele cria um espírito, uma alma, ou um homem, como queira, Ele já sabe no mesmo instante se este filho seu irá se salvar ou não. Portanto, seria um ato de amor de sua parte criar um homem sabendo com certeza que ele iria para o inferno eterno? Você pode argumentar que Deus dá o livre arbítrio, que se o homem não se salvou é culpa dele, e não de Deus. Concordo também com isso, porém o caso aqui é outro; Deus mesmo dando a liberdade e a oportunidade de todos se salvarem Ele sabe com certeza se cada um de nós vai ou não se salvar. Se não for assim, Ele não é Deus que sabe tudo; e aí, seria humano - e veja que Deus não é humano é muito mais que isso - criar um filho já sabendo de sua perda?
Talvez você esteja pensando em me dar aquele famoso xeque-mate contido em Hebreus, 9: 27:
E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo,
Fique sabendo você que este texto não é mais nenhum xeque-mate, é apenas um xeque, e muito fácil de ser defendido.
Eu mesmo já escrevi várias vezes comentários sobre este versículo, um deles está no blog Espiritismo e Evangelho. Porém aqui para não nos estendermos muito vou dizer apenas que a Bíblia está correta. O homem morre apenas uma vez, pois quem reencarna é o espírito do homem. Vou explicar melhor.
O Espiritismo explica que o homem é um Ser trino, isto é composto de Espírito, corpo espiritual1, e corpo material.
Quando desencarnamos, ou morremos como dizem vocês, o corpo material é que morre, o espírito vai para o mundo espiritual com seu corpo espiritual. Quando reencarna este espírito toma outro corpo material, formando assim outro homem. Portanto, cada homem morre uma só vez mesmo. Analise o contexto da Carta aos Hebreus, nela o autor não está preocupado com este tema, o dos ciclos palingenésicos, o que ele quer mostrar é a grandeza do Sacerdócio de Cristo, e o que ele faz com este versículo é apenas uma metáfora para explicar sobre a salvação.
Bom, mas eu não posso terminar esta resposta sem mostrar onde é que na Bíblia contem o ensino da reencarnação.
Existe em vários livros, todavia vou te mostrar apenas dois que penso serem suficientes.
Na passagem da conversa de Jesus com Nicodemos ele fala em “nascer de novo”. Vocês têm interpretado isto como sendo o batismo e que após ele nasce uma Nova Criatura. Seria este o “nascer de novo” dito por Jesus. Confesso que isto não está errado, o versículo trata disso também, e essa parte é muito importante, não a do batismo, mas a de tornar-se uma Nova Criatura. Não estou com isso desrespeitando a ideia do batismo, todas as manifestações religiosas têm a sua importância, estou apenas priorizando a essência.
Jesus fala em “nascer da carne” em relação com “nascer da água”, e para isso ele usa a palavra gennao que quer dizer ser nascido, ser procriado, ser gerado. Portanto, é reencarnar e através da reencarnação se purificar, se transformar e nascer do espírito.
Todavia há uma passagem mais clara do que esta, é aquela em que Jesus diz que João Batista é o Elias que havia de vir.
Preste atenção neste texto:
Mateus, 17:10-13 10 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem, então, os escribas que é mister que Elias venha primeiro? 11 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. 12 Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. 13 Então, entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.
Ora, me desculpe, mas o versículo é claro; João Batista era Elias, e se era Elias em outro corpo, pois todos conheciam João, sua mãe, e a história de seu nascimento, é porque era Elias reencarnado. E quem disse isso não fui eu, foi Jesus, e Jesus você sabe, não mente.
Querido irmão, talvez nem assim, você se convença. Não tem problema, continue fazendo o bem e amando seu semelhante; divulgando a Bíblia este livro maravilhoso e tornando-se melhor a cada instante. Este é o objetivo da vida, e esta é a verdade que liberta. E lembre, ela, a reencarnação, não está em desacordo nem com a moral cristã e nem com a Lei de Deus; daí não ser pecado, pense nela como uma coisa possível, talvez na próxima encarnação você aceite melhor esta ideia.

Um abraço fraterno.

1 Cf. I Coríntios, 15: 40