Augusto
Cury, em seu livro “Maria, a Maior Educadora da História”
defende a idéia de que um dos motivos de Maria ter sido tão bem
sucedida em sua tarefa de educar o menino Jesus, é porque ela sabia,
e muito bem, proteger a sua emoção; ela fazia questão de ensinar a
seu filho esta arte.
Faz
ele interessante raciocínio:
Respeitados
educadores ensinam os jovens a ter cuidado com seus objetos, não
destruir seus materiais didáticos, não manchar suas roupas e a
cuidar de seu corpo evitando acidentes e tendo higiene pessoal. Mas
esquecem de ensiná-los a proteger o mais difícil espaço do ser
humano, a sua emoção.1
Continua
o autor na sequencia:
Quem
não aprender a proteger a sua emoção pode até conquistar o mundo,
mas será sempre infeliz; pode ser aplaudido, mas será sempre opaco;
pode comprar todo tipo de seguro, mas será sempre frágil.
Todos
nós que habitamos um planeta de expiações e provas, e
principalmente nestes dias de transição, temos motivos para nos
tornarmos tristes, depressivos, angustiados, preocupados e até mesmo
contrariados. Entretanto, importa-nos reconhecer que Maria teve
motivos ainda muito maiores que os nossos.
Conforme
narram os evangelistas, teve uma gravidez incompreensível para a
mentalidade comum, isto gerou nela, em seu noivo, e em toda sua
família, sérias apreensões. Após o menino nascer envolto em
mistérios, teve que deixar sua cidade, sua zona de conforto, o calor
dos familiares, e partir para um novo país, sem saber por quanto
tempo, em que condições lá viveria, com quais recursos, etc. Sua
sensibilidade era grande, pois quanto mais o Espírito é evoluído,
mais é sensível; assim, deve ter muito sofrido com a perseguição
de Herodes aos inocentes por causa de seu filho. Tudo isso devia ser
para ela e para os seus, motivo de grandes pressões psíquicas; não
esqueçamos ela era uma adolescente, e estava num dos momentos de
maior sensibilidade para uma mulher, o período pós parto.
Como
será que reagiríamos numa situação destas? Por muito menos nós
nos tornamos angustiados, depressivos, inconformados e paralisamos
todo processo criativo em nossa vida. Qual a diferença entre nossas
posições e a de Maria? Simplesmente de atitude. Maria sabia
administrar seus conflitos, gerenciar suas emoções.
Em
momento anterior neste nosso estudo fizemos uma breve comparação
entre Maria e Eva, aqui podemos ampliá-la. Através do sentimento de
Eva entramos em queda por ser ela a representação de um sentimento
dissociado da razão. Maria por representar a sublimação de Eva,
ensina-nos a usar o emocional e o racional em plena harmonia. Não é
um sobrepondo-se ao outro, não é a razão dando a palavra final,
mas o perfeito equilíbrio entre estes dois componentes tão
importantes para o nosso progresso em todos os níveis.
Neste
passo podemos fazer mais uma importante reflexão. Não sabemos se
Maria não agisse desta forma, se poderia comprometer a missão de
Jesus. Teoricamente sim, pois se ela se tornasse uma inconformada, se
ela trabalhasse um sentimento de autopiedade, dificultaria sem dúvida
o desenvolvimento de seu filho. Porém, como este acontecimento - a
vinda até nós de Jesus - foi o mais importante de nosso planeta,
desde a sua origem, o Pai não delegaria para esta missão quem
tivesse a chance de falhar. Todavia, o Evangelho não é uma
telenovela ou um romance comum, é preciso trazer para o nosso dia a
dia as suas lições imortais.
Assim,
é importante refletirmos, pois nós não sabemos quem o Pai colocou
em nossa vida como filho, qual a missão de cada um deles. A mãe de
um futuro presidente de uma nação não sabe o que ele será quando
criança, o mesmo podemos dizer em relação a um grande cientista,
ou, a um importante educador. Será que não estamos atrapalhando o
projeto de Deus ao agirmos de forma tão destemperada como em muitas
vezes fazemos? Não estaremos dificultando a vida de nossos filhos
sendo inconformados, ensinando-os com a vida prática a não
perdoarem quando contrariados, a serem violentos e irracionais?
São
pontos a serem trabalhados por todo aquele que já está cônscio de
sua necessidade reeducativa e da importância de agir como um
colaborador de Deus.
Voltando
ao citado escritor e psicoterapeuta, Augusto Cury, na obra já aqui
comentada, ele sugere-nos três ferramentas para trabalharmos em
nossa vida, e para ensinarmos aos nossos educandos - pois não
tenhamos dúvida todos somos, em maior ou menor escala, educadores -
a fim de evitarmos transtornos depressivos, suicídios, enfermidades
psíquicas e perda de oportunidades. São elas:
- Doar-se sem esperar muito do outro.
- Compreender o outro na sua dimensão interior.
- Saber que ninguém pode dar o que não tem.
Sem
dúvida são três princípios de grande importância para todos nós
e que se os praticássemos diminuiríamos e muito nossas dores e
dissabores.
Temos
muitas vezes dito e ouvido que Deus nos criou para amar e sermos
amados. É preciso repensar esta informação e analisá-la com
carinho.
Ao
nosso ver ela é em parte verdade, mas há nela um pouco de
contaminação de nossa psicologia inferior.
Sim,
fomos criados para amar. Deus é amor. A matéria prima da criação
é amor. Assim, se quisermos estar ajustados a Deus, caminhar no
fluxo natural da vida de acordo com a Vontade Soberana e sermos
agraciados por sua Misericórdia, temos de amar, pois este é o
“idioma” de Deus, é através dele que nos comunicamos com o
Criador.
Entretanto,
a segunda parte da afirmativa “ser amado” deve ser observada de
forma diferente. Não fomos criados para sermos amados como uma
pré-condição básica. Ser amado é efeito, consequência, retorno.
A causa é amar, se amarmos seremos naturalmente amados. Isto se dará
sem nenhuma ansiedade, espontaneamente. É da Lei, e ela se cumprirá
sempre.
Esta
questão mal compreendida é que dificulta trabalhar em nós a
primeira ferramenta, pois até admitimos que devemos doar, até nos
sentimos satisfeitos por assim proceder, porém não abrimos mão de
esperarmos retorno, temos o grande defeito de criarmos expectativas e
esse é o problema. Se não criássemos expectativa em relação ao
outro noventa por cento de nossas dificuldades de convivência
estariam resolvidas.
Vamos
trabalhar a terceira ferramenta, saber que ninguém pode dar o que
não tem, junto com a primeira, pois em nosso modo de ver ela é
um acessório desta. Quem não espera muito do outro, sabe que ele só
pode dar o que tem, uma virtude maior contém naturalmente uma menor.
Ou ainda, a vivência da terceira ferramenta, leva naturalmente à
primeira.
Aqui
nos permitimos uma ressalva muito bem colocada pelo Espírito André
Luiz através da mediunidade gloriosa de nosso querido Chico Xavier,
a alegria é a única coisa que podemos dar ao outro mesmo se não
possuirmos.
Portanto,
se ainda não conseguimos, como seria desejável, não esperar muito
do outro, iniciemos o processo de defender a nossa emoção pelo
menos não pedindo a ninguém algo que ele esteja incapaz de dar.
Proceder deste modo não é ainda ser bom, mas é pelo menos agir com
inteligência, o que já é um grande passo para a conquista da
sabedoria.
A
outra ferramenta colocada por Cury e também de fundamental
importância é compreender o outro na sua dimensão interior.
Compreender
o outro por si só é uma virtude de grande alcance e que evita
muitas contrariedades.
Perdoar
é uma atitude nobre, compreender é ainda mais, pois aquele que
verdadeiramente compreende o outro não chega nem a sentir a ofensa,
não tendo assim o que perdoar.
Compreender
é desativar os pontos de conflito, significa transitar com segurança
na área da emoção. E compreender o outro na sua dimensão interior
torna-se ainda mais nobre, pois além de enxergar o outro, o que não
é habilidade comum entre nós, é se aperceber do que está para
além do visível, é também saber do outro em suas dimensões
emocionais, espirituais e sentimentais.
Só
Espíritos de boa condição moral e espiritual têm esta capacidade,
e fazendo deles modelos a serem seguidos temos de ser obstinados em
trabalharmos também nosso interior na conquista deste valor.
E
Augusto Cury ainda nos faz, na mesma obra e capítulo, importante
consideração sobre este tema: por trás de uma pessoa que fere,
há uma pessoa ferida. Como a nos dizer: “quando nos sentirmos
atacados, ou agredidos por alguém, trabalhemos nossa acuidade
espiritual e enxerguemos nela não um agressor comum, alguém de má
índole, mas um enfermo necessitado de um médico para a sua alma”.
E Jesus, o filho de Maria, já nos alertara, o doente é que precisa
de médico. Ele é o Médico dos médicos, e nós, seus efetivos
colaboradores na implantação de sua Boa Nova no coração de todos.
Tu
me amas, ainda fala o Senhor na intimidade de nossos corações,
então, apascenta as minhas ovelhas. O que de outro modo pode
significar: “educa as minhas ovelhas.”
1
CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São
Paulo, Ed. Planeta do Brasil, 2007, cap. 6.