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testemunhando Deus juntamente com eles, por meio de sinais, de prodígios e de vários milagres e por dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade. (Hebreus, 2: 4)
Testemunhando Deus juntamente com eles…; esta é uma afirmativa de grande valor e que é, do mesmo modo, bastante consoladora.
Deus está sempre testemunhando, isto é, presente através do auxílio e da colaboração, com todos aqueles que lhe têm fidelidade. E aqui é importante destacar o advérbio juntamente, ou seja, não se trata de uma presença passiva, mas participativa. É como se o Pai pudesse sofrer com o filho todas as suas dores, angústias e dissabores, tudo isso advém de comportamentos promotores de crescimento moral.
Lembremos disto, aconteceu com os que O ouviram no primeiro século e continua acontecendo com os que o ouvem ainda hoje; se temos ainda dores e aflições apesar de nosso bom encaminhamento na vida, não nos desesperemos, Deus está testemunhando juntamente conosco:
Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.1
…por meio de sinais, de prodígios e de vários milagres; as palavras sinais, prodígios e milagres, têm cada uma sua peculiaridade, entretanto, de um modo geral, no Novo Testamento elas podem ser representadas por milagres, que significa uma ação que ultrapassa o poder comum dos homens.
Alguns os têm, os milagres, como algo sobrenatural, o que seria uma derrogação das leis da natureza.
Com o Espiritismo através da orientação de Allan Kardec, aprendemos que sob este último ponto de vista os milagres inexistem, visto ser impossível derrogar as Leis Naturais que são as Leis de Deus. Devemos compreendê-los como uma atuação na Lei num nível mais profundo que muitas vezes nos escapa. Ou seja, seria o conhecimento mais amplo do mecanismo destas Leis, e assim, nelas atuar dentro de suas possibilidades múltiplas.
O primeiro significado que demos, é mais correto neste nível, pois trata-se de uma ação que ultrapassa o poder comum dos homens, que, porém, não derroga a Lei por si mesma; atua-se numa esfera de poder em que nem todos compreendem, é algo que está associado a um poder moral, a uma excelência da alma.
Quando o Espírito se associa a Deus em seus propósitos e passa atuar segundo os Desígnios Superiores, ele alcança esta condição de, em nome de Deus agir e atuar nestes mecanismos da Lei, podendo assim realizar sinais, prodígios e milagres.
Jesus foi entre nós o Espírito mais evoluído que já passou por nosso orbe, o que estava em conexão perfeita e integral com Deus, por isso seus prodígios foram ao mais espetaculares que já tivemos notícias. Todos os seus seguidores, sejam os da era testemunhal, ou mesmo os de hoje, se devidamente ajustados ao Seu Grande Amor, podem do mesmo modo realizar, é isto que o autor de Hebreus afirma neste verso.
Aqui cabe a nós como estudiosos dos textos do Evangelho, buscar algo mais. Podemos com segurança dizer que estes sinais exteriores da ação de Nosso Senhor foram os que mais chamaram a atenção e até hoje são. Quando um médium espírita, um pastor protestante, um padre católico ou um cristão qualquer cura agindo em nome de Jesus, algo de efeito físico, é quando ele mais chama a atenção e todos lhes dão valor.
Todavia Jesus tem em todos os tempos uma ação muito mais ampla e importante. Trata-se do milagre que Ele faz em nossos corações transformando-os… é quando nos tornamos bons cidadãos do universo e melhoramos o nível de nossos sentimentos.
Este é o grande milagre que o Cristo realiza em tantas pessoas, quer realizar em nós e nem sempre o destacamos, muito pelo contrário até desvalorizamos. Não são poucas as vezes que tratamos por coitadinho aquele que ama como Jesus amou se entregando pelos mais necessitados.
Queridos, tenhamos olhos de ver… ou passamos a agir na esfera do Cristo, e, compreendermos todos os estes eventos como oportunidade reeducativa para nosso Espírito, ou seremos eternos pedintes, esperançosos de que, por sinais, prodígios e milagres, Jesus venha nos salvar, o que dificilmente se dará; e aqui tenhamos entendimento, a salvação que precisamos é a que Ele nos salve de nós mesmos e de nosso passado transgressor.
…por dons do Espírito Santo…; ainda neste verso o autor nos fala dos dons do Espírito Santo. Naturalmente ele talvez pensasse na afirmativa de Atos,1: 8, ou naqueles dons do Espírito descritos por Paulo em I Coríntios, 12.
Neste passo é importante falar um pouco sobre o entendimento que devemos ter sobre Espírito Santo.
Nos tempos em que esta carta foi escrita ainda não se tinha a ideia de Santíssima Trindade como se tem hoje nos meios do cristianismo tradicional, onde o Espírito Santo é uma das pessoas desta Trindade. Esta é uma concepção tardia e que só veio mais adiante com a religião organizada.
Gostaríamos de aqui, darmos três entendimentos possíveis e plausíveis para esta expressão.
Os primeiros cristãos eram judeus, e tinham uma compreensão judaica da revelação. Assim é importante saber o que eles pensavam desta expressão que em hebraico é Ruach Hakodesh.
Ela é poucas vezes citada na Bíblia Hebraica e em todas o sentido é de o Espírito de Deus, nada mais do que isso. Portanto, para o Judaísmo dos leitores de Hebreus, Espírito Santo significa o Espírito de Deus, um Deus que para eles era Um Só e Uno.
À luz da Doutrina Espírita podemos compreender esta expressão sob dois aspectos. Um deles é o que Emmanuel destaca na obra Paulo e Estevão:
Ninguém deverá ignorar que Espírito Santo designa a legião dos Espíritos santificados na luz e no amor, que cooperam com o Cristo desde os primeiros tempos da Humanidade.2
O outro é um corolário deste citado por Emmanuel, Espírito Santo é todo Espírito que se santificou, é qualquer Espírito redimido. A diferença é que Emmanuel fala em Espíritos que colaboram com o Cristo desde os primeiros tempos da humanidade e aqui dissemos que em qualquer tempo um Espírito que se santifique na luz e no amor de Cristo torna-se Espírito Santo.
Aliás, este é um princípios básicos da teologia paulina, o de que qualquer Ser salvo compartilha da realidade de Cristo, torna-se aquilo que o Filho de Deus é. O que Pedro confirma em sua II epístola:
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo,3
Deste modo, dons do Espírito Santo são os dons, conquistados pelo Espírito através de seu ajustamento ao serviço em nome do Criador, dons estes que se tornam definitivos e amplos com a redenção do Espírito o que se dá com a evolução que o leva à Unidade Divina.
…distribuídos segundo a sua vontade. Vontade de Deus. A Vontade de Deus é a Lei de Deus. Esta Lei dá a cada um segundo as suas obras, não obras em seu sentido exterior, mas obras significando uma conduta transformada pela fidelidade ao Evangelho.
É a confirmação do que já comentamos. A evolução moral do Espírito dá a ele os dons do Espírito. Deus nesse caso não significa o Ser Soberano que fica escolhendo o que cada um deve ter, mas Sua Própria Lei distribuindo a cada um o que cada um conquistou.
1 Mateus, 18: 20
2 [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito) 2004], cap. 4, 2ª parte, nota de Emmanuel
3 II Pedro, 1: 3 e 4