domingo, agosto 04, 2024

Trindade - Uma Visão Espírita

#Trindade




O dogma da Santíssima Trindade, que afirma a existência de um único Deus em três pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito Santo), foi estabelecido em duas etapas principais:
  1. Primeiro Concílio de Niceia (325 d.C.): Este concílio definiu a divindade do Filho, Jesus Cristo, afirmando que Ele é consubstancial ao Pai, ou seja, da mesma substância ou essência.
  2. Primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.): Este concílio definiu a divindade do Espírito Santo, completando a formulação trinitária ao afirmar que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho
Segundo a igreja católica (a evangélica também acolheu o dogma) as três pessoas da Santíssima Trindade formam um só Deus em três pessoas distintas; segundo eles o Pai, o Filho e o Espírito Santo, possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, bondade e santidade.  Nenhuma das três pessoas trinitárias exerce mais ou menos poder sobre as outras. Cada uma delas tem toda a divindade, todo poder e toda a sabedoria. Este dogma é tido pelas igrejas, como mistério.
Agostinho de Hipona, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou com insistência compreender este mistério, e não conseguiu.  Segundo ele a mente humana é extremante limitada para poder assimilar a dimensão de Deus e, por mais que se esforce, jamais poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou por seu raciocínio.
O que diz a Doutrina Espírita sobre a "Santíssima Trindade"?
O Espiritismo concorda o Agostinho quando diz que "a mente humana é extremante limitada para poder assimilar a dimensão de Deus", porém, não admite o conceito da "Santíssima Trindade" como é compreendido na teologia cristã tradicional. Veja o que diz Emmanuel sobre o assunto através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier:
Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da Igreja Romana, quanto à chamada "Santíssima Trindade". Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de sutilezas teológicas sem base séria nos ensinamentos de Jesus...
Contudo, a Teologia, que se organizavam sobre os antigos princípios do politeísmo romano, necessitava apresentar um complexo de enunciados religiosos, de modo a confundir os espíritos mais simples, mesmo porque sabemos que se a Igreja foi, a princípio, depositária das tradições cristãs, não tardou muito que o sacerdócio eliminasse as mais belas expressões do profetismo, inumando o Evangelho sob um acervo de convenções religiosas e roubando às revelações primitivas a sua feição de simplicidade e de amor.[i]
As igrejas tradicionais do cristianismo alegam que o Deus trino é uma doutrina bíblica baseado em Mateus, 28: 19:
Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
Entretanto, há controvérsias. Se observarmos o contexto, vamos compreender que os discípulos a quem esta ordem de Jesus era dada, eram os mais preparados à época para divulgação da mensagem do Evangelho. O livro de Atos dos Apóstolos narra este início do Movimento Cristão; e nele, em nenhum momento os seguidores de Jesus batizam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em todos os batismos realizados, eram feitos em Nome de Jesus.
Depreendemos daí que estes textos de nossas Bíblias atuais provavelmente foram adulterados, lembremos o que disse Emmanuel em referência já citada:
Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da Igreja Romana, quanto à chamada "Santíssima Trindade".
Existe uma versão denominada Evangelho de Mateus aos Hebreus editado pelo Grupo Torah Viva chamada "Sefer Matitiyahu"[ii],  que é uma tradução baseada em originais hebraicos, nela o texto Mateus 28: 19 é assim traduzido:
Portanto, fazei talmidim[iii] em todas as nações em Meu Nome (grifo nosso).
Em nota de Rodapé o tradutor esclarece:
Todas as citações de Eusébio trazem o texto dessa forma, omitindo qualquer menção a imersão trinitária. Shem Tob também omite a fórmula trinitária – o que também é um fato muito relevante, considerando-se que Shem Tob foi achado em meio a uma obra antimissionária, e o batismo trinitário seria um forte argumento contrário à fé. A própria Igreja Católica admite que a fórmula trinitária reflete acréscimo posterior. Por fim, sabemos ainda que todas as instâncias de imersão no livro de Atos são sempre em nome de Yeshua, contradizendo o texto trinitário, e de fato provando ser uma adição posterior.
Ainda em Nota a este versículo, a Bíblia de Jerusalém também informa:
É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus" (cf. At 1:5+; 2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade.
Deste modo, não temos dúvida em confirmar a posição da Doutrina Espírita e a orientação de Emmanuel:
Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da Igreja Romana, quanto à chamada "Santíssima Trindade". Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de sutilezas teológicas sem base séria nos ensinamentos de Jesus...
Existe ainda outro texto bíblico mais polêmico ainda e que não podemos deixar de citar.
Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num." (Bíblia Almeida Corrigida Fiel – ACF).
Esta era a versão comum nas traduções bíblicas clássicas como a de Almeida, baseadas no Textus Receptus, o principal texto grego do Novo Testamento usado dos séculos 16 a 19.
Na tradução da Bíblia de Jerusalém temos:
Porque três são os que testemunham: o Espírito, a água e o sangue, e os três tendem ao mesmo fim.
Em nota desta Bíblia ao sétimo versículo temos:
 O texto dos vv. 7-8 está acrescido na Vulgata de um inciso ausente nos antigos mss. gregos, nas antigas versões e nos melhores mss. da Vulgata, e que parece ser uma glosa marginal introduzida posteriormente no texto...
Portanto, trata-se de mais um texto alterado que termos que ter bom senso para analisá-lo. Poderíamos citar muitas outras referências, mas isto faria com que nosso texto ficasse muito extenso, não sendo este objetivo de nosso estudo.
***
A nosso ver o que aconteceu com os primeiros pais da igreja, a despeito do respeito que temos por eles, pois são indutores de nossa fé, é que tiveram a intuição de como funciona o Plano Operacional de Deus, entretanto, por não terem melhores instrumentos de entendimento, não souberam decifrar o enigma e criaram o que chamaram de "Mistério da Santíssima Trindade". Hoje, através da Revelação Espírita que abriu para todos nós o entendimento das Leis da Reencarnação e da Evolução, da mediunidade, entre outros recursos, podemos melhor compreender e acabar com mais este "mistério".
Como já foi demonstrado, Deus não é trino nem existe nenhuma Santíssima Trindade, todavia em planetas como o nosso o Plano Operacional de Deus é que é trino.
Em O Livro dos Espíritos na questão 536 letra b [iv]as Entidades Codificadoras nos afirmam:
"Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos."
Quem seriam estes "agentes dedicados"?
André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier esclarece:
O fluído cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano.
Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indestrutível (grifo nosso), os grandes Devas da teologia hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, extraindo desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da Imensidade, em serviço de Cocriação em plano maior, de conformidade com os desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação Excelsa. Essas Inteligências Gloriosas (grifo nosso) tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou cocriar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade[v]. (grifo nosso)
Depreendemos destas informações, que estas Inteligências Divinas a Deus agregadas, essas Inteligências Gloriosas, seriam assim, em Plano Maior, estes "agentes dedicados" revelados na Obra Básica do Espiritismo.
Ainda sobre o assunto, Emmanuel comenta:
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos[vi].
Jesus, como um dos membros divinos desta Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos, é em nosso orbe Governador Espiritual; na Terra ele é o "agente dedicado" mais autorizado por Deus para operar em Seu Nome.
Temos assim: Deus que é o Criador, na condição de Pai, e Jesus, como Espírito Puro e Eleito, na condição de Filho, operando em "comunhão indescritível".
Falta-nos assim definir Espírito Santo para entendermos como é a operação de Deus em universos físicos.
Vimos que o Criador tem Jesus como Plenipotenciário Divino, entretanto nem Jesus pode agir sozinho, Ele Tem Seus Ministros[vii].
Emmanuel continua nos esclarecendo:
Sob a orientação misericordiosa e sábia do Cristo, laboravam na Terra numerosas assembleias de operários espirituais.
Como a engenharia moderna, que constrói um edifício prevendo os menores requisitos de sua finalidade, os artistas da espiritualidade edificavam o mundo das células iniciando, nos dias primevos, a construção das formas organizadas e inteligentes dos séculos porvindouros.[viii]
Podemos entender estes operários espirituais – Ministros do Cristo - como sendo o Espírito Santo que operava em numerosas assembleias. Designando assim, o que costumamos chamar de "Falange do Espírito de Verdade"
Emmanuel ainda nos informa em outra obra de sua autoria em parceria com nosso querido Chico Xavier:
Ninguém deverá ignorar que Espírito Santo designa a legião dos
Espíritos santificados na luz e no amor, que cooperam com o Cristo
desde os primeiros tempos da Humanidade.[ix]
Assim, podemos concluir nosso entendimento sobre a "Trindade" do Plano Operacional de Deus, que é como Ele atua em nosso Universo, ou seja, Seu modus-operandi.
Deus – Pai;
Jesus (Messias Divino) – Filho;
Espíritos Superiores – Espírito Santo
Deus Cria, mas quem atua na matéria são os Espíritos[x].
A partir deste novo entendimento temos uma nova mensagem consoladora. Nós Espíritos em evolução, ainda endividados perante as Leis Universais, quando atuamos em comunhão com o Projeto de Deus podemos ser qualificados também como "Espírito Santo". A nossa dificuldade é que ainda oscilamos muito entre o Bem e o mal. Todavia quanto mais evoluímos melhor fica nossa atuação como representantes do Senhor; de tal forma que quando fizermos nossa total Redenção, seremos também categorizados definitivamente como Espírito Santo. Isto se dará quando com autoridade pudermos dizer:
Eu e o Pai somos um[xi].
Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.[xii].
 
 
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[i] O Consoldor, questão 264, acessado pelo site: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavier/oconsolador.pdf em 29/07/2024
[ii] Sefer Matitiyahu, O Livro de Mateus. Traduzido por Sha'ul Bentsion
[iii] Discípulo (Nota do Blog)
[iv] KARDEC, Allan. . 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. O Livro dos Espíritos na questão 536 letra b
[v] XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993. 1ª parte cap. 1
[vi] XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Cap. 1
[vii] Cf. Entrevista Chico Xavier – 05/01/1954, acessado pelo Site: https://centroespiritaleocadio.org.br/entrevista-chico-xavier-05-01-1954/ em 30/07/2024
 
[viii] A Caminho da Luz, Cap 2
[ix] XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito).  Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. 2ª parte, cap. 4
[x] Nosso saudoso amigo Honório Onofre Abreu sempre repetia este ensinamento baseado em O Livro dos Espíritos na questão 536 letra b
[xi] João, 10: 30
[xii] Gálatas, 2: 20

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