segunda-feira, julho 29, 2024

Evolução e Evangelho

#Pública





...para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. (Efésios, 4: 12 e 13)
 
Evangelho
A palavra grega Euangelion no grego clássico indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo. Falava-se de "evangelho", nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um imperador. Ao termo estava unida a ideia de festa com cânticos, luzes e cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma certeza de bem-estar, de paz e salvação.[i]
No império romano a boa notícia era referente ao imperador: uma nova conquista, um novo imperador, ou mesmo a sua presença em determinada cidade.
Na Bíblia, na Septuaginta, o vocábulo aparece no Segundo Livro de Samuel, 4: 10. No contexto um emissário traz a notícia da morte de Saul, achando que seria uma boa notícia para Davi pensando que este lhe daria uma recompensa:
Aquele que me relatou estar Saul morto, ainda que era como um trazendo boas novas para mim, apanhei-o e matei-o em Ziclague, aquele a quem eu devia, como ele pensava, ter dado uma recompensa por suas notícias.[ii]
No Novo Testamento a literatura denominada Evangelho foi inaugurada por João Marcos quando deu título à sua narrativa biográfica de Jesus. Entretanto, foi Paulo de Tarso quem pela primeira vez usou esta palavra em se referindo a Jesus, pois a Carta aos Tessalonicenses, aos Gálatas, aos Romanos, entre outras, são anteriores ao livro de Marcos. Todavia, quem primeiro usou este vocábulo referindo-se à Mensagem do Reino de Deus foi o próprio Jesus. (Cf. Lucas, 4: 18 e 43)
Para Paulo, o Evangelho era o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê[iii]. No Espiritismo salvação designa o fim dos ciclos provacionais e expiatórios, a libertação das reencarnações em corpos físicos. Para ele, Paulo, o verdadeiro Evangelho era a essência da mensagem de Jesus.
Nele também vós, tendo ouvido a Palavra da verdade -— o evangelho da vossa salvação -— e nela tendo crido, fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo.[iv]
O espiritismo em concordância com o apóstolo dos gentios nos afirma que Jesus é o nosso Guia e Modelo[v], ou seja, é através de seus ensinamentos contidos no Evangelho que atingiremos nossa meta, a desvinculação dos mundos físicos e o retorno à Casa do Pai. Não esqueçamos que Espírito Santo e Espírito de Verdade são expressões sinônimas nos falando do Paráclito (Consolador)[vi].
Assim, entendemos Jesus como nosso Salvador, pois como Ele já percorreu o Caminho, pode nos ensinar como nos encaminharmos com excelência. Daí a importância de estudarmos e praticarmos as lições de Seu Evangelho.

 
Evolução
No espiritismo a teoria da evolução está atrelada à ciência. Ela é feita em dois planos, no físico e no espiritual. Evoluem os seres, os planetas, os órgãos, as ideias etc. Todo Universo evolui.
Como isto se dá?
Nos primórdios da vida temos:
  • Geleia cósmica.
  • Mônada (princípio inteligente).
  • Ação dos trabalhadores espirituais.
  • A rede filamentosa do protoplasma.
  • Séculos de atividade silenciosa[vii]
Já não dissemos que tudo em a natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, e individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito."[viii]
Para o princípio inteligente se transformar em Espírito é preciso percorrer longa jornada evolutiva nos reinos inferiores da Natureza, em ambos os planos da vida, até obter condições para a humanização, transformando-se em um ser dotado de razão e de livre-arbítrio[ix].
... para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos.[x]
Em O Livro dos Espíritos, as Entidades Codificadoras ainda nos informam:
A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso, constitui antes uma exceção.[xi]
Entretanto é preciso considerar que a humanização é apenas o início da evolução consciente, o Espírito deverá a partir daí conquistar os valores superiores da alma, só assim conseguirá atingir seu objetivo de se tornar Santo através de sua redenção.
Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito[xii].
Evolução e Evangelho
A partir do já comentado podemos fazer uma relação entre Evolução e Evangelho. A Evolução nos leva ao Evangelho ou é o Evangelho que nos leva à Evolução?
A segunda afirmativa não é totalmente verdadeira, pois a Evolução é uma Lei, ela existe desde a criação dos Universos físicos; o que ela faz é, despertando a potencialidade divina que há em nós, nos preparar para a assimilação do Evangelho. Podemos com segurança afirmar que o que o Evangelho faz é qualificar a Evolução, ou seja dar qualidade a esta. Antes da assimilação do Evangelho a Evolução é feita pelos impactos, a partir da conversão ao Evangelho ela é feita de forma consciente, com menores dores, e efetivamente mais rápida.
O princípio inteligente traz em si o modelo de sua perfeição, excelência e superioridade.
Já nos primeiros movimentos do livro Genesis, atribuído a Moisés, já vemos indícios desta Lei, o "Haja Luz[xiii]" é um mandamento divino para toda criação. Jesus confirma tal assertiva num momento mais adiante:
Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens...[xiv]
Portanto, Evangelho e Evolução estão associados desde o princípio.
Sendo o escopo do Espírito a Perfeição Moral e sendo nós espíritas conscientes disto, concluímos ser dever de todo espírita o estudo, a meditação e a vivência dos ensinamentos do Evangelho que em última instância é de Deus.
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.[xv]
Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.[xvi]
Ademais, os Espíritos nos informam na questão 621a de O Livro dos Espíritos que nós homens, esquecemos e desprezamos a Lei de Deus, e que Deus quis que ela nos fosse lembrada. O Evangelho é o maior código moral ensinado aos homens para praticar devidamente a Lei de Deus. Desprezá-lo é também, no mínimo, desprezar a encarnação de um Messias Divino que demorou séculos ou milênios para ser programada e efetivada como objetivo de nos revelar esta Lei tão necessária à nossa recomposição consciencial.


 


[i] Dicionário de filosofia: acessado pelo site https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/evangelho em 15/07/2024
[ii] 2 Samuel, 4: 10 (Septuaginta traduzida para o português por José Cassais)
[iii] Romanos, 1: 16
[iv] Efésios, 1: 13
[v] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 625
[vi] Cf. João, 14: 17 a 26
[vii] Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita Programa Filosofia e Ciência Espíritas Roteiro 18, acessado pelo site: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Roteiro-18-Evolucao.pdf em 16/07/2024
[viii] O Livro dos Espíritos, questão 607a
[ix] Idem
[x] XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, Primeira Parte, cap. III
[xi] O Livros dos Espíritos, questão 607b
[xii] Mateus, 5: 48
[xiii] Gênesis, 1: 3
[xiv] Idem, 5: 16
[xv] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
 cap XVII
[xvi] João, 8: 32

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Artigos e comentários a respeito da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus - O Blog do Evangelho Miudinho
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O autor deste livro, — Cláudio Fajardo — é desses pesquisadores incansáveis do evangelho, que tanto contribuem para aumentar o...
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domingo, julho 21, 2024

A Genealogia de Jesus e a Evolução do Espírito






A genealogia para o povo judeu ao tempo de Jesus e mesmo antes, não era considerada um simples registro de antepassados e datas, era mais do que isto, era uma conexão com a identidade, a pureza da descendência e as promessas divinas. Cada nome tinha uma representação na história do povo e de alguma forma sinalizava uma participação nas promessas de Deus.
Para os evangelistas Jesus era o personagem mais importante de toda história judaica, por isto, dois deles (Mateus e Lucas) traçam sua genealogia como era tradicional na literatura hebraica (Cf. Gn 5:1, Gn 10:1, Gn 11:10, Gn 11:27, 1 Crônicas, 1 a 8).
 Do ponto de vista histórico estas genealogias dos evangelistas têm alguma divergência o que em nada desqualificam as anotações nem a personalidade do biografado.
Alguns comentaristas tentam explicar as diferenças alegando que Mateus traçou uma genealogia a partir de José, e Lucas a partir da descendência de Maria. Isto é possível, mas pouco provável. Por quê?
É possível porque Lucas ao escrever o seu Evangelho valeu-se entre outras pesquisas de informações preciosas fornecidas por Maria a mãe de Jesus[i], desta forma pode ele ter querido homenagear a mãe de nosso Senhor colocando sua descendência a partir dela. Porém, é pouco provável, pois a genealogia legal de acordo com o costume judaico era dada pelo homem; contada a partir da semente de uma mulher não era comum na época[1].
O mais certo é que não tinham a intenção de apresentar listas absolutamente completas, apenas um sumário.
Cremos que o motivo de tal divergência encontra-se no objetivo dos evangelistas. Conforme nos informa a Irmã Aíla Pinheiro em e-mail trocado por nós:
A genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus está dentro do objetivo do autor, que é mostrar Jesus como o Moisés por excelência (o mais excelente mestre) e como o messias prometido para Israel, o filho de David.
Da mesma forma que Moisés, Jesus depende de mulheres e, principalmente, de mulheres estrangeiras. 
Como filho de David, ou seja, messias de Israel, a história dos antepassados está dividida de modo a deixar David no centro. 
A palavra David, em hebraico, significa 14 (D = 4; V= 6; D = 4), por isso, Mateus elenca apenas 14 gerações para cada período da história de Israel:
"Assim todas as gerações desde Abraão até David são catorze gerações; também desde David até o exílio em Babilônia, catorze gerações; e desde o exílio em Babilônia até o Cristo, catorze gerações" (Mt 1:17).
 
A genealogia de Lucas tem o mesmo objetivo do autor do terceiro evangelho que é apresentar Jesus misericordioso salvador da humanidade inteira.
Nos melhores manuscritos o número de pessoas de Jesus a Adão soma 77.
Na numerologia judaica e na Cabala, o número 77 está associado à completude e perfeição divina.
No geral, o número 77 é visto como um número altamente significativo e espiritualmente completo nas tradições místicas judaicas. 
A palavra hebraica para "conclusão" ou "perfeição" (shalom) tem um valor numérico de 77.
Alguns Cabalistas associam 77 aos 77 nomes de Deus, representando a natureza multifacetada do divino.
E a genealogia de Jesus vai até Adão (Adam) a humanidade, Adam tirado da Adamah, em latim: a humanidade tirada do humus.
Portanto, ao que nos parece a Genealogia de Jesus é mais teológico-simbólica do que histórica, a partir desta constatação importa-nos fazer uma analogia entre a Genealogia de Jesus e a evolução do Espírito que segundo entendemos, segue o mesmo ritmo.
*****
Para o Espiritismo, Jesus é um Messias Divino[ii], isto é, um Espírito que atingiu a perfeição e se tornou infalível.[iii]
Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier aprofunda o entendimento:
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os
fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros
e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam
as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.
Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus
um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu,
nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da
organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da
nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as
balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria
em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor
à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu
Evangelho de amor e redenção.[iv]
Assim, aprendemos que Jesus é o Governador Espiritual do planeta Terra e isto, há mais de quatro bilhões e meio de anos. Portanto, esta é no mínimo a idade de Jesus como Messias Divino. Com isto depreendemos que sua autoridade não se dava devida a nenhuma genealogia humana, ela era assim, espiritual, devido à Sua Evolução. Seu Espírito dominava a matéria de uma maneira absoluta.[v]
Este Messias precisava encarnar em nosso planeta tomando um corpo físico semelhante ao nosso. Para que isto se desse seria necessário pelo menos duas situações:
  • Um povo que tivesse a certeza da existência de um só Deus para recebê-lo
  • Uma adaptação de seu perispírito aos fluidos terrestres
Para atender à primeira necessidade, no momento oportuno Deus através de inspiração convidou Abrão a deixar a mesopotâmia, a terra de seus pais, para formar uma nova descendência à qual culminaria em Jesus. Abrão assim fez, tornou-se Abraão (pai de muitas nações[vi]) que é o primeiro da genealogia mateana.
Podemos assim como primeira conclusão dizer que a formação do povo hebreu foi imprescindível para a encarnação de Jesus.
Quanto à adaptação de seu perispírito ao planeta não temos como avaliar devido nossa falta de conhecimentos mais amplos da realidade espiritual, todavia é certo que ela teve de ser feita pois a substância do perispírito varia de acordo com o planeta; e no caso de Jesus a dificuldade era ainda maior, pois como vimos há mais de quatro bilhões e meio de anos ele não encarnava em mundos físicos; segundo Emmanuel sua verdadeira genealogia se confunde na poeira dos sóis que rolam no Infinito.[vii]
Desta forma nada podemos afirmar com certeza nem como se deu tal adaptação e nem quanto tempo levou, porém podemos lançar uma questão quanto ao tempo:
O preparo do povo se deu em quarenta e duas gerações, aproximadamente dois mil anos, conforme as anotações de Mateus, será que podemos usar a mesma equação como sugestão para a adaptação de seu corpo espiritual e de seu corpo físico para a encarnação?
*****
Passemos a outro tópico.
Comentamos no início deste estudo que entendemos que a Genealogia de Jesus e a evolução do Espírito têm o mesmo ritmo.
Aprendemos que o objetivo da evolução é a restauração da imagem divina em nosso espírito (Gn, 1:27); Jesus é a Imagem do Deus invisível (Cl, 1: 15)
Conforme temos aprendido no estudo desta matéria, toda evolução é feita em escalas setenárias. Se pudermos fazer um gráfico da evolução do princípio inteligente, a figura mais apropriada para esta representação é a de uma espiral.
A genealogia de Jesus tem esta configuração. Em Mateus temos 42 gerações o que é uma equação de sete. 42 = 6x7; Em Lucas temos 76 nomes que é 70 + 6.
O número perfeito em Mateus é 49 = 7x7; em Lucas 77 = 70 + 7. Esta perfeição se dá quando nos tornamos Nova Criatura, que é quando o Evangelho sai de nosso coração com espontaneidade, na ação e na reação. Quando se atinge esta condição, cessa a necessidade de provações evolutivas, de encarnações em mundos físicos.
O primeiro personagem da genealogia de Lucas é Adão (o primeiro), o último é exatamente Jesus (o último Adão, Coríntios, 15: 45 e 47)
Cada geração das genealogias pode representar várias encarnações do espírito, um grupo de gerações uma laçada da espiral da evolução.
De Adão a Abraão podemos considerar como símbolo de uma evolução pelos impactos da vida (ainda não há consciência dos valores do espírito). Lucas começa em Adão definindo Jesus como salvador da humanidade inteira. Não devemos esquecer que Lucas era discípulo de Paulo o apóstolo dos gentios.
A partir de Abraão temos uma evolução mais consciente (já se leva em conta a existência de Deus). Mateus começa por aqui sua genealogia, um povo que, se ainda muito orgulhoso, podemos também reconhecê-lo por uma fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais arrojados e espinhosos caminhos... o povo de Israel acreditava somente na
existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios[viii].
O espírito nesta condição, mesmo ainda sujeito a erros progride se fazendo dependente de Deus. Podemos qualificar esta fase de sacerdotal.
A partir de Davi temos a simbologia do poder humano no mundo físico. Isto se bem entendido não é negativo devemos lembrar que Jesus falou dizendo:
É-me dado todo o poder no céu e na terra.[ix]
E no Apocalipse é nos dito que Ele nos fez reis e sacerdotes para Deus[x].
A evolução se dá em dois mundos: físico e espiritual; em duas direções não opostas: razão e sentimento; intelectual e moral.
Davi foi pastor, rei e o autor da maioria dos Salmos cantando a glória de Deus.
Veja o que diz Pastorino sobre o terceiro e último estágio antes da redenção:
O terceiro período retrata o espírito nos dois últimos passos, quando, desejando libertar-se, ainda se vê preso no Cativeiro de Babilônia ... Babel significa confusão. São os estados de dúvida, de inquietação, de hesitação do intelecto, que sente não ter capacidade de compreender nem de explicar o que é divino, quando descobre que tudo aquilo em que acreditou há milênios como sólida e duradouro na matéria, é, de fato, ilusório e passageiro... O cativeiro da Babilônia só chega no final da era de David, isto é, quando, estando bem desenvolvidas as emoções e o intelecto, o espírito pode descobrir que se acha em cativeiro. Até então adorava sua gaiola dourada, seu corpo físico, sua intelectualidade ... Mas, feita essa descoberta fundamental, passa a sentir a prisão e a querer libertar-se dela. O espírito volta, então, a viver na Terra Prometida, e, embora ainda prisioneiro do corpo e das sensações físicas, sabe que pode escapar de seus domínios, abandonando conscientemente os veículos inferiores, e vivendo na luz gloriosa dos veículos da individualidade. Começa, aí, sua preparação mais minuciosa para o Encontro e a Libertação Final. Atingido esse grau (a mente e o corpo causal), que é o sexto, já estará a criatura apta para o passo definitivo, para o nascimento de Jesus, o chamado CRISTO, podendo dizer finalmente: Eu e o Pai somos Um[xi].
Conclusão
Dissemos no início deste texto sobre a importância das genealogias para o povo judeu sendo este o motivo por que dois dos evangelistas colocaram em sua biografia de Jesus a genealogia.
Vimos também que estes mesmos evangelistas colocaram nas mesmas um sentido teológico-simbólico o que nos permitiu fazer algumas digressões.
A genealogia de Mateus foi configurada em 42 gerações que significa 6 estágios de 7, na de Lucas temos 76 nomes que como vimos representa 70 + 6. O significado é o mesmo. Em Mateus o número perfeito é 49 = 7x7, em Lucas é 77 = 70+7.
Resta-nos responder a seguinte questão, em se tratando de ser o último personagem das genealogias, Jesus, por que o número a que se refere a Ele não é o número perfeito, sendo Ele o Perfeito por excelência?
Acontece que em se tratando de nossa evolução do qual esta anotação genealógica é a representação, a perfeição não vem com a primeira vinda de Jesus, ela só se concretiza com a segunda que é quando Ele nasce na manjedoura de nosso coração, através de uma virgem – nossa personalidade purificada -, nos conduzindo a uma vida de serviço ao semelhante sem espera de retribuição – "o que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde" [xii] - e consumando na crucificação de nosso interesse pessoal - é necessário que ele cresça e eu diminua[xiii].
Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim...[xiv]
 
 
 


[1] Não podemos esquecer que a primeira profecia quanto à vinda do Messias, Gn, 3: 15: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar."
 


Notas Bibliográficas:
 
[i] XAVIER, Francisco Cândido, pelo Espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Rio de Janeiro: FEB, 1941. 2ª parte, capítulo 8
[ii] KARDEC, Allan. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo cap XV Item 2 acessado pelo site: https://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/A%20Genese.pdf em 08/07/2024
[iii] KARDEC, Allan.  Revista Espírita. de Fevereiro de 1868 pag. 78, acessado pelo site: https://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1868.pdf em 08/07/2024
[iv] XAVIER, Francisco Cândido, pelo Espírito Emmanuel. A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 1939 cap. I
[v] KARDEC, Allan. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo cap XV Item 2 acessado pelo site: https://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/A%20Genese.pdf em 08/07/2024
[vi] Romanos, 4: 17
[vii] XAVIER, Francisco Cândido, pelo Espírito Emmanuel. A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: FEB, cap. III
[viii] Idem, cap. VII
[ix] Mateus, 28: 18
[x] Apocalipse, 1: 6
[xi] PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho. Rio de Janeiro: Editora Sabedoria, 1964 Vol. 1
[xii] João, 13: 7
[xiii] Idem, 3: 30
[xiv] Gálatas, 2: 20
Para consultas bíblicas: Site: https://search.nepebrasil.org/
 
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segunda-feira, julho 15, 2024

A Pergunta de João, o batista: “Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”

 


 

João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou a ele alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: “Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mateus, 11: 2 e 3)

Têm nos sido feito algumas perguntas sobre este texto:

·         Estava João confundido diante de suas provações?

·         Teria o Precursor esquecido que Jesus era o Messias?

·         Por que esta dúvida?

Antes de respondermos a estas perguntas é importante observar o contexto:

João estava na prisão de Maquérus (veja vol. 2). Daí acompanhava com grande interesse todo o desenvolvimento do ministério de Jesus, sobre o qual é constantemente informado por seus discípulos, que o visitam com frequência. O que mais lhe contam são os prodígios operados pelo novo taumaturgo de Nazaré. João jamais perdeu de vista sua tarefa de precursor e todos os seus atos destinam-se a "preparar o caminho diante dele" (vol. 1). (Pastorino, Sabedoria do Evangelho, vol.3)

Hoje temos a plena convicção de que João Batista jamais duvidou de ser Jesus o Messias.

Já no ventre de sua mãe ele o reconheceu. (Lucas, 1: 41)

Para os judeus, sacerdotes e levitas, foi claro: “Eu não sou o Messias” (João, 1: 20)

E quando da oportunidade do batismo do Senhor disse: “Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mateus, 13: 14)

Assim, cremos não ficar nenhuma dúvida quanto a isso.

Entretanto resta-nos uma questão a responder, por que João enviou os seus discípulos para fazerem esta pergunta?

É preciso compreender que João Batista é um Espírito superior; o próprio Cristo disse:

Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista... (Mateus, 11: 11)

Nascido de mulher quer dizer, “que tem necessidade de reencarnar”; ou seja, entre todos que ainda têm esta necessidade, João é o maior.

Como Espírito superior, e como profeta (Mateus, 11: 9) ele já tinha a intuição que iria desencarnar em breve.

Isso para ele era uma libertação de pendências antigas; inclusive podemos pensar que talvez a partir desta encarnação ele se liberasse da necessidade encarnatória em corpos físicos como o nosso. Entretanto, para seus discípulos, a notícia de sua morte, deixá-los-ia em grande tristeza e até mesmo com a possibilidade de apostatarem-se. E isto seria muito grave para eles.

Alguns analistas ainda comentam que poderia estar havendo uma rivalidade entre os seguidores de João e os de Jesus, fato muito comum em nossos dias e que provavelmente acontecia também naqueles.

Deste modo, o objetivo de João ao enviar seus discípulos a Jesus era o de que o próprio Jesus os esclarecesse sobre sua missão e a partir do desencarne do profeta eles seguissem o verdadeiro Messias. Amar  e interceder por seus amigos é característica básica de um Espírito evoluído, com João não foi diferente, isto explica sua atitude e preocupação com os seus.

Jesus entendeu a situação, os Espíritos redimidos se comunicam de modos inabordáveis para nós, e respondeu aos seguidores de João sabendo que eram eles quem necessitavam da resposta.

E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim. (Mateus, 11: 4 a 6)

*****

Temos aprendido no Estudo Miudinho do Evangelho que devemos nos colocar na situação dos personagens, ou colocar as palavras ditas por eles em nossa boca, e assim analisarmos buscando sempre nossa reeducação e aperfeiçoamento moral.

Devido nossas transgressões, imprudências e irreflexões no trato com a Lei de Deus nas experiências palingenésicas, estamos quase sempre “encarcerados” em situações difíceis que exigem muito de nós em matéria de paciência, compreensão e discernimento espiritual. Quando isto não acontece sofremos, o que pode se dar tanto fisicamente, como emocionalmente, psiquicamente ou mesmo espiritualmente.

A qualidade de nossa fé será determinante para dimensionar estes sofrimentos. Mesmo se já adiantados nos estudos das matérias espirituais, se ainda vacilantes na fé, a pergunta Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro? Em se tratando de nós, espíritos devedores e ainda atrasados na evolução, soa como dúvida.

É muito comum para espíritos vacilantes como nós mesmos, dizer que acredita em Deus, em Jesus, nos Espíritos superiores, mas vivermos uma vida como se eles não existissem. Aí, quando a dor-correção nos visita, duvidamos e mais uma vez perguntamos: Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro? Como se a situação pudesse ser resolvida por Ele sem a nossa participação.

Neste passo temos que lembrar da frase de Agostinho de Hipona: “O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti

Ou seja, Cristo já veio e deve ser indutor em nós de uma fé que nos transforma num ser melhor, não devemos ficar aguardando-o como se ele fosse nos salvar sem depender de nós, bem-aventurado [disse Ele] é aquele que não se escandalizar em mim (Mateus, 11: 6).

Lembremos das palavras de Simeão: Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição” (Lucas, 2: 34)

A Bíblia de Jerusalém em nota a este versículo de Lucas nos diz que “para Jesus, a missão de luz no mundo pagão será acompanhada de hostilidade e perseguições por parte de seu próprio povo”

Que não sejamos nós, o “povo do Consolador Prometido” estes que se escandalizam dele pela incredulidade em seus ensinamentos.

 

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