João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou a ele alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: “Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mateus, 11: 2 e 3)
Têm nos sido feito algumas perguntas sobre este texto:
· Estava João confundido diante de suas provações?
· Teria o Precursor esquecido que Jesus era o Messias?
· Por que esta dúvida?
Antes de respondermos a estas perguntas é importante observar o contexto:
João estava na prisão de Maquérus (veja vol. 2). Daí acompanhava com grande interesse todo o desenvolvimento do ministério de Jesus, sobre o qual é constantemente informado por seus discípulos, que o visitam com frequência. O que mais lhe contam são os prodígios operados pelo novo taumaturgo de Nazaré. João jamais perdeu de vista sua tarefa de precursor e todos os seus atos destinam-se a "preparar o caminho diante dele" (vol. 1). (Pastorino, Sabedoria do Evangelho, vol.3)
Hoje temos a plena convicção de que João Batista jamais duvidou de ser Jesus o Messias.
Já no ventre de sua mãe ele o reconheceu. (Lucas, 1: 41)
Para os judeus, sacerdotes e levitas, foi claro: “Eu não sou o Messias” (João, 1: 20)
E quando da oportunidade do batismo do Senhor disse: “Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mateus, 13: 14)
Assim, cremos não ficar nenhuma dúvida quanto a isso.
Entretanto resta-nos uma questão a responder, por que João enviou os seus discípulos para fazerem esta pergunta?
É preciso compreender que João Batista é um Espírito superior; o próprio Cristo disse:
Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista... (Mateus, 11: 11)
Nascido de mulher quer dizer, “que tem necessidade de reencarnar”; ou seja, entre todos que ainda têm esta necessidade, João é o maior.
Como Espírito superior, e como profeta (Mateus, 11: 9) ele já tinha a intuição que iria desencarnar em breve.
Isso para ele era uma libertação de pendências antigas; inclusive podemos pensar que talvez a partir desta encarnação ele se liberasse da necessidade encarnatória em corpos físicos como o nosso. Entretanto, para seus discípulos, a notícia de sua morte, deixá-los-ia em grande tristeza e até mesmo com a possibilidade de apostatarem-se. E isto seria muito grave para eles.
Alguns analistas ainda comentam que poderia estar havendo uma rivalidade entre os seguidores de João e os de Jesus, fato muito comum em nossos dias e que provavelmente acontecia também naqueles.
Deste modo, o objetivo de João ao enviar seus discípulos a Jesus era o de que o próprio Jesus os esclarecesse sobre sua missão e a partir do desencarne do profeta eles seguissem o verdadeiro Messias. Amar e interceder por seus amigos é característica básica de um Espírito evoluído, com João não foi diferente, isto explica sua atitude e preocupação com os seus.
Jesus entendeu a situação, os Espíritos redimidos se comunicam de modos inabordáveis para nós, e respondeu aos seguidores de João sabendo que eram eles quem necessitavam da resposta.
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim. (Mateus, 11: 4 a 6)
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Temos aprendido no Estudo Miudinho do Evangelho que devemos nos colocar na situação dos personagens, ou colocar as palavras ditas por eles em nossa boca, e assim analisarmos buscando sempre nossa reeducação e aperfeiçoamento moral.
Devido nossas transgressões, imprudências e irreflexões no trato com a Lei de Deus nas experiências palingenésicas, estamos quase sempre “encarcerados” em situações difíceis que exigem muito de nós em matéria de paciência, compreensão e discernimento espiritual. Quando isto não acontece sofremos, o que pode se dar tanto fisicamente, como emocionalmente, psiquicamente ou mesmo espiritualmente.
A qualidade de nossa fé será determinante para dimensionar estes sofrimentos. Mesmo se já adiantados nos estudos das matérias espirituais, se ainda vacilantes na fé, a pergunta Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro? Em se tratando de nós, espíritos devedores e ainda atrasados na evolução, soa como dúvida.
É muito comum para espíritos vacilantes como nós mesmos, dizer que acredita em Deus, em Jesus, nos Espíritos superiores, mas vivermos uma vida como se eles não existissem. Aí, quando a dor-correção nos visita, duvidamos e mais uma vez perguntamos: Es tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro? Como se a situação pudesse ser resolvida por Ele sem a nossa participação.
Neste passo temos que lembrar da frase de Agostinho de Hipona: “O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”
Ou seja, Cristo já veio e deve ser indutor em nós de uma fé que nos transforma num ser melhor, não devemos ficar aguardando-o como se ele fosse nos salvar sem depender de nós, bem-aventurado [disse Ele] é aquele que não se escandalizar em mim (Mateus, 11: 6).
Lembremos das palavras de Simeão: “Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição” (Lucas, 2: 34)
A Bíblia de Jerusalém em nota a este versículo de Lucas nos diz que “para Jesus, a missão de luz no mundo pagão será acompanhada de hostilidade e perseguições por parte de seu próprio povo”
Que não sejamos nós, o “povo do Consolador Prometido” estes que se escandalizam dele pela incredulidade em seus ensinamentos.
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