Este é um Salmo mais que especial. É um dos mais citados e utilizados pela tradição cristã. Os relatos da paixão de Cristo se inspiram nele.
Esteve como oração na boca do próprio Jesus. É sem dúvida um Salmo de profecia messiânica; e mais, ao nos dizer da humanidade do Messias fala dEle como modelo. Neste passo nos identificamos e passamos à condição do Orante,
Devido a especialidade do Salmo, iremos comentá-lo mais detalhadamente.
Podemos ver nele dois lances distintos
- Súplica: Versículos de 1 a 22
- Louvor e agradecimentos futuros como esperança de libertação: Versículos 23 a 31
Importa-nos ainda destacar a urgência do salmista devido ao seu grande sofrimento, e sua atitude nobre: não pede punição para aqueles que o fazem sofrer e nem relaciona o sofrimento a nenhuma culpa ou transgressão que tenha cometido.
Neste ponto temos importante aprendizado principalmente para nós espíritas: nem todo sofrimento é expiação pode ser apenas uma prova aperfeiçoando o Espírito.
Talvez esteja aqui a compreensão do sofrimento de Jó. Não se trata de retribuição, nem mesmo de causa e efeito, talvez oportunidade de crescimento espiritual.
O primeiro versículo foi repetido como oração por Jesus:
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste (Salmo 22:1)
É preciso ver as diferenças dele na boca de Jesus e na nossa quando oramos.
Jesus é o Guia e o Modelo para toda humanidade (cf. O Livro dos Espíritos, Questão 625)
Ele não precisava passar por nada que passou, se assim o fez, foi por amor e para ensinar-nos o "caminho" para Deus. Pode até mesmo se identificar com o "caminho” por ter feito ele com excelência; assim, adquiriu autoridade.
Desta forma ao orar este verso participando de nossa humanidade Ele carinhosamente nos ensina dizendo que vamos passar por momentos de tão grande dificuldade que sentiremos como se Deus tivesse nos abandonado. Estes momentos são aqueles em que ninguém pode nos ajudar, temos de passá-los em solidão.
Existem circunstâncias em nossa vida que somos só nós quem temos que resolver. Neste instante temos não o abandono de Deus, mas Ele fica oculto, os amigos espirituais se afastam não por negligência, mas para nos deixar testemunhar. É este instante que está em foco no verso, é uma realidade pela qual temos de passar; em Jesus é ensinamento, é Ele educando nosso Espírito imortal.
Ensinando-nos
que em nossa boca a oração não deve ser protesto, mas clamor confiante.
O Segundo versículo quebra a sequência de outros Salmos. Normalmente
aquele que ora clama e o Senhor responde.
Aqui Ele não responde, nem à noite o salmista tem descanso.
Como comentamos trata-se daquele momento provacional por qual todos passamos, momento de grande significação, em que o Criador e os Espíritos Consoladores nos observam de "longe".
Muitas vezes, neste instante, buscamos o conselho de um amigo e não o encontramos, outro, e também não; buscamos nos socorrer com uma página de um livro edificante e a mensagem sorteada é completamente distante da nossa necessidade. Faz parte, nas horas definidoras de nossa evolução temos de decidir a sós, escolher o caminho e nos mantermos nele, é a opção de cada um.
"Deus é Santo", habita em nossos louvores (Vers. 3), que são nossas atitudes em obediência a Ele. Só assim, em santidade, que é a realização do projeto Dele para nossa vida, habitaremos em Seu santuário e Ele em nós, em nosso coração.
Nossos pais (Vers. 4) representam aqueles que nos antecederam na doutrina do Cristo. Podemos vê-los na revelação primeira do Antigo Testamento, na segunda do Novo Testamento, ou na terceira, a dos Espíritos consoladores.
No quarto e quintos versículos a expressão de confiança se repete por três vezes. Já dissemos alhures que no contexto do Antigo Testamento confiar é testemunhar Deus e entregar a Ele a vida e as atitudes.
No Novo Testamento esta confiança e fidelidade é tratada como "fé", que é o ato de estar comprometido com o amor de Cristo.
Nossos pais serviram de exemplo e foram salvos, e nós, que exemplo estamos deixando para os nossos filhos?
O vocábulo "verme" (Vers. 6) é usado outras vezes na Escritura em outros contextos, aqui ele tem uma conotação social.
Sabemos que somos quase nada diante de nossa destinação futura, porém, quando assumimos uma vida buscando espiritualidade, somos vistos por aqueles que nos rodeiam como um "bichinho esquisito", eles ainda presos à retaguarda não compreendem a transformação que está operando em nós, não somos mais vistos como "homens" comuns.
(continuará na próxima postagem)
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