quinta-feira, junho 02, 2022

Haja Luz - O Dia Primeiro

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3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 5 E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.


E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

O Princípio espiritual já vinha sendo trabalhado por milênios para que pudesse absorver a luz através da vida. A luz começa, assim, a refletir sobre a organização planetária. Os Co-Criadores estão trabalhando no andamento da evolução…

E disse Deus; este dizer de Deus representa a Sua Vontade Soberana, é o que conhecemos como sendo a Lei de Deus.

É preciso compreender esta vontade superior em cada evento universal e a ela ajustar-se. Deus é Perfeição e Misericórdia, Sua Vontade é assim a realização de tudo o que Ele É. Assim, se estivermos realizando-a nos manteremos no estado de equilíbrio, de paz, de saúde e felicidade.

A dor, a angústia, ou qualquer estado de negatividade é justamente o rompimento com este estado pleno de harmonia.

Mais à frente vamos estudar sobre o surgimento do mal e da desarmonia através do símbolo da "queda do Espírito". Maria, a mãe de Jesus, que representa o elemento gerador da volta do Espírito a este estado de Ordem assim se expressou:

Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra1.

Esta é a verdadeira senha para a felicidade, para o estado integral de realização de si mesmo. Só a partir deste estado de obediência consciente nos faremos virgens, imaculados, propiciando assim que o "Filho do homem" nasça em nós.

Haja Luz. Podemos dizer que este é, pelo menos cronologicamente, o primeiro mandamento de Deus. Nele está contido o amor a Deus e ao próximo. Trata-se da realização de toda positividade do plano operacional do Criador.

Fora do tempo, quando da criação primária, representava a manutenção da Ordem e do Equilíbrio, o viver na Harmonia Celestial.

Com o surgimento da matéria, do tempo e do espaço, há um desmoronamento de dimensões, de perda de valores espirituais que se condensam surgindo uma nova realidade.

A consciência é esquecida…2 perde-se a autonomia, passa a vigorar o determinismo das faixas iniciais da evolução.

A partir daí surge a necessidade evolutiva que nada mais é do que realização de potenciais latentes, reconstrução da Ordem original, volta ao Bem através da espiritualização. Sobe-se ganhando consciência, diminui o império do determinismo na medida do progresso do Ser, surge o livre arbítrio nas faixas hominais…

Quando Jesus, o Revelador de Deus, diz: brilhe a vossa luz3, ele sintetiza de forma magistral todo este processo evolutivo. É vossa luz porque é a de cada um, que se apagou, e que resplandecerá na realização da Lei de Deus na medida da conscientização individual através das boas obras que glorificarão o Pai pela consumação de Sua Vontade.

Tudo isso é obra dos milênios, trata-se da realização do mandamento, é o "e houve luz". É passado, porque no Campo Mental do Criador já aconteceu, para nós representa o futuro, a reconstrução do Elo Perdido com Ele.

E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.

E viu Deus que era boa a luz; passa-se o tempo, neste passo já estamos a uma boa distância em termos de tempo do segundo versículo.

O Eclesiástico nos lembra:

Quando no princípio o Senhor criou as suas obras, assim que foram feitas atribuiu um lugar a cada uma.

Ordenou sempre a sua atividade e suas tarefas pelas gerações.

Elas não sentem fome nem cansaço e não abandonam suas atividades.

Nenhuma delas jamais se choca com a outra e jamais desobedecem à sua palavra.

Depois disso o Senhor olhou para a Terra e a encheu com os seus bens4

Não conseguimos alcançar toda grandeza da Criação Universal:

Tudo isso é o exterior das suas obras, e ouvimos apenas um suave eco. Quem compreenderá o estrondo do seu poder?5

Viu Deus que era boa a luz; a luz precisava de passar por um processo de adequação.

Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.6

A expressão viu Deus que era boa a luz, ou viu Deus que era bom, repete-se várias vezes no texto, designa também o plano de Qualidade Total na criação divina. Como também em Gênesis, 1: 31:

E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom…

Podemos aqui pensar em contradição já que a luz vinda de Deus só pode ser boa; entretanto, é bom compreendermos que estamos no relativo onde esta "boa" luz pode ser transformada em nós em trevas:

Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!7

Como? Se recebermos algo do Alto, e não o aplicarmos no desenvolvimento do Bem, se não damos um fim útil ao que detemos por extensão de misericórdia, estagnamos a luz, colocamos sobre ela algo que a impede de manifestar-se, a luz que há em ti são trevas…

e fez Deus separação entre a luz e as trevas. Luz e trevas são duas forças que estão presentes em toda realidade universal, são forças que mantêm o equilíbrio do universo em sua linha dinâmica.

É preciso caminhar com tranquilidade e segurança. Se isso compreendermos vamos desvinculando-nos das pressões, das crendices, pois luz e trevas fazem parte do andamento natural do universo, temos que realizar no âmbito do possível, sem, no entanto, deixar de usar de misericórdia.

Não podemos, deste modo, termos a pretensão de acabar com a treva, é preciso trabalhar com o que chega até nós, não vamos resolver todos os problemas do mundo, mas estaremos contribuindo se agirmos pelo Bem na faixa que nos diz respeito e com o que vem até nós.

Na criação original temos a unidade existente dentro do processo natural, aqui acontecem separações vibracionais, separações de matérias diferenciadas, plano físico e plano espiritual, componente físico e psíquico.

O despertar espiritual acontece com a luta entre as duas partes. É o conflito produzindo progresso.

Separou a luz das trevas havia a necessidade da busca.

A partir da luz toma-se consciência da treva.

Quando o conhecimento é desperto em nós passamos a visualizar a treva existente na fase anterior, que até então não era percebida. Só a partir deste momento separamos a luz das trevas, é a tomada de consciência.

Na ignorância estamos em treva, porém, devido à inconsciência não percebemos esta treva. Pelo processo de iluminação, isto é, quando surge a luz passamos a visualizar a treva em que estamos imersos. Percebemos a necessidade da busca da autoiluminação, passamos a selecionar, não mais aceitamos o que antes era para nós natural e até fonte de prazer.

Este é o momento em que o Deus imanente ou Cristo interior separa a luz das trevas, é o fechamento daquele ciclo, "dia primeiro". Houve uma "tarde", amadurecimento relativo à fase anterior, e uma manhã, uma nova proposta que se inicia.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Já existe aqui um amadurecimento onde se pode nomear as coisas. Luz ganha um nome, dia; treva, noite. Os dois se alternam como num processo de gestação do próprio amadurecimento. É nesse fluxo e refluxo que o Ser evolui e se autoilumina.

A luz é o momento em que recebemos do Alto, para aplicarmos em baixo [trevas] que é o campo operacional. Dinamizando nas trevas alcançamos mais condições de receber mais luz. Ou seja, a luz é constante e sempre presente, quando nos capacitamos e fazemos com ela sintonia a refletimos melhor. [é como quando liga-se o interruptor]

Estamos em um ponto onde a Unidade inicial se decompôs surgindo a dualidade. A partir daí temos: luz e treva, bem e mal, dia e noite, amor e ódio; entretanto, não foi assim desde o princípio.8

Notemos que este é o único momento desta narrativa inicial onde não é dito "e viu Deus que era bom", talvez por ter havido o rompimento com a Unidade, rompimento este que é temporário, passará, tempo e espaço fazem parte de um instante transitório, só a eternidade prevalecerá.

Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.9

Podemos concluir então, que os fatores positivos são absolutos, os negativos relativos, transitórios; estes últimos serão um dia absorvidos pelos primeiros, são materiais didáticos necessários ao processo evolutivo, quando perdem a finalidade deixam de existir.

É preciso compreender que a "luz" sempre existiu, há luz inclusive na intimidade da "treva". Nesta é como se houvesse um "congelamento" daquela. Ela está lá, quietinha, aguardando que o calor das emoções, que a luta gerada entre os pólos da dualidade a descongelem, isto é, criem campo propício para que ela se manifeste.

Em nosso Universo há a necessidade da treva para que a luz se manifeste, não conseguimos perceber esta se não houver aquela, mas isso acontece porque este é um Universo de imperfeição, gerado justamente por esta separação. Na Criação original, na Perfeição do início, no mundo plenamente espiritual o qual só podemos conceber pelo pensamento10, há manifestação de luz sem treva, é o Reino dos Céus de que falou Jesus. Viemos dele e para ele caminhamos.

E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. A manhã significa o momento de nossas concepções, é o estado inicial do entendimento.

Aprendemos com nosso querido e saudoso Honório Abreu que "no plano das percepções temos tomado conhecimento, identificado mecanismos, sistematizado, coordenado, encaminhado no processo evolucional que tange nosso campo de dedução após a manhã, nunca na manhã."

Assim, tomamos o conhecimento sempre dos fatos à tarde, no próprio contexto observador do nosso despertar, nunca somos causa sempre efeito, somos preparados, amadurecidos, para depois tomarmos conhecimento. E no contexto geral somos observadores, só tomamos conhecimento do que já existe. Em relação ao início, à gênese, na realidade nós somos espectadores. Só temos a percepção dos eventos após estes terem acontecido, mesmo que seja fração de segundos depois. Dentro desta ótica somos sempre co-criadores, só Deus é o Creador11 de todas as coisas.

Assim, compreendemos o porquê de na narrativa bíblica a tarde vir antes da manhã. É que existe sempre algo anterior àquilo que percebemos como princípio. O dia bíblico começa com a tarde, mas não podemos deixar de entender que sempre existiu uma outra manhã anterior, sempre haverá uma manhã, um início que não conseguimos alcançar. É o que compreendemos do que não podemos compreender: a eternidade.


1 Lucas, 1: 38

2 KARDEC, 1980, questão 621 item a)

3 Mateus, 5: 16

4 Eclesiástico, 16: 24 a 29

5 Jó, 26: 14

6 (KARDEC, 1980) questão 628

7 Mateus, 6: 23

8 Mateus, 19: 8

9 Marcos, 13: 31

10 Cf. (KARDEC, 1980), questão 26

11 Palavra muito usada por Huberto Rohden em se referindo a Deus. Segundo este respeitado escritor e filósofo "Crear" é a manifestação da essência em forma de existência, enquanto criar é a transição de uma existência para outra.



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