Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
Mas todas essas coisas são o princípio das dores.
Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome.
Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão.
E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino … - Nação é um agrupamento humano, mais ou menos numeroso, cujos membros, geralmente fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos ou lingüísticos. Reino é uma monarquia governada por um rei, regente, rainha etc.[1]
Trazendo para o campo íntimo, podemos colocar nação como representando nossos sentimentos mais sedimentados, e reino como os valores passageiros que cultivamos. Os reinos são normalmente mais suscetíveis de mudança, basta cair um rei para que, muitas vezes a monarquia fique comprometida, entretanto a nação continua sendo a mesma.
Neste momento predito pelo Cristo como final de ciclo, analisando o campo íntimo, vamos observar - mesmo entre aqueles sentimentos que já cultivamos a mais tempo e que julgamos estarem em um bom patamar em termos morais -, uma tendência a um conflito, como dissemos anteriormente, pois a evolução é infinita, e a cada nova conquista, nossa consciência realiza uma aferição própria selecionando o que devemos continuar cultivando, e o que devemos mudar. Nestes dias haverá guerras, rumores de guerras, lutas entre nações e reinos no plano exterior, mas tudo isso como conseqüência destas lutas interiores; aliás, são estas que importam serem analisadas, pois resolvendo as inquietudes íntimas, tudo o mais será devidamente administrado e compreendido. Esta mensagem é a mesma que está contida no dizer do Mestre:
Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.[2]
A espada aqui dizendo-nos não do instrumento cortante que fere o próximo, mas daquele que nos leva à luta contra nossas próprias imperfeições.
…e haverá fomes, e pestes…– Fome significa carência de alimento, miséria, falta do necessário; peste é doença contagiosa, epidemia. Ambas significam para o Espírito momentos de grandes dificuldades, de dores, de testes sem os quais ele não pode passar de uma etapa evolutiva a outra. Por isto são características destes dias de transição.
Tanto a fome, quanto a peste têm sua gênese na imperfeição moral, pois se não houvesse o desequilíbrio gerado por ela, não haveria a necessidade do resgate e dos ajustes provocados pelos momentos de calamidades. É a ira no dia da ira de que nos fala Paulo:
Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus[3]
Ou de outra forma, a Lei de Deus nos dando a oportunidade do encontro com as nossas próprias obras.
Nestes dias de grandes aferições reconheceremos que o grande alimento de que temos necessidade é aquele dito pelo Mestre no capítulo 4 do Evangelho de João:
Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra[4].
É deste que temos grande fome, e por causa disto estamos sujeitos a pestes de todas as espécies.
…e terremotos, em vários lugares. – Se o tremor de terra no plano exterior é algo que nos atormenta pelas consequências advindas dele, no plano íntimo é ainda pior. A falta de segurança gerada pelo afastamento do Ser das Leis Divinas é algo que aterroriza o Espírito onde quer que ele esteja, em vários lugares… Pois o Deus presente quer manifestar-se, e impossibilitado pelas ações contrárias ao bem, gera na consciência uma angústia só superada, quando restabelecida a paz do dever cumprido, ou da volta aos caminhos do Senhor.
…mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu (…) este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.[5]
Mas todas essas coisas são o princípio das dores.
Mas todas essas coisas… - Todas essas coisas são as situações enfrentadas pela criatura no plano de sua evolução, haverão de acontecer estas narradas por Jesus, e muitas outras; só aquele que passa pela situação é que sabe a dor e a alegria de ser o que é.
…são o princípio das dores. – Segundo o Professor Pastorino a tradução correta é o princípio das dores do parto[6], não simplesmente dores. Segundo ele, o termo grego arché ôdinôn exprime uma dor que tem, como resultado, um evento feliz, um avanço, uma criação física ou mental.
Desta forma, a interpretação que estamos fazendo, está coerente com o dizer de Jesus; ou seja, as lutas necessárias que marcam este momento de transição, sejam no plano íntimo ou exterior, são motivos de alegria, pois, como a dor do parto, é prenúncio de um nascimento; do novo homem em bases renovadas por uma moral superior.
Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome.
Então... - Como consequência. A transformação de uns, gera, por inveja ou incompreensão, a insatisfação de outros.
…vos hão de entregar para serdes atormentados… - O Ser menos evoluído não consegue por sua natureza, e pelo seu grau de entendimento, saber o que move aquele que é mais espiritualizado a agir, buscando valores, que para ele são incompreensíveis; desta forma, não entendendo condena. Julga que, aquele que age diferente de si, e também da maioria, é um alienado, e chega a taxá-lo até mesmo de deficiente mental. E quando este, mais espiritualizado, consegue atrair a atenção de outros, fazendo-os ver a realidade da vida, ele sente-se ameaçado, e como, por ter lutado pelo poder transitório, o conseguiu, usa-o para fazer sofrer aquele que lhe opõe; atormenta-o, jogando contra ele toda a multidão, que por achar-se também em condição inferior, do mesmo modo não o entende, fazendo-o desta forma, passar por momentos de dor e sofrimento.
…e matar-vos-ão… - Buscarão eliminá-lo. Como para eles só o que é físico importa, tentarão de toda forma sacrificá-lo fisicamente. Assim agindo, pensam ficar livre da incômoda posição; não sabem que a Lei é justiça, mais cedo ou mais tarde estarão defronte da mesma necessidade, só que aumentada; e também desconhecem, que extirpando o físico, fortalecem o espiritual; o que vai por vias indevidas, volta ainda mais soberano.
…e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome. – Aquele que age visando as questões espirituais – por causa do meu nome -, pratica a Sabedoria, opõe-se aos valores do mundo. Assim, é por ele odiado, isto é, por todas as gentes. É que agir em nome do Cristo, é viver como ele viveu, ou seja, amando acima de todos os limites, não valorizando em nada, o que é transitório. Em um tempo que só a riqueza dava poder, Ele disse:
Bem-aventurados os pobres…
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome…
Bem-aventurados vós, que agora chorais…[7]
Se hoje, com toda a evolução das leis sociais, sair em defesa dos menos favorecidos gera problemas, imagina o que não aconteceu há dois mil anos?
Por isso Ele foi taxativo:
Sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome.
E isto aconteceu antes, aconteceu àquele tempo, e acontece hoje, nestes dias em que chamamos, final dos tempos.
Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão.
Nesse tempo…- É quando estas coisas acontecerem, é um tempo demarcado, exato: nesse.
Se no plano exterior elas aconteceram numa determinada época, e ainda acontecem, no plano íntimo vige em cada um de acordo com seu momento evolucional. Porém, serão sempre marcadas por dificuldades que visam, não simplesmente trazer sofrimento, mas testar cada um despertando a potência espiritual latente. É o aguilhão promovendo o progresso em bases espirituais.
…muitos serão escandalizados… - Muitos é indefinido, não se sabe quantos, mas não serão poucos, muitos é em grande número. Serão escandalizados, isto é, ofendidos, melindrados, ou ainda, ridicularizados. É que nestes momentos, tudo vem à tona:
Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.[8]
Serão escandalizados porque têm ainda algo a resgatar. Para que possamos passar de uma fase a outra, é preciso quitar o que ficou para trás; só nos é dado mais crédito, se liquidarmos com as antigas dívidas. Este é o ensinamento simbólico da virgem que deu à luz o Cristo; para que o Filho do Homem possa nascer em nós, é preciso nos fazer virgens, isto é, sem pecado.
…e trair-se-ão uns aos outros… - A traição é uma deslealdade praticada onde existe confiança, é uma quebra de contrato, um débito gerado de difícil quitação. Muitas vezes por um momento de invigilância, ou por um interesse obsessivo, geramos dores que serão resgatadas somente no desenvolver dos séculos, às custas de sofrimentos ainda maiores.
Como o instante – este predito por Jesus - é de definição, muitas amizades também serão testadas. Será o momento em que as falsidades aparecerão, e que muitos, para não perderem sua posição privilegiada no "mundo das coisas", lutarão contra seus próprios aliados, visando salvar o que julga ser seu. Assim, trair-se-ão uns aos outros, lutarão entre si; o pai estará dividido contra o filho, e o filho, contra o pai, a mãe, contra a filha, e a filha, contra a mãe, a sogra, contra sua nora, e a nora, contra sua sogra.[9]
…e uns aos outros se aborrecerão. – Não será um aborrecimento unilateral, pois os interesses sendo contrários todos se sentirão incomodados. Do mesmo modo que o que está em atraso importuna o que vai adiante, este também perturba aquele.
Daí a necessidade da seleção, dos olhos de ver, pois todos os nossos sofrimentos foram gerados por nosso próprio proceder, e o aborrecimento que julgamos injusto, se analisarmos bem, tem sua razão de ser. O que é bom para nós hoje, terá de ser também amanhã, caso contrário, é melhor buscarmos outra situação.
E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.
E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. – Mais uma vez Jesus nos convida à vigilância. Em versículo anterior, ele já nos dissera que muitos viriam em Seu nome dizendo ser o próprio Cristo, e que estes enganariam a muitos. Aqui ele nos alerta contra os falsos profetas, o que parece ser a mesma coisa, não é. No primeiro caso, aqueles que assim agem, demonstram uma certa imaturidade, pois tentam se passar pelo próprio Cristo, sendo desta forma mais fácil reconhecermos o engano, mas mesmo assim Jesus disse que enganariam a muitos. Aqui, a questão é mais sutil, estes se dizem profetas, podem na realidade fazer-se de mensageiros do Senhor, dizendo que pregam a mesma doutrina, tentando deste modo arrebanhar as massas. Só que Jesus diz ser estes, falsos profetas, e que também enganarão a muitos. Deste modo, tenhamos cautela, antes de nos vincularmos a qualquer pessoa, seita, ou nova filosofia; lembremos que importa-nos analisar não só as palavras daqueles que se dizem enviados, mas principalmente seus atos. Se em qualquer atitude contrariarem a Mensagem do Monte, ou os virmos agindo em interesse próprio, contra o bem geral, lembremos do alerta do Mestre:
Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos.[10]
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará.
E, por se multiplicar a iniquidade… - Iniquidade é uma ação contrária à equidade, ou à justiça.
Mesmo antes de Jesus, já nos ensinava o belo livro Eclesiástico:
Quando um homem é feliz, mesmo aquele que o odeia é seu amigo; na sua adversidade até o amigo desaparece.[11]
Nos momentos de dificuldade que marcam estes "finais de tempos", a grande maioria das criaturas, por ainda não estarem familiarizadas com a vivência evangélica, tendem a defender somente os próprios interesses, desta forma, quando se veem privados de algo que valorizam, ou em alguma situação embaraçosa, esquecem as noções de justiça, e agem buscando impor-se pela força ou pelo poder de que dispõem. Tal atitude faz crescer a maldade, principalmente porque aqueles que detêm a autoridade, e que deveriam dar o exemplo de procedimento moral, são os primeiros a agirem de forma inequívoca, fazendo assim, como afirma o próprio Mestre, multiplicar a iniqüidade.
Assim, temos hoje na humanidade:
A corrupção dominando corações tanto em cima, quanto em baixo;
A má distribuição de renda, fruto do amor não praticado, alimentando a violência e cerceando o processo educativo;
A pobreza e a fome caracterizando o nosso orbe, como ainda bastante atrasado.
…o amor de muitos se esfriará. – Tais acontecimentos criarão, entre aqueles que ainda não estão amadurecidos, ou entre aqueles que se iniciam no caminho do bem, um mal-estar que os levará a, em nome da justiça – que ainda não é a verdadeira – a agirem do mesmo modo; ou seja, a esquecerem o amor evangélico que ensina que em qualquer situação deve-se esquecer o mal e fazer somente o bem.
Por isso, Jesus afirma que o amor de muitos se esfriará, mas é preciso que levemos em conta, que tal só acontece com aqueles que ainda não possuem o amor verdadeiro que tudo releva.
A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho…
A caridade jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá.[12]
Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.
Mas… – A conjunção, mas, aqui expressa uma oposição ao que estava sendo dito. Haverá um esfriamento do amor de muitos, mas…; isto é, todavia…
Mostrando-nos, desta forma, que sempre há uma maneira de nos comportarmos positivamente; que se seguirmos o Evangelho, sempre nos daremos bem. Aliás, o que distingue o seguidor do Cristo das outras criaturas, é justamente o amor que ele manifesta mesmo quando atacado, ou, quando a situação não lhe é favorável de modo algum.
…aquele…– Não será qualquer um, mas aquele que agir do modo proposto.
…a cada um segundo as suas obras.[13] É a particularidade do processo evolutivo.
…que perseverar até ao fim será salvo. – Perseverar é manter-se firme e constante, persistir. Jesus aqui se refere àqueles que, mesmo sofrendo a iniqüidade, mantêm-se no Bem, na vivência evangélica. É imperioso perseverar, porém nas boas atitudes.
Persistir, prosseguir, até quando? Até quando devo ser injustiçado e me manter equilibrado?
Jesus é taxativo: até ao fim; isto é, até vencermos a dificuldade que ainda impera em nossa intimidade. Não podemos esquecer, que se algo ainda nos incomoda, se ainda nos sentimos injustiçados, é porque, de uma forma ou de outra ainda nos achamos vinculados ao problema. Quando vencemos a situação, ela não mais nos perturba.
Será salvo, isto é, se libertará. Será salvo, porque superou a dificuldade, porque trocou o mal pelo bem, porque mudando de atitude, fez-se merecedor de algo melhor.
Não há magia no desenvolvimento da vida, muito menos imparcialidade ou protecionismo, se alguém consegue algo, é porque fez jus; se, se libertou é porque venceu a etapa proposta.
A partir desta compreensão, Jesus deixa de ser o salvador passando a ser o que indica o caminho, por já tê-lo percorrido; na realidade, será salvo aquele que perseverar até o fim, ou seja, a própria criatura, cristianizando-se, é que se salva.
Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.[14]
[1] Dicionário Aurélio.
[2] Mateus, 10: 34
[3] Romanos, 2: 5
[4] João, 4: 34
[5] Lucas, 3: 16
[6] Sabedoria do Evangelho, Vol. 7, pág. 95
[7] Lucas, 6: 20 e 21
[8] Lucas, 12:2
[9] Lucas, 12:53
[10] Marcos, 13: 22
[11] Eclesiástico, 12: 9
[12] I Coríntios, 13: 4 e 8
[13] Mateus, 16: 27
[14] Romanos, 12: 21
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