#Pública
agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos. (hebreus, 1: 2)
…agora, nestes dias que são os últimos; a ideia aqui é a de "plenitude dos tempos", de "final dos tempos", "final de ciclo".
Segundo Champlin1 os rabinos dividiam o tempo em dois grandes períodos: a época presente e a era eterna ou vindoura.
A época presente incluía todo o tempo até a inauguração da era eterna que se daria quando houvesse o cumprimento dos propósitos divinos. O período anterior à vinda do Messias se dava na era presente, Sua vinda marcaria estes últimos dias; seria a preparação para o "mundo vindouro", que seria o segundo período referido.
Também nós, de modo individual podemos dividir os tempos em dois grandes períodos: o anterior ao Cristo em nossa vida, e o período posterior em que já O interiorizamos e O exteriorizamos através de nossas atitudes renovadas.
Portanto, estes dias que são os últimos, não representam o fim do mundo, mas o término de uma era de ignorância, de trevas em nossa vida, uma era em que éramos dirigidos pelos valores do mundo sem a mínima preocupação com os fatores espirituais.
Acontece nestes dias que são os últimos, ou final de tempos, um período de transição, onde o Cristo vem e fala aos nossos corações; nós O reconhecemos, desejamos tê-Lo como guia, mas as nossas tendências negativas nos prendem à retaguarda. Neste momento é preciso ter decisão e fazer a opção correta, nos desvincularmos do passado e adotar o novo paradigma mental que é o do Evangelho. Só assim nos capacitaremos para deixar o mundo de sombras e adentrarmos na era vindoura que é de paz, harmonia, e realizações no Bem.
…falou-nos por meio do Filho; este é o ápice deste primeiro movimento da epístola.
No verso anterior o autor lembrou que por muitas vezes e de muitas formas Deus já se revelou à Humanidade. Neste ele nos mostra que desta vez Ele revela por meio do Filho.
Aqui faz-se importante fazer algumas considerações. Na cultura judaica "Filho de Deus" quer dizer um ser Divino, daí a confusão que fizeram com Jesus como se ele fosse Deus. Toda teologia cristã anterior ao Espiritismo comete este erro por falta de maiores esclarecimentos. A Doutrina codificada por Kardec veio para corrigir algumas distorções entre as quais se acha esta.
Jesus Cristo é sim um Ser diferente, acha-se em nível evolucional bem distante da Humanidade, porém não é Deus. É um Espírito Puro, um Messias Divino; mas trata-se de um Espírito Criado e que se fez Puro através das Eras em Mundos que já se perderam na poeira dos Sóis.
Assim, a natureza da revelação que vem por meio do Filho que é um Cristo, é diferente das anteriores.
Ela não existe só nas palavras que Ele proferiu e que os evangelistas anotaram, muitos dos enviados anteriores falaram também divinamente. Por Ele foi diferente, porque a Revelação estava Nele, era parte integrante de Sua pessoa; Ele é Um com o Pai porque se fez assim através de Seu aperfeiçoamento. Ele realizou a evolução possível de se realizar em Mundos materiais, mais do que isso não conseguimos dizer e nem compreender. É esta evolução que lhe dava autoridade para fazer o que fez. Quando ele falou que nós também poderíamos fazer tudo o que Ele fez, e fazer mais, nos revelou uma grande Lei que é a de evolução do Espírito, porém a distância para que estes acontecimentos se dessem era a de muitas eras, de milênios dentro de nossa dimensão tempo.
Assim compreendemos que a revelação de Jesus é uma revelação de Filho, que é Aquele que se fez Filho pela total identificação com os Propósitos do Pai, e uma de Suas revelações é exatamente esta que comentamos, a de que por meio Dele, Cristo, também poderíamos compartilhar desta revelação tornando-nos participantes do Reino e integrantes da Unidade Divina.
Deste modo aprendemos que a Revelação Cristã vai muito além dos documentos escritos que advieram da passagem de Jesus por entre nós e que outras podem ainda vir nos auxiliando a compreender todo este mecanismo divino de redenção das almas, porém com um aparte: todas que vierem depois, se vierem, como o Espiritismo veio como terceira revelação, terão de ser em plena harmonia com Ele, o Filho de Deus; virão também por meio Dele, como o Espiritismo, que é uma revelação orientada em planos mais altos de Espiritualidade pelo Espírito de Verdade que em última instância é o próprio Jesus.
…a quem constituiu herdeiro de todas as coisas; por herdeiro devemos entender aquele que recebe a parte designada a ele por direito de filiação.
Neste passo é tratado de uma filiação divina, herdeiro de todas as coisas, entretanto, e por isso mesmo, devemos ver uma herança espiritual da qual Jesus só herdou por ter chegado à condição evolutiva a que chegou podendo assim cumprir a missão que lhe foi proposta pelo Pai.
Como herdeiro, e no caso de nosso planeta, herdeiro único, neste sentido de ser aquele que atingiu a condição de Cristo, Jesus tem procuração do Pai para em nome Dele atuar, e procuração com amplos poderes.
É neste sentido que devemos entender esta palavra herdeiro o que dá a Ele uma condição ativa como Espírito Co-criador, e uma condição de existência diferente das demais criaturas, por conquista conforme já comentamos.
Com a Revelação dos Espíritos aprendemos que cada mundo do Universo, cada planeta, cada Sol, cada Galáxia, tem o Seu Cristo, que é o Espírito responsável pela Governança Espiritual deste mundo. Assim quando é dito herdeiro de todas as coisas é em relação a este mundo que este Espírito como Construtor recebeu do Pai com a prerrogativa de encaminhá-lo à perfeição.
…e pelo qual fez os séculos. "séculos" é uma tradução do grego aion que pode significar também "geração" dando uma ideia de tempo, mas também "mundos" dando ideia de espaço.
A teologia cristã aqui viu o Cristo como Criador mais uma vez confundindo-o com Deus. O Espiritismo com suas revelações nos posiciona melhor diante dos detalhes em que podemos distinguir Deus de Seu Cristo.
Deus é o Criador, só ele tem o poder de transformar a essência em existência, por isso o filósofo Huberto Rohden o nominou Creador.
Jesus não é Criador, mas Construtor, o que nós espíritas chamamos de Co-criador num plano maior conforme a definição do Espírito André Luiz2.
Jesus não Cria, ele faz, constrói a partir de substâncias já Criadas por Deus. Jesus opera diretamente na matéria o que Deus não faz conforme nos informam os Espíritos Codificadores3.
Estes detalhes têm grande importância. Deus Cria antes do "tempo". Com a formação da matéria surgem as dimensões "tempo" e "espaço", é aí que os Espíritos plenamente identificados com o Criador, os Cristos, começam operar na matéria cósmica criando os mundos. Por isto o autor bíblico inspirado pelo Espírito de Verdade diz: pelo qual fez os séculos; observemos que o verbo é "fazer" e não "criar", e séculos justamente significando as dimensões "tempo" e "espaço" que só surgem a partir da existência dos mundos materiais.
1 CHAMPLIN, Russell N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Ed. Candeia, 1995. Vol. 5
2 Cf. XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, Cap. 1
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 536 b)
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