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A autoria do quarto Evangelho não é uma questão unânime entre os estudiosos que se dedicaram a analisar a sua origem.
A tradição mais antiga atribui a João, o filho de Zebedeu e apóstolo de Jesus, a autoria do mesmo.
Todavia, alguns analistas afirmam ser o autor verdadeiro certo João, o Presbítero. Há, ainda, críticos que nos falam de uma escola joanina; seria, para estes, o quarto Evangelho, uma personificação de um grupo do cristianismo primitivo. Um cristianismo helenístico em oposição ao judeu-ristianismo. Esta escola teria compilado os ensinamentos originais deixados pelo próprio discípulo e dado a eles o formato que hoje conhecemos.
Entretanto, todas essas teorias têm várias objeções e o que comumente se aceita é a autoria do apóstolo, irmão de Tiago e filho de Zebedeu.
É fato concreto que, desde a primeira metade do século II, muitos autores conheceram e autenticaram este Evangelho por meio de sua utilização. Entre eles, podemos destacar Inácio de Antioquia, Papias e Justino.
No fim deste mesmo século, Irineu é taxativo:
"Em seguida, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que repousou sobre o seu peito, publicou também um
evangelho, durante a sua estada em Éfeso" (Adv. Haer. III, 1,1).
Para Irineu, que era discípulo de Policarpo, "que falava de suas relações com João e os outros discípulos do Senhor..." (Eusébio, Hist. eccl. V, 20,6-8), trata-se do filho de Zebedeu, um dos Doze.
Este testemunho é confirmado ainda pelo Cânon Muratori, Polícrates de Éfeso, Clemente de Alexandria, Tertuliano e Orígenes, o que conjuntamente com as outras afirmativas dão à tradição antiga certa autoridade sobre as demais teorias.
O local onde o apóstolo escreveu sua obra foi, de acordo com a opinião que consta das tradições mais antigas do cristianismo, a Ásia Menor; segundo Irineu, a cidade de Éfeso.
Há uma opinião de que poderia ser Antioquia a cidade onde teria sido escrito, e há ainda uma conciliação entre as hipóteses, ou seja, que o Evangelho teria sido escrito durante um longo período
que teria passado nessas duas cidades.
A descoberta do papiro egípcio que comporta textos do quarto Evangelho, o fragmento de Rylands,
encontrado em 1920, mostra-nos que por volta do ano 130 E.C. este Evangelho circulava no Egito. Isto nos leva à conclusão que este texto deve ter sido escrito por volta do ano 100 E.C.
Há, ainda, opiniões que situam a redação do mesmo recuando um pouco na data, isto é, a partir
dos anos 60 de nossa era.
Particularmente, pensamos que este Evangelho não teria sido escrito logo depois da partida do Mestre, nem nos primeiros anos de cristianismo, pois é ele fruto do amadurecimento do Apóstolo, o que se deu após longos dos anos de implantação da nova filosofia constante dos ensinamentos do Rabi Nazareno.
Têm sido propostas várias maneiras de se dividir o Quarto Evangelho. Todavia, como isso pode nos levar a um excesso de sistematização, e não sendo esse nosso objetivo primordial, não vamos nos ater muito a isso, propondo, a partir das próprias indicações do texto, uma divisão prática, pois, se neste Evangelho existem algumas diferenças dos sinóticos, as linhas gerais não mudam tanto.
Assim, temos o prólogo, o anúncio da nova mensagem, as festas litúrgicas judaicas – entre as quais
destacamos a Última Ceia (Páscoa) com os ensinamentos do cenáculo, por ser o objetivo deste livro –, a paixão, a crucificação, a ressurreição e a conclusão. Podendo, ainda, ser acrescentado um epílogo (cap. 21) de composição mais tardia, tendo sido acrescentado pelo próprio autor ou por um de seus discípulos.
Alguns temas são fundamentais como caracterização da proposta deste Evangelho:
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Jesus é o Messias, em grego Christos
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É o transmissor da Luz de Deus
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É o caminho que conduz à per feita conexão com o Criador
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É verdade e vida
Segundo os Espíritos que trabalharam na Codificação Espírita, em meados do séc. XIX, Jesus é o guia e modelo da humanidade (O Livro dos Espíritos, Q.625); é o Médium de Deus (A Gênese, cap. XV); um Messias Divino (idem).
Se compararmos uma mensagem em O Livro dos Médiuns assinada pelo próprio Jesus com a publicação da mesma também em O Evangelho Segundo o Espiritismo, podemos concluir que em última instância Ele é o próprio Espírito de Verdade; opinião também do instrutor Alexandre na obra Missionários da Luz, do Espírito André Luiz, psicografada por Francisco Cândido Xavier.
Essa não é a opinião de todos os espíritas. Para alguns, o Espírito de Verdade é a legião dos Espíritos santificados que cooperam com o Cristo desde os primeiros momentos de nosso orbe. Seja como for, Jesus preside a essa legião conforme suas palavras no cap. XV deste Evangelho de João:
"Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da Verdade, que procede do Pai, testificará de mim." (João 15:26)
Segundo, ainda, os Espíritos Codificadores, o Espírito em seu início evolutivo é simples e ignorante, tendo pela lei de evolução o objetivo de atingir a perfeição, pelo conhecimento da verdade (LE Q. 115, em concordância com João, 8:32). Evolução essa feita mediante muitas reencarnações realizadas em vários orbes do universo.
Conforme nos orientam ainda as questões 112 e 113 do mesmo O Livro dos Espíritos, esses seres que atingiram a perfeição formam a classe dos Espíritos puros, que, segundo Léon Denis, Emmanuel e Joanna de Ângelis, entre outros, é a classe a que Jesus pertence.
Baseado nessas propostas da obra sabiamente organizada por Kardec, pode-se dizer que há perfeita
sintonia entre o Quarto Evangelho e a Codificação, e que, por intermédio desta, podemos compreender certas expressões contidas em João. Expressões essas que em outros tempos causaram grande dificuldade de interpretação, pois se Jesus, por uma falha teológica, foi visto como sendo o próprio Deus, é porque nem os teólogos compreenderam a ligação de Jesus, o personagem histórico, com o Cristo – significando este o título de sua condição espiritual –, e assim divinizaram-no; como também os historiadores não viram Nele nada além de um homem comum com a sua mentalidade
natural, apesar de às vezes incompreensível por seus feitos extraordinários.
Sobre Jesus, assim disse Kardec:
"...como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e das do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. (A Gênese, cap XV.)
Com base nestas orientações, podemos entender com naturalidade a mensagem passada pelo autor do Quarto Evangelho, a natureza Superior do Espírito Jesus e o choque causado por Ele em todos que O viram sem compreender a Excelsitude de Sua psicologia.
O objetivo desta obra, que ora trazemos a lume, é analisar o último dos sermões realizados por Jesus à luz do entendimento espírita. Sermão esse de grande profundidade em matéria de entendimento e muito útil ao nosso processo evolucional.
Que Deus nos abençoe a todos…
(Extraído do Livro: "O Sermão do Cenáculo") Disponível em:
https://www.institutodesperance.com.br/
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