terça-feira, fevereiro 07, 2012

A Fé no Processo Educacional de Jesus


Em uma missão espiritual não há como prescindir da fé. Ela é componente essencial para que tudo aconteça como programado pelo Alto.
Já comentamos sobre esta virtude em Maria quando da assimilação do conteúdo da revelação do anjo a ela explicando-lhe a concepção. Mas há outros momentos importantes que não podem deixar de ser destacados e que nos ajudarão a compreender o quanto esta missionária era preparada para realizar a tarefa mais desafiadora de todos os tempos, a de educar ninguém mais, ninguém menos, que o Governador Espiritual do Orbe.
José e Maria cumpriam rigorosamente todos os preceitos judaicos. Circuncidaram o menino no oitavo dia conforme mandava a lei, e ao completarem os dias da purificação da mãe, o que ocorria trinta e três dias após1, levaram Jesus ao templo, em Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor2.
Lá encontraram um homem já idoso, chamado Simeão, que ao ver o menino, inspirado realiza grande profecia. Entre outras coisas diz ele a Maria:
Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.3
Imaginemos a cena. Maria, acompanhada do marido e do filho, estava cansada de uma viagem longa e feita com muitas dificuldades. Ela estava ainda no período do resguardo. Deveria estar fraca e altamente sensível…
Apesar de Simeão exaltar a grandeza espiritual do menino sua profecia não foi nada agradável. Ele, Jesus, estava destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição.
Isto pressupunha uma vida de muitas apreensões, de dores e sofrimentos. A nação judaica era rigorosa quanto à tradição religiosa.
O anjo havia dito que ele seria Rei, que herdaria o trono de Davi, talvez naquele momento ela não tenha percebido que para atingir este fim ele teria uma vida de conflitos, de lutas e de perigos. Agora aquele homem inspirado dizia que ele seria alvo de contradições que elevaria alguns – o que se pressupõe eram os simples -, e que também arruinaria muitos, e aqui podemos depreender que eram os da elite, os do poder.
E ainda diz mais, com referência ao sofrimento dela própria, uma espada traspassará a tua própria alma.
Para quem era profunda conhecedora das Escrituras conforme vimos pelo Magnificat, ela deve ter entendido na hora a que sacrifício estariam submetidos ela e seu filho.4
A profecia se cumpriu no tempo, mas no coração de Maria deve ter acontecido naquele instante mesmo. Como suportaríamos uma situação desta? Se algo parecido acontecesse conosco, isto não atrapalharia a educação de nosso filho?
Vejamos que são duas situações opostas que acontecem com ela; em qualquer delas estaríamos em dificuldades e talvez comprometidos na realização da missão.
Primeiro o anjo lhe antecipa a vitória. Ela seria mãe do Filho de Deus, ele herdaria o trono de Davi e reinaria para sempre. Tal informação poderia ser para ela, se não fosse muito vigilante, pedra de tropeço, pois a vaidade poderia vir à tona e comprometer todo o processo.
Depois Simeão lhe fala de lutas incessantes, até mesmo de um provável assassínio de seu filho mostrando a ela que o final da história talvez fosse trágico.
Este nível de informações, até contraditórias, dependendo do ângulo em que as analisarmos, não tenderiam a prejudicar a formação do menino, já que ela poderia tentar mudar o seu destino?
Se nós soubéssemos que o nosso filho iria passar por um processo de grande dificuldade, de provável morte por incompreensão de muitos, mesmo que soubéssemos que tudo isto era Desígnio do Altíssimo, o que faríamos? Ajudaríamos Deus em seu projeto, ou tentaríamos evitar o “pior” para o nosso filho amado, mudando o seu destino?
Dizemos assim, porque muitas vezes, mesmo não sendo numa questão tão grave quanto esta, priorizamos para os nossos tutelados, uma boa escola, boas companhias, uma profissão adequada, mas não visando seu crescimento espiritual e sim um futuro promissor através de um emprego rentável, onde através de um salário alto pudesse manter conforto e estabilidade material.
Falamos muito de espiritualidade, mas na maioria das vezes a segurança desejada pensamos estarem nas conquistas transitórias, e assim as perseguimos ardentemente.
Jesus veio mudar este paradigma, e para tal tinha de dar o exemplo. Aqueles a Ele vinculados e que vieram para auxiliá-Lo, fizeram do mesmo modo: sacrifício como instrumento de libertação.
Hoje nós tentamos distorcer o entendimento e falamos em prosperidade, porém queremos prosperidade material esquecendo que a fé se manifesta em qualidade e em maior escala é na carência e nas dores.
Moisés era um disciplinador – primeiro passo do processo educativo, a disciplina antecede a espontaneidade5 -; Jesus veio como educador; Kardec como pedagogo; desta forma, temos de compreender que este foi um projeto traçado por Deus para educar a alma, o Espírito imortal. Maria só pôde ser peça chave deste processo, sendo também educadora, e de Jesus, porque compreendeu o Mecanismo Divino, e a ele se ajustou fazendo-se serva do Senhor.
Ela teve a intuição da missão e a ousadia de executá-la. Quando não compreendia a superioridade do filho tinha humildade para guardar a lição em seu coração6 ou simplesmente dizer: fazei tudo o que ele vos disser7. O melhor entre todos os educadores é aquele que não se cansa de aprender, e a isso se dedica dia a dia.

(Continua...)
1 Levítico, 12: 4
2 Lucas, 2: 22
3 Lucas, 2: 34 e 35
4 Cf. Zacarias, 12: 10
5 XAVIER/Emmanuel [Espírito]. O Consolador, 16ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1993, Q. 254
6 Cf. Lucas, 2: 19 e 51.
7 João, 2: 5

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