segunda-feira, janeiro 15, 2024

O Sermão do Cenáculo - O Testamento de Jesus

#Pública






O Sermão do Cenáculo a nosso ver é o Testamento de Jesus. 

Testamento: Ato pelo qual alguém declara suas últimas vontades e estabelece a disposição de seus bens, depois de sua morte. Qualquer escrito postumamente revelado, em que seu autor fixa suas opiniões ou projetos... (https://www.dicio.com.br, acessado em 09/01/2024) 

É assim, as últimas instruções de Jesus aos Seus discípulos ( hoje todos nós); o último Sermão Dele. 

 

Assim que Judas saiu, Jesus diz: Agora, o Filho do homem é glorificado, e Deus é glorificado nele. 

Se Deus é glorificado nele, Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo. 

Filhinhos, ainda um pouco mais estou convosco. Vós me procurareis, mas como eu disse aos judeus, agora também vos digo: para onde eu vou não podeis ir. 

Um novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amo, amai-vos também uns aos outros. 

Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros.

Filhinhos, ainda um pouco mais estou convosco. Vós me procurareis, mas como eu disse aos judeus, agora também vos digo: para onde eu vou não podeis ir. (João, 13: 31 a 33)

Assim que Judas saiu, Jesus diz: Agora, o Filho do homem é glorificado, e Deus é glorificado nele. 

Assim que Judas saiu… – A saída de Judas encerra um ciclo e inicia outro na narrativa evangélica. A partir daí, está consumado: é ele quem vai entregar Jesus. 

Quando abandonamos o círculo de ação proposto pelo Cristo, deixamos a faixa de segurança que nos diz respeito e ficamos vulneráveis aos ataques da treva que existe em nossa própria intimidade. Judas sai, podemos simbolizar esta saída como o afastamento da proposta cristã de espiritualização em busca do imediatismo do mundo material. Toda vez que, motivados pelo simples prazer de algo, saímos da faixa positiva da vida, entramos num caminho perigoso definido pelo Senhor como porta larga. É aí que se inicia o processo de desestruturação do ser, processo esse do qual só conhecemos o início, pois a volta à normalidade pode demorar séculos, e não temos a mínima ideia de quando nem como será efetivada. 

Deste modo, antes de tomarmos qualquer atitude que venha a ferir nosso estado de sintonia com as forças criativas do cosmos, lembremos do "vigiai e orai", pois se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.[1] 

…Jesus diz: Agora, o Filho do homem é glorificado… – O dizer de Jesus é sempre presente quando damos ouvidos ao que Ele fala, é sempre verdade por Ele estar em conexão com Aquele que é a Verdade Universal. 

Ser glorificado é o mesmo que receber glória, receber uma honra muito especial. Em se tratando da glória recebida pelo Filho do homem, que é o Espírito que já atingiu um grau superior de evolução ( um Cristo ou Messias Divino), esta honra é o máximo que podemos almejar neste plano em que nos situamos. 

Para Jesus, ela se inicia no momento de seu sacrifício, mostrando a todos nós que é pelo testemunho, pela vivência da Lei de Deus e pela eleição do interesse comum em detrimento do pessoal que nos glorificaremos, isto é, que atingiremos o estado pleno de nossas possibilidades evolucionais. 

Ser glorificado aqui é como que receber um diploma após o findar de um ciclo, é ganhar uma promoção em matéria de espiritualidade. 

…e Deus é glorificado nele. – A vida tem por finalidade levar o Espírito à perfeição. Quando este atinge o grau máximo dentro de uma faixa evolutiva, é a Lei de Deus que se cumpre, ou, de outra forma, o programa traçado pelo Criador que se efetiva. 

Assim, quando alguém é glorificado por chegar ao fim de uma etapa, é Deus glorificado nele, ou seja, é a ordem se restabelecendo na intimidade da criatura por esta estar se identificando plenamente com sua origem divina. 

Notemos a expressão: Deus é glorificado nele, isto é, na própria criatura. É Deus se exteriorizando pela própria individualidade à medida que esta se harmoniza com o todo, fazendo-se una com toda a criação. 

Se Deus é glorificado nele, Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo. 

Se Deus é glorificado nele… – A didática de Jesus o leva a repetir como forma de fixar o ensinamento. Deus é glorificado nele, isto é, Deus não é alguém que recompensa ou pune ninguém; Deus é a Inteligência Suprema, é uma Lei que tudo dirige dando a cada um de acordo com a sua opção pessoal. Deus não o glorifica de fora para dentro, é glorificado nele, ou seja, naquele que se faz um com o Poder Supremo por meio da Vivência plena da Legislação Universal. 

…Deus o glorificará em si mesmo… – Como dissemos anteriormente, a glória vem de dentro para fora, é conquista íntima do Espírito, é em si mesmo. Só a autoridade conquistada pela harmonização com uma moral superior dá à criatura o prêmio maior, que é a sua própria integração no Divino. Só assim o ser se encontra, só deste modo é feliz, só desta forma adquire plena saúde. 

Deus o glorificará em si mesmo, e a lei de evolução se cumpre; é o espírito que atinge seu objetivo final. 

…e o glorificará logo. – Logo quer dizer imediatamente; isto se dá desta forma, porque assim que aprendemos o grande milagre da vida, que é o amor vivenciado, já estamos cheios do sentimento divino. Sentimento este que nos levará à glória do Reino e que, segundo o Cristo, está dentro de cada um de nós.

Filhinhos, ainda um pouco mais estou convosco. Vós me procurareis, mas como eu disse aos judeus, agora também vos digo: para onde eu vou não podeis ir. 

Filhinhos… – O grego teknia, traduzido aqui por filhinhos, é o diminutivo afetuoso de tekna, que é o filho ainda criança. Este é o único trecho nos quatro evangelhos em que aparece esta expressão, enquanto na 1a epístola de João aparece várias vezes. 

Podemos depreender do uso deste termo que o imenso amor do Cristo por seus discípulos, além de fraternal é também paternal. Ele veio, segundo suas próprias palavras, para testemunhar a verdade e conduzir os seus adeptos até o Pai, e a melhor maneira de auxiliar aqueles por quem temos afeição é amá-los indiscriminadamente. Jesus tinha perfeita consciência de Sua missão diante de Seus discípulos daquele momento e em relação aos de todas as épocas, e por ser Seu amor superior, amou os primeiros seguidores como os de agora, do mesmo modo. 

…ainda um pouco mais estou convosco. – Jesus falava de Sua presença física junto deles. Como dissemos anteriormente, Ele veio para testemunhar a verdade, e para que tal se cumprisse seria necessário o Seu próprio sacrifício. 

Espiritualmente, Jesus está sempre conosco, velando por nosso progresso; entretanto, é preciso se distanciar no momento oportuno para que possamos, usando nossa liberdade individual, também testemunhar o que nos diz respeito, a fim de obtermos nosso passaporte para uma etapa mais adiante dentro da caminhada evolutiva. 

Quando lemos um livro edificante, é o Cristo nos indicando o caminho, porém só buscando a vivência de suas lições no dia-a-dia é que fixamos em nós a virtude, tornando-a um sentimento conquistado. O mesmo se dá na escola quando o professor ensina; só quando o aluno pratica pelo exercício ou pela prática da profissão é que pode dizer que verdadeiramente aprendeu. 

Jesus nos mostra, deste modo, que Sua presença entre os que desejam se tornar Seus adeptos é extremamente importante, mas que necessário se faz Sua ausência, a fim de que cada um possa, por si mesmo, se fazer capaz de conectar-se diretamente ao Pai pelo cumprimento de Seus desígnios. 

Ele está conosco ainda um pouco mais, necessário é aproveitarmos este instante a fim de nos fortalecermos, pois o momento do testemunho, que é particular, virá, e é de bom senso que estejamos preparados. 

Vós me procurareis… – Este é um dizer profético do Senhor não só no que diz respeito à atitude daqueles Seus seguidores, como de todos nós, que de uma forma ou de outra estamos sempre a buscar a luz. 

Melhorar, progredir, ser feliz, é sempre a meta do espírito imortal, e o Cristo, por representar o cume do processo evolutivo dentro de nossas aspirações atuais, é intuitivamente procurado, seja na presença de outros líderes religiosos, de cientistas beneméritos ou até mesmo de um serviço prestado à comunidade. Todavia, só a partir do nosso amadurecimento espiritual é que veremos Nele a reunião de tudo o que necessitamos adquirir, por ser o que verdadeiramente viveu a Lei do Cosmos em toda a sua plenitude. 

Procuramos o Cristo toda vez que almejamos nosso progresso, O encontraremos sempre que compartilharmos Sua presença com os outros. 

…mas como eu disse aos judeus… – Jesus se refere ao diálogo travado com os judeus, conforme a narrativa de João no capítulo 7, versículo 34 e capítulo 8, versículo 21. 

Os judeus eram o povo mais ligado às questões espirituais naquela região, entretanto sua cultura era tradicionalista e muitos de seus líderes não aceitavam, de modo algum, que Jesus fosse o Messias predito pelos profetas. Esse posicionamento deles gerava confronto com os seguidores do Meigo Nazareno, e Jesus já os tinha alertado para a necessidade de serem coerentes com os ensinamentos de sua própria Torá. Desse modo, judeus aqui representa os líderes reacionários da tradição, e não a totalidade daqueles que adotavam o judaísmo como filosofia, do qual Seus seguidores também faziam parte. 

Podemos dizer que hoje são aqueles que, mesmo divulgando as coisas do espírito, prendem-se a atavismos e interesses ligados ao personalismo, de tal modo que afastam tudo que é novo, mesmo que bom, só porque têm de sair da acomodação para a busca de algo mais adiante dentro da escala evolucional. 

Jesus disse aos judeus antigos e diz aos modernos, portanto só O escutará aquele que se dispuser a crescer e, para tal, se diminuir perante as questões transitórias do mundo. 

…agora também vos digo… – Ele disse àqueles que lhe eram opositores, e mesmo que agora se dirija aos que o têm um carinho filial com as mesmas palavras, estes estão preparados para algo mais, por isso deixou para eles, na intimidade, uma revelação muito maior. 

Agora é um advérbio que expressa o momento presente. O presente foi fecundado pelo passado, de tal forma que hoje temos tal qual fizemos, e de acordo com o nosso preparo. Os judeus ouviram por um prisma, conforme suas possibilidades, seus discípulos, apesar de também ligados às mesmas tradições, por já possuírem outro grau de amadurecimento ouviriam mais. Agora é o momento ideal para ouvir, e assim realizar a mudança que se faz necessária com vistas ao crescimento verdadeiro do nosso ser espiritual. 

…para onde eu vou não podeis ir. – Os discípulos de Jesus eram também judeus; se já abertos para os benefícios da Boa Nova, sofriam ainda influência da retaguarda. Desta forma, não estavam preparados para, naquele momento, seguir o Senhor imediatamente. Ele tinha de passar pelo testemunho da crucificação que O levaria para a vida da ressurreição; eles, apesar de um pouco mais adiante que os demais de sua raça, ainda muito teriam de caminhar para que depois pudessem atingir o mesmo objetivo. 

Jesus é claro: para onde eu vou…, demonstrando assim plena consciência do que lhe sucederia; e que também conhecia a intimidade de Seus seguidores como nos conhece a todos: não podeis ir

O galardão ou a glória de que somos merecedores não é definido por aquele a quem seguimos nem pela crença que esposamos, mas sim pelo que já conquistamos em matéria de virtudes. Eles tudo ouviram Dele, conforme expressa o evangelista: E sem parábolas nunca lhes falava, porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.[1] Mesmo assim não estavam preparados: 

…para onde eu vou não podeis ir.  

É a justiça da Lei, só o que conquistou a autoridade pode entrar e sair, ir e voltar, usar de todo o seu poder. Ainda estamos presos ao nosso passado, muitas vezes queremos, mas não podemos. Só a plena vivência do amor nos fará capazes de, livres, obedecermos, e assim não só sermos, mas também realizarmos tudo o que quisermos.

Texto extraído do Livro:


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[1] Mateus, 24:43. 

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