domingo, dezembro 17, 2023

O Sermão Profético de Jesus - Parábola das Dez Virgens 2ª Parte

#Pública




                    E, tardando o esposo, tosquenejaram todas e adormeceram. 

Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro! 

Então, todas aquelas virgens se levantaram e prepararam as suas lâmpadas. 

E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. 

Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. (Mateus, 25: 5 a 9)




E, tardando o esposo, tosquenejaram todas e adormeceram. 


E, tardando o esposo… - Sobre o esposo já falamos.[1] O encontro com ele significa aquele momento de encontro da criatura com o seu Cristo interno, aquele momento de libertação do Ser pelo conhecimento da Verdade. 

Só que o tempo em que se dará este momento só a Deus é dado conhecer, e ele – o encontro – poderá tardar, ou seja, não se dará enquanto houver em nós resquícios de uma personalidade dissociada da Suprema Lei. É imperioso, portanto, estarmos atentos, integrados por completo na plena dinâmica da Vida, que é Amor na sua mais pura expressão. 

…tosquenejaram todas e adormeceram. – Tosquenejar é o mesmo que cochilar. Esta atitude aqui não deve ser entendida como um ato de invigilância, mas como aquele envolvimento natural com os afazeres cotidianos, com o próprio cansaço ainda existente, pois o Senhor não condenou-as por isto, visto que todas cochilaram e adormeceram

Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro! 

Mas, à meia-noite… - Se dividirmos o ciclo do dia em dois, teremos dia e noite como as duas fases complementares. Se o dia é marcado pela claridade, pela oportunidade de realizações, a noite representa justamente o oposto, é a treva, o momento de maiores dificuldades. 

Era meia noite, isto é, o ponto mais central desta fase, é aquele momento em que mais profundas são as dificuldades. 

…ouviu-se um clamor… - Um clamor significa um grito, um brado. As virgens estavam adormecidas, provavelmente naquele sono bem profundo. Só um grito poderia acordá-las, e isto era preciso, pois era chegado o grande momento. 

É comum o mesmo acontecer conosco, quantas vezes não nos preparamos para determinado acontecimento, e quando chega a hora perdemos aquela oportunidade tão aguardada? Fazer uma avaliação correta das situações por que passamos é uma necessidade, e assim priorizarmos o que for mais importante. 

…Aí vem o esposo! – Interessante esta colocação neste momento, aí vem o esposo, sempre de surpresa, em um momento inesperado. 

Era de se supor que por ser o encontro justamente com seu Eu superior, um momento único, de Integração, tal se sucederia no ápice do dia, no instante de maior claridade, entretanto, o que se dá é justamente o oposto, o esposo chega no momento em que a treva se faz mais atuante. Por que assim será? 

Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.[2]   

É neste instante, de maiores dificuldades, que se faz necessário a Luz íntima, a qualidade moral que diferencia, o trabalho incessante. Portanto, é no momento em que o aperto se dá que temos de mostrar nossas reais possibilidades, quem realmente somos; quem neste instante estiver preparado realizará sua ascese, sua efetiva integração no Seio do Criador. 

Saí-lhe… – Saí-lhe expressa justamente este necessário dinamismo. Tudo na vida é movimento, ação, trabalho; deste modo, estar integrado nela é também ser assim, útil, realizador, atuante. 

…buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.[3] 

…ao encontro! - …à comunhão, à integração. É o objetivo pleno da vida, a perfeição. Esta não virá gratuitamente, é preciso esforço, tempo, e busca incessante. 

Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.[4] 

Assim não são mais dois, mas uma só carne.[5] 

Então, todas aquelas virgens se levantaram e prepararam as suas lâmpadas. 

Então, todas aquelas virgens se levantaram… - Todas aquelas, ou seja, as que estavam envolvidas no processo. Eram aquelas que estavam já em condições de passar pela situação, as que, de certa forma seriam aferidas. 

A evolução se faz por etapas, após o fechamento de uma, abre-se outra, oportunizando-nos o ensejo de novas conquistas. Se este é um acontecimento natural, pois é a mesma a Lei que rege tanto os pequenos como os grandes acontecimentos da vida, o momento culminante de cada fase é sempre significativo para que se atinja o objetivo que é passar para o próximo; assim, este é aquele instante em que devemos realizar os maiores esforços, e que nos será mais exigido, pois teremos de utilizar todos os recursos adquiridos na caminhada. 

Aquelas virgens se prepararam, cada uma a seu modo, para aquela hora, portanto, todas elas se levantaram, era preciso vencer a inércia do cochilo anterior, pois chegara o momento, o noivo estava próximo. 

…e prepararam as suas lâmpadas. – Aquele era um momento de escuridão, era o instante mais escuro da noite, deste modo, era preciso usar as lâmpadas, eram elas o instrumento mais importante para aquela ocasião. 

Nossa vida cotidiana é marcada por vários momentos destes em que nos é exigido uma posição, ou às vezes uma decisão rápida. Para que tenhamos êxito no empreendimento é preciso que estejamos capacitados, é aquele instante em que um insight, uma intuição resolve a questão. Entretanto, diferentemente do que parece esta luz que surge inesperadamente, não é uma concessão gratuita nem prêmio merecido, trata-se na maioria das vezes de um amadurecimento que aconteceu pouco a pouco, de uma forma quase imperceptível e que atinge o ápice manifestando-se naquele instante. 

É, portanto, uma conquista individual, como expressa o pronome usado antes da palavra lâmpadas: suas, ou seja, de cada uma. 

E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. 

E as loucas disseram às prudentes… – O relacionamento entre as criaturas é importantíssimo para o aperfeiçoamento individual. É através dele que nos burilamos, realizamos novas amizades, e nos capacitamos para a vivência da máxima cristã do "amai-vos uns aos outros". Somos influenciados, e influenciamos do mesmo modo. 

Dizer e ouvir são assim, duas práticas constantes em nosso cotidiano; e se é dever daquele que se propõe a realizar seu progresso em bases evangélicas, vigiar com respeito ao que se diz, não menos importante é selecionar o que se ouve. 

Há loucos e prudentes em todos os ambientes e nos diversos graus evolutivos, é preciso desta feita, termos cuidado com o que nos dizem os primeiros, pois, por termos ainda em nossa intimidade muito de insensatez, corremos perigo de, por sintonia desajustarmo-nos da mesma forma. 

Avaliemos portanto o que ouvimos, e relacionemos com o que já conhecemos em matéria de espiritualidade, pois só passando tudo pelo crivo da razão, da lógica, e do bom senso, estaremos capacitados a sermos contados entre os prudentes. 

…Dai-nos do vosso azeite… - Como analisamos anteriormente, o azeite era o combustível, que sendo queimado, permitia que a lâmpada ficasse acesa. No campo íntimo da criatura é a virtude que possibilita a nossa conexão com o Criador. 

Se teoricamente, no plano exterior, podemos fornecer uns, azeite para os outros, o mesmo não podemos afirmar quanto aos valores cultivados pelo Espírito, que são individuais e intransferíveis. 

O comodismo é, nos dias atuais, até mesmo algo cultural, queremos muitas vezes nos esforçar pouco e progredir muito. Deste modo, habituamos a colocar sempre a culpa no outro, e a achar que ele pode sempre realizar por nós. Assim, nossa porção ainda leviana pede: dai-nos do vosso azeite, isto é, faças por mim, resolva meu problema, alivie-me da dor. 

…porque as nossas lâmpadas se apagam. – Se a falta do combustível faz com que a lâmpada se apague, a falta da virtude nos separa dos propósitos superiores definidos pelo Cristo no resplandeça a vossa luz.  

Ocorre porém, nos dias atuais, que mesmo havendo a energia que possibilite a luz em nossas casas, podemos ficar no escuro se não nos dispusermos a realizar a atitude simples de acender o interruptor; é o que acontece quando detentores do verbo fácil e do entendimento amplo das questões evangélicas, não atuamos coerente com o que sabemos; ou seja, temos a energia divina em nosso aparelho vocal, mas não conseguimos operacionalizá-la através das mãos dedicadas ao serviço em favor do semelhante. 

Assim, enquanto a Vida nos concede, por misericórdia, a luz do dia, não sentimos falta, todavia, quando a noite vem, por não termos cultivado nossas possibilidades de iluminá-la também nos preocupamos, pois do mesmo modo, também as nossas lâmpadas se apagam. 

Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. 

Mas as prudentes responderam, dizendo… - As prudentes, que se caracterizam por agir dentro da faixa de segurança, têm na sua resposta, material que nos permite meditar buscando valioso aprendizado. 

Como temos respondido aos chamamentos que a Vida nos tem proporcionado? Não devemos esquecer que se na ação mostramos quem somos, na reação, isto é na resposta, definimos com maior precisão ainda, em que faixa de evolução nos situamos. 

Somos prudentes todas as vezes que desativamos na resposta, os componentes geradores da discórdia e da desunião, pois a criatura realmente preocupada com seu progresso espiritual, sabe que é na atitude tomada, muito antes que na palavra proferida, que dizemos realmente a que viemos. 

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.[1] 

…Não seja caso que nos falte a nós e a vós… - Não, ou seja, de modo algum; o azeite poderia não bastar para nós e vós outras. Esta resposta analisada rapidamente poderia sugerir uma ação egoísta, entretanto, se ponderarmos mais um pouco, vamos ver que não é bem assim. 

Mesmo no plano exterior não podemos deixar de atender ao nosso abastecimento, visando auxiliar o outro, é do próprio Evangelho que um cego não pode guiar outro, assim, não podemos desatender nossas primeiras necessidades para servirmos a quem quer que seja, pois o nosso compromisso primário é conosco mesmo; o que não quer dizer que tenhamos que ser egocêntricos, a situação é claramente outra. 

Aprofundando a compreensão, buscando o sentido espiritual da parábola, aí é que não há esta possibilidade mesmo, pois como dissemos alhures os valores espirituais são inalienáveis. 

Deste modo, se quisermos que a nossa luz não se apague, tratemos de realizar em nós as possibilidades de mantê-la acesa, ou como diz o próprio texto em estudo: ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. 

…ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. – Chegado a este ponto da análise está claro que temos que trabalhar em nós o fogo que mantém acesa a chama da evolução. Como realizar isto? Cultivando o que nos faz ser um Homem de Bem. E como? 

A palavra prudente responde: ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. 

Então há como comprar a virtude? Sim, há, porém a moeda é que é outra, não a que comercializamos habitualmente em nosso mundo. 

Se o verbo vender é usado comumente ligado aos valores pecuniários, podemos entendê-lo também, como o ato de não conceder gratuitamente. Portanto, se em termos de espiritualidade o dinheiro não é objeto de valor dominante, o esforço realizado para vencer uma imperfeição, pode muito bem ser o instrumento de valor usado para comprar o recurso que necessitamos para manter em nós a Luminosidade Imanente. 

Ide, antes, aos que o vendem… Esta expressão nos fala daqueles que exigindo de nós, ajudam-nos a conseguir tal benefício; se muitas vezes temo-los à conta de inimigos ou adversários, são em verdade grandes auxiliares em nosso processo evolucional, sendo deste modo, dignos do carinho pedido pelo Mestre para que tenhamos por eles. 

Comprai-o para vós, isto é, esforçai-vos para adquirir para vós, ou seja, conquistá-lo para a individualidade; e só sendo um, completo, nos candidataremos ao encontro integral representado pelo esposo da parábola. ,


Texto extraído do Livro O Sermão Profético

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[1] Ver análise do 1o versículo deste mesmo capítulo. 

[2] João, 5: 17 

[3] Mateus, 7: 7 

[4] Mateus, 24: 13 

[5] Mateus, 19: 6 

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