Só uma coisa quisera eu saber de vós: foi pelas obras da lei que recebeste o espírito, ou pela adesão à fé? (Gálatas, 3: 2)
Esta "uma coisa" que Paulo quer saber é aquela mesma sobre a qual Jesus fala a Marta1, ainda acrescentado uma só [coisa] é necessária… Ou seja, o que Paulo quer saber é o que há de mais importante na esfera do espírito, e que aqui é representado pela coerência de se vivenciar a fé.
Dá-se a entender que a expressão, recebeste o espírito, refere-se ao que hoje denominamos prática mediúnica. Esta era uma prática comum entre os cristãos primitivos, principalmente entre os seguidores de Paulo.
Sabemos atualmente pelos estudos desenvolvidos a partir de "O Livro dos Médiuns" que a percepção espiritual, ou a faculdade mediúnica, se desenvolve pelo estudo e pela transformação moral do médium e não através do cumprimento de normas exteriores. Os espíritos não são atraídos por elementos materiais, mas por sentimentos e princípios esposados.
Paulo que já era profundo conhecedor destes aspectos mostra aos gálatas que tais prerrogativas não eram dadas por obras do constrangimento mas por adesão à fé.
Fé é um sentimento íntimo intransferível; há como esclarecer alguém sobre um assunto, mas jamais podemos transferir para outrem um estado de amadurecimento que nos leve a uma atitude de fé. Assim, adesão à fé representa uma atitude de entrega íntima a determinada proposta, adesão esta capaz de transformar o elemento que a possui. Informam-nos os Espíritos superiores que somos incapazes de avaliar o que é possível realizar a partir de uma atitude de fé; é que sendo esse um estado de alma eminentemente espiritual, quando portadores dele, entramos em conexão profunda com o Criador e as Forças Superiores da Vida
Este versículo vem confirmar que, se quisermos ampliar nossa sensibilidade e percepção espiritual, são as obras da fé, isto é, aquelas fundamentadas em valores espirituais que devemos cultivar, pois as de caráter puramente formalista, em nada nos auxiliam com respeito à conquista de maior espiritualidade.
Sois tão insensatos Que, tendo começado com o espírito, agora acabais na carne? (gáĺatas, 3: 3)
O alerta de Paulo deve ressoar na intimidade de todos nós. Os judaizantes discutiam com ele e afirmavam da necessidade do cumprimento dos ritos judaicos para que os gentios se tornassem cristãos; entre estes ritos exigiam o cumprimento da circuncisão que literalmente era um cuidado com a carne.
O apóstolo chama a atenção de seus seguidores da Galácia mostrando que isto não fazia o menor sentido. Eles haviam sido iniciados no Evangelho pelos atributos do espírito, porque agora deveriam descer às imposições da carne?
Pela mesma situação passamos hoje em vários momentos de nossa vida. Já interpretamos o Evangelho à luz da doutrina espírita, já conseguimos alcançar um profundo entendimento na área da espiritualidade, porque insistimos em descer nas exigências materiais para realizar determinado trabalho ou mesmo para aceitar o auxílio de companheiros que muito teriam a contribuir no serviço cristão?
Não é raro no movimento espírita os atritos e as tricas que impedem o bom andamento do trabalho, simplesmente por questões de menor valor que deveriam ser equacionadas e não tomarem maiores dimensões quando o mais importante é a conquista dos valores da alma.
Na conquista da virtude o "descer operando" é uma necessidade, porém não confundamos essa exigência do processo evolutivo com o nosso retorno aos sentimentos de retaguarda que insistem em gritar em nossa intimidade. Faz-se preciso estarmos vinculados aos trabalhos do espírito, porém desvinculando-nos das exigências puramente transitórias.
Aprendamos com Paulo e não sejamos tão insensatos, pois, por que tendo começado com o espírito, agora acabais na carne?
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