E navegaram para a terra dos gadarenos, que está
defronte da Galiléia.
E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro,
vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de
demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas
nos sepulcros.
E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele,
exclamando e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho
do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.
Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse
daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E
guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as
prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.
E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E
ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.
E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo.
E andava pastando ali no monte uma manada de muitos
porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e
concedeu-lho.
E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos
porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e
afogou-se.
E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera,
fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.
E saíram a ver o que tinha acontecido e vieram ter
com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os
demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e
temeram.
E os que tinham visto contaram-lhes também como fora
salvo aquele endemoninhado.
E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor
lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande
temor. E, entrando ele no barco, voltou.
E aquele homem de quem haviam saído os demônios
rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu,
dizendo:
Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te
fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas
Jesus lhe tinha feito.1
E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da
Galiléia.
E navegaram para a terra dos gadarenos que está
defronte da Galiléia - Gadarenos ou gerasenos, era o nome
dado aos naturais, ou habitantes da Gadara, que o historiador Josefo
diz ser a metrópole da Peréia, cidade grega, opulenta e rica.1
Há muita polêmica sobre onde se deu realmente
este acontecimento, alguns comentaristas preferem o termo geraseno
referindo-se aos habitantes de Gerasa situada na Decápolis
O termo gergesenos, constante do evangelho de
Mateus, segundo algumas versões, foi introduzido por Orígenes,
porque acreditava este, que a cidade em que se deu tal passagem seria
outra, cujo o nome era Gergesa.
O Espírito Amélia
Rodrigues, conforme a psicografia de Divaldo Pereira Franco, nos fala
em Gerasa, nos dando importantes características desta região.
Segundo sua informação, o solo desta província era ingrato onde
nada medra, à exceção de espinheiros e cardos silvestres2;
sua economia se destacava pelo comércio de porcos.
Decápolis era um distrito que continha dez
cidades, entre elas Gadara e Gerasa. Era povoada por gregos após a
conquista de Alexandre.
Jesus e os discípulos se dirigiram a esta região,
nos ensinando que o “mar da vida”, muitas vezes nos leva a
navegar por terras áridas, onde corações endurecidos não
entendem a noção de espiritualidade que trazemos.
Ele, o Mestre dos mestres, tinha por missão
divulgar a verdade do Reino a todas as criaturas; portanto, não
perdia a oportunidade de estar sempre semeando, mesmo sabendo que
muitas sementes caindo nos pedregais, o Sol iria queimá-las. Tempo
viria em que as terras improdutivas seriam fertilizadas pela dor, e
aí então, aquelas sementes, que são imortais, produziriam frutos
dignos de servirem de alimento a todos.
Assim, devemos nós também fazer, afinal foi Ele
quem disse:
Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
a criatura.3
…Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado…4
E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da
cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios
e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos
sepulcros.
E, quando desceu para terra… - A
divulgação doutrinária tem sido a nossa preocupação a todo
instante. Para que tal objetivo se dê, reuniões e estudos visando o
melhor entendimento do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo têm
sido incentivados em todo o movimento Espírita; desta forma, temos
não só compreendido melhor as Leis Morais que regem o Universo,
como também, aumentado a nossa capacidade de vibrar em sintonia com
as Forças Criativas da Espiritualidade. As questões da Imortalidade
da Alma, da Reencarnação, da Mediunidade, da Lei de Evolução têm
sido bastante discutidas entre todos, e isto é muito bom, pois abre
perspectivas de caminhada mais segura.
Se estar entre os afins é algo gratificante; se
elevar-nos através da discussão de filosofia sadia é sempre
proveitoso; não podemos deixar de seguir o exemplo do Mestre, que
desceu para a terra… mostrando-nos a necessidade de atuarmos
em favor do próximo, junto dele; estarmos entre os desafetos
aumentando a nossa capacidade de compreensão; auxiliar não só os
que nos alegram com as respostas positivas, mas principalmente os que
têm dificuldades a serem superadas. Afinal, foi Ele mesmo quem
disse:
Os sãos não necessitam de médico, mas sim os
que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os
pecadores.5
…saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade…
- Sair ao encontro de Jesus é a atitude necessária; afinal,
são os Espíritos Superiores quem afirmam ser Ele, o Guia e Modelo
da Humanidade6.
Entretanto, como tudo na vida, é imperioso avaliar a maneira em que
este ir-Lhe ao encontro se dá. Pois podemos buscá-Lo com o coração
aberto a fim de segui-lo, ou para rechaçá-lo através de nossas
posturas anticristãs.
A cidade é onde moramos. Se nela
encontramos os recursos necessários ao nosso bem viver, é também
onde nos defrontamos com os desafetos, com situações não
resolvidas, com sentimentos que despertam em nós tendências e
imperfeições a serem superadas. Portanto, ao entrarmos na cidade,
ao tomarmos contato com o centro dos interesses que salteiam o nosso
íntimo, tomemos cuidado com o que pode vir de lá; não esqueçamos
a lição anotada pelo evangelista que diz:
Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando
chegará o tempo.7
…um homem que, desde muito tempo, estava
possesso de demônios… - Entre os enormes bens feitos à
Humanidade pela Doutrina Espírita, está o melhor entendimento do
vocábulo demônio. Antes do aparecimento desta, o termo
demônio era entendido como seres vinculados eternamente ao mal. Por
terem se revoltado contra o Criador, tornaram-se rivais Deste, e o
que é pior, para todo sempre. Assim, aqueles que eram apanhados por
estes diabólicos seres, perdiam a condição de filhos de Deus, e
passavam também a fazer parte da sociedade eterna do mal.
Com o esclarecimento trazido pelos Espíritos
Codificadores, passamos a ver nestes infelizes seres, apenas
Espíritos que, afastados provisoriamente do Bem, tentam perverter a
Ordem do Universo; mas que na medida em que forem crescendo em
sabedoria e verdade, vão se desvinculando do mal e se libertando no
Bem, que por excelência, é o fim de todos.
Há homens que estão vinculados a ideias
enganosas, devemos nos acautelar destes; mas há outros que estão
muito mais comprometidos com a desordem – desde muito tempo
-, estes são mais perigosos ainda. É sobre um destes que a
narrativa evangélica nos fala: um homem que, desde muito tempo,
estava possesso de demônios.
A expressão desde muito tempo, nos fala do
comprometimento daquele homem com seus obsessores; pois este processo
que muitas vezes se inicia simples, agrava-se com o decorrer do
tempo.
Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha
firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso…8
É importante notar ainda, que aquele homem
estava, segundo os registros do evangelista, possesso de demônios,
ou seja, de muitos.
O termo possesso, do latim possessu, quer
dizer possuído. Este tipo de obsessão é qualificada como uma das
mais graves que podem acontecer a qualquer um de nós; ela é
estudada por Kardec no Livro dos Médiuns sob o nome de
subjugação. O iluminado Codificador do Espiritismo prefere esta
palavra para definir tal anomalia, por achar que ela explica melhor o
acontecimento, mas no fundo querem dizer a mesma coisa, conforme
demonstra André Luiz no capítulo 9 do livro Nos Domínios da
Mediunidade.
Segundo o Dr. Osvaldo Hely Moreira, a subjugação
é um quadro mais grave, pois o obsessor tem um conhecimento técnico
mais avançado, dominando assim o cérebro do encarnado.9
…e não andava vestido. – Uma das
características deste grave processo obsessivo é a perda por parte
do encarnado do controle de suas ações. Este enfermo, que ora
estudamos, já tinha perdido a noção do real, pois não andava
vestido.
O vestido ou veste, é a nossa proteção
exterior; define a nossa aparência. Com o agravamento da
influenciação espiritual, ficamos desprotegidos, porque já não é
a nossa vontade que comanda e sim a do desencarnado; nossa aparência
muda pois reflete nossa desorganização mental. Não andar vestido
da vigilância que se faz necessária, nos leva a situações que
podem inclusive nos desarmonizar fisicamente, pois a atuação do
Espírito pode enfraquecer-nos fisicamente atrapalhando o nosso
sistema imunológico, sendo assim caminho para enfermidades piores.
…nem habitava em qualquer casa… -
Tal situação é ainda mais grave; não habitar qualquer
casa, é perder por completo a referência, é estar totalmente
sem identidade.
Jesus ao nos ensinar a orar, recomendou que
entrássemos em nosso aposento íntimo e em silêncio nos
dirigíssemos ao Pai; não habitar em qualquer casa, é perder esta
sintonia com o eu profundo, com o Deus em nós.
…mas nos sepulcros. – Há Espíritos
que, em desencarnando ficam ainda presos ao mundo físico ignorando o
que lhes está acontecendo; há outros, ainda piores, que
necessitando de fluidos mais materializados, vampirizam elementos
recém desencarnados em busca da vitalidade destes.
André Luiz relata um caso destes no livro
Obreiros da Vida Eterna, nos fazendo a seguinte observação:
…não pude sofrear o espanto que me tomou o
coração. As grades da necrópole estavam cheias de gente da esfera
invisível, em gritaria ensurdecedora. Verdadeira concentração de
vagabundos sem corpo físico apinhava-se à porta. Endereçavam
ditérios e piadas à longa fila de amigos do morto…
…ante a minha estranheza, Hipólito considerou:
- Não é para admirar. O Evangelho, descrevendo o
encontro de Jesus com endemoninhados, refere-se a Espíritos
perturbados que habitam entre os sepulcros.
…Nos cemitérios costuma congregar-se compacta
fileira de malfeitores, atacando vísceras cadavéricas, para
subtrair-lhes resíduos vitais.10
Desta forma, notamos a realidade da existência
destes Espíritos, e que mais uma vez a Doutrina Espírita nos
auxilia na compreensão do Evangelho; este enfermo atendido por
Jesus, não era mais do que um obsidiado, segundo a linguagem
Espírita; o os obsessores, ao invés de serem almas eternamente
perdidas, eram espíritos desencarnados que ainda não teriam
encontrado o caminho do Bem.
Não podemos deixar de
citar ainda, os “mortos espirituais”. Sendo vida, o dom dado por
Deus à criatura, morte é tudo o que contraria a Vontade do Todo
Sábio. Assim, toda vez que alguém contraria a vontade Deus por
causa do “pecado”, acha-se morto espiritualmente falando. São
estes, verdadeiros sepulcros ambulantes, os que mais devem ter
cuidado, pois o Evangelho é claro:
…e não andava
vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
Texto extraído do Livro:
Disponível em:
https://www.institutodesperance.com.br/
1
Dicionário da Bíblia pág. 247
2
Primícias do Reino pág. 122
3
Marcos, 16: 15
4
Mateus, 28: 20
5
Marcos, 2: 17
6
Ver O Livro dos Espíritos questão 625
7
Marcos, 13: 33
8
Pensamento e Vida, pág. 126
9
Porque Adoecemos, pág. 127
10
Obreiros da Vida Eterna, pág. 231
1
Lucas, 8: 26 a 39
2 comentários:
Obrigado por este artigo que mostra que não existe vitima de outros ou das circunstancias, a não ser de si mesmo e que o espirito pode, por sua vontade se liberar mesmo que seja da mais profunda obsessão, que é o caso reportado. E, assim foi de encontro a Jesus que o libertou. Obrigado pelo ótimo material e espero que muitos o leiam e reflitam e, se libertem também. Fique na paz de Jesus. Rolando Koeppl
Estávamos agora fazendo o Evangelho e sem conseguir compreender a passagem. Muito obrigada pelas explicações ❤🙏
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