terça-feira, abril 21, 2009

Da Cruz ao Gólgota: Jerusalém Libertada

Dentro do processo evolutivo do Espírito que caminha para Deus ele tem de experienciar nas faixas inferiores passando pela atração no mineral, pela sensação no vegetal, pelo instinto no animal, e mesmo na faixa hominal trabalha sua instintividade sendo obrigado a matar para não morrer, a demarcar território para possuir seu lar com tranqüilidade; passa por várias experiências na área da sexualidade…
Tudo isso cria nele um psiquismo que mais à frente ele vai ter de abandonar. O problema é que o Espírito passa a gostar desta faixa, entra num processo repetitivo e quando cai em si (sai desta embriaguez[1]) vê a necessidade de tudo isso deixar para traz e construir um homem novo cultivador de novos valores, os valores do Espírito.
Porém esta transição não é fácil, não é simples deixar o que cultivamos por longa data e nos adentrarmos por novos caminhos.
Como fazer?
O Livro dos Espíritos nos aponta Jesus como o Guia e Modelo[2] e analisando sua caminhada conforme a narrativa dos Evangelhos podemos encontrar o caminho desejado.
Jesus vem até nós nascendo em uma manjedoura. Primeiro passo a humildade.

…a humildade representa a chave de todas as virtudes.[3]

Se quisermos sair das faixas inferiores em que nos situamos é preciso iniciar pela humildade de saber quem somos, de nossa pequenez. Só assim poderemos elevar-nos pela conquista de valores mais nobres.
Quando inicia seu ministério Jesus o faz na Galiléia que simboliza para nós a simplicidade. Desta forma vem Ele fixar a lição da humildade ensinando-nos a sermos simples se quisermos vencer nossas complexidades. E na Galiléia recolhe os recursos necessários para seu ministério, e lá onde ele recruta aqueles que iriam auxiliá-lo, e serem os primeiros divulgadores de sua Boa Nova. Podia angariá-los na universidade de Alexandria ou na de Tarso, ou mesmo no Templo de Jerusalém entre os sábios judeus. Porém assim não fez, preferiu a sabedoria dos simples de coração.
Segundo as anotações de João, o Evangelista, após iniciar seus trabalhos na Galiléia segue Jesus para Jerusalém.
Jerusalém tem para nós o símbolo da religiosidade, da luz espiritual, da revelação superior.
Após sedimentada as bases de trabalho, humildade e simplicidade, busca Jesus a informação, a revelação superior. Não que ele precisasse disso; ele já era superior por natureza, porém não esqueçamos que ele veio para nos ensinar o caminho, o modus operandi para sairmos da animalidade.
Ao se colocar como alimento em um cocho para animais (manjedoura) deixa claro esta lição. Mais tarde vai dizer: Eu sou o pão da vida.[4]
Na sequência após a primeira passagem em Jerusalém, significando para nós a necessidade de recolher recursos superiores, Jesus decide voltar para a Galiléia (João, 4: 3), ensinando-nos que era lá, naquele momento, o seu campo operacional, e que após receber as luzes da revelação devemos buscar o serviço onde possamos aplicar os conhecimentos.
E o Evangelista diz: Era preciso passar pela Samaria. (João: 4: 4)
Interessante notar que este não era o caminho mais fácil de Jerusalém para a Galiléia, os judeus não o faziam até porque detestavam os samaritanos.
Por que então era preciso Jesus passar pela Samaria?
Sim, havia necessidade de levar o Evangelho a todas as criaturas, e os samaritanos também pertenciam ao povo hebreu, tinham deixado o Egito com Moisés, porém isto poderia ficar para mais tarde.
É preciso perceber na sequência evangélica toda uma linha didática, após recolher os recursos superiores (Jerusalém) e voltar para a sua vida cotidiana que é o seu campo de ação (Galiléia), temos a necessidade de passar pelas zonas de conflito (Samaria), só assim, se passarmos por elas e bem, fixamos em nós o ensinamento e alcançamos a condição de promoção espiritual.
Portanto, se quisermos vencer a instintividade, o grito da retaguarda em nossa intimidade, tenhamos os passos de Jesus como exemplo:

Humildade → simplicidade → conhecimento → testemunho.

Todo o Evangelho tem esse direcionamento que se inicia na manjedoura e termina no Gólgota.
Aliás, o término mesmo não é na cruz, esta é apenas um momento, um instrumento didático, tudo termina na Jerusalém futura, a Jerusalém celeste, significando nossa libertação pelo conhecimento (que em hebraico tem o sentido de penetração) em nós da Verdade.

[1] Cf. Gênesis, 9: 24
[2] O Livro dos Espíritos, questão 625
[3] A Caminho da Luz, cap. XII
[4] João, 6: 35 e 48

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