segunda-feira, setembro 05, 2022

O Evangelho de Paulo

#Pública






Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá.

Paulo inicia este alerta nos fazendo importante observação: não vos iludais, e completa: de Deus não se zomba. É que aquele que achar que pode enganar a Deus incorre em grande erro, pois não há como trapacear Aquele que tudo sabe.

Em verdade, tentar enganar a Deus é enganar a si mesmo, o que é atrasar o processo evolutivo, pois sendo a Consciência, em sua essência, Deus em nós, não há como iludir a si mesmo por muito tempo. Assim, quando o Espírito "cai em si" ele compreende o seu engano e tudo faz por retomar o caminho e construir o que destruiu, porém, isto leva tempo e impõe ao Ser que anseia regenerar–se muitas dores e dissabores.

Hoje não podemos mais compreender Deus como aquele Ser exterior à sua criação e que tudo governa à distância impondo castigos e recompensas. É preciso entender o Criador, Inteligência Suprema, em sua imanência e transcendência, assim, Deus tudo sabe, pois governa de dentro, é ao mesmo tempo Lei e Legislador, tomando conhecimento de todas as coisas no instante exato que elas acontecem, promovendo no mesmo instante oportunidade de resgate ou consolidando a virtude como conquista.

Por saber de tudo isso, e por estar conectado com o próprio Cristo, é que Paulo, com autoridade, nos faz ver a impossibilidade que é iludir Deus, dizendo que Dele não se zomba, mostrando na continuidade a legislação suprema: O que o homem semear, isso colherá.

É preciso compreender bem este mecanismo de ação da Vida, e daí retirar importante conseqüência moral.

Tudo o que temos hoje, de positivo ou negativo, foi conquistado por nós mesmos em momentos anteriores de nossa existência. O que estamos fazendo hoje é nova semeadura que germinará e terá em instante oportuno seu momento de colheita. Isto não é brincadeira nem conto da carochinha, é Lei Universal, e se quisermos traçar para nós um destino pautado em menor sofrimento e maior segurança é bom que levemos isto tudo à sério.

Na verdade, o que fazemos para o outro é a nós mesmo que fazemos, o próximo é apenas instrumento didático promotor de nossa evolução, por isso achar que podemos enganar ou iludir à Vida é enganar a si mesmo, e como já dissemos, isto só é possível por um certo período de tempo. Desta forma, por que não decidir hoje pelo caminho mais curto que é o de viver o bem transformando–nos em homens bons?

É o próprio apóstolo dos gentios quem ensina o mecanismo reeducativo:

Não vos conformeis com este mundo, mas transformai–vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito.1



Ou ainda em mensagem aos cristãos de Filipos:

E é isto que vos peço; que vosso amor cresça cada vez mais, em conhecimento e em sensibilidade, a fim de poderdes discernir o que mais convém, para que sejais puros e irreprováveis no dia de Cristo, na plena maturidade do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo para a glória e louvor de Deus.2

Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna.

Paulo continua sua exposição ampliando e aprofundando o ensinamento. Lição em conformidade com esta ele dará também aos romanos:

porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.3

Por carne como dissemos anteriormente nos comentários do capítulo 5 desta carta, devemos entender os valores do mundo, os prazeres grosseiros da matéria.

Se semeamos tendo por base o culto ao que é transitório, ou as ilusões da matéria que nos remetem à sensualidade, ao poder da moeda, ou ao jugo do mundo de uma forma geral, disso tudo colheremos a corrupção.

Não é o que esta acontecendo hoje ao nosso redor em todas as esferas do orbe?

Corrupção quer dizer modificação, adulteração das características de algo4. Em se tratando de nossa história evolutiva, refere–se à adulteração de nosso propósito em relação à Deus. Fomos criados para mantermo–nos na Lei do Senhor, para seguirmos os Seus preceitos, e o que temos feito até então senão nos tornarmos adúlteros da Lei Maior? Não é à toa que os textos bíblicos atribuídos aos profetas referem–se ao povo de Deus como prostitutas a corromperem o objetivo maior da vida que é o da manutenção da Aliança com o Criador.

Paulo é claro quando expõe aos romanos, se viverdes segundo a carne, morrereis…

Por morte não devemos aqui entender o fim da vida corpórea, pois isso sucederá a todos que transitam pela vida física. Os Espíritos superiores têm sido claros ao nos afirmar que encarnar, isto é, tomar um corpo de carne, para eles que já vivem na esfera de grande espiritualidade, isto sim é que é morrer.

Portanto, enquanto nos acharmos intimamente ligados aos valores corruptíveis deste mundo, ainda estaremos sujeitos às necessidades reencarnatórias, e com estas a todos os tipos de dores, aflições, e sofrimentos inerentes ao processo evolucional.

Queremos nos libertar de tudo isso e tornarmo–nos saudáveis, felizes, sem a possibilidade de não mais sofrer? Façamos como orienta o apóstolo:

Semeemos no Espírito, pois o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna.

Aqui é preciso ampliar o entendimento.

Todos somos imortais, pois criados por Deus de Sua própria Substância Eterna, que é em última instância Espírito, não morreremos jamais, ou seja, não perderemos mais a vida, não seremos exterminados.

Então por que o texto evangélico se refere à vida eterna como conseqüência de uma vida pautada em espiritualidade e em vivências de uma moral superior? A vida não é eterna para todos?

É que vida eterna no evangelho significa vida sem a possibilidade de morte. Isto é, é a vida quando o Espírito atinge um grau tamanho de pureza que sai do ciclo reencarnatório representado pela dualidade nascer, morrer. Atingida esta fase, não é mais necessário reencarnar e passar pelas injunções da matéria que tanto nos faz sofrer.

É a isto que Paulo se refere quando afirma que, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte5; que o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor.6

Ou ainda, lembrando o próprio Jesus quando ensina:

eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância.7

Todavia não esqueçamos, para que este "milagre" da Vida se realize em nós é preciso mortificar as obras do corpo, conforme orientação do filho ilustre de Tarso.

E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.

Fazer o bem é uma necessidade básica para aquele que tem por desiderato reeducar–se dentro da proposta evangélica. O objetivo final é fazer–se bom, ou dentro da qualificação paulina, tornar–se Nova Criatura.

Todavia, de acordo com a natureza do mundo em que vivemos onde domina o direito da força e não a força do direito, onde somos colocados frente a frente com as nossas criações negativas e diante dos desafetos, fazer o bem nem sempre é fácil, pois representa o novo a ser conquistado, um caminho por nós ainda não percorrido.

Tudo que é novo em matéria de vivência requer esforço por não ser ainda espontâneo; por não ser conquista incorporada ao nosso modo de ser há muitos obstáculos a serem vencidos.

Deste modo, o aconselhamento daquele que já se fazia apóstolo, mas que lutava contra suas próprias imperfeições é bastante atual, pois se há o imperativo de nossa transformação através da vivência do bem, isso não será sem grande esforço o que muitas vezes pode levar o neófito a cansaço e até mesmo a alguma manifestação depressiva; não nos cansemos de fazer o bem, lembra ele, porque a seu tempo ceifaremos.

Nada é gratuito, vencendo os obstáculos, principalmente os que se encontram dentro de nós cultuados pelo personalismo, mudamos a onda mental em que nos movemos e vamos aos poucos nos acostumando com a nova faixa de aperfeiçoamento caracterizado pelo compartilhar interessado no bem do outro. É preciso compreendermos que a semeadura mais importante é a que realizamos em nós mesmos em favor da nossa reeducação moral, o que segundo a ótica Kardequiana significa implantar em nosso psiquismo novos caracteres.

Como se dá isto? Através do exercício diário, da violência às nossas imperfeições.

E, desde os dias de João Batista até agora, se faz violência ao Reino dos céus, e pela força se apoderam dele.8


Quando agir no bem for espontâneo em nós, não mais precisaremos realizar tal violência contra o homem velho, é sinal de que somos a Nova Criatura dita por Paulo, este será o tempo em que ceifaremos conforme nos ensina este versículo. Porém tal só se dará se não houvermos desfalecido, se não tivermos desistido do Evangelho apesar de todas as lutas que isto significa.

E sereis aborrecidos por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.9

Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.10


1 Romanos, 12: 2

2 Filipenses, 1: 10 e 11

3 Romanos, 8: 13

4 Dicionário Houaiss

5 1 Coríntios, 15: 26

6 Romanos, 6: 23

7 João, 10: 10

8 Mateus, 11: 12

9 Marcos, 13: 13

10 Apocalipse, 2: 10



Texto Extraído do Livro: "O Evangelho de Paulo"





Disponível em:


https://lojanovosrumos.com.br/




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