Introdução
Estudar os princípios fundamentais da Doutrina Espírita (DE) é um dever de todos os espíritas, permitindo uma compreensão mais profunda das leis divinas e do propósito da existência. Entre esses princípios, a mediunidade se destaca como um dos mais relevantes, pois foi por meio dela que a DE se consolidou e se expandiu.
Desde os fenômenos das irmãs Fox, passando pelas mesas girantes, a mediunidade serviu como ponte entre o plano espiritual e os encarnados, despertando o interesse de estudiosos e pesquisadores, como Allan Kardec, que se dedicaram a investigar e codificar os ensinamentos transmitidos pelos espíritos. "O Livro dos Espíritos", obra inaugural da Codificação Espírita, é essencialmente mediúnico, bem como os demais livros que compõem essa base doutrinária. Sem a mediunidade, não teríamos acesso às valiosas revelações espirituais que nortearam o Espiritismo.
Além da Codificação Espírita, a mediunidade também foi fundamental para a disseminação das mensagens espirituais através da obra de Francisco Cândido Xavier, cujos escritos trazem ensinamentos profundos e inspiradores para a evolução moral e espiritual da humanidade.
A influência da mediunidade pode ser percebida em diversas tradições religiosas, incluindo o Cristianismo, onde se reconhece a atuação do Espírito Santo na revelação das escrituras sagradas. Sob essa perspectiva, a Bíblia pode ser vista como um livro mediúnico, pois registra inúmeras comunicações entre o plano espiritual e os homens ao longo dos séculos. Dessa forma, compreender a mediunidade à luz do Evangelho permite um estudo mais aprofundado sobre a relação entre o mundo físico e espiritual, promovendo o crescimento moral e o entendimento da missão do ser encarnado.
A proibição da comunicação com os espíritos por parte de Moisés, registrada no Deuteronômio 18:10-13, é um tema frequentemente debatido à luz da Doutrina Espírita. Moisés, como líder do povo hebreu, estabeleceu diversas leis para organizar e proteger sua comunidade, e essa proibição se insere nesse contexto.
Segundo a visão espírita, a proibição não nega a existência da comunicação com os espíritos, mas sim confirma sua realidade, pois uma lei só proíbe algo que de fato ocorre. Moisés buscava evitar abusos e práticas que poderiam desviar o povo da verdadeira espiritualidade, já que, naquela época, muitos recorriam à mediunidade de forma irresponsável, buscando previsões, favores materiais ou até mesmo manipulação espiritual.
O Espiritismo, por sua vez, não proíbe a comunicação com os espíritos, mas orienta que ela seja feita com discernimento, estudo e responsabilidade. Allan Kardec explica que os espíritos superiores não se envolvem em questões frívolas ou materiais, e que o intercâmbio mediúnico deve ser utilizado para o progresso moral e espiritual.
Curiosamente, a própria Bíblia apresenta episódios de comunicação espiritual, como a transfiguração de Jesus, onde Moisés e Elias aparecem e conversam com Ele (Mateus 17:1-9). Esse evento demonstra que a comunicação entre planos existe e pode ocorrer de maneira elevada e instrutiva.
Portanto, à luz da Doutrina Espírita, a proibição mosaica pode ser vista como uma tentativa de evitar práticas mediúnicas irresponsáveis, mas não como uma negação da mediunidade em si.
O trecho de Números 11:26-29 mostra um Moisés bastante aberto à manifestação espiritual, quando dois homens, Eldade e Medade, começam a profetizar fora do grupo principal de anciãos. Josué, seu auxiliar, sugere impedir essa manifestação, mas Moisés responde:
"Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre eles!" (Números 11:29)
Essa passagem sugere que Moisés, longe de condenar a mediunidade ou a comunicação espiritual, desejava que mais pessoas fossem inspiradas pelo Espírito. O profetismo na Bíblia, visto como um contato direto com o plano espiritual, se assemelha muito ao conceito de mediunidade no Espiritismo. Os profetas recebiam mensagens espirituais e as transmitiam ao povo, exatamente como ocorre na mediunidade orientada pelos bons espíritos.
Assim, podemos entender que Moisés não negava a comunicação espiritual, mas queria que fosse utilizada com propósito elevado e legítimo. Sua proibição mencionada em Deuteronômio 18 visava conter práticas supersticiosas e abusivas, mas não descartava a intervenção espiritual genuína. Essa distinção é essencial para compreender por que mediunidade e profetismo se aproximam tanto na tradição bíblica.
A mediunidade é um dos fundamentos essenciais da Doutrina Espírita, sendo compreendida como uma faculdade natural do ser humano que possibilita a comunicação entre os espíritos desencarnados e os encarnados. Conforme Allan Kardec explica, todos possuem algum grau de mediunidade, embora nem todos sejam médiuns ostensivos, isto é, aqueles que apresentam fenômenos mediúnicos de maneira perceptível e frequente.
Fundamentos da Mediunidade
A mediunidade não é um dom exclusivo ou um privilégio, mas sim uma capacidade inerente ao ser humano, tal como a visão ou a audição. Kardec esclarece que os espíritos estão em constante interação conosco, influenciando nossos pensamentos e emoções, mesmo quando não temos plena consciência dessa influência.
Tipos de Mediunidade
A mediunidade pode se manifestar de diversas formas, entre elas:
- Psicografia – O médium recebe mensagens dos espíritos e as escreve.
- Psicofonia – A comunicação se dá por meio da voz do médium, que transmite as palavras do espírito comunicante.
- Vidência – O médium tem a capacidade de visualizar espíritos ou cenas espirituais.
- Cura – A mediunidade curadora atua na transmissão de energias para promover equilíbrio e bem-estar físico e espiritual.
- Intercessão – A mediunidade de intercessão se manifesta por meio da oração sincera e consciente em favor de nossos semelhantes. Ao interceder espiritualmente por alguém, fortalecemos laços de amor e auxílio, promovendo a conexão entre o plano físico e espiritual. Como Jesus ensinou, a oração é uma ferramenta poderosa de amparo e harmonização, capaz de mobilizar bons espíritos para auxiliar aqueles que necessitam. Essa mediunidade, acessível a todos, representa um verdadeiro exercício de caridade e fé.
Existem outras formas de mediunidade que não serão abordadas neste texto, pois fogem ao escopo da presente reflexão.
Mediunidade e Evangelho: A Comunicação Espiritual Como Caminho para a Evolução Moral
A relação entre mediunidade e Evangelho na Doutrina Espírita é profunda e essencial para compreender o papel da comunicação espiritual na evolução moral.
O Evangelho Segundo o Espiritismo destaca que a mediunidade deve ser praticada com humildade, responsabilidade e compromisso com o bem. Allan Kardec explica que os bons espíritos só se comunicam com médiuns que possuem intenções elevadas e que buscam a verdade.
Aqui estão alguns pontos fundamentais dessa relação:
- Mediunidade como instrumento de caridade – O evangelho ensina que a mediunidade deve ser usada para ajudar o próximo, seja por meio de mensagens esclarecedoras, passes espirituais ou orientações que promovam o crescimento moral.
Mediunidade e Caridade na Doutrina Espírita
A mediunidade não deve ser vista como um dom para benefício pessoal, mas sim como uma ferramenta para auxiliar, consolar e esclarecer aqueles que necessitam. Allan Kardec, como mencionado, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, reforça que a mediunidade deve ser exercida com desinteresse material, pois sua finalidade é espiritual e moral.
Formas de Caridade Mediúnica
A mediunidade pode ser utilizada para a caridade de diversas maneiras:
- Mensagens de conforto e orientação – Os médiuns podem transmitir mensagens dos espíritos para ajudar aqueles que enfrentam dificuldades emocionais, trazendo consolo e esperança.
- Passes espirituais e cura – A mediunidade curadora permite que energias benéficas sejam canalizadas para aliviar dores físicas e espirituais, promovendo equilíbrio e bem-estar.
- Esclarecimento espiritual – Através da psicografia ou da psicofonia, os espíritos podem transmitir ensinamentos que ajudam na evolução moral dos encarnados.
- Socorro aos espíritos sofredores – Muitos médiuns trabalham no auxílio a espíritos desencarnados que permanecem em sofrimento, ajudando-os a encontrar paz e esclarecimento.
A Gratuidade da Mediunidade
Kardec enfatiza que a mediunidade deve ser gratuita, pois vender comunicações espirituais seria desvirtuar sua finalidade. O médium é apenas um intermediário e não deve lucrar com algo que não lhe pertence. Esse princípio está alinhado com a máxima cristã: "Dai de graça o que de graça recebestes." (Mateus, 10: 8)
Exemplos de Médiuns que Praticaram a Caridade
Grandes médiuns como Chico Xavier dedicaram suas vidas ao serviço do próximo, utilizando sua mediunidade para consolar e orientar milhares de pessoas. Suas obras psicografadas trouxeram ensinamentos profundos e ajudaram incontáveis famílias a encontrar paz. Além disso, suas mais de 400 obras publicadas, todas psicografadas e sem que ele recebesse qualquer remuneração, geraram milhões de reais em receitas, que foram integralmente destinadas a instituições de caridade, hospitais e projetos sociais. Esse compromisso com a gratuidade da mediunidade e com o bem coletivo reforça o verdadeiro propósito da comunicação espiritual: servir como instrumento de auxílio e elevação moral.
- Jesus e a mediunidade – Muitos episódios da vida de Jesus podem ser interpretados como manifestações mediúnicas, como a transfiguração no Monte Tabor e suas curas espirituais. Ele demonstrou que a comunicação com o plano espiritual deve ser pautada pelo amor e pela verdade.
A relação entre Jesus e a mediunidade é um tema fascinante dentro da visão espírita. Muitos dos eventos descritos nos evangelhos podem ser interpretados como manifestações mediúnicas, demonstrando que Jesus possuía uma profunda conexão com o plano espiritual.
A Transfiguração no Monte Tabor
Um dos episódios mais emblemáticos é a transfiguração de Jesus, narrada em Mateus 17:1-9. Nesse evento, Jesus se ilumina diante de Pedro, Tiago e João, e aparece conversando com Moisés e Elias. Esse fenômeno pode ser visto como uma materialização espiritual, onde espíritos elevados se tornam visíveis aos encarnados. No Espiritismo, esse tipo de manifestação ocorre quando há uma sintonia vibratória entre os envolvidos, permitindo a comunicação entre planos.
As Curas Espirituais
Jesus realizou diversas curas que, à luz da Doutrina Espírita, podem ser interpretadas como passes magnéticos ou transmissão de fluidos espirituais. Ele restaurava a saúde de cegos, paralíticos e leprosos, muitas vezes apenas com sua presença ou com o toque das mãos. O Espiritismo explica que os espíritos elevados possuem um magnetismo poderoso, capaz de reequilibrar energias e promover a cura.
Expulsão de Espíritos Obsessores
Outro aspecto mediúnico presente na atuação de Jesus foi a desobsessão, como no caso do espírito que atormentava um homem e foi direcionado para uma manada de porcos (Mateus 8:28-34). No Espiritismo, a obsessão espiritual ocorre quando espíritos inferiores influenciam negativamente os encarnados, e a prática da desobsessão visa libertar essas consciências do sofrimento.
Jesus como o Médium de Deus
Chico Xavier e outros estudiosos espíritas frequentemente se referem a Jesus como o Médium de Deus, pois Ele transmitia ensinamentos divinos e exemplificava a mais pura conexão com o plano espiritual. Sua missão era pautada pelo amor e pela verdade, demonstrando que a mediunidade deve ser utilizada para o bem e para a evolução moral da humanidade.
No Livro dos Espíritos, na questão 625, os espíritos afirmam que Jesus é o maior guia e modelo para a humanidade. Além disso, Kardec explica em A Gênese que Jesus pode ser considerado um médium de Deus, no sentido de ser um intermediário direto entre o Criador e os homens, sem necessitar da assistência de outros espíritos para transmitir sua mensagem. Diferente dos médiuns comuns, que dependem da intervenção espiritual para comunicar-se com o plano superior, Jesus possuía um conhecimento absoluto das leis divinas e operava diretamente por sua própria capacidade espiritual.
Jesus Cristo, como espírito puro e plenamente consciente dos mecanismos da Lei de Deus, possuía um entendimento que transcendia o conhecimento humano. Esse domínio sobre as leis divinas permitia-lhe realizar maravilhas sem as transgredir, mostrando que o que chamamos de "milagres" eram, na realidade, manifestações naturais dessas leis que ainda desconhecemos.
Suas curas espirituais, materializações e manifestações de poder eram demonstrações desse profundo conhecimento e sintonia com as forças universais, exemplificando como a comunicação espiritual deve ser pautada pelo amor e pela verdade.
Continua no Próximo Post... (Mediunidade e Evangelho - Final)
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