sexta-feira, novembro 21, 2025

O Evangelho por José Damasceno Sobral - A Vocação de Mateus






Mateus 9:9-13;
Cap. 24 – item 11, pág. 366;
 
"9 E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem chamado Mateus e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos; por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: não necessitam de médicos os sãos, mas sim, os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas para os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:9-13).
 
"E JESUS, PASSANDO ADIANTE DALI"
O episódio ocorreu em Cafarnaum. O Mestre sempre esteve em movimento: em seu tempo, visitava cidades e aldeias; hoje, sua mensagem se espalha por inúmeros meios, tornando viva a sua presença entre nós.
"VIU ASSENTADO NA ALFÂNDEGA UM HOMEM"
Lucas (5:27) acrescenta: "um publicano chamado Levi, sentado na coletoria". Os publicanos eram cobradores de impostos que antecipavam valores e depois os arrecadavam. Zaqueu também era publicano (Lc 19:1). Eram desprezados pelo povo, pois cobravam além do devido, justificando-se por possíveis prejuízos — e porque o dinheiro se destinava ao império romano. Nem todos agiam assim, mas o simples fato de cobrar impostos já era motivo de antipatia. Jesus, ao ver Mateus na coletoria, mostra que em qualquer lugar podem ser encontrados homens de boa vontade. Não devemos julgar uma classe inteira pelo comportamento de alguns. Mateus estava sentado, identificado com a postura egoísta do "venha a nós".
"CHAMADO MATEUS"
Marcos e Lucas o chamam Levi. Mateus significa "Dom de Jeová". Filho de Alfeu (Mc 2:14). A mudança de nome era símbolo de renovação: Simão tornou-se Pedro; Saulo, Paulo. Ainda hoje, algumas comunidades religiosas mantêm esse costume. Quando o Mestre cruza nosso caminho, sua presença nos incomoda se não estivermos dispostos a mudar de vida e enfrentar nossos conflitos íntimos.
"E DISSE-LHE: SEGUE-ME"
O convite é universal, feito a todas as criaturas. No imperativo, desperta entusiasmo e fortalece a disposição. Mas Jesus apenas convida: não força ninguém, respeita o livre-arbítrio. Muitos adiam a decisão, inventando desculpas. Outros querem ser cristãos sem mudar de vida. Mas não se pode servir a dois senhores.
"E, ELE, LEVANTANDO-SE, O SEGUIU"
Levantar-se não é apenas físico: é também mental e espiritual. É adquirir nova visão sobre pessoas, coisas e o mundo. Lucas acrescenta: "deixando tudo" (5:28). Seguir o Mestre exige abandonar o que contraria seus princípios: egoísmo, vaidade, orgulho, ostentação. Não se trata de abandonar família ou deveres, mas de renunciar ao apego e ao comodismo.
Esse ensinamento permanece atual. Mateus, provavelmente, possuía uma extensa lista de devedores registrada em seus pertences. "Deixar tudo" e seguir Jesus é também deixar nossas próprias listas de quem nos deve, seja material ou espiritualmente, permitindo que todas as coisas se tornem novas (Apocalipse 21:5).
"E ACONTECEU QUE, ESTANDO ELE EM CASA SENTADO À MESA..." (Mt 9:10)
Mateus, em alegria, ofereceu um banquete a Jesus (Lc 5:29). Como publicano rico, devia possuir casa ampla. Vemos aí sinais de transformação: antes, sentado na coletoria, apenas recebendo; agora, à mesa de sua casa, oferecendo. Antes, comodismo egoísta; agora, partilha e reflexão.
"CHEGARAM MUITOS PUBLICANOS E PECADORES"
Eram seus companheiros habituais. Nossa mudança deve influenciar nossos amigos. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens..." (Mt 5:16). O banquete revela o contentamento de Mateus.
"E SENTARAM-SE COM JESUS E SEUS DISCÍPULOS"
Jesus e seus discípulos, junto de Mateus e seus amigos. Comer juntos significa afinidade e proximidade. Os pecadores eram os que viviam fora dos rituais, assumindo sua condição sem máscaras, o que escandalizava os fariseus. O Evangelho, ao entrar em nosso coração, encontra nossas imperfeições: os "comensais" internos. Mateus deixou tudo; nós também precisamos de decisão firme para abandonar o que nos prende.
"E OS FARISEUS, VENDO ISTO..." (Mt 9:11)
Os fariseus eram os intelectuais da época. Em nós, representam a razão que questiona. Não buscavam aprender, mas semear dúvidas e enfraquecer os discípulos. Perguntaram: "Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?". Eles só conviviam com seus iguais; Jesus, ao contrário, buscava os pobres, enfermos e necessitados.
Naquele tempo, banquetes tinham portas abertas: convidados se sentavam, e curiosos podiam entrar e observar. Comer junto significava comunhão. A verdadeira transformação deve partir de dentro, do coração.
"JESUS, PORÉM, OUVINDO, DISSE-LHES..." (Mt 9:12)
Conhecendo a malícia dos fariseus e para proteger seus discípulos, Jesus respondeu: "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes". Ele é o Médico das almas. Publicanos, pecadores e até os fariseus eram enfermos espirituais. Mais grave que a doença do corpo é a do espírito. Pior ainda é o doente que se julga saudável: cegos que dizem ver, surdos que afirmam ouvir, mortos que aparentam vida.
Jesus está presente para todos:
  • "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mt 11:28)
  • "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." (Jo 11:25)
"Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:13)
"IDE, PORÉM, E APRENDEI O QUE SIGNIFICA"
Paciência, tolerância, misericórdia e perdão muitas vezes são vistos como sinais de fraqueza ou falta de atitude. No entanto, quando Jesus ordena: "Ide e aprendei", Ele nos lembra que apenas a vida, com seus altos e baixos, é capaz de ensinar o verdadeiro sentido dessas virtudes. É pela experiência que adquirimos uma visão mais humana e compassiva dos acontecimentos.
"MISERICÓRDIA QUERO E NÃO SACRIFÍCIO"
Praticar misericórdia é muito mais difícil do que oferecer um sacrifício ritual. O povo judeu estava acostumado a sacrificar bois, ovelhas e pombos — uma religião exterior, baseada em ritos. Hoje, esse comportamento continua, muitas vezes reduzido à simples presença em cultos. Mas Jesus nos mostra que o essencial não é dar coisas, e sim dar-se: oferecer o coração, a compreensão e o amor.
"PORQUE EU NÃO VIM A CHAMAR OS JUSTOS"
Os justos não necessitam de chamado, pois já se encontram alinhados com o bem. Mas é importante lembrar que existem "justos relativos": qualquer pessoa que, em determinado momento, vive com consciência tranquila e coração em paz. Essa condição nos conforta e fortalece, mas não deve servir de acomodação.
"MAS OS PECADORES AO ARREPENDIMENTO"
Aqui Jesus se revela como o Médico das almas. O pecado — o afastamento do bem — é a raiz de todos os males. Deus estabeleceu suas leis, e elas mesmas nos corrigem quando não as seguimos. O ideal é viver de tal forma que nossa conduta dispense a necessidade de vigilância externa, como a presença de um policial. Arrepender-se é interromper a queda e iniciar a subida: um movimento de retorno ao equilíbrio e à harmonia.
  • "Digo-vos que haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc 15:7)
  • "Porque eu quero misericórdia, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos." (Oseias 6:6)
  • "Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." (1Tm 1:15)
Referências

Texto atualizado por Cláudio Fajardo (CF) a partir de anotações da reunião de José Damasceno Sobral em Belo Horizonte, 7 de junho de 1979. As anotações em vermelho são atuais feitas por mim (CF)

 
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quarta-feira, novembro 19, 2025

Luz no Caminho – 70 passos para viver a felicidade que vem do Alto





"Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho." Salmo 119:105
A jornada espiritual não se mede em passos, mas em despertares.
Cada instante de dor é convite à renovação. 
Cada sombra, uma chance de acender a luz interior.
 A palavra divina não apenas guia, ela transforma. 
Não há noite que resista ao verbo do amor. 
Nem deserto que não floresça sob o sol da fé.
O caminho é estreito, mas a luz é ampla. 
A alma que escuta, caminha. A alma que serve, ilumina. A alma que ama, ascende.
Não temas os espinhos, são mestres silenciosos. 
Nunca fujas da cruz, ela é ponte para o alto. Não te detenhas no vale, há cume esperando tua coragem.
A luz não está fora. Está em ti. E brilha quando te entregas ao bem.
"O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei?" Salmo 27:1

Queridos leitores,
É com imensa alegria que compartilho com vocês minha nova obra: Luz no Caminho. Este livro nasceu do desejo de oferecer reflexões que iluminem nossa jornada espiritual, inspirando fé, coragem e transformação interior.
Embora o Evangelho seja a base de minha caminhada, aqui busco ampliar o olhar: a obra se fundamenta nos princípios eternos e universais que atravessam diversas tradições espirituais e filosóficas. São valores que permanecem vivos em diferentes culturas e que apontam para a mesma direção — a evolução do ser e a busca pela luz interior.
Cada capítulo é um convite para caminharmos juntos, da letra à vida, da matéria ao espírito, reconhecendo que a sabedoria divina se manifesta em múltiplas formas e linguagens.
Para que vocês possam conhecer melhor o conteúdo, preparei um e-book promocional com alguns capítulos selecionados. É uma espécie de test drive, para que possam avaliar o estilo da obra, sentir sua proposta e decidir se desejam mergulhar na leitura completa. O link estará disponível ao final desta publicação.
📖 Luz no Caminho é mais do que um estudo: é um chamado à iluminação interior, à união entre razão e fé, conhecimento e vivência, história e espiritualidade.
Espero que esta obra seja uma fonte de inspiração e paz, e que cada página ajude a clarear os passos de quem busca seguir os princípios universais que nos conduzem à luz.
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sexta-feira, novembro 14, 2025

O Estudo do Evangelho Miudinho: uma leitura com alma


#claudiofajardoautor

O Estudo Minucioso do Evangelho de Jesus (EMEJ), carinhosamente chamado de Evangelho Miudinho, é uma metodologia de leitura e reflexão que propõe analisar cada versículo do Novo Testamento, palavra por palavra, com profundidade, buscando a essência espiritual e reeducativa das palavras de Jesus à luz da Doutrina Espírita.
Inspirado na obra de Allan Kardec e nas interpretações de Emmanuel por Chico Xavier, o Miudinho não se contenta com a superfície do texto. Ele convida o leitor a:
  • Ler com o coração e com a razão;
  • Refletir sobre o contexto histórico, moral e espiritual de cada passagem;
  • Aplicar os ensinamentos à vida cotidiana, promovendo autoconhecimento e transformação interior.
Características principais
  • Versículo por versículo: cada trecho é estudado isoladamente, permitindo mergulho profundo.
  • Estudo coletivo e dialogado: geralmente feito em grupos, onde todos podem e devem participar com reflexões e trocas de experiências.
  • Base doutrinária espírita: utiliza como referência O Evangelho segundo o Espiritismo, além de obras subsidiárias como as de Emmanuel e outras dedicadas ao estudo do Evangelho.
  • Ênfase na vivência: mais do que compreender, o objetivo é sentir e viver o Evangelho.
 Por que "miudinho"?
O termo remete à ideia de peneirar o trigo, separando o essencial do acessório. É um convite à leitura cuidadosa, paciente e amorosa, como quem busca o ouro escondido nas entrelinhas do verbo divino.
Impacto espiritual
O Miudinho transforma o estudo em caminho de iluminação interior. Ele não apenas ensina, desperta. Não apenas informa, cura. É uma prática que une intelecto e sentimento, razão e fé, estudo e caridade.
Evangelho: Por que, Para Que e Como Estudá-lo
Introdução
O Evangelho de Jesus é mais do que um livro sagrado: é um roteiro de vida. Não basta lê-lo ou analisá-lo intelectualmente; é preciso vivê-lo. O desafio não está em acreditar, mas em praticar seus preceitos. Para o espírita, o estudo do Evangelho é caminho consciente de evolução, pois a Doutrina codificada por Allan Kardec se apoia inteiramente na mensagem do Cristo.
Por que estudar o Evangelho?
Segundo O Livro dos Espíritos (questões 132 e 167), a finalidade da encarnação é o aperfeiçoamento espiritual. Evoluir significa espiritualizar-se, libertando-se gradualmente da influência da matéria. Jesus é o guia e modelo oferecido por Deus, e o Evangelho é a luz que ilumina o caminho. Estudá-lo é reconhecer que a vida terrena é oportunidade de crescimento e que o roteiro seguro da evolução está nas lições do Mestre.
Para que estudar o Evangelho?
O estudo nos permite evoluir de forma consciente, escolhendo o bem com espontaneidade e não apenas pela dor ou pela disciplina. O Evangelho é instrumento de educação do Espírito, conduzindo à prática natural da caridade e da transformação moral. Paulo sintetiza essa vivência ao afirmar: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20).
Como estudar o Evangelho?
Não existe receita pronta, mas alguns princípios são fundamentais:
  • Isenção de preconceitos e dogmas: aproximar-se com humildade e abertura de coração. É preciso aproximar-se do Evangelho sem querer impor nossas ideias a ele, mas deixando que ele nos ensine.
  • Interpretação à luz da Doutrina Espírita: relacionar os ensinamentos com os princípios codificados por Kardec.
  • Conhecimento histórico e cultural: compreender o contexto da Palestina e da época de Jesus.
  • Busca do conteúdo espiritual: ir além da letra, alcançando o espírito da mensagem.
O valor do onde, quem e quando
  • Onde: os lugares têm significado espiritual. Galileia simboliza simplicidade; Jerusalém, espiritualidade elevada; Samaria, conflitos e superação.
  • Quem: os personagens representam virtudes. Pedro é firmeza, Tiago é testemunho, João é amor. Cada figura nos inspira a refletir sobre nosso próprio papel.
  • Quando: o tempo das ações revela lições. Nicodemos buscou Jesus à noite, representando a procura de luz em meio às trevas. Já os milagres realizados de dia mostram que é na clareza espiritual que devemos agir.
Conclusão
Estudar o Evangelho é compreender o caminho da evolução e aplicá-lo como guia de vida. É mais que conhecer: é realizar. O estudo deve ser feito com intenção pura, abertura às entrelinhas e humildade diante das limitações. Em grupo, torna-se ainda mais rico, pois amplia a compreensão e fortalece o espírito de colaboração.
Assim, o Evangelho deixa de ser apenas texto e se torna espelho da alma, revelando onde estamos, quem somos e quando devemos agir para transformar nossa caminhada.
O Evangelho é o mapa, mas a vivência é o território. Estudá-lo é acender a luz que nos guia da matéria ao espírito.

Leia Também o E-book: O Antigo Testamento em Perspectiva Espírita disponível gratuitamente em:

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sexta-feira, novembro 07, 2025

Jonas e Paulo: Dois Chamados, Uma Missão - A pedagogia divina na formação dos mensageiros do Alto



#claudiofajardoautor

"Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel." (Atos 9:15 – ARC)
Na tessitura espiritual das Escrituras, há personagens que, embora separados por séculos e contextos, revelam paralelos profundos em suas jornadas com Deus. É o caso de Jonas, o profeta do Antigo Testamento, e Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios. Ambos foram chamados para missões que transcendiam fronteiras, ambos resistiram ao chamado, e ambos, após um período de recolhimento e transformação, tornaram-se instrumentos vivos da misericórdia divina.
Jonas: o profeta que fugiu
O livro de Jonas, considerado por muitos teólogos modernos como uma parábola ou ficção didática, não tem como objetivo principal narrar fatos históricos, mas transmitir verdades espirituais. Jonas é convocado por Deus para pregar em Nínive, cidade estrangeira e símbolo da impiedade. Em vez de obedecer, ele foge para Társis, embarcando numa jornada de recusa e resistência.
Mas a fuga de Jonas não é indiferente ao plano divino. A tempestade que se segue não é apenas climática, é espiritual. Ela representa o conflito entre a vontade humana e a vontade de Deus, o desequilíbrio que se instala quando o espírito se afasta de sua missão. No simbolismo bíblico, o mar é muitas vezes figura do inconsciente, do caos, da travessia interior. A tormenta, portanto, é o reflexo externo da crise íntima de Jonas, que tenta escapar do compromisso assumido no plano espiritual.
A tempestade também cumpre uma função pedagógica: despertar Jonas para a gravidade de sua escolha. Ela obriga o profeta a reconhecer sua responsabilidade, a se entregar voluntariamente ao mar, ou seja, ao processo de transformação. É nesse momento que ele é engolido por um grande peixe, onde permanece por três dias, em silêncio e escuridão. É o tempo da reflexão, da morte simbólica do ego, da preparação para o renascimento. Ao sair do ventre do peixe, Jonas finalmente cumpre sua missão, e Nínive se converte.
E aqui reside um ponto singular: Jonas é o único profeta do Antigo Testamento enviado diretamente aos gentios. Os demais profetas falam ao povo de Israel, à casa de Judá, aos filhos da aliança. Jonas, porém, é enviado a um povo estrangeiro, considerado impuro, e sua mensagem provoca arrependimento coletivo. É uma antecipação da universalidade da misericórdia divina, a mesma que Paulo, séculos depois, levaria aos gentios com o Evangelho do Cristo.
Paulo: o apóstolo que perseguiu
Séculos depois, Paulo de Tarso, fariseu zeloso, persegue os cristãos com fervor. Mas no caminho de Damasco, é surpreendido pela luz do Cristo. Cai por terra, fica cego e em jejum por três dias, tempo idêntico ao de Jonas no ventre do peixe. É o momento de ruptura, de revisão interior, de renascimento espiritual.
Paulo, que antes combatia a fé, torna-se seu maior propagador. E assim como Jonas foi enviado aos gentios de Nínive, Paulo é escolhido para levar o Evangelho aos gentios de todo o mundo. Ele mesmo reconhece que sua missão já estava traçada no plano espiritual:
"Todavia, Deus me separou desde o ventre de minha mãe e me chamou por sua graça." (Gálatas 1:15)
Três dias de escuridão, três dias de renascimento
A analogia entre Jonas e Paulo se aprofunda nos três dias de recolhimento. Ambos passam por um período de suspensão da visão, Jonas no ventre do peixe, Paulo na cegueira física. Ambos são chamados a rever suas posturas, a renunciar à fuga ou à violência, e a abraçar a missão divina com humildade.
Esses três dias são úteros simbólicos, onde o velho homem morre e o novo homem nasce. São o intervalo necessário para que a alma, tocada pela luz, se prepare para servir.
Missão entre os gentios
Jonas é o único profeta do Antigo Testamento enviado diretamente aos gentios. Paulo é o apóstolo dos gentios, aquele que rompe as barreiras do judaísmo e universaliza o Evangelho. Ambos são instrumentos da misericórdia divina, levando a mensagem de salvação àqueles que estavam fora do círculo religioso tradicional.
A pedagogia divina
Jonas e Paulo revelam que Deus não impõe — educa. O chamado pode ser recusado, a missão pode ser adiada, mas o amor do Senhor é paciente e firme. Ele espera, transforma, e quando a criatura se recolhe ao silêncio das provas, o chamado ressurge com mais luz.
Ambos são testemunhos vivos de que a vontade divina não se frustra, e de que a resistência humana pode ser vencida pela força do amor.
Conclusão
Jonas e Paulo são parábolas vivas da reeducação espiritual. Um pela fuga, outro pela perseguição. Mas ambos, enfim, pela obediência. Que suas histórias nos inspirem a ouvir o chamado do Alto, mesmo quando ele nos leva para além das fronteiras do conforto. Porque é lá, no terreno da entrega, que a missão se cumpre e a alma se engrandece.

#EvangelhoSegundoOEspiritismo #MissãoProfetas #ParábolasBíblicas #EstudoBíblico

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sexta-feira, outubro 31, 2025

A Verdade e a Reencarnação: Reflexões à Luz do Evangelho


#claudiofajardoautor

No capítulo XX, item 230 de O Livro dos Médiuns, o Espírito Erasto nos oferece uma advertência de profundo discernimento:
"Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade."
Essa afirmação, embora aparentemente radical, revela um princípio essencial para o progresso espiritual e intelectual da humanidade. A verdade, mesmo quando rejeitada, permanece intacta e retorna com força quando o tempo é propício. Já a falsidade, uma vez acolhida, pode se enraizar profundamente, contaminando consciências, doutrinas e tradições por séculos — ou até milênios — antes de ser finalmente extirpada.
Se Erasto, um espírito elevado, nos alerta sobre os perigos da falsidade, o que dizer de Jesus, o Plenipotenciário Divino? Em toda a narrativa evangélica, não há um único momento em que Jesus tenha tolerado ou relativizado a mentira. Pelo contrário, sua postura diante da falsidade foi sempre firme, direta e, por vezes, contundente.
Jesus e a Verdade: Um Compromisso Inabalável
Ao confrontar os líderes religiosos de sua época, Jesus não hesitou em usar palavras duras:
"Serpentes, raça de víboras!" (Mateus 23:33)
"Vós tendes por pai o diabo." (João 8:44)
Essas expressões não foram ditas por impulso, mas como parte de um esforço consciente para desmascarar a hipocrisia e restaurar a verdade. Em outra ocasião, ao ser criticado por um fariseu por não lavar as mãos segundo a tradição, Jesus respondeu com uma lição sobre a verdadeira pureza:
"Vós, fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades." (Lucas 11:39)
Nem mesmo Simão Pedro, que viria a ser uma das principais lideranças da comunidade cristã nascente, escapou da repreensão direta. Ao tentar dissuadir Jesus de seu caminho, ouviu:
"Vai-te, Satanás!" (Mateus 16:23)
Esses episódios ilustram que Jesus jamais foi conivente com ideias falsas, por mais bem-intencionadas que fossem. Sua missão incluía, acima de tudo, o estabelecimento da verdade divina.
A Reencarnação no Evangelho: Uma Leitura Espiritual
Um dos trechos mais debatidos sobre a reencarnação encontra-se em João 9:1-3:
"Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Seus discípulos lhe perguntaram: 'Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?' Jesus respondeu: 'Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.'"
Alguns intérpretes afirmam que essa passagem refuta a reencarnação. No entanto, uma análise mais cuidadosa revela o oposto. A pergunta dos discípulos pressupõe a possibilidade de pecado anterior à vida atual — uma ideia compatível com a reencarnação, que era conhecida no judaísmo da época. Se a doutrina fosse falsa, Jesus teria corrigido imediatamente seus discípulos, como fez em tantas outras situações. Mas não o fez.
Sua resposta indica que, naquele caso específico, a cegueira não era consequência de vidas passadas, mas sim uma oportunidade para a manifestação da obra divina. Assim como no episódio do jovem rico, em que Jesus diz:
"Vai, vende tudo o que tens e segue-me" (Mateus 19:21)
O convite é radical, mas direcionado àquela alma em particular. O problema não era a riqueza, mas o apego a ela.
Portanto, a ausência de uma condenação explícita à reencarnação é, na verdade, uma confirmação silenciosa de sua validade.
E por que Jesus não a afirmou de forma direta? Pode ser perguntado. Ele mesmo responde:
"Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade." (João 16:12-13)
Conclusão
A fidelidade à verdade é um dos pilares do ensinamento cristão e espírita. Jesus, em sua missão divina, jamais tolerou a falsidade, e sua postura diante da reencarnação revela respeito por uma lei espiritual que transcende o tempo. Cabe a nós, como buscadores da verdade, cultivar o discernimento e a coragem para rejeitar o erro, mesmo que isso signifique, por um tempo, repelir verdades ainda não compreendidas.

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terça-feira, outubro 21, 2025

Confissões do Além: A Voz de Santo Agostinho no Espiritismo

É com muita alegria que compartilho com vocês minha mais recente dissertação, agora disponível para leitura em FlipBook, intitulada "Confissões do Além: A Voz de Santo Agostinho no Espiritismo". O estudo parte de um convite ousado e, ao mesmo tempo, profundamente humano: olhar para Santo Agostinho não apenas como o teólogo e filósofo que marcou a Patrística cristã, mas como um Espírito atuante nas obras fundamentais do Espiritismo. O que muda — e o que permanece — entre o bispo de Hipona e o Espírito comunicante que inspira consolo e ética nos livros de Allan Kardec? Ao longo da dissertação, traço uma análise comparativa entre o Agostinho encarnado e o Espírito Agostinho revelado nas mensagens da Codificação Espírita. Através de mensagens extraídas d'O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Médiuns e da Revista Espírita, evidencio a impressionante continuidade de seu pensamento — agora liberto dos dogmas e ampliado pela lucidez espiritual. Tópicos como autoconhecimento, oração, reforma íntima, dor redentora e missão espiritual ganham contornos profundos nas palavras serenas e firmes de Agostinho como Espírito. Um de seus conselhos mais célebres ecoa como lema da jornada interior: > “Conhece-te a ti mesmo.” > — Santo Agostinho, resposta à questão 919 de O Livro dos Espíritos Neste texto, convido o leitor a refletir não apenas sobre a evolução de um Espírito ilustre, mas também sobre sua própria trajetória moral. Afinal, se mesmo uma alma do porte de Agostinho segue aprendendo e servindo após a morte física, o que nos impede de fazer o mesmo? #SantoAgostinho #EspiritismoCristão #DoutrinaEspírita #Autoconhecimento #FéRaciocinada

 

segunda-feira, outubro 13, 2025

As Bem Aventuranças de Jesus



BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO, PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS.
#ClaudioFajardoEvangelho
Bem-aventurados… - Bem-aventurado é sinônimo de feliz. E a felicidade promovida pelo Cristo não é a felicidade que conhecemos, fugaz, momentânea, porque não está embasada em valores temporários. A felicidade a que se refere o Mestre é definitiva, porque é conquistada pelos valores do espírito. Seus ensinamentos são baseados na verdadeira moral, aquela que nos conduz à faixa vibratória do Criador, fazendo-nos retornar para o seio amoroso do Pai.
Os pobres de espírito- A expressão pobre de espírito é usada no mundo se referindo a pessoas sempre fracassadas. "Fulano é um pobre de espírito" indica que este não passa de uma pessoa qualquer, incapaz de realizar algo de bom.
A conotação dada por Jesus é bem diferente. A palavra pobre nos leva a pensar em necessidade. O pobre é o que verdadeiramente não tem, por isso tem necessidade e, consequentemente, vai atrás, vai em busca do que lhe falta.
O pobre de espírito a que se refere Jesus é o que tem consciência da sua pequenez em relação à grandeza do Universo. Diante da Sabedoria Divina, reconhece que nada sabe, ou sabe muito pouco. Cônscio de seus parcos recursos espirituais, trabalha, sabedor de suas necessidades, e busca em tudo mais aprender para melhor entender a vida, e dela recolher os preciosos frutos. Em outras palavras o pobre de espírito destacado pelo Meigo Rabi da Galileia é o humilde. E esta virtude é tão importante que foi o primeiro grande ensinamento de nosso Mestre, que, como Governador Espiritual de Mundos, podia encarnar como bem quisesse. E assim o fez, vindo entre nós no seio de uma família pobre, tendo como primeiro leito uma manjedoura e, como narra o evangelista, sua mãe o envolveu em panos.[1]
Porque deles é o Reino do Céus - O conceito de céu, dado pela Doutrina Espírita, é bem diferente do que fora, até então, dado pelas outras religiões. Céu não é uma região física, mas um estado do Espírito que se encontra em afinidade com as Leis Divinas. Esta ideia não é nova, Jesus já divulgara este pensamento quando nos falou sobre o reino de Deus:
O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós.[2]
A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe é adversa, sabe compreender e se situar conforme a realidade, sabedor ele de que os bens definitivos são o que é realidade e não o estado transitório das coisas. Este é o motivo por que Jesus nos afirmou ser deles o Reino dos céus. Deles, porque qualquer um que atingir este estado d'alma se capacita a ser habitante do Reino.
BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM, PORQUE ELES SERÃO CONSOLADOS.
 
Bem-aventurados os que choram - Mais uma vez o Mestre nos faz ver a diferença entre o mundo e o Reino. Felizes os que choram, afirma-nos Ele. No mundo, os que choram são os derrotados, são os revoltados com a sua situação, são os que muitas vezes dizem orar, mas não compreendem os desígnios da Providência. Para estes não há consolo, pois valorizam o que é passageiro, têm por importante só o que satisfaz os sentidos. Constroem sua riqueza onde o ladrão rouba e a traça corrói.
Os que choram, no entendimento de Jesus, são os que se encontram em situação difícil, mas sabem não ser ninguém o culpado, senão eles mesmos. O choro do reconhecimento leva-nos à interiorização do problema, e passamos a refletir com consciência, entendendo a Justiça Soberana como  a comandar tudo no Universo. Se determinada dor nos visita, é porque nos fizemos merecedores, e é no plano da reação que realmente mostramos quem somos. Aquele que de tudo reclama, nega a Paternidade Divina. Como pode o Pai, o qual é a própria Perfeição, dar o que não é bom para seu filho? E neste instante, mesmo sendo filho por natureza, o Espírito deixa de usufruir do que tem direito, é como se fôssemos filhos, mas, não reconhecendo o pai nos sentíssemos órfãos.
O que chora, alcançado por esta Bem-Aventurança, é também humilde porque reconhece seu erro e se posiciona com vistas à necessária correção. Desta forma, vemos o caráter evolutivo das Bem-Aventuranças, ou seja, cada Bem-Aventurança engloba a anterior. Assim sendo, os que choram possuem também a humildade, sendo a característica básica do pobre de espírito. Com isso, aprendemos com Jesus que tudo em seus ensinamentos tem uma razão de ser, e não é à toa que as Bem-Aventuranças têm esta ordem.
Porque eles serão consolados - Toda e qualquer palavra proferida pelo Mestre guarda um ensinamento. O "Porque" aqui usado por Ele, funciona como uma explicação: serão bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Como a nos mostrar da necessidade de justificarmos nossas ações, chega de agir no plano da inconsciência. Após o advento do Messias, não podemos mais alegar ignorância.
Jesus, ao se referir ao Espiritismo, evidenciou o seu caráter de consolador:
Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas…Mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. [3]
Quando nos perquirimos sobre o porquê de o Espiritismo ser este Consolador, vemos que a resposta está diretamente ligada ao fator esclarecimento a que a Doutrina dos Espíritos está vinculada. Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará[4], disse-nos o Mestre.
Desta forma, entendemos o porquê de ser consolado aquele que chora, desde que o choro seja representação de sentimentos cristãos. É que sendo esclarecido quanto ao motivo do sofrer, fica mais fácil suportar a dor. É nesse sentido que compreendemos o Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.[5]
Além do mais, temos de entender que não existe sofrimento por tempo indeterminado, a duração do sofrer dura somente o tempo necessário para fazer voltar ao caminho aquele que dele se afastou. Deste modo, entremo-nos em uníssono com o Senhor e façamos do nosso choro a libertação de nossos Espíritos, alcançando assim, o consolo da Vida Eterna.
 
Texto extraído do Livro:
 
 
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[1] Lucas, 2: 7
[2] Lucas, 17: 20 e 21
[3] João, 14: 26 e 16: 13
[4] João, 8: 32
[5] Mateus, 11: 28