segunda-feira, abril 26, 2021

Parousia - A Segunda Vinda de Cristo

                                                                                             
 
 

Parousia é uma palavra grega antiga que significa presença, chegada ou visita oficial1. Em termos religiosos habitualmente se refere à volta de Jesus no fim dos tempos, para o Juízo Final.

Este é um dos temas mais constantes da Escrituras Bíblicas; inclusive encontramos referências a este evento, também no Antigo Testamento que foi escrito antes da primeira vinda de Jesus.

Desta forma, nós espíritas que temos o Antigo Testamento como obra da Primeira Revelação e o Novo como obra da Segunda, não podemos deixar avaliar o que as Escrituras querem dizer se as interpretarmos à luz da Doutrina Espírita, que temos como Terceira Revelação.

Deste modo, pretendemos comentar alguns textos dos autores bíblicos que tratam do assunto.

Em Mateus, nas anotações do Sermão Profético temos:

Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo.
Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.
E estando ele sentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo. (Mateus, 24: 1 a 3)

Como podemos ver, a expectativa da segunda vinda de Jesus iria demarcar o fim de um ciclo. Fim do Mundo aqui não era o que podemos entender hoje como fim do mundo, ou seja, a destruição de tudo. Tratava-se, como dissemos, do fim de um ciclo, como fica claro em outras traduções:

E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos" (NVI)
Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século. (ARA)

Portanto, compreendemos que a expressão se refere ao fim de um mundo de sofrimento e dores que seria marcado pelo restabelecimento do Reino de Israel em que o Rei seria o Messias. Dentro da classificação dos mundos conforme ensina a doutrina espírita, seria o fim do Mundo de Provas e Expiações e a entrada no Mundo de Regeneração, o que os Judeus chama de Mundo Vindouro ou Era Messiânica.

Espiritualmente falando, podemos entender Israel como símbolo de toda humanidade (Emmanuel). De modo mais restrito, seriam aqueles que fazem sua evolução de forma consciente, em oposição a gentios que seriam os que evoluem pelos impactos da vida.

Assim, reestabelecimento do Reino de Israel seria exatamente o que escrevemos acima, seria um Reino regido pelo Evangelho de Jesus, portanto, Ele, o Messias, como Rei.

O texto mais antigo do Novo Testamento que trata deste assunto é a Primeira Carta aos Tessalonicenses, assunto que o autor comenta também na segunda carta dirigida aos cristãos de Tessalônica, sendo este o segundo texto do Novo Testamento que trata do assunto.

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.
Consolem-se uns aos outros com estas palavras.
(I Tessalonicenses, 4: 16 a 18)

Não pretendemos nestes comentários fazer um estudo minucioso do Evangelho, como habitualmente fazemos, mas apenas comentar os textos no que diz respeito ao tema abordado que é o da Parousia, ou segunda vinda do Cristo.

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus; o texto é simbólico. A expressão dada a ordem demonstra que se trata de um evento que depende de uma autorização do Alto. Voz de arcanjo, ou seja, de um Espírito Superior. Ressoar da trombeta de Deus, definindo que a ordem vem do próprio Criador, isto é, os Espíritos envolvidos estão diretamente ligados a Deus e ao Cristo.

Para que este evento se dê é necessário o amadurecimento da humanidade planetária. Isto ocorrendo a própria Lei de Deus que rege os Universos proporciona o acontecimento. Os Espíritos superiores apenas administrarão os eventos como servidores que são do Criador.

...o próprio Senhor descerá dos céus; em uma leitura apressada podemos entender como sendo o próprio Jesus a descer. Isto pode acontecer. Jesus é um Messias Divino e o Governador espiritual do Orbe, assim, quando ele quiser e as condições favorecerem Ele pode vir, entretanto não é necessário. Esta "descida dos céus" podemos compreender como a Descida dos Ideais Superiores, que se dá, como já comentamos, pelo amadurecimento espiritual da humanidade, e pela manifestação de Espíritos superiores que trabalham e estão ajustados ao próprio Cristo.

No Advento da Doutrina Espírita estes Espíritos superiores manifestaram em grande escala trazendo estes ideais de que falamos.

...e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. A doutrina da ressurreição é de origem judaica, mais especificamente dos fariseus. Paulo de Tarso antes de ser cristão já era defensor desta ideia, pois pertencia ao farisaísmo. Após converter-se ao Cristo fortaleceu-se nesta crença, pois teve a prova através do encontro com Jesus na estrada de Damasco.

Esta doutrina é diferente da doutrina da reencarnação, porém, as duas são plenamente conciliáveis.

A reencarnação como o próprio nome sugere é a volta do Espírito em outro corpo físico. Já a ressurreição dentro da ideia comum dá a entender a volta do Espírito, mas no mesmo corpo.

O espiritismo não aceita a ideia da volta do Espírito no mesmo corpo, mas nem por isso rechaça a ideia da ressurreição.

No Evangelho é falado de ressurreição do último dia, e isto é plenamente conciliável com a ideia da reencarnação. O Espírito reencarna, entre outros motivos, para realizar uma evolução mais ampla. Quando ele atinge o fim dos ciclos palingenésicos e não tem mais a necessidade de reencarnar, ele torna-se um Espírito redimido. Podemos dizer assim, que ele teve uma ressurreição espiritual. É o que entendemos por ressurreição do último dia, ou seja, é a volta do Espírito ao seu estado natural que é o de pureza, sem máculas.

Deste modo entendemos a expressão dita pelo apóstolo, pois estes, os Espíritos redimidos, são os mortos em Cristo. "Morte" aqui representando a morte para o mundo, para os interesses concernentes às questões materiais.

Em um plano temporal podemos dizer que ressuscitaram primeiro, pois se redimiram de todo mal.

Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.

Depois nós, os que estivermos vivos... se os "mortos em Cristo" são os redimidos, os que não precisam mais encarnar no Orbe, os vivos neste contexto entendemos como os que de alguma forma ainda estão ligados às necessidades da vida material, estejam eles encarnados ou não.

O apóstolo diz que depois, nós, ou seja, os que nos achamos nesta condição, seremos do mesmo modo ressurretos. Importante aqui compreender que estes "vivos" devem estar ajustados ao Cristo através de Seu Evangelho operacional para que isto se dê.

...seremos arrebatados com eles nas nuvens... Na Bíblia o termo nuvens é muitas vezes utilizado para falar da presença ou da manifestação de Deus.

Então o Senhor apareceu na tenda, na coluna de nuvem; e a coluna de nuvem estava sobre a porta da tenda. (Deuteronômio, 31: 15)

E a nuvem do Senhor ia sobre eles de dia, quando partiam do arraial. (Números, 10: 34)

Na coluna de nuvem lhes falava; eles guardaram os seus testemunhos, e os estatutos que lhes dera. (Salmos, 99: 7)

E o Senhor desceu numa nuvem e se pôs ali junto a ele; e ele proclamou o nome do Senhor. (Êxodo, 34: 5)

Podemos assim, ver nesta expressão um símbolo para a região superior no Mundo Espiritual em que se encontram os Espíritos que realizaram sua redenção.

Desta feita, seremos arrebatados com eles nas nuvens, sendo "eles" os já "mortos em Cristo". O texto diz-nos da inserção destes últimos, "os vivos" que vivem em Cristo, neste Mundo Espiritual Superior.

...para o encontro com o Senhor nos ares. O Senhor, que em nosso planeta, é Jesus, o Cristo de nosso Orbe, reina neste mundo superior simbolizado pelas expressões "nuvens" e nos "ares". E o arrebatamento destes Espíritos superiores para o Seu Reino se dá de forma natural como aplicação da Lei de Deus. "ares" aqui representando um mundo que é espiritual e superior em oposição ao nosso que é material.

E assim estaremos com o Senhor para sempre. Os que atingem esta condição não a perdem mais, adquiriram a Vida em abundância a que se referiu Jesus segundo as anotações de João.

"Estar com o Senhor" não é ser participante de um mundo ocioso, muito pelo contrário é estar a Serviço de Deus para sempre, sem as adversidades do mundo material por isto mesmo inconstante.

Segundo compreendemos, a segundo vinda de Jesus não será como a primeira, ou seja, física; mas sim operacional, isto é, se dará em cada um através da aplicação daquilo que Jesus ensinou.
Deste modo, Sua volta será a implantação do Reino de Deus na Terra e para que isto se dê, é preciso que a Constituição do Reino seja respeitada e vivida pelos habitantes do planeta. Constituição esta que está claramente expressa no Evangelho, tendo sua síntese no Sermão do Monte.

Segundo este entendimento Espíritos como Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier, entre muitos outros já estão experimentando a Parousia e esta de modo coletivo se dará quando no final do ciclo de provas e expiações, os Espíritos rebeldes que não se ajustaram ao plano de Deus forem exilados para outros mundos inferiores e os que implementaram o Evangelho em si tornarem-se Cidadãos do Reino.

Ouçamos portanto, mais uma vez o apóstolo dos gentios: Consolem-se uns aos outros com essas palavras. Pois só de nós depende estar ou não entre os "escolhidos" quando chegar o momento de manifestar a Nova Jerusalém como consumação deste maravilhoso projeto de Deus.

Jesus respondeu: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e o meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. (João, 14: 23)


1Wikipédia acessado em 14 de Abril de 2021

Um comentário:

Maria do Carmo J. Avelar disse...

Muito bem explicado, de forma simples, objetiva e didática.
Cada um de nós deve se preparar para este momento, mas como irmãos que somos, podemos e devemos ajudar aqueles que ainda se demoram no lodaçal dos interesses pessoais!
Obrigada!
Maria do Carmo