Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.1
O tema da reencarnação
na Bíblia é sempre recorrente, ele vai e volta sempre abrindo aos
estudiosos dos textos sagrados novas oportunidades de esclarecimento.
É preciso
compreendermos que a Bíblia não é um livro preto no branco. Ou
seja, nela os ensinamentos não são percebidos claramente através
de uma simples leitura, é preciso meditarmos, pesquisarmos, e
encontrarmos nas entrelinhas suas verdades fundamentais.
O texto que colocamos
em epígrafe para estes nossos comentários é um destes que nos
revelam importante verdade teológica, mas que para que possamos
apreendê-la faz-se preciso refletirmos com profundidade e despido de
preconceitos.
Quando dizemos em
verdades teológicas muitos de nossos leitores espíritas podem não
compreender claramente o que estamos querendo dizer, pois pensam que
teologia é tema exclusivo do cristianismo católico e protestante.
Lembramos a estes que teologia é o estudo das questões referentes
ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o
mundo e com os homens; portanto, podemos com toda tranquilidade
falarmos em teologia espírita e dizer mais, cabe a esta nos trazer
revelações que as outras ainda estão incapacitadas de nos fazer
conhecer.
À primeira vista nada
tem neste texto, escrito pelo apóstolo dos gentios ao seu fiel
discípulo Timóteo, que diga sobre a verdade da lei reencarnatória,
entretanto se refletirmos com cuidado vamos ver que ele só pode ser
integralmente compreendido à luz dos ciclos dos renascimentos.
O apóstolo Paulo
inicia o verso dizendo que Deus é nosso Salvador. E isso precisa ser
compreendido.
Por que precisamos de
um Salvador? E como Deus pode nos Salvar? Aliás, o que é salvar-se?
O Espírito não tinha
necessidade de passar pela fieira do mal conforme aprendemos na
codificação espírita; ao fazer esta opção pelas transgressões à
Lei de Deus, ele se afastou do Criador, e salvar-se significa
recompor a sua consciência, resgatar o mal que há em si oriundo
destas transgressões; voltar para a Casa Paterna.
A partir deste momento
impar de sua história evolutiva, o da queda no erro, Deus traçou
para Seus filhos rebeldes um plano de recomposição e de volta à
Sua Lei, esta caminhada de retorno que é a evolução, e que também
é lei, é que é a estrada de salvação pela qual o Espírito deve
percorrer. Aqui é preciso que fique claro que todos nós, Espíritos
em evolução, estamos passando por este processo, todos
transgredimos e preciso é que realizemos o processo de redenção.
… assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.2
Neste breve texto da
Carta a Timóteo o apóstolo nos diz que é Vontade de Deus que todos
os homens sejam salvos:
[Deus]…que quer
que todos os homens sejam salvos…
Temos aprendido através
de estudiosos que se dedicam ao estudo da psicologia, sobre o valor
da vontade em nossas realizações. É verdade consumada que “querer
é poder”. Se isto pode ser dito em relação ao querer do homem
que ainda é tão fraco espiritualmente falando, o que não podemos
dizer sobre o “querer de Deus”?
Assim, chegamos a uma
primeira verdade teológica: o querer de Deus que é a Sua Vontade, é
Lei. Ela irá se cumprir, nada pode lhe fazer definitiva oposição,
queiramos ou não a Vontade de Deus sempre se cumpre, o que varia é
o tempo para que ela se estabeleça.
Daí depreendemos que
todos os homens serão salvos, é da Lei de Deus; talvez este seja o
único encaminhamento determinístico do Universo: todos nos
tornaremos puros, perfeitos, salvos, e assim conforme o próprio
versículo, chegaremos ao conhecimento da verdade. E aqui é
dito não de um conhecimento intelectual apenas, mas do conhecimento
que se dá pela vivência, por experiência íntima. Só os que vivem
a Verdade única de Deus que é o Amor têm o Conhecimento Pleno da
Verdade.
Tendo isto como
conclusão lógica do versículo citado, podemos inquirir, mas como
todos os homens se salvarão, ou terão conhecimento da verdade se
muitos - talvez a maioria - morrem no erro, na transgressão da Lei e
distanciados de Deus?
Só existem duas
possibilidades em se tratando de destinação futura. Aqui não
levaremos em conta a tese materialista que pressupõe que tudo
termina no túmulo. Estamos escrevendo para leitores espiritualistas,
seja de que escola religiosa for.
Pela hipótese da
unicidade das existências a destinação futura de salvação ou
condenação eterna se dará exclusivamente pelo que foi feito na
vida única; ou seja, depois desta, seja no ato, ou no dia do juízo,
vem o veredicto final e aí a destinação eterna: céu ou inferno,
salvação ou condenação.
Se esta for uma
realidade o versículo citado está errado, pois a Vontade de Deus
não se cumpriu, ou seja, o Perfeito não foi capaz de fazer da sua
Vontade uma realidade, pois é fato que levando em conta só esta
vida atual nem todos se salvam.
A outra hipótese é a
da reencarnação. Nela os Espíritos que não alcançaram a redenção
ou a recomposição de suas consciências na vida atual, e diga-se de
passagem isto nunca se dá numa única existência, têm outras
oportunidades de se aperfeiçoarem, se purificarem, de se tornarem
melhor, e realizar a Vontade de Deus que é a da salvação de todos
os homens.
Esta hipótese, além
de mais lógica está mais condizente com os atributos de Deus entre
eles a Misericórdia e a Justiça.
A tese é mais ampla e
apesar de não ser complexa tem outros desdobramentos que não nos
cabe discutir aqui neste breve texto que tem apenas o objetivo de
mostrar que a realidade palingenésica está presente em vários
textos das Escrituras, mesmo em alguns que numa primeira leitura não
percebemos.
A Bíblia é um grande
livro, o maior entre todos os já escritos, entretanto ela não é
maior do que Deus, e se em algum ponto ela desmentisse qualquer
atributo do Criador não poderia ser considerada como expressão da
Palavra de Deus como querem nossos irmãos católicos e protestantes.
A reencarnação é a
única forma de se comprovar a Justiça de Deus, e se a Bíblia
condenasse esta hipótese, ela teria de ser reescrita. Entretanto,
dizemos, isto não será preciso, pois como temos visto em nossos
estudos a verdade teológica da reencarnação está presente em
vários textos da literatura tanto do Velho quanto do Novo
Testamento.
Outra questão que os
defensores da unicidade da existência talvez nunca tenha pensado a
respeito é a de que sendo Deus Onisciente Ele sabe de tudo. Nada é
oculto para Ele, nem passado nem presente, nem futuro. Ele sabe o que
aconteceu, o que acontece, e o que vai acontecer.
Bom, se ele conhece o
futuro, e isso é uma realidade ou Ele não seria Deus, Ele sabe no
exato instante em que cria um homem, um Espírito, ou uma alma, como
queiram, se este Ser irá se salvar ou não (se esta for a realidade,
a da unicidade das existências). Se Deus que é Pai cria um Ser já
sabendo que ele vai se perder pela eternidade, isto não seria uma
maldade do Criador?
E aí perguntamos será
possível isto? Não, não será, pois maldade não é atributo de
Deus, que é acima de tudo Amor.
Podem argumentar que
estamos errados dizendo que Deus não quer a perda de nenhum homem e
dá para todos, várias oportunidades de salvação. Isto é uma
realidade, todavia não é o que está em foco aqui. Mesmo dando a
todos oportunidades de recomposição e não desejando a morte eterna
de nenhum de Seus filhos, através de Sua onisciência Ele sabe se
aquele Espírito irá ou não aproveitar as oportunidades e se salvar
no instante mesmo de sua criação, e isto é inaceitável em se
tratando da Perfeição do Criador e de Sua Justiça Plena.
Pensemos sobre isto.
Fica assim invalidada a tese da unicidade da existência na carne se
analisarmos todos os atributos de Deus.
Como segundo São
Jerônimo a verdade não pode existir em coisas que divergem,
precisamos fazer uma nova leitura da Bíblia à luz da verdade da
reencarnação, só assim poderemos compreender toda grandeza de sua
moral.
1
I Timóteo, 2: 3 e 4
2
Romanos, 5: 12
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