sexta-feira, junho 08, 2012

Reencarnação na Bíblia – Novas Reflexões



Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.1

O tema da reencarnação na Bíblia é sempre recorrente, ele vai e volta sempre abrindo aos estudiosos dos textos sagrados novas oportunidades de esclarecimento.
É preciso compreendermos que a Bíblia não é um livro preto no branco. Ou seja, nela os ensinamentos não são percebidos claramente através de uma simples leitura, é preciso meditarmos, pesquisarmos, e encontrarmos nas entrelinhas suas verdades fundamentais.
O texto que colocamos em epígrafe para estes nossos comentários é um destes que nos revelam importante verdade teológica, mas que para que possamos apreendê-la faz-se preciso refletirmos com profundidade e despido de preconceitos.
Quando dizemos em verdades teológicas muitos de nossos leitores espíritas podem não compreender claramente o que estamos querendo dizer, pois pensam que teologia é tema exclusivo do cristianismo católico e protestante. Lembramos a estes que teologia é o estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens; portanto, podemos com toda tranquilidade falarmos em teologia espírita e dizer mais, cabe a esta nos trazer revelações que as outras ainda estão incapacitadas de nos fazer conhecer.
À primeira vista nada tem neste texto, escrito pelo apóstolo dos gentios ao seu fiel discípulo Timóteo, que diga sobre a verdade da lei reencarnatória, entretanto se refletirmos com cuidado vamos ver que ele só pode ser integralmente compreendido à luz dos ciclos dos renascimentos.
O apóstolo Paulo inicia o verso dizendo que Deus é nosso Salvador. E isso precisa ser compreendido.
Por que precisamos de um Salvador? E como Deus pode nos Salvar? Aliás, o que é salvar-se?
O Espírito não tinha necessidade de passar pela fieira do mal conforme aprendemos na codificação espírita; ao fazer esta opção pelas transgressões à Lei de Deus, ele se afastou do Criador, e salvar-se significa recompor a sua consciência, resgatar o mal que há em si oriundo destas transgressões; voltar para a Casa Paterna.
A partir deste momento impar de sua história evolutiva, o da queda no erro, Deus traçou para Seus filhos rebeldes um plano de recomposição e de volta à Sua Lei, esta caminhada de retorno que é a evolução, e que também é lei, é que é a estrada de salvação pela qual o Espírito deve percorrer. Aqui é preciso que fique claro que todos nós, Espíritos em evolução, estamos passando por este processo, todos transgredimos e preciso é que realizemos o processo de redenção.

assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.2

Neste breve texto da Carta a Timóteo o apóstolo nos diz que é Vontade de Deus que todos os homens sejam salvos:
[Deus]…que quer que todos os homens sejam salvos…
Temos aprendido através de estudiosos que se dedicam ao estudo da psicologia, sobre o valor da vontade em nossas realizações. É verdade consumada que “querer é poder”. Se isto pode ser dito em relação ao querer do homem que ainda é tão fraco espiritualmente falando, o que não podemos dizer sobre o “querer de Deus”?
Assim, chegamos a uma primeira verdade teológica: o querer de Deus que é a Sua Vontade, é Lei. Ela irá se cumprir, nada pode lhe fazer definitiva oposição, queiramos ou não a Vontade de Deus sempre se cumpre, o que varia é o tempo para que ela se estabeleça.
Daí depreendemos que todos os homens serão salvos, é da Lei de Deus; talvez este seja o único encaminhamento determinístico do Universo: todos nos tornaremos puros, perfeitos, salvos, e assim conforme o próprio versículo, chegaremos ao conhecimento da verdade. E aqui é dito não de um conhecimento intelectual apenas, mas do conhecimento que se dá pela vivência, por experiência íntima. Só os que vivem a Verdade única de Deus que é o Amor têm o Conhecimento Pleno da Verdade.
Tendo isto como conclusão lógica do versículo citado, podemos inquirir, mas como todos os homens se salvarão, ou terão conhecimento da verdade se muitos - talvez a maioria - morrem no erro, na transgressão da Lei e distanciados de Deus?
Só existem duas possibilidades em se tratando de destinação futura. Aqui não levaremos em conta a tese materialista que pressupõe que tudo termina no túmulo. Estamos escrevendo para leitores espiritualistas, seja de que escola religiosa for.
Pela hipótese da unicidade das existências a destinação futura de salvação ou condenação eterna se dará exclusivamente pelo que foi feito na vida única; ou seja, depois desta, seja no ato, ou no dia do juízo, vem o veredicto final e aí a destinação eterna: céu ou inferno, salvação ou condenação.
Se esta for uma realidade o versículo citado está errado, pois a Vontade de Deus não se cumpriu, ou seja, o Perfeito não foi capaz de fazer da sua Vontade uma realidade, pois é fato que levando em conta só esta vida atual nem todos se salvam.
A outra hipótese é a da reencarnação. Nela os Espíritos que não alcançaram a redenção ou a recomposição de suas consciências na vida atual, e diga-se de passagem isto nunca se dá numa única existência, têm outras oportunidades de se aperfeiçoarem, se purificarem, de se tornarem melhor, e realizar a Vontade de Deus que é a da salvação de todos os homens.
Esta hipótese, além de mais lógica está mais condizente com os atributos de Deus entre eles a Misericórdia e a Justiça.
A tese é mais ampla e apesar de não ser complexa tem outros desdobramentos que não nos cabe discutir aqui neste breve texto que tem apenas o objetivo de mostrar que a realidade palingenésica está presente em vários textos das Escrituras, mesmo em alguns que numa primeira leitura não percebemos.
A Bíblia é um grande livro, o maior entre todos os já escritos, entretanto ela não é maior do que Deus, e se em algum ponto ela desmentisse qualquer atributo do Criador não poderia ser considerada como expressão da Palavra de Deus como querem nossos irmãos católicos e protestantes.
A reencarnação é a única forma de se comprovar a Justiça de Deus, e se a Bíblia condenasse esta hipótese, ela teria de ser reescrita. Entretanto, dizemos, isto não será preciso, pois como temos visto em nossos estudos a verdade teológica da reencarnação está presente em vários textos da literatura tanto do Velho quanto do Novo Testamento.
Outra questão que os defensores da unicidade da existência talvez nunca tenha pensado a respeito é a de que sendo Deus Onisciente Ele sabe de tudo. Nada é oculto para Ele, nem passado nem presente, nem futuro. Ele sabe o que aconteceu, o que acontece, e o que vai acontecer.
Bom, se ele conhece o futuro, e isso é uma realidade ou Ele não seria Deus, Ele sabe no exato instante em que cria um homem, um Espírito, ou uma alma, como queiram, se este Ser irá se salvar ou não (se esta for a realidade, a da unicidade das existências). Se Deus que é Pai cria um Ser já sabendo que ele vai se perder pela eternidade, isto não seria uma maldade do Criador?
E aí perguntamos será possível isto? Não, não será, pois maldade não é atributo de Deus, que é acima de tudo Amor.
Podem argumentar que estamos errados dizendo que Deus não quer a perda de nenhum homem e dá para todos, várias oportunidades de salvação. Isto é uma realidade, todavia não é o que está em foco aqui. Mesmo dando a todos oportunidades de recomposição e não desejando a morte eterna de nenhum de Seus filhos, através de Sua onisciência Ele sabe se aquele Espírito irá ou não aproveitar as oportunidades e se salvar no instante mesmo de sua criação, e isto é inaceitável em se tratando da Perfeição do Criador e de Sua Justiça Plena.
Pensemos sobre isto. Fica assim invalidada a tese da unicidade da existência na carne se analisarmos todos os atributos de Deus.
Como segundo São Jerônimo a verdade não pode existir em coisas que divergem, precisamos fazer uma nova leitura da Bíblia à luz da verdade da reencarnação, só assim poderemos compreender toda grandeza de sua moral.
1 I Timóteo, 2: 3 e 4
2 Romanos, 5: 12

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