quinta-feira, julho 31, 2025

Reflexões Sobre A Prece do Pai Nosso Aramaico



 
                                                                         


#PaiNossoAramaico

Muito provavelmente, Jesus ensinou a prece do Pai Nosso em aramaico, a língua falada no cotidiano da Palestina do século I. Embora o hebraico fosse utilizado nos ritos religiosos e nas escrituras sagradas, o aramaico era o idioma da convivência, das praças, dos lares e das conversas comuns. Por isso, é razoável supor que o Mestre tenha transmitido essa oração divina em seu idioma materno.

Os evangelhos, posteriormente redigidos em grego koiné, apresentaram desafios próprios de tradução e adaptação cultural, e é nesse espaço entre línguas, vivências e revelações que encontramos uma oportunidade para aprofundar o estudo.

Inspirados por essa possibilidade, realizamos uma série de reflexões sobre o Pai Nosso a partir de sua reconstrução em aramaico. Para isso, utilizamos um recurso tecnológico contemporâneo — uma aplicação de inteligência artificial — que nos permitiu simular um diálogo interpretativo, associando dados linguísticos com sentidos espirituais.

O resultado nos surpreendeu pela beleza e profundidade, e por isso decidimos compartilhá-lo. A IA, nesse contexto, atua como uma ponte entre passado e presente, recriando a estrutura da oração com base em estudos filológicos, enquanto oferece conexões meditativas alinhadas à Doutrina Espírita.

Segue, portanto, este estudo, não como um fim acadêmico, mas como uma jornada espiritual que resgata, verso a verso, a vibração original da prece ensinada por Jesus.

 

 “Pai nosso que estás nos céus”

Em aramaico (transliteração):

“Abwoon d'bashmaya”

Essa frase tem uma sonoridade profundamente meditativa, e está registrada em tradições siríacas — variedades antigas do aramaico usadas por cristãos do Oriente Médio.

Significado das palavras:

Termo

Origem

Tradução aproximada

Abwoon

אבא / אבון

"Pai", mas também pode expressar Origem Criadora ou Fonte de Vida

d'

ד־

Partícula de conexão: "de" ou "que"

bashmaya

בשמיא

"nos céus", referente aos planos elevados

 

Traduções possíveis:

  • “Ó Fonte Criadora, que estás nos planos celestes”
  • “Pai-Mãe da Criação, Tu que estás nos Céus”
  • “Origem divina que vibra nos reinos celestiais”

A palavra Abwoon traz uma nuance maior do que o simples “Pai”: ela evoca tanto um aspecto paternal quanto maternal de Deus, como princípio gerador. Já bashmaya nos chama para uma elevação interior — um céu que pode ser compreendido como estado de consciência superior.

Reflexão espiritual (inspirada na visão espírita):

Ao dizer “Abwoon d'bashmaya”, não evocamos um Deus distante, mas uma presença íntima e elevada, que pulsa em todas as dimensões da existência. É como se disséssemos:

“Divino Criador, que vibra nos planos mais puros, desperta em mim a lembrança da Tua presença.”

O Espiritismo aprofunda esse chamado, lembrando que “Deus está em toda parte”, inclusive dentro de nós — e que ao orar, sintonizamos com essa força maior, elevando o espírito para que ele brilhe, mesmo dentro dos desafios terrenos.

 “Santificado seja o teu nome”

Em aramaico (transliteração):

“Nethqadash shmokh”

Desvendando os termos:

Palavra

Significado aproximado

Nethqadash

Seja santificado, consagrado, purificado

Shmokh

Teu nome (shma = nome; kh = teu)

 

A forma verbal “nethqadash” vem da raiz q-d-sh, que está ligada à ideia de separar, tornar sagrado, dedicar. Portanto, a frase sugere que o nome de Deus deve ser exaltado e tornado sagrado por nossa forma de viver e agir.

Traduções possíveis:

  • “Que o teu nome seja santificado”
  • “Consagrado seja o teu nome”
  • “Que tua identidade divina brilhe na criação”

Mas no contexto espiritual do aramaico, nome (shma) não é apenas um rótulo — é a essência, a identidade profunda. Então santificar o nome de Deus é manifestar Seu caráter divino através de nossas ações conscientes.

Meditação espiritual (com inspiração espírita):

Quando dizemos “Nethqadash shmokh”, estamos nos comprometendo a honrar a essência divina, não com palavras, mas com atitudes. É como dizer:

“Que minha vida seja um reflexo da Tua santidade.” “Que eu não apenas invoque Teu nome, mas o represente com amor e verdade.”

Na visão espírita, isso é viver o Evangelho. Cada pensamento elevado, cada gesto de bondade, é uma santificação em movimento. Como Emmanuel comenta em seu livro Fonte Viva:

“A oração é luz que nos liga ao coração do Pai.”[1]

Portanto, santificar o nome de Deus é acender essa luz dentro de nós — é tornar cada ação um altar onde o divino se revela.

“Venha o teu Reino”

Em aramaico (transliteração):

“Teytey malkuthakh”

Desvendando os termos:

Palavra

Significado aproximado

Teytey

Venha, chegue, manifeste-se

Malkuthakh

Teu reino, tua soberania (malkutha = reino; -kh = teu)

A raiz malkutha está ligada à soberania divina, mas também carrega nuances de ordem, harmonia e realização espiritual. Este “Reino” não se refere a um espaço geográfico — mas ao domínio da paz, da compaixão e do amor em nossa consciência e relações.

Traduções possíveis:

  • “Que teu Reino se manifeste”
  • “Venha tua soberania de amor”
  • “Traga tua ordem divina aos corações”

Essa expressão é ativa: não apenas pedimos que algo venha externamente, mas também nos abrimos para que o Reino comece em nós.

Meditação espiritual (inspirada pela visão espírita):

Ao dizer “Teytey malkuthakh”, estamos nos colocando como semeadores da luz, construtores do Reino em nossa vivência diária. É como dizer:

“Senhor, que teu Reino floresça em mim — em meus gestos, minhas escolhas, meu modo de amar.”

O Espiritismo nos lembra que a Terra está em transição — de mundo de expiações para mundo de regeneração. O Reino de Deus não virá por decreto, mas pelo esforço moral coletivo que começa no íntimo de cada ser.

Quando Jesus diz “O Reino de Deus está entre vós” (Lucas 17:21), ele aponta para essa potência interior — a possibilidade de viver em alinhamento com as leis divinas, aqui e agora.

“Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”

Em aramaico (transliteração):

“Nehwey tzevyanakh aykanah d'bashmaya aph b'ar'a”

Desvendando os termos:

Palavra ou expressão

Tradução aproximada

Nehwey

Seja feito, aconteça

Tzevyanakh

Tua vontade (tzevyana = vontade; -kh = tua)

Aykanah

Assim como, da mesma forma

D'bashmaya

Nos céus

Aph b'ar'a

Também na terra (aph = também; ar'a = terra)

 

Traduções possíveis:

  • “Que se cumpra tua vontade, assim como nos céus, também na terra.”
  • “Que tua vontade se manifeste na Terra como nos planos elevados.”
  • “Realiza em nós teu querer divino, como já se cumpre na plenitude celeste.”

Esse verso é uma declaração de alinhamento, uma harmonização profunda entre o humano e o divino.

Reflexão espiritual com base na Doutrina Espírita:

Dizer “Nehwey tzevyanakh” é abrir mão do ego e abraçar o fluxo da sabedoria divina. Não é submissão cega, mas confiança ativa. É como afirmar:

“Que meu querer se torne reflexo do Teu querer, Senhor.”

Ao reconhecer a vontade de Deus, deixamos de lutar contra os acontecimentos e passamos a compreender seus propósitos, mesmo quando a dor nos visita. E o Espiritismo nos ensina que todas as provações têm função educativa — são chamadas ao crescimento espiritual.

Curiosidade doutrinária: No Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVIII (Coletânea de Preces Espíritas), encontramos súplicas que espelham esse trecho, com frases como:

“Faze, ó meu Deus, que minha vontade se curve diante da tua, como a criança diante do pai, e que jamais me revolte contra os acontecimentos que forem do teu desígnio.”[2]

Essa reverência ativa transforma a Terra — é ela que constrói o Reino. Pois quando agimos conforme a vontade divina, a Terra espelha o Céu.

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”

Em aramaico (transliteração):

“Hawlan lachma d'sunqanan yaomana”

Desvendando os termos:

Palavra ou expressão

Tradução aproximada

Hawlan

Dá-nos (forma imperativa: “concede a nós”)

Lachma

Pão (nutrição, sustento; também simboliza alimento espiritual)

D'sunqanan

De necessidade, suficiente (de sunqana = o que é necessário)

Yaomana

De cada dia, para o dia (de yoma = dia; -na = este)

Traduções possíveis:

  • “Concede-nos o pão necessário para este dia”
  • “Dá-nos hoje o sustento de que precisamos”
  • “Alimenta-nos com o pão do dia, o visível e o invisível”

Esse trecho contém a beleza da simplicidade e o poder da confiança. Ele expressa dependência consciente — não por falta, mas por entrega. Pedimos o necessário, não o supérfluo.

Reflexão espiritual com base na Doutrina Espírita:

Pedir “Hawlan lachma d'sunqanan yaomana” é afirmar:

“Pai, concede-me o sustento que permita cumprir minha jornada — seja para o corpo ou para a alma.”

No plano material, isso fala de alimento, trabalho, saúde — tudo o que nos permite viver com dignidade. Mas o pão também é símbolo espiritual: é o alimento da alma, aquilo que nos fortalece interiormente.

Jesus disse: “Eu sou o pão da vida” (João 6:48). Então pedir esse pão é buscar Cristo dentro de nós — é se nutrir do Evangelho, da caridade, da fé viva.

E como o Espiritismo nos ensina, o progresso se faz com esforço e confiança: A providência divina nos apoia, mas também nos convida à ação. Quem ora pedindo o pão deve estar disposto a cultivar o solo e distribuir com o próximo.

E lembra da citação anterior? No Salmo 23 verso 1, temos a certeza:

“O Senhor é o meu pastor, nada me faltará.”

Esse verso nos educa a viver o presente, confiando no amparo divino, como também está em Mateus 6:34:

“Não vos inquieteis com o dia de amanhã…”

Assim, a prece transforma preocupação em fé.

“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”

Em aramaico (transliteração):

“Washboq lan hawbayn aykana d’af hnan shbqan l’hayyabayn”

Desvendando os termos:

Palavra ou expressão

Tradução aproximada

Washboq lan

Perdoa-nos (forma imperativa: concede-nos o perdão)

Hawbayn

Nossas dívidas, falhas, transgressões

Aykana

Assim como, da mesma maneira

D’af hnan

Também nós

Shbqan

Perdoamos

L’hayyabayn

Aos nossos devedores, aqueles que nos devem (moralmente)

 

A palavra hawbayn se aproxima do termo usado no grego original de Mateus: opheilēmata, ou seja, dívidas. Não apenas no sentido econômico, mas como débitos morais, espirituais, tudo aquilo que ainda desequilibra nossa consciência.

Traduções possíveis:

  • “Perdoa-nos nossas falhas, assim como perdoamos os que falham conosco.”
  • “Cancela nossas dívidas, como nós cancelamos as dívidas de outros.”
  • “Liberta-nos de nossas culpas, como libertamos aqueles que nos feriram.”

Esse é um dos momentos mais exigentes da prece, pois envolve não apenas pedir algo, mas comprometer-se com esse mesmo ato.

Reflexão espiritual à luz do Espiritismo:

No Espiritismo, esse verso tem profundas implicações cármicas: ao perdoar, quebramos ciclos de ressentimento, reconectamos corações e criamos condições espirituais para a reparação e o progresso.

Perdoar não é esquecer, é libertar-se da prisão emocional que nos prende ao passado. E ao pedir o perdão de Deus, assumimos nossas falhas com humildade, confiando em Sua misericórdia.

Emmanuel comenta no capítulo 120 do livro Fonte Viva:

“Se desejas encontrar o Cristo, não te detenhas na sombra do ressentimento.”[3]

Perdoar é evangelizar o próprio coração. Ao fazê-lo, libertamos o outro e a nós mesmos.

“E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”

Em aramaico (transliteração):

“Wela talan l’nesyuna ela patzan min bisha”

Desvendando os termos:

Expressão

Tradução aproximada

Wela talan

E não nos conduzas, não nos deixes

L’nesyuna

À tentação, à provação (nesyuna = teste, desafio)

Ela

Mas

Patzan

Livra-nos, resgata-nos

Min bisha

Do mal (bisha = mal, maldade, influência negativa)

 

A palavra nesyuna pode significar tanto tentação quanto provação, não necessariamente algo maligno, mas qualquer situação que teste nossa fé, paciência ou caráter.

Traduções possíveis:

  • “Não nos conduzas à provação, mas liberta-nos do mal.”
  • “Não nos deixes cair em tentação, mas protege-nos da influência negativa.”
  • “Afasta-nos dos testes que não estamos prontos para enfrentar, e guarda-nos da sombra.”

Essa súplica não é por fuga das dificuldades, mas por força e discernimento para não sucumbir a elas.

Reflexão espiritual com base na Doutrina Espírita:

O Espiritismo nos ensina que as provações fazem parte do progresso, são oportunidades de crescimento. Mas também reconhece que podemos pedir a Deus que nos fortaleça para não cair, que nos ampare diante das influências espirituais inferiores.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVIII, há preces que expressam esse mesmo sentimento:

“Senhor, não me deixes sucumbir à tentação; dá-me forças para resistir ao mal[4].”

E Tiago 1:13 nos lembra:

“Deus a ninguém tenta.”

Ou seja, Deus não nos induz ao erro, mas permite que enfrentemos desafios para que possamos crescer. A oração, então, é um pedido por lucidez espiritual, por vigilância interior.

E Emmanuel, no capítulo 153 de Fonte Viva, nos alerta:

“A tentação é o campo de luta onde o espírito pode conquistar a vitória sobre si mesmo.”[5]

“Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.”

Em aramaico (transliteração):

“Metol dilakh hi malkutha wahayla wateshbokhta l’alam almin. Ameyn.”

Desvendando os termos:

Expressão

Tradução aproximada

Metol dilakh hi

Porque teu é

Malkutha

O Reino

Wahayla

O poder, a força

Wateshbokhta

A glória, o louvor

L’alam almin

Para sempre, por todos os séculos

Ameyn

Amém (afirmação sagrada; “assim seja”)

 

Traduções possíveis:

  • “Porque teu é o Reino, a força e o louvor para todos os séculos. Assim seja.”
  • “Pois tudo pertence a Ti: o domínio, o poder e a glória eterna.”

Essa doxologia é uma declaração de entrega e reconhecimento, o espírito conclui a oração voltando-se novamente à Fonte, com gratidão e humildade.

Reflexão espiritual com base na Doutrina Espírita:

Mesmo como acréscimo, essa frase é como uma resposta do coração após a prece: não apenas pedimos, mas reafirmamos que tudo provém de Deus. Essa entrega é essencial na oração verdadeira.

“Metol dilakh hi malkutha…” “…pois o Reino é Teu”, ou seja, todas as transformações que buscamos já pertencem à ordem divina.

No Espiritismo, isso é reconhecer as leis que regem o progresso dos espíritos e dos mundos. É saber que, apesar das dores e desafios, tudo caminha sob a soberania amorosa do Criador.

Inclusive, Emmanuel comenta no capítulo 180 de Fonte Viva:

“A glória legítima pertence a Deus. Toda luz vem d’Ele, e todo bem Nele se converte.[6]

Ao final, dizer “Ameyn” é afirmar com o espírito inteiro:

“Que assim seja, e que eu viva em conformidade com essa verdade.”

 #OraçãoDiminical #EvangelhoSegundoOEspiritismo #JesusEnsinou #TextosSagrados


[1] XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1956. Capítulo 77 – “Pai Nosso”. Disponível em: https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TX/Fv/FvIndex.htm consultado em 09/07/2025

[2] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª ed. Paris: 1864. 3ª ed. revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866. Brasília: Federação Espírita Brasileira (FEB), 2019. Disponível em:

https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/EvIndex.htm consultado em 09/07/2025

[3] XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 120 – “Perdoar sempre”. Disponível em: https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/EvIndex.htm consultado em 09/07/2025

[4] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª ed. Paris: 1864. 3ª ed. revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866. Brasília: Federação Espírita Brasileira (FEB), 2019. Disponível em:

https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/EvIndex.htm consultado em 09/07/2025

[5] Idem, capítulo 153 – “Tentação e Vitória”. Disponível em: https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/EvIndex.htm consultado em 09/07/2025

 [6] Idem, capítulo 180 – “Glória verdadeira”. Disponível em: https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/EvIndex.htm consultado em 09/07/2025

Outro significado importante é o de igreja. Vem do grego ekklesia, que literalmente quer dizer reunião de pessoas, assembleia. É interessante que esta palavra aparece cento e quinze vezes no Novo Testamento, mas apenas três nos evangelhos, e todas em Mateus. O que nos dá a entender que a ideia de uma comunidade religiosa só surgiu após o desencarne de Jesus.
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A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe ...
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quinta-feira, julho 24, 2025

Reflexões Sobre A Prece do Pai Nosso - Final


 
                                                                         

#PaiNosso
 


E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores
E perdoa as nossas dívidas; este trecho da oração é um convite à transformação interior. Ele nos lembra que o caminho espiritual passa pela humildade e pelo perdão sincero.
Perdoa as nossas dívidas; aqui, reconhecemos que todos nós, de alguma forma, contraímos dívidas morais e espirituais ao longo da vida, com Deus, com o próximo e até conosco.
Ao pedirmos perdão, expressamos humildade e desejo de recomeçar, confiando na misericórdia divina como fonte de renovação.
...assim como nós perdoamos aos nossos devedores; este é o compromisso que transforma. Ao ligarmos o perdão que pedimos ao perdão que oferecemos, assumimos uma postura ativa: isso nos torna cocriadores da paz interior, quebrando os laços de ressentimento e nos libertando das correntes da mágoa.
No entendimento espírita, as "dívidas" representam também os débitos cármicos que trazemos de existências anteriores. Quando perdoamos com sinceridade, criamos condições para atenuar provas, harmonizar relações e desfazer vínculos negativos do passado.
Perdoar é um ato de coragem e caridade, um presente oferecido ao outro, mas também a nós mesmos. E é tão essencial, que este versículo foi o único da oração do Pai Nosso diretamente comentado por Jesus:

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. 
Mateus 6:14,15 (ACF)

O texto original em grego usa as palavras:
  • ὀφειλήματα (opheilēmata)[1] = dívidas, débitos, o que é devido
  • ὀφειλέταις (opheiletais) = devedores
Ou seja, a tradução mais literal seria:
"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores."
Algumas versões usam "ofensas" ou "pecados" pois, em Lucas 11:4, onde Jesus também ensina a oração, o termo usado é diferente. Além disso, o termo "dívida" passou a ser entendido de forma simbólica, como aquilo que devemos moral ou espiritualmente, ou seja, nossas falhas, erros, pecados.
Assim, a expressão "dívidas" é mais fiel ao texto original de Mateus, e carrega um simbolismo profundo:
- Toda falta é uma dívida moral que contraímos diante da consciência e da Lei Divina.
E o perdão, nesse contexto, é como um acordo de misericórdia: Deus nos alivia da dívida, e nós somos chamados a fazer o mesmo com os outros.
E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. 
E não nos induzas à tentação; o texto grego original diz: kai mē eisenenkēs hēmas eis peirasmon[2]
Tradução literal:
"E não nos introduzas em tentação" ou "E não nos leves para dentro da provação"
  • εἰσενέγκῃς (eisenenkēs): forma do verbo eisphérō, que significa levar para dentro, introduzir, conduzir. Não tem o sentido de induzir com intenção maliciosa, como pode sugerir a palavra "induzas" em português moderno.
  • πειρασμόν (peirasmon): pode significar tentação, provação, teste. No contexto bíblico, muitas vezes se refere a situações que testam a fé ou o caráter, não necessariamente tentações no sentido moral apenas.
 Comparando as traduções:
Tradução
Expressão usada
Observação
ARC (Almeida Revista e Corrigida)
"Não nos induzas à tentação"
Pode sugerir que Deus provoca a tentação, o que não condiz com Tiago 1:13 ("Deus a ninguém tenta").
ARA (Almeida Revista e Atualizada)
"Não nos deixes cair em tentação"
Interpreta o sentido como proteção contra a queda, mas se afasta do verbo original.
Mais literal
"Não nos introduzas em tentação"
Fiel ao grego, mas exige interpretação cuidadosa para não sugerir que Deus tenta.

Conclusão espiritual
A tradução mais fiel ao grego seria algo como:
"Não nos conduzas para dentro da provação" ou "Não nos introduzas em tentação"
Mas o sentido espiritual é:
"Senhor, não permitas que entremos em situações que não estamos prontos para enfrentar, fortalece-nos para não sucumbirmos às provas."
Essa leitura harmoniza com a visão espírita de que as provações fazem parte do progresso, mas que podemos pedir a Deus força e discernimento para não cair nelas.
...mas livra-nos do mal; este pedido vai além da proteção contra perigos externos, trata, acima de tudo, do mal que ainda habita em nosso íntimo: orgulho, vaidade, egoísmo, intolerância… fragmentos da sombra que nos afastam do caminho do bem.
É uma súplica por amparo diante das influências negativas, inclusive de natureza espiritual, que encontram brechas em nossas fragilidades para nos desviar da luz. No entendimento espírita, esse apelo se conecta à assistência dos bons Espíritos, que socorrem aqueles que buscam sinceramente o bem e ajudam-nos a resistir ao assédio das forças inferiores.
Em essência, essa parte da prece é um chamado à vigilância consciente, mas não ao medo. Pois sabemos que não caminhamos sós. Deus, como Pai compassivo, estende Sua proteção, mas também nos convida a desenvolver força interior, cultivando escolhas alinhadas com o amor e a verdade.
Contudo, o maior dos males não é o erro moral isolado, mas o afastamento de Deus. Dessa ruptura nasce a desarmonia interior, a perda de direção, e a vulnerabilidade à tentação. Quando nos sentimos desconectados do Criador, o coração se desorienta.
Essa vivência espiritual é resumida com sabedoria pelo apóstolo Tiago:

"Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tiago 4:7 — ACF)

Submeter-se a Deus não é abdicar da liberdade, é exercer a liberdade com consciência. E resistir ao mal é cultivar a vigilância com fé. Quando Deus ocupa o centro de nosso ser, não há brechas para a escuridão.
...porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém; há fortes indícios de que essa parte final da oração: porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém,  seja um acréscimo posterior em algumas tradições manuscritas.
Os estudiosos dizem, que os manuscritos mais antigos e confiáveis do Evangelho de Mateus, como o Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus, não trazem essa doxologia no final do versículo 13. A maioria dos estudiosos bíblicos modernos considera que essa frase foi acrescentada posteriormente por escribas, provavelmente como uma forma litúrgica de encerrar a oração com louvor, algo comum nas práticas judaicas e cristãs da época. Apesar disso, ela aparece em muitas traduções tradicionais, como a Almeida Revista e Corrigida, e foi incorporada à prática devocional cristã ao longo dos séculos.
Do ponto de vista espiritual, mesmo sendo um acréscimo, essa doxologia reafirma a soberania de Deus ("teu é o Reino"), reconhece Seu poder absoluto, e rende glória eterna ao Criador. Ou seja, mesmo não sendo parte do texto original de Mateus, ela não contradiz o espírito da oração, pelo contrário, a encerra com reverência e exaltação.
É preciso considerar que, mesmo os elementos aparentemente "acrescentados" podem carregar um propósito pedagógico, moral e espiritual quando guiados pela presença do Espírito da Verdade.
No contexto das três revelações:
  • A primeira, com Moisés, trouxe a Lei.
  • A segunda, com Jesus, revelou o amor em sua forma mais elevada.
  • E a terceira, com o Consolador prometido — o Espiritismo —, veio esclarecer, aprofundar e resgatar o espírito da letra, ajudando-nos a discernir o sentido mais puro das palavras do Evangelho.
Assim, se essa doxologia foi preservada, é porque há um ensinamento ali a ser colhido, mesmo que ela não constasse no manuscrito original. E talvez esse ensinamento seja justamente o de fechar a prece em louvor, elevando a alma:
"Pois teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre."
Um lembrete de que, apesar das súplicas, tudo converge para Deus, e é a Ele que entregamos nossa jornada, com confiança, gratidão e reverência.

 
Comparação da Oração entre Mateus e Lucas
Elemento da Oração
Mateus
Lucas
Invocação
Pai nosso, que estás nos céus
Pai
Santificação
Santificado seja o teu nome
Santificado seja o teu nome
Reino
Venha o teu Reino
Venha o teu Reino
Vontade de Deus
Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu
(omitido)
Pão diário
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje
Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano
Perdão
Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores
Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todo aquele que nos deve
Tentação
Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal
Não nos deixes cair em tentação
 
 
Observações importantes:
  • A versão de Lucas é mais concisa, com cinco petições, enquanto Mateus apresenta sete.
  • Lucas não menciona explicitamente a vontade de Deus sendo feita "na terra como no céu", nem inclui a doxologia final "pois teu é o Reino…".
  • Em Lucas, o termo usado é "pecados" (ἁμαρτίας), enquanto em Mateus é "dívidas" (ὀφειλήματα), o que
Do ponto de vista espírita, a brevidade de Lucas pode ser vista como uma forma mais direta, talvez mais próxima da oralidade original de Jesus. O que é mais breve pode carregar a essência mais pura, sem adornos litúrgicos posteriores. Mas o Espiritismo nos convida a não desprezar nenhuma forma, pois todas as palavras de Jesus, mesmo que transmitidas com variações, foram inspiradas e preservadas sob a tutela do Espírito da Verdade. Assim, tanto Mateus quanto Lucas são fontes legítimas de luz.
Conclusão
Ao concluir este estudo, renovamos a certeza de que o Pai Nosso não é apenas uma oração, é um caminho, que conduz o espírito à luz do Evangelho. Cada súplica é um convite à reforma íntima, à comunhão com Deus e à vivência do amor em sua expressão mais elevada.
Quando oramos com consciência e sinceridade, nos tornamos colaboradores da paz, da justiça e da esperança no mundo. E como ensinou o próprio Jesus, "o Reino de Deus está dentro de vós". Que cada palavra desta oração se torne vida em nós, e que, pela vivência do bem, possamos santificar o nome de Deus com nossa própria existência.
Que este estudo possa servir como instrumento de elevação, consolação e inspiração, e que a oração do Pai Nosso continue sendo — em todos os tempos e corações — uma ponte entre o humano e o divino.
   #OraçãoDiminical #EvangelhoSegundoOEspiritismo #JesusEnsinou #TextosSagrados


[1] Para uso dos termos gregos acessamos: NEPE Brasil. Bíblia Interlinear – Mateus 6:12. Disponível em: https://search.nepebrasil.org/interlinear/?chapter=6&livro=40&verse=12. . Acesso em: [07/07/2025].
[2] Mais uma vez, para referências para o texto grego e análise dos termos consultamos:
1. Texto Interlinear Grego
2. Concordância de Strong





Outro significado importante é o de igreja. Vem do grego ekklesia, que literalmente quer dizer reunião de pessoas, assembleia. É interessante que esta palavra aparece cento e quinze vezes no Novo Testamento, mas apenas três nos evangelhos, e todas em Mateus. O que nos dá a entender que a ideia de uma comunidade religiosa só surgiu após o desencarne de Jesus.
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A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe ...
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