quinta-feira, dezembro 30, 2010

Educação e Evangelho (II)


"Resplandeça a vossa luz" - Jesus (Mateus, 5: 16)
Dando continuidade aos nossos comentários sobre o tema Educação, podemos agora nos aprofundarmos um pouco mais no porquê de afirmarmos ser a Doutrina Espírita à luz do Evangelho de Jesus não só um ótimo instrumento educativo, mas talvez o melhor. É a Doutrina Espírita segundo esse ângulo de visão a que realmente pode transformar o Ser por tocar nos temas fundamentais da existência, apoiados por uma moral universal.
Para que aja uma melhor compreensão do assunto faz-se necessário retomarmos alguns conceitos do que seja educar, já trabalhados por nós anteriormente.
Extrair ou desenvolver faculdades físicas, intelectuais e morais do educando (Etimologia). O que dá a entender que o educando já as possui latente em sua intimidade, educar assim seria "tirar de dentro".
Educação é a arte de formar caracteres, de suscitar novos hábitos, … educação é o conjunto de hábitos adquiridos. (Kardec, LE Q. 685)
Toda influência exercida por um espírito sobre outro, no sentido de despertar um processo de evolução. (Dora Incontri)
Como primeira conclusão podemos dizer que os potenciais positivos já existem na própria criatura, e que "formar caracteres" como coloca o Codificador do Espiritismo é despertar estes potenciais, é "suscitar novos hábitos", porém hábitos integrados às Leis Universais, pois se o modo de ser de um indivíduo é determinado por uma conduta contrária às legislações cósmicas, estes traços particulares do seu caráter destoam de suas tendências originais, necessitando assim, de uma transformação visando sua harmonia com o andamento natural dos eventos universais.
Allan Kardec, o sábio organizador das verdades reveladas pelos Espíritos superiores, iniciou o estudo da Doutrina Espírita buscando uma compreensão de Deus e de sua creação, só assim poderia ser iniciada uma proposta educacional: pela compreensão das questões máximas da vida.
Seguindo o mesmo caminho, ao dissertarmos, mesmo que de forma singela sobre importante tema, não podemos seguir outro roteiro; assim, faz-se necessário uma mais ampla compreensão de Deus sobre seus aspectos básicos: transcendência e imanência.
É comum nos dias de hoje no meio espírita o saber de cor determinadas conceituações expressas na Codificação. Deste modo, todos sabem que Deus é a Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas conforme o Livro dos Espíritos questão número um. Todavia, quantos são os que entendem o que os Espíritos aqui quiserem dizer? Não basta ler as obras espíritas como se fosse uma novela ou um romance qualquer, é preciso aprender a pensar e formar um entendimento superior. Esta deve ser a tônica de toda proposta educativa.
Afirmam os Instrutores superiores que Deus é "Inteligência Suprema", e daí podemos depreender não ser o Criador um ser inteligente, este é o conceito dado para Espíritos conforme a questão 76 de O Livro dos Espíritos: "seres inteligentes da criação". Deus é a Inteligência Suprema, repetimos, isto é, a "Alma" do Universo e não um Espírito superior como supõe muitas vezes o nosso atavismo antropomórfico. Continuam… "Causa Primária de todas as coisas". Isto quer dizer que Deus é o Creador de tudo, nada do que existe teve outra origem, e assim podemos dizer que tudo o que existe saiu de Deus, pois não há como ser diferente, nada existe exterior à Divindade.
É para que possamos entender melhor e completarmos estes conceitos que temos que abordar os temas transcendência e imanência.
Transcendência é o estado que está além dos limites do possível; um estado do que é superior, sublime, excelso.
Deus, antes de crear era o "Uno-Todo", toda Sua obra ainda não existia, deveria sair de Si. Após a obra feita, passa a existir a distinção Creador e creatura.
Este Deus que permanece acima de sua obra, Inacessível, Invulnerável, Absoluto, Uno, é o Deus transcendente, o Creador do Universo, Causa primária de todas as coisas.
Todavia não podemos deixar de levar em consideração o aspecto imanente da Divindade. Imanência seria assim, a permanência de Deus na obra creada; não podendo nada existir exterior a Deus, Ele está em todas as coisas. É o espírito que se prendeu à forma objetivando sua volta consciente ao Pai; é o impulso creador que leva tudo "para frente e para o alto". Desta forma podemos afirmar que Deus permaneceu no Universo, não exteriormente, mas intimamente, exercendo o ato de crear constantemente com a Sua presença.[1]
Este Deus imanente é o que a psicologia chama de "Self" ou "Eu profundo", os místicos denominam "Cristo interior" ou "Centelha Divina". Não foi por outro motivo que Jesus, o Médium de Deus, asseverou: "resplandeça a vossa luz"[2], que Platão afirmou que aprender é recordar, e que os educadores conscientes dizem ser educação, a arte de despertar no educando suas potencialidades intelectuais e morais disparando assim todo o processo evolucional.
Conscientes dos conceitos expostos acima agora podemos ter uma maior compreensão do por que não ser possível pensar em educação sem um entendimento mais profundo das questões máximas da existência, e qual a utilidade da Doutrina Espírita dentro da atividade educacional. Todavia para que essa função seja cumprida com satisfação, como dissemos anteriormente, não podemos abrir mão do Evangelho de Jesus como norteador de todo este sistema num plano mais abrangente.
É o que passaremos a fazer a partir de agora, mostrar como que o Evangelho entra neste seguimento, tornando o Ser melhor, por ser este o principal objetivo da tarefa educacional.


Notas:
[1] "O Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" Jesus (João, 5: 17)
[2] Mateus, 5: 16

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