Continuando nossos estudos afirmávamos da necessidade do conhecimento dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita como forma de auxiliar no entendimento da teologia paulina.
Temas como Deus, Jesus
(Cristo), Espírito, Perispírito, Evolução, Mediunidade,
Imortalidade da Alma, Livre Arbítrio, entre outros, são essenciais
para verdadeiramente entendermos o que quis dizer ao mundo este
Bandeirante do Evangelho.
Só para termos uma
breve ideia da importância dos conhecimentos destes princípios
doutrinários para o melhor entendimento da proposta paulina vamos
destacar neste momento apenas três destes princípios: Deus,
Espírito e Jesus.
Deus
Para a doutrina
espírita, o entendimento de Deus é como na Bíblia em seus
primeiros movimentos, Deus é o Criador do Universo.
Na primeira questão de
O Livro dos Espíritos temos: Deus é a Inteligência
Suprema e Causa Primária de todas as coisas.
Deus é Espírito, é
imaterial, onipotente, onipresente, onisciente, imanente e
transcendente. Segundo os Espíritos Ele não atua diretamente na
matéria1,
para isto tem agentes dedicados que O auxiliam.
Espírito
O Espírito é o
princípio inteligente do Universo2,
os Espíritos são os seres inteligentes da criação3.
Eles estão em
constante evolução, o que fazem através das diversas
reencarnações. Quando atingem o cume da escala evolutiva,
tornam-se Espíritos Perfeitos, Espíritos Puros, Cristos4...
Jesus
Jesus é para a
doutrina espírita um Espírito criado, não é Criador, é criatura.
Porém é um Espírito
especial, não porque tenha sido criado de forma diferente dos
demais, mas porque se fez especial. Percorreu toda escala evolutiva
em mundos que já nem existem mais, e tornou-se Perfeito, um Espírito
Puro. É assim, um Cristo. Daí, Jesus-Cristo, onde Cristo não é
sobrenome, mas condição espiritual, estado evolutivo.
Podemos assim dizer que
ele é um dos Agentes Dedicados5
que auxiliam Deus na governança de Sua criação.
Ele não é Criador, é
Construtor; é conforme orientação do Espírito André Luiz, um
Co-criador em Plano Maior.6
Para o nosso planeta,
Jesus é o Construtor dele, é o Mentor Espiritual; os Espíritos o
definem como Governador Espiritual da Terra.
Não compreendendo tudo
isto e sentindo a Sua superioridade muitos pensam ser Jesus o próprio
Deus Criador. Só o Espiritismo através das revelações dos
Espíritos Superiores pôde elucidar esta questão, e assim nos dar
mais uma ferramenta para compreendermos Paulo, e porque não dizer
todo o Evangelho, que é a Boa Nova de Deus.
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Dito isto faz-se
necessário buscar Alguns textos de Paulo e os interpretarmos dentro
desta nova ótica proposta. Lembrando que por ser o Evangelho a
Mensagem do Cristo trazida aos homens através da inspiração do
Espírito de Verdade, outras interpretações além das aqui
propostas poderão haver sem contradição. Neste passo não vamos
nos preocupar com as minúcias, mas com o que achamos mais importante
para o objetivo deste estudo.
Jesus é Deus?
…agora, nestes dias que são os últimos, [Deus] falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos. É ele o resplendor de sua glória e a expressão de seu ser; sustenta o universo com o poder de sua palavra… (Hebreus, 1: 2 e 3)1
Como dissemos no início
deste texto para compreendermos Paulo e a essência de sua mensagem é
preciso nos descondicionarmos em relação às interpretações das
escrituras que até então fizemos levando em conta as teologias
cristãs tradicionais. Dentro da ótica antiga, a primeira ideia que
vem ao lermos estes versículos é que Jesus é Deus. Porém não é
o que pensava o autor de Hebreus. Além de ser inconcebível para um
judeu como ele o pensamento de que Deus pudesse encarnar, a tradição
judaica nunca disse ser o Messias igual a Deus.
Temos no texto em
epígrafe a afirmativa do apóstolo de que Jesus é Filho. Como
sabemos, Deus é Pai, portanto, não é a mesma coisa. Entretanto a
teologia cristã posterior disse que o Filho faz parte da Trindade e
que seria uma pessoa de Deus. Teríamos assim, Deus Pai, Deus Filho,
e Deus Espírito Santo.
Não é objetivo deste
estudo, devido a sua singeleza, aprofundar-se nestas questões
teológicas, mas temos, entretanto, de manifestarmo-nos de alguma
forma.
A teoria do Deus trino
e da trindade não tem claramente um respaldo bíblico, pode-se ver a
mesma expressa nas entrelinhas de alguns textos, entretanto trata-se
de opinião pessoal e liberdade de interpretação daqueles
detentores desta forma de pensar.
Temos nestes versículos
a afirmação do autor sagrado de que Jesus fez os séculos. Num
primeiro instante podemos pensar que Jesus fez o “tempo” já que
séculos expressa uma noção de tempo. Como o Criador do
tempo é Deus, supõe-se através de uma leitura rápida que
Jesus é Deus.
Todavia o que o texto
expressa que é Deus quem fez por meio do Filho, o que é diferente.
Outra questão a ser compreendida é que a expressão grega aion
também pode ser vista como uma tradução de uma expressão
idiomática hebraica que dizer mundo, universo.
Assim, o autor de
Hebreus quer dizer que Jesus fez o mundo. Dentro da teologia
tradicional caímos na mesma dificuldade, pois quem criou o mundo foi
Deus.
É aqui que a doutrina
espírita entra fazendo a diferença. Mundo ou Universo aqui
expressam os Universos físicos, isto é materiais. O mesmo se dá
com séculos que é uma medida de tempo. Só existe tempo
quando falamos de dimensões materiais.
Como vimos
anteriormente Deus não opera diretamente na matéria, isto ele faz
por meio dos Espíritos, e no caso da construção dos Universos Ele
faz por meio dos Espíritos Puros que são os Cristos ou os Messias.
Assim, o autor de
Hebreus inspirado pelo Espírito de Verdade está correto e coerente
com o ensino que os Espíritos nos deram a partir da Codificação
Kardequiana. Deus por intermédio de Jesus que é um Cristo fez o
mundo em que vivemos que é o planeta Terra
Na sequência do
versículo ele ainda diz que Jesus é a expressão de seu ser,
isto é a expressão de Deus.
Está corretíssimo;
Jesus é a expressão exata de Deus, a expressa imagem Dele. Como
sabemos os Espíritos Puros já se reintegraram na Unidade Divina2.
Todavia é preciso convir, a expressão de uma coisa não é a coisa
em si por mais perfeita que ela seja. Uma imagem de uma pessoa num
espelho é a cópia fiel desta, porém não é a pessoa, o mesmo
podemos dizer de uma poema, ele pode expressar com perfeição um
evento, mas não se trata do próprio; o mapa não é o território,
e assim por diante.
Jesus é a expressão
exata de Deus, daí ser confundido com Ele, porém não é a
Divindade por excelência.
1
Aqui é preciso considerar que os eruditos modernos não têm Paulo
como autor da carta aos Hebreus. Neste texto não vamos entrar nesta
questão, vamos apenas considerar, como Emmanuel através da
psicografia de Francisco Cândido Xavier, que foi Paulo quem
escreveu esta valiosa carta.
1
(KARDEC, O Livro dos Espíritos. 50ª ed. 1980).
Q. 536 item b
2
Idem, Q. 23
3
Id. Ib., Q. 76
4
Do grego Christos que significa “ungido”. Tanto os reis
quanto os sacerdotes eram investidos de sua autoridade numa
cerimônia com óleo de oliva. Deste modo Cristo é aquele que
recebe a autoridade diretamente de Deus, e neste caso é autoridade
moral e espiritual que só é dada àquele que chegou ao cume da
escala evolucional.
5
(KARDEC 1980), Q. 536 item b
6
XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz
(Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a
Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993.
2 comentários:
Obrigada pela elucidação clara de verdade tão bela! Agora talvez, possa eu também explica-la com maior clareza.
Obrigada! Fica bem mais lógico e claro agora! Já saberei também explicar.
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