Para entendermos a
teologia de Paulo numa perspectiva espírita é preciso termos alguns
cuidados na interpretação dos textos deste valioso apóstolo.
Em primeiro lugar
faz-se necessário nos descondicionarmos da visão de aproximadamente
dois mil anos que o cristianismo organizado nos trouxe, onde os
ensinamentos de Jesus foram interpretados de forma incorreta.
Dizemos desta forma,
pois devido à sua imaturidade espiritual o homem nestes dois
milênios posteriores à vinda de Jesus não conseguiu compreender
alguns pontos da Mensagem do Evangelho criando doutrinas que divergem
da essência do que o Senhor nos trouxe, formando, assim, na
humanidade, um psiquismo difícil de ser alijado da nossa intimidade,
psiquismo este que tem nos levado a enganos e dificultado a
compreensão da maior mensagem que Deus deu à humanidade.
Como segunda
necessidade para melhor entender Paulo é preciso compreendê-lo
dentro de suas três realidades, ou seja, devemos inseri-lo em seus
três mundos.
- Ele era cidadão romano (cf. Atos, 22: 25, 27 e 29)
- Tinha se formado numa cultura grega e era profundo conhecedor deste idioma, de sua literatura e filosofia. Nascido em Tarso, uma cidade que tinha uma das maiores universidades da época; teve segundo Emmanuel1 convívio com mestres da escola de Atenas e de Alexandria.
- Era Judeu, fariseu, criado aos pés de Gamaliel2.
Portanto, Paulo não é
autor de nenhuma teologia antissemita, não tem Jesus como Deus, e
nem prega um Deus trino o que seria inadmissível para o judaísmo em
que foi formado. Ele não rompeu com o judaísmo, a elite judaica é
que não o compreendendo não o aceitou, como também, anteriormente,
não aceitara Jesus.
O que o apóstolo dos
gentios percebeu e por isso não foi compreendido por muitos é que
Jesus era o Messias falado nas Escrituras hebraicas, que era maior do
que Moisés e do que todos os profetas; que Ele era a continuidade da
Torah, Ele a completava, era o objetivo dela; o Seu Evangelho era a
Terra Prometida a seus ancestrais. Para Paulo Jesus não era rival de
Moisés e nem vice-versa, Moisés era servidor de Jesus e tinha seu
valor, como Jesus era de Deus.
A teologia paulina é
eminentemente judaica, Jesus é o cumprimento da Promessa, é a
semente de Abraão3.
*****
O
Bispo anglicano Nicholas Thomas Wright, em seu livro “Paulo –
Novas Perspectivas”4,
define a estrutura do monoteísmo judaico fundamentada em três
conceitos importantes. São eles o de criação, providência, e
juízo.
Segundo este
considerado autor, em Paulo também veremos a mesma temática
expressa em toda sua teologia.
Interessante
observarmos, quando nosso desejo é fazermos um releitura de Paulo
sob uma ótica espírita, que na Doutrina codificada por Kardec
também teremos os mesmos assuntos nos desafiando por toda obra.
Criação –
tendo entendido que existe uma criação, o judaísmo teve o bom
senso de perceber que esta não se fez ao acaso, mas que era obra de
um criador. Vemos aqui a presença daquela orientação dada a Kardec
pelos Espíritos codificadores:
Não há efeito sem
causa. E neste axioma podemos encontrar a prova da existência de
Deus, o Criador. Procurai a causa de tudo o que não é obra do
homem e a vossa razão responderá.5
Assim, temos, se há
uma criação, tem-se então um criador, que neste caso é Deus, o
Criador dos céus e da terra.6
Guardemos, portanto,
esta informação, no Judaísmo de Paulo Deus é o Criador do
Universo e de todas as coisas.
Os céus contam a glória de Deus,
E o firmamento proclama as obras de suas mãos.
O dia entrega a mensagem a outro dia,
E a noite a faz conhecer a outra noite.
Não há termos, não há palavras,
Nenhuma voz que deles se ouça;
E por toda a terra sua linha aparece
E até aos confins do mundo a sua linguagem.
Ali pôs uma tenda para o sol,
E ele sai, qual esposo da alcova,
Como alegre herói, percorrendo o caminho.7
1
XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Paulo e
Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Pág. 84
2
Atos, 22: 3 e 26: 4 e 5
3
Cf. Gênesis, 13: 15 e Gálatas, 3: 16
4
WRIGHT, N.T.; Tradução de Joshuah de Bragança
Soares. Paulo Novas Perspectivas.
São Paulo: Loyola, 2009.
6
Gênesis, 1: 1
7
Salmo, 19: 1 a 6
Nenhum comentário:
Postar um comentário