segunda-feira, março 12, 2012

Paulo de Tarso: Uma Perspectiva Espírita


Para entendermos a teologia de Paulo numa perspectiva espírita é preciso termos alguns cuidados na interpretação dos textos deste valioso apóstolo.
Em primeiro lugar faz-se necessário nos descondicionarmos da visão de aproximadamente dois mil anos que o cristianismo organizado nos trouxe, onde os ensinamentos de Jesus foram interpretados de forma incorreta.
Dizemos desta forma, pois devido à sua imaturidade espiritual o homem nestes dois milênios posteriores à vinda de Jesus não conseguiu compreender alguns pontos da Mensagem do Evangelho criando doutrinas que divergem da essência do que o Senhor nos trouxe, formando, assim, na humanidade, um psiquismo difícil de ser alijado da nossa intimidade, psiquismo este que tem nos levado a enganos e dificultado a compreensão da maior mensagem que Deus deu à humanidade.
Como segunda necessidade para melhor entender Paulo é preciso compreendê-lo dentro de suas três realidades, ou seja, devemos inseri-lo em seus três mundos.
  • Ele era cidadão romano (cf. Atos, 22: 25, 27 e 29)
  • Tinha se formado numa cultura grega e era profundo conhecedor deste idioma, de sua literatura e filosofia. Nascido em Tarso, uma cidade que tinha uma das maiores universidades da época; teve segundo Emmanuel1 convívio com mestres da escola de Atenas e de Alexandria.
  • Era Judeu, fariseu, criado aos pés de Gamaliel2.
Portanto, Paulo não é autor de nenhuma teologia antissemita, não tem Jesus como Deus, e nem prega um Deus trino o que seria inadmissível para o judaísmo em que foi formado. Ele não rompeu com o judaísmo, a elite judaica é que não o compreendendo não o aceitou, como também, anteriormente, não aceitara Jesus.
O que o apóstolo dos gentios percebeu e por isso não foi compreendido por muitos é que Jesus era o Messias falado nas Escrituras hebraicas, que era maior do que Moisés e do que todos os profetas; que Ele era a continuidade da Torah, Ele a completava, era o objetivo dela; o Seu Evangelho era a Terra Prometida a seus ancestrais. Para Paulo Jesus não era rival de Moisés e nem vice-versa, Moisés era servidor de Jesus e tinha seu valor, como Jesus era de Deus.
A teologia paulina é eminentemente judaica, Jesus é o cumprimento da Promessa, é a semente de Abraão3.
*****
O Bispo anglicano Nicholas Thomas Wright, em seu livro “Paulo – Novas Perspectivas”4, define a estrutura do monoteísmo judaico fundamentada em três conceitos importantes. São eles o de criação, providência, e juízo.
Segundo este considerado autor, em Paulo também veremos a mesma temática expressa em toda sua teologia.
Interessante observarmos, quando nosso desejo é fazermos um releitura de Paulo sob uma ótica espírita, que na Doutrina codificada por Kardec também teremos os mesmos assuntos nos desafiando por toda obra.
Criação – tendo entendido que existe uma criação, o judaísmo teve o bom senso de perceber que esta não se fez ao acaso, mas que era obra de um criador. Vemos aqui a presença daquela orientação dada a Kardec pelos Espíritos codificadores:
Não há efeito sem causa. E neste axioma podemos encontrar a prova da existência de Deus, o Criador. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.5
Assim, temos, se há uma criação, tem-se então um criador, que neste caso é Deus, o Criador dos céus e da terra.6
Guardemos, portanto, esta informação, no Judaísmo de Paulo Deus é o Criador do Universo e de todas as coisas.
Os céus contam a glória de Deus,
E o firmamento proclama as obras de suas mãos.
O dia entrega a mensagem a outro dia,
E a noite a faz conhecer a outra noite.
Não há termos, não há palavras,
Nenhuma voz que deles se ouça;
E por toda a terra sua linha aparece
E até aos confins do mundo a sua linguagem.
Ali pôs uma tenda para o sol,
E ele sai, qual esposo da alcova,
Como alegre herói, percorrendo o caminho.7

(No próximo texto trabalhremos os conceitos de "providẽncia" e "juízo")


1 XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Pág. 84
2 Atos, 22: 3 e 26: 4 e 5
3 Cf. Gênesis, 13: 15 e Gálatas, 3: 16
4 WRIGHT, N.T.; Tradução de Joshuah de Bragança Soares. Paulo Novas Perspectivas. São Paulo: Loyola, 2009.
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 4
6 Gênesis, 1: 1
7 Salmo, 19: 1 a 6

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