sexta-feira, fevereiro 24, 2012

O Sermão Profético - Prefácio




O Sermão Profético de Jesus é um hino de vigilância espiritual diante das transformações morais ocorridas no indivíduo e na sociedade, anunciando terremotos íntimos, ventanias sociais, intempéries no ambiente familiar e inundações na consciência obliterante. O Sermão Profético do amigo e respeitado escritor espírita Cláudio Fajardo elucida muitos pontos até então obnubilados a respeito dessa temática do Evangelho sob a ótica exitosa da Doutrina Espírita. Enquanto o Sermão da Montanha traça uma Constituição Espiritual Imutável acerca da evolução do Espírito em nosso orbe, o Sermão Profético preconiza todas as reações contrárias, advindas do materialismo exacerbado.
Este livro é fruto de reflexões profundas vinculadas à necessidade de cada um refletir sobre seus pensamentos e ações à luz do Evangelho sob as bases da Doutrina Espírita, organizadas por Allan Kardec.
A cada século os ensinos de Jesus renovam a esperança e a fé para uma vida melhor; a imagem do Cristo, em sua mansuetude, parece mais nítida sob a ótica consciencial da história da Humanidade.
Quando o materialismo parece engendrar, vitorioso, a figura do Meigo Rabi da Galileia ressurge na intimidade da consciência ultrajada ou no recôndito dos sentimentos invariavelmente cansados dos mesmos enganos.
O Evangelho de Jesus é eterno e atual. Constitui um roteiro seguro para o viajor da evolução em busca de respostas e de soluções para os seus conflitos contumazes.
O Sermão Profético é um aviso e um clamor, uma esperança e uma consolação, a ação medicamentosa para a redenção de todos os espíritos.
É chegada a hora da força irresistível do amor ser reconhecida por todos. O autoperdão e a indulgência incondicional são os primeiros passos para uma perfeita compreensão acerca do “amai os vossos inimigos”.
O Sermão Profético de Jesus mostra-nos um sistema que se inicia com o amor e termina com um destino inevitável de iluminação espiritual.
O Amor conduz à boa vontade.
A boa vontade é a usina geradora da humildade.
A humildade nos ensina aprender. Aprender a aprender, aprender a fazer e aprender a ser.
O aprendizado constante viabiliza o conhecimento. O orgulho é a primeira consequência quando se estaciona no caminho do aprendizado.
O conhecimento é a experimentação da verdade adquirida com as próprias ou com as experiências do próximo.
É conhecendo, portanto, que se compreende.
Compreendendo desenvolve-se o princípio da Justiça que é o bom senso.
O bom senso eleva a ação segundo a capacidade de pesquisar que consiste em observar, registrar, analisar e comparar para depois decidir.
Uma sábia decisão produz uma consciência plena do que se quer.
Quem sabe o que quer sabe planejar.
Quem planeja estabelece uma disciplina.
A disciplina é a fonte geradora do controle.
O controle gera o poder, que consiste em saber influenciar.
O poder é o estágio final para se alcançar o objetivo determinado por um sistema iniciado com amor.
Que o amigo leitor sinta a influência sublime de Jesus nesta obra de referência. Que o seu pesquisador e escritor, o nobre irmão Cláudio Fajardo receba do Maior dos Profetas de todos os tempos o quinhão abençoado da luz e da fortaleza interior em seu Sermão Profético da Imortalidade.



Emídio Silva Falcão Brasileiro.
Goiânia 17 de Maio de 2006.














quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Maria a Educadora de Jesus - Texto Final e Bibliografia


Brilhe a vossa luz…, vós sois a luz do mundo…

Já dissemos alhures que, conforme nosso entendimento, a maior missão de Jesus foi a de educar nossos Espíritos e Ele foi sem dúvida o maior educador de todos os tempos.
Ele nos lembrou que somos também filhos de Deus e que o Pai ao nos criar o fez a partir Dele mesmo o que quer dizer que todos somos deuses ou possuímos em nós o Reino do Altíssimo.
Trabalhar estes valores e despertar este potencial divino era o seu objetivo, isto é o que devemos entender por educar o Espírito e para tal Ele tinha autoridade.

É-me dado todo o poder no céu e na terra.1
Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.2

E sintetizando todo este processo nos afirmou:

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens…3
Vós sois a luz do mundo…4

Este mecanismo de despertamento destes valores se dá pela transformação moral o que em outras palavras podemos dizer autoiluminação, e o seu exercício deve ser diante dos homens através do serviço prestado a estes. Se no início ainda não fazemos por amor, devemos pelo menos, disciplinadamente, tornar-nos úteis.
Maria, que era um Espírito santificado através de suas existências milenares que provavelmente aconteceram em outro orbe, sabia de tudo isto e com grande consciência fez-se serva do Senhor. E para cumprir seu excelente papel de educadora daquele que seria o Mestre por excelência, desde criança deve ter auxiliado seu filho no despertamento desta necessidade, a de servir à humanidade sem dela nada esperar.
Servir sem ser servido, amar sem ser amado, devem ter sido o conteúdo das primeiras histórias contadas pela Mãe Santíssima a seu menino.
Muitos podem nos perguntar, como podemos saber que Maria contava histórias a seu filho? O Evangelho nada fala a este respeito.
É mais uma conclusão a que chegamos analisando Jesus. Ele foi o maior contador de histórias que temos notícia, ele era excelente observador de todas as coisas, das situações, da natureza. É lógico que ele tinha registrado em si mesmo todas as virtudes, entretanto, não é menos lógico que sua mãe despertava nele desde criança estes valores através de uma educação apropriada ao que ele iria necessitar no futuro. Não foi à toa que ela é que foi a agraciada com esta nobre missão.
Entre todos o Espíritos que já estiveram fisicamente em nosso orbe Jesus foi o que mais serviu, ensinando-nos a assim fazer com alegria. Ele teve o exemplo em sua própria casa, Maria se declarou serva do Senhor e nos primeiros movimentos do Magnificat disse:

Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, porque olhou para a humilde posição de sua serva.5

A visão de Jesus sobre Deus é ampla, Maria não O encarcerou na realidade de sua cultura: minha alma engrandece o Senhor. Ou seja, ela vê Nele muito mais do que a sua religião ensinava… Para a Mãe de Jesus, Deus não estava preso às paredes de um templo, nem operava em favor das criaturas de uma religião apenas, Ele era o Senhor Universal. Ela se alegrava em servir a Deus em sacrificar-se em Seu nome: meu espírito exulta em Deus, isto é comungava com Ele em plena harmonia, integrando-se Nele, realizando a Sua vontade, isto era o mais importante e a fonte de sua alimentação espiritual.
Paulo de Tarso deve ter se maravilhado com esta visão da Mãe de nosso Senhor, não foi por outro motivo que desejou escrever um Evangelho a partir de sua ótica, expressando todo seu sentimento. E na impossibilidade de assim fazer, delegou a seu amigo de maior confiança, Lucas, de deixar registrado para todos nós aquele que seria referenciado por muitos como sendo “O Evangelho de Maria”.
A nossa espiritualidade não é autêntica, nós oramos e estudamos, procuramos fazer o Bem, mas tudo com hora marcada, só entre os afins, em nosso círculo de fé. No dia a dia, na vida comum, somos muito diferentes do que pregamos em nossas casas espíritas ou nos templos a que nos afeiçoamos. Maria engrandecia o Senhor, se alegrava da presença Dele em sua vida, ela estava sempre em comunhão com o Divino.
Quem vive assim, como Maria, automaticamente está educando seus filhos ou seus alunos, educar é ser coerente com o que se prega. Só podemos levar alguém para o caminho de Deus se nós estivermos nele.
Maria servia a Deus, mas servia com tal integridade, que podemos compreender que transcendia ao simples ato de servir. Maria vivia Deus.

Bibliografia
A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.
BibleWorks For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks, 2006.
CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2007.
KARDEC, Allan. “Ensaio Sobre a Interpretação da Doutrina dos Anjos Decaídos.” Revista Espírita, 1862: Janeiro.
---------- O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
---------- O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho Vol. 8. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1967.
PEREIRA, Yvone do Amaral. Memórias de um Suicida. Rio de Janeiro: FEB, 1955.
ROGONATTI, Eliseu. O Evangelho dos Humildes. 14ª ed., São Paulo, Pensamento, 2001
XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação. 6ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978.
XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). Levantar e Seguir. São Bernardo do Campo: GEEM, 1992.
----------O Consolador, 16ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993.
----------Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
XAVIER, Francisco C./Espíritos diversos. Momentos de Ouro. São Bernardo do Campo: GEEM, 1977.
XAVIER, Francisco C./Humberto de Campos (Espírito). Crônicas de Além Túmulo. Rio de Janeiro: FEB, 1937.
---------- Boa Nova, 14ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982.
XAVIER, Francisco C./Irmão X (Espírito). Lázaro Redivivo. Rio de Janeiro: FEB, 1945.


1 Mateus, 28: 18
2 João, 13: 3
3 Mateus, 5: 16
4 Mateus, 15: 14
5 Lucas, 1: 46 a 48

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Evangelho Miudinho - Considerações sobre o Sermão Profético de Jesus


E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo.
Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.
E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? Mateus, 24: 1 a 3


E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo.
Estar no templo, orar, meditar, sintonizar com as questões espirituais é uma necessidade para todos nós. Entretanto, necessário também é sair do templo buscando vivenciar todos ensinamentos ali recolhidos. Jesus nos dá o exemplo, cabe a cada um segui-Lo de acordo o entendimento particular.
A julgar pela narrativa de Lucas, este acontecimento se deu após o excelente ensinamento dado por Jesus, quando da oferta da viúva pobre. Interessante observar a invigilância dos discípulos, que mesmo após o Mestre ter mostrado a eles que o importante não era o aspecto exterior das coisas, ou mesmo os valores amoedados, eles fizeram questão de chamar a atenção de Jesus justamente para a estrutura física do templo.
É o mesmo que ocorre conosco quando diante da oportunidade de uma lição edificante, valorizamos mais o instrumento que a veicula, do que a própria lição a ser apreendida.
porque a letra mata, e o Espírito vivifica, já dizia o apóstolo.1
Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.
Jesus, porém, lhes disse… - Jesus consegue sabiamente conduzir a lição. Seus amigos chamaram atenção para um aspecto, Ele, porém, lhes disse…, isto é, mudou a direção da conversa fazendo-a mais instrutiva.
Parece simples, porém temos em nosso dia a dia de aprender a fazer isto, pois não somos obrigados a nos envolver em questões desinteressantes ao nosso processo evolutivo, nem podemos agir de modo deseducado quando tal acontece. O Evangelho nos ensina a ser sutil, porém sem abrir mão do que já conquistamos.
Não vedes tudo isto? – O bom mestre ensina partindo daquilo que o educando consegue entender. Deste modo, Jesus salienta o exterior – tudo isto – porque é o que conseguimos ver, assim faz Ele, com o objetivo de mostrar o que está para lá de nossa pouca visão. Pois, ao ver tudo isto que se nos apresenta de forma imediata, ainda mesmo assim, estamos vendo muito pouco do que existe para mais além.
Em verdade vos digo… - Já dissemos em estudos anteriores, que tudo o que é dito por Jesus é verdade, porém, quando Ele faz este destaque, …em verdade vos digo…, é porque há de nossa parte uma necessidade maior de prestarmos atenção no ensinamento que vem após.
que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. – Todos os estudiosos do texto evangélico têm visto nestas palavras de Jesus uma alusão à destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 de nossa era. E a profecia realmente se cumpriu à risca.
Porém, não podemos deixar de ver nestas sábias palavras, muito mais do que isso, ou seja, um ensinamento que transcende a questão tempo-espaço, como veremos no prosseguimento deste estudo.
E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?
E, estando assentado no monte das Oliveiras… - Aqui também, como no Sermão do Monte, Jesus dá-nos valioso ensinamento assentado no monte. Assentado mostrando-nos segurança, tranqüilidade; e monte significando elevação espiritual, sintonia com as Leis Supremas da Criação. Ou seja, Jesus nos mostra que para ensinar necessário se faz estarmos assentados em bases sólidas.
chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo… - Jesus é o Sábio por Excelência, ao conscientizarmo-nos disto, é preciso chegarmo-nos a Ele, isto é, aproximarmos Dele com o intuito de mais aprender. Em particular, é na intimidade Dele. Nós, nos fazendo íntimo com o Cristo podemos realizar maravilhas.
porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.2
Marcos, que é sempre mais detalhista, nos diz que, os que aproximaram-se Dele, eram Pedro e André (irmãos), Tiago e João (irmãos). A particularidade daquele momento (em família), nos faz ver, que é justamente na intimidade que o Cristo tende a manifestar-se com mais naturalidade.
Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.3
Dize-nos quando serão essas coisas… - A previsão da destruição do templo tinha assustado mesmo os mais íntimos. É o mesmo que hoje aconteceria se fosse previsto a queda de uma sólida construção moderna, de um império poderoso como o da Microsoft ou do próprio EUA.
Desde modo, os discípulos querem logo saber: quando serão essas coisas…
Essas coisas, nesse tom de dificuldade de aceitação, vem nos mostrar justamente como é difícil para qualquer um de nós, conformar com a perda ou destruição do que ainda é para nós importante, mesmo que de um valor passageiro ou transitório.
e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? - Estes acontecimentos eram o prenúncio da parusia, palavra grega, que quer dizer “presença”. Designava no mundo greco-romano, a visita oficial e solene de um príncipe a um lugar qualquer. Os cristãos adotaram-na como termo técnico para designar a vinda do Cristo.4
Segundo o professor Carlos Torres Pastorino, a expressão fim do mundo, é um equívoco de tradução. Diz Pastorino: “… no original não está escrito télos toú kósmou (fim do mundo), mas synteleia toú aiónos (término do eon ou ciclo).” 5 A Bíblia de Jerusalém, traduz como “consumação dos tempos”, dando também a entender, final de um ciclo, e não do mundo.
O evangelista dá-nos a entender, em sua crença, que a volta de Jesus era o que marcaria o final deste ciclo. Nós particularmente entendemos a segunda vinda do Cristo, como a manifestação Dele em nós, ou seja, aquele momento em que assimilamos Sua mensagem e a colocamos em prática. É o que nos dá a entender o próprio Evangelho:
Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.6
Ou seja, a volta de Jesus é uma questão íntima, particular de cada um; para aqueles que realizaram em si a reforma necessária, Ele já veio; para muitos virá breve; para outros demorará um pouco mais.
Assim, este momento glorioso de “Cristificação” íntima, marca o fim de um ciclo, ou, eon, como nos diz o professor Pastorino. É o fim do ciclo das dores em favor do Amor Pleno. Quando chegar este dia, dos templos físicos não restarão pedra sobre pedra, pois o Pai será adorado em espírito7; e mesmo o templo divino do nosso corpo já não terá mais razão de ser, pois por conquista não precisaremos mais reencarnar, vivendo uma vida, plenamente espiritual.

Texto extraído do Livro "O Sermão Profético"
 
1 2 Coríntios, 3: 6
2 Marcos, 4: 34
3 Mateus, 6: 6
4 Bíblia de Jerusalém, pág. 1884.
5 Sabedoria do Evangelho, 7° Volume, pág. 93
6 João, 14: 23
7 Conforme João, 4:24: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

A Fé no Processo Educacional de Jesus - Continuidade...

Ainda sobre o tema fé e da forma como Deus prepara o Espírito para realizar a Sua Vontade, não podemos deixar de analisar a passagem da fuga da família do Messias para o Egito.
Muitas vezes diante de uma grande dificuldade optamos por nos afastar do cumprimento de uma tarefa que até então pensávamos em realizar em favor do Bem. Ainda chegamos a dizer desafiando o Criador: “Se Deus quisesse que eu realizasse tal trabalho não me dificultaria tanto a realização, acho que estes empecilhos são os avisos Dele para me mostrar que essa não é a minha missão”.
Como somos ignorantes e comodistas…
Já pensou se José e Maria pensassem desta forma? “Se Jesus fosse mesmo o Messias, por que tanta dificuldade? Por que deixar nossa zona de conforto e ir para um país desconhecido? Por que sermos tão pobres?”
Desculpas é que não faltariam para o abandono da missão. Em nossa vida temos aprendido que o hábito de dar desculpas é um de nossos maiores vícios e um dos que mais nos atrasam no processo de realizar o Bem em nós.
Fato semelhante ao acontecido com os pais de Jesus se deu com Abraão. Deus prometeu a ele uma grande benção, uma posteridade maravilhosa. Mas para isso ele tinha que deixar a sua terra, a sua parentela, a casa de seu pai. E ir para onde? Deus não o revelou, ele ainda ia mostrar, no futuro. [Vai] para terra que te mostrarei1, ou seja, ele tinha que sair da faixa de sua segurança e ir, porém, para um lugar que nem ele sabia qual era. Era necessário uma confiança total no Senhor, ser Dele dependente. Nós temos que aprender a ser dependentes de Deus com naturalidade e sem conflitos íntimos.
Hoje dizemos que estamos a serviço do Cristo e de seu Evangelho. Às vezes somos convidados, por exemplo, para fazer uma palestra em cidade distante, e até aceitamos. Porém, para que isto se dê exigimos saber, onde será o evento? Para quantas pessoas vamos falar? Lá vai ter como projetar nossos slides? Vão pagar meu transporte? E a alimentação como será? Onde vou dormir? E se tudo não estiver certinho como desejamos, totalmente seguros, não vamos.
Já pensou se um Espírito aparecesse para nós e dissesse: “Sou um mensageiro do Cristo, é preciso que você saia hoje e vá fazer uma visita a uma pessoa que te indicarei, num determinado hospital que vou te falar na hora certa, você irá dar nela um passe e melhorar a sua situação. Porém, sai de casa agora e vá, depois te falo para onde e como.” O mínimo que aconteceria é que nós não iríamos, e ainda tentaríamos saber o nome da Entidade para levar para um reunião de desobsessão, pois batizaríamos o enviado do Senhor como obsessor.
Fato também semelhante aconteceu com Estevão quando ele ainda chamava Jeziel.
Estevão tinha uma grande missão, despertar Saulo para o Evangelho do Cristo. Emmanuel chega a dizer que sem Estevão não teríamos Paulo de Tarso2. Porém, para que isto acontecesse aconteceu algo inusitado.
Ele era uma pessoa simples, mas tinha uma família harmonizada e pautava sua vida na vivência das Escrituras. Não vamos aqui contar sua história, pois não é objetivo deste trabalho, mas Deus, para o chamar para sua missão, tirou-lhe tudo que possuía de mais sagrado: a casa paterna, a vida do pai, a companhia da irmã querida que nem sabia para onde teria ido. Para ele fora destinado o cativeiro nas galeras, o que era quase certo, a morte.
Entretanto, seu bom comportamento o salvou e a generosidade de um ilustre cidadão romano permitiu que, apesar de doente, pudesse novamente ser livre. Este mesmo cidadão deu-lhe até mesmo alguns recursos amoedados com o objetivo de suprir suas primeiras necessidades em novas terras. Todavia, mais uma vez surge um imprevisto, ele é assaltado, malfeitores roubam lhe todos estes recursos, e ele fica só, doente, e sem nada para iniciar a grande missão de salvar não apenas uma alma, mas de despertar e guiar alguém que libertaria o Evangelho do jugo do judaísmo permitindo que gerações futuras conhecessem Jesus em toda sua simplicidade, com profundidade, e liberdade.
Por que casos assim, como o de Maria e José, de Abraão, de Estevão, entre outros, se dão? Não sabemos ao certo, Deus tem, ainda para nós, seus mistérios. Talvez este seja o alimento da fé e o que fará com que ela cresça ainda mais. O certo é que há aí uma mensagem. Quando algo de inesperado nos acontecer, algo que for capaz de nos perturbar, de tirar o próprio piso e nos projetar numa situação de desconserto total, não nos desesperemos. Talvez o Pai Criador esteja se manifestando e dizendo para nós que tem uma grande missão onde podemos servi-Lo. Mas para tal é preciso confiar, agir consoante Sua Vontade, resignando-se, perdoando sempre, amando irrestritamente.
Deus tem para nós uma benção, uma posteridade gloriosa, uma missão ímpar. Tomemos posse do que Ele nos delega e seremos felizes para sempre.
Maria assim fez, desafiou a imprevisibilidade, correu riscos, sua vida foi impermanente, mas nem por isso tornou-se depressiva, angustiada, amargurada…
Outra passagem que é importante considerar na busca de elementos que venham nos auxiliar em nosso processo reeducativo é aquela que nos fala de Jesus aos doze anos no templo entre os doutores da lei.
Era habitual que todo judeu seguidor dos preceitos fosse à Jerusalém quando da realização da festa da Páscoa. Assim foram Maria e José, e Jesus com eles, pois já havia completado doze anos.
Como muitos iam para esta festa eles foram em caravanas, muitos parentes e conhecidos também foram.
Terminada a festa eles retornaram; após caminharem por um dia os pais de Jesus perceberam a falta dele, procuraram-no entre aqueles que viajavam junto e não o encontraram. Retornaram então a Jerusalém continuando a busca, só três dias depois o encontram no Templo em conversa com os doutores.
Nosso objetivo aqui não é estudar minuciosamente esta passagem, mas o posicionamento de Maria diante da tarefa educacional de seu filho.
Percebemos pela narrativa de Lucas que ela não era controladora, nem proibitiva, Jesus tinha liberdade para ir junto de seus amigos e familiares e seus pais não ficavam ali em cima, querendo saber a toda hora o que estava fazendo; entretanto, ela não era também permissiva, ao notar o afastamento do filho por tempo maior do que aquele que era natural, se incomodou e foi atrás dele.
Nós muitas vezes somos possessivos por demais, exageramos no controle, não deixamos nossos filhos, cônjuges ou amigos, à vontade, queremos que tudo seja feito conforme nossa determinação, passo a passo. Ou então, com a desculpa da liberdade desejada, somos negligentes, o que é ainda pior; os filhos passam uma semana sem falar conosco e tudo bem, convivem com amigos que não procuramos saber quem são, viajam com eles, e só ficamos sabendo quando voltam, às vezes dias depois.
Jesus é encontrado no Templo assentado entre os doutores, o que denota por parte dele tranquilidade e a consciência de que não estava fazendo nada de errado e nem contrário às determinações paternas.
Se tal acontecesse conosco é quase certo que o pegássemos pela orelha, gritando, gesticulando, dando o maior show, exteriorizando todo desequilíbrio que nos é peculiar. Maria simplesmente diz: meu filho, porque agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos3.
Quem de nós num momento deste, que para nós não seria simplesmente de aflição, mas de desespero mesmo, trata o filho por meu filho? Este modo carinhoso de chamar nós só usamos quando está tudo bem, na tranquilidade, ou quando queremos chantageá-lo. Quando os filhos nos irritam ou desobedecem, usamos o nome completo, com sobrenome e tudo.
Maria não mostrou irritação, mas cuidado, carinho, atenção; ela se preocupava era com o filho e não com uma suposta desobediência dele.
Ele por sua vez encarou tudo com naturalidade e mostrou que era excelente em didática desde pequeno, pois respondeu perguntando, levando seus pais a pensarem: por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?4
Ao dizer assim Jesus chamou seu pais para o que era real do ponto de vista de sua missão, pelo tom da pergunta podemos depreender que eles conversavam em casa sobre este assunto, sobre a oportunidade dele ser um enviado em nome de Deus. Provavelmente seus pais, apesar do grau de consciência acima da média, no calor das emoções tenham se esquecido disto. Isso é natural, quando o Espírito que não se libertou completamente da matéria encarna, ele perde muito de sua potencialidade, torna-se vulnerável com certa facilidade, é preciso que de vez em quando seja lembrado da realidade maior. Podemos ver ainda neste pequeno diálogo que a proposta educativa de José e Maria passava pelo diálogo, a informação transitava em mão dupla, havia o aprendizado de ambas as partes, autoridade e não autoritarismo. Eles às vezes não compreendiam a superioridade do menino, mas respeitavam-na, pois sentiam no coração a grandeza daquela alma. Educavam educando-se, não tinham a pretensão de estar com a razão, Jesus devia surpreendê-los a toda hora, nestes momentos não atrapalhando já faziam muito.
O texto de Lucas na sequência é simplesmente maravilhoso: desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso5.
Jesus, o Plenipotenciário Divino, o Governador Espiritual do Orbe, era submisso a seus pais mesmo sabendo-se superior a eles, é mais um exemplo de humildade, de respeito aos fatores humanos, quanta lição… Maria por sua vez não conseguia compreender tudo isto, era inexplicável, estava além do racional, assim, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração6, ela se enriquecia em espírito, cultivava sua intuição, bem aventurados os pobres de espírito…7 e Ele, Jesus, obedecendo, colaborando sempre, crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens8, servindo a seu Pai, no serviço em favor de seus irmãos.

1 Gênesis, 12: 1
2 (XAVIER/Emmanuel [Espírito], 2004), prefácio.
3 Lucas, 2: 48
4 Lucas, 2: 49
5 Lucas, 2: 51
6 Idem, ibidem.
7 Mateus, 5: 3
8 Lucas, 2: 52

terça-feira, fevereiro 07, 2012

A Fé no Processo Educacional de Jesus


Em uma missão espiritual não há como prescindir da fé. Ela é componente essencial para que tudo aconteça como programado pelo Alto.
Já comentamos sobre esta virtude em Maria quando da assimilação do conteúdo da revelação do anjo a ela explicando-lhe a concepção. Mas há outros momentos importantes que não podem deixar de ser destacados e que nos ajudarão a compreender o quanto esta missionária era preparada para realizar a tarefa mais desafiadora de todos os tempos, a de educar ninguém mais, ninguém menos, que o Governador Espiritual do Orbe.
José e Maria cumpriam rigorosamente todos os preceitos judaicos. Circuncidaram o menino no oitavo dia conforme mandava a lei, e ao completarem os dias da purificação da mãe, o que ocorria trinta e três dias após1, levaram Jesus ao templo, em Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor2.
Lá encontraram um homem já idoso, chamado Simeão, que ao ver o menino, inspirado realiza grande profecia. Entre outras coisas diz ele a Maria:
Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.3
Imaginemos a cena. Maria, acompanhada do marido e do filho, estava cansada de uma viagem longa e feita com muitas dificuldades. Ela estava ainda no período do resguardo. Deveria estar fraca e altamente sensível…
Apesar de Simeão exaltar a grandeza espiritual do menino sua profecia não foi nada agradável. Ele, Jesus, estava destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição.
Isto pressupunha uma vida de muitas apreensões, de dores e sofrimentos. A nação judaica era rigorosa quanto à tradição religiosa.
O anjo havia dito que ele seria Rei, que herdaria o trono de Davi, talvez naquele momento ela não tenha percebido que para atingir este fim ele teria uma vida de conflitos, de lutas e de perigos. Agora aquele homem inspirado dizia que ele seria alvo de contradições que elevaria alguns – o que se pressupõe eram os simples -, e que também arruinaria muitos, e aqui podemos depreender que eram os da elite, os do poder.
E ainda diz mais, com referência ao sofrimento dela própria, uma espada traspassará a tua própria alma.
Para quem era profunda conhecedora das Escrituras conforme vimos pelo Magnificat, ela deve ter entendido na hora a que sacrifício estariam submetidos ela e seu filho.4
A profecia se cumpriu no tempo, mas no coração de Maria deve ter acontecido naquele instante mesmo. Como suportaríamos uma situação desta? Se algo parecido acontecesse conosco, isto não atrapalharia a educação de nosso filho?
Vejamos que são duas situações opostas que acontecem com ela; em qualquer delas estaríamos em dificuldades e talvez comprometidos na realização da missão.
Primeiro o anjo lhe antecipa a vitória. Ela seria mãe do Filho de Deus, ele herdaria o trono de Davi e reinaria para sempre. Tal informação poderia ser para ela, se não fosse muito vigilante, pedra de tropeço, pois a vaidade poderia vir à tona e comprometer todo o processo.
Depois Simeão lhe fala de lutas incessantes, até mesmo de um provável assassínio de seu filho mostrando a ela que o final da história talvez fosse trágico.
Este nível de informações, até contraditórias, dependendo do ângulo em que as analisarmos, não tenderiam a prejudicar a formação do menino, já que ela poderia tentar mudar o seu destino?
Se nós soubéssemos que o nosso filho iria passar por um processo de grande dificuldade, de provável morte por incompreensão de muitos, mesmo que soubéssemos que tudo isto era Desígnio do Altíssimo, o que faríamos? Ajudaríamos Deus em seu projeto, ou tentaríamos evitar o “pior” para o nosso filho amado, mudando o seu destino?
Dizemos assim, porque muitas vezes, mesmo não sendo numa questão tão grave quanto esta, priorizamos para os nossos tutelados, uma boa escola, boas companhias, uma profissão adequada, mas não visando seu crescimento espiritual e sim um futuro promissor através de um emprego rentável, onde através de um salário alto pudesse manter conforto e estabilidade material.
Falamos muito de espiritualidade, mas na maioria das vezes a segurança desejada pensamos estarem nas conquistas transitórias, e assim as perseguimos ardentemente.
Jesus veio mudar este paradigma, e para tal tinha de dar o exemplo. Aqueles a Ele vinculados e que vieram para auxiliá-Lo, fizeram do mesmo modo: sacrifício como instrumento de libertação.
Hoje nós tentamos distorcer o entendimento e falamos em prosperidade, porém queremos prosperidade material esquecendo que a fé se manifesta em qualidade e em maior escala é na carência e nas dores.
Moisés era um disciplinador – primeiro passo do processo educativo, a disciplina antecede a espontaneidade5 -; Jesus veio como educador; Kardec como pedagogo; desta forma, temos de compreender que este foi um projeto traçado por Deus para educar a alma, o Espírito imortal. Maria só pôde ser peça chave deste processo, sendo também educadora, e de Jesus, porque compreendeu o Mecanismo Divino, e a ele se ajustou fazendo-se serva do Senhor.
Ela teve a intuição da missão e a ousadia de executá-la. Quando não compreendia a superioridade do filho tinha humildade para guardar a lição em seu coração6 ou simplesmente dizer: fazei tudo o que ele vos disser7. O melhor entre todos os educadores é aquele que não se cansa de aprender, e a isso se dedica dia a dia.

(Continua...)
1 Levítico, 12: 4
2 Lucas, 2: 22
3 Lucas, 2: 34 e 35
4 Cf. Zacarias, 12: 10
5 XAVIER/Emmanuel [Espírito]. O Consolador, 16ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1993, Q. 254
6 Cf. Lucas, 2: 19 e 51.
7 João, 2: 5