Dando sequencia ao nosso estudo continuamos:
Providência –
trata-se da solicitude do Criador em relação à Sua criação; o
cuidado e o acompanhamento que Ele tem com ela. Kardec desenvolverá
o tema no Livro A Gênese1,
no capítulo II a partir do item 20.
Podemos ver aqui uma
prefiguração do Deus-Pai do qual falou Jesus, de um Deus que segundo
entendemos zela incessantemente em favor
de seus filhos, os assiste em todos os momentos2.
Mas é a tua Providência, ó Pai, que o pilota, pois abriste um caminho até no mar e uma rota segura entre as ondas.3Deste-me a vida e o amor, e a tua solicitude me guardou.4
No desenvolvimento do
tema, aprofundando os conceitos de Criação e Providência surge um
outro de fundamental importância para compreendermos Paulo em sua
cultura judaica, trata-se do que podemos compreender por Aliança.
Deus criou o homem e o
cercou de tudo que ele precisava, e mais, o colocou num Jardim de
delícias (Éden).
Entretanto, fez com ele
um pacto, uma aliança:
De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.5
O homem não conseguiu
manter sua fidelidade e desobedeceu, surge deste modo a experiência
do mal e a necessidade do homem se recompor.
O erro na criação não
é de Deus, mas do homem, entretanto o Criador providencia recursos
para que o homem corrija sua rota.
Assim, Deus renova sua
aliança com Adão, e o mesmo vai fazer com Abraão, com Isaac, com
Jacó, com Moisés…
Cada vez que o ser
humano falha seu destino é reconfigurado para que atinja o objetivo
de recompor-se diante de Deus com toda assistência Deste.
Vemos aí uma
manifestação clara da Providência Divina auxiliando o homem em seu
reerguimento espiritual, o que vai acontecer segundo Paulo, a partir
de uma nova criação em Cristo. Ele viu Jesus como o redentor do
erro de Adão. Ele era a manifestação plena da justiça de Deus,
através de Jesus Deus confirma sua Fidelidade à Aliança.
Juízo – este
é um tema que está presente em toda literatura bíblica, Deus é
Santo, Nele não há mácula, nenhum tipo de impureza. A Justiça de
Deus é manifestação plena de Seu caráter, assim, ele recompensa o
bem e pune o mal. Haverá um juízo final, que é o momento de
prestação de contas em que o homem diante de Deus será ou não
justificado, isto é, reconhecido como justo.
Se for bem sucedido no
julgamento terá vida, se não, morte. No Espiritismo a obra básica
que aprofunda sobre este assunto é O Céu e o Inferno6.
Estes são temas sempre
presentes em Paulo o que nos mostra ser ele fiel ao judaísmo.
Voltamos a repetir, Paulo não rompeu com o judaísmo, o que ele
percebeu era que Jesus era o objetivo da Torah (Romanos, 10: 4), o
cumprimento da Promessa.
Tendo visto estas
questões fundamentais que situam Paulo dentro do contexto judaico,
faz-se necessário citarmos que o cristianismo, principalmente a
partir do quarto século de nossa era, modificou alguns conceitos,
baseados numa forma errônea de ler Paulo e que agora precisamos
reconsiderar.
Assim, Jesus foi tido
como Criador, e se é Criador, entendeu-se que Jesus é Deus, ou
seja, Deus que encarnou.
Lembramos de Kardec
quando na questão 59 de O Livro dos Espíritos ao
comentar sobre algumas considerações bíblicas sobre a criação
afirma:
Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la.
Assim, se nos propomos
realizar uma nova interpretação dos textos de Paulo à luz da
Doutrina Espírita, precisamos conhecer e estudar os princípios fundamentais do Espiritismo.
É o que abordaremos no próximo estudo...
2
Não vamos encontrar em nenhum texto esta ideia de Deus-mãe, esta é
apenas uma figura de linguagem a fim de melhor compreendermos a
Providência Divina.
3
Sabedoria, 14: 3
4
Jó, 10: 12
5
Gênesis, 2: 16 e 17
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