segunda-feira, março 19, 2012

Paulo de Tarso Perspectiva Espírita (Continuação)


Dando sequencia ao nosso estudo continuamos:

Providência – trata-se da solicitude do Criador em relação à Sua criação; o cuidado e o acompanhamento que Ele tem com ela. Kardec desenvolverá o tema no Livro A Gênese1, no capítulo II a partir do item 20.
Podemos ver aqui uma prefiguração do Deus-Pai do qual falou Jesus, de um Deus que segundo entendemos  zela incessantemente em favor de seus filhos, os assiste em todos os momentos2.
Mas é a tua Providência, ó Pai, que o pilota, pois abriste um caminho até no mar e uma rota segura entre as ondas.3
Deste-me a vida e o amor, e a tua solicitude me guardou.4
No desenvolvimento do tema, aprofundando os conceitos de Criação e Providência surge um outro de fundamental importância para compreendermos Paulo em sua cultura judaica, trata-se do que podemos compreender por Aliança.
Deus criou o homem e o cercou de tudo que ele precisava, e mais, o colocou num Jardim de delícias (Éden).
Entretanto, fez com ele um pacto, uma aliança:
De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.5
O homem não conseguiu manter sua fidelidade e desobedeceu, surge deste modo a experiência do mal e a necessidade do homem se recompor.
O erro na criação não é de Deus, mas do homem, entretanto o Criador providencia recursos para que o homem corrija sua rota.
Assim, Deus renova sua aliança com Adão, e o mesmo vai fazer com Abraão, com Isaac, com Jacó, com Moisés…
Cada vez que o ser humano falha seu destino é reconfigurado para que atinja o objetivo de recompor-se diante de Deus com toda assistência Deste.
Vemos aí uma manifestação clara da Providência Divina auxiliando o homem em seu reerguimento espiritual, o que vai acontecer segundo Paulo, a partir de uma nova criação em Cristo. Ele viu Jesus como o redentor do erro de Adão. Ele era a manifestação plena da justiça de Deus, através de Jesus Deus confirma sua Fidelidade à Aliança.
Juízo – este é um tema que está presente em toda literatura bíblica, Deus é Santo, Nele não há mácula, nenhum tipo de impureza. A Justiça de Deus é manifestação plena de Seu caráter, assim, ele recompensa o bem e pune o mal. Haverá um juízo final, que é o momento de prestação de contas em que o homem diante de Deus será ou não justificado, isto é, reconhecido como justo.
Se for bem sucedido no julgamento terá vida, se não, morte. No Espiritismo a obra básica que aprofunda sobre este assunto é O Céu e o Inferno6.
Estes são temas sempre presentes em Paulo o que nos mostra ser ele fiel ao judaísmo. Voltamos a repetir, Paulo não rompeu com o judaísmo, o que ele percebeu era que Jesus era o objetivo da Torah (Romanos, 10: 4), o cumprimento da Promessa.
Tendo visto estas questões fundamentais que situam Paulo dentro do contexto judaico, faz-se necessário citarmos que o cristianismo, principalmente a partir do quarto século de nossa era, modificou alguns conceitos, baseados numa forma errônea de ler Paulo e que agora precisamos reconsiderar.
Assim, Jesus foi tido como Criador, e se é Criador, entendeu-se que Jesus é Deus, ou seja, Deus que encarnou.
Lembramos de Kardec quando na questão 59 de O Livro dos Espíritos ao comentar sobre algumas considerações bíblicas sobre a criação afirma:
Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la.
Assim, se nos propomos realizar uma nova interpretação dos textos de Paulo à luz da Doutrina Espírita, precisamos conhecer e estudar os princípios fundamentais do Espiritismo.

É o que abordaremos no próximo estudo...
1 KARDEC, Allan. A Gênese, 26ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1984.
2 Não vamos encontrar em nenhum texto esta ideia de Deus-mãe, esta é apenas uma figura de linguagem a fim de melhor compreendermos a Providência Divina.
3 Sabedoria, 14: 3
4 Jó, 10: 12
5 Gênesis, 2: 16 e 17
6 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1944

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