quinta-feira, outubro 18, 2007



Reencarnação

Singelos apontamentos sobre a teoria das vidas múltiplas.

A reencarnação é uma é uma crença antiga da humanidade, não foi o espiritismo nem os espíritas que a inventaram, desde todos os tempos o homem tem a intuição de sua realidade.

Entre os orientais, o Bhagavad Gita, o Tao te King, o Livro Tibetano dos Mortos já a divulgavam; na Grécia temos em Platão, em Pitágoras, entre outros, a mesma idéia palingenésica. A mesma crença já existia entre os egípcios, e mesmo entre os descendentes do povo hebreu ao tempo do Antigo Testamento haviam aqueles que defendiam a idéia da pluralidade das existências.

O que acontece é que todas essas crenças viam a idéia do retorno do espírito ao mundo físico de uma forma incompreensível, muito vaga. Só com o advento do espiritismo o tema foi estudado com clareza, com lógica e com rigor científico, ficando assim, o espiritismo, entre nós os ocidentais, marcado como o maior divulgador da idéia reencarnacionista.

Podemos dizer com muita segurança que não podemos penetrar nas questões máximas e últimas da vida se não tivermos a reencarnação como certeza absoluta, e mesmo a idéia de Deus se torna reduzida se não adotarmos a pluralidade das existências como lei universal.

Podem dizer que estamos radicalizando, porém não estamos, e pretendemos com lógica e bom senso discorrer nestas linhas sobre o tema de tal forma que não fique dúvida sobre o assunto.

Como ponto inicial podemos dizer que quanto à existência da alma1 há basicamente duas hipóteses a respeito: a sua existência e a não existência.

Os que defendem a não existência da alma, ou os que acreditam que tudo acaba quando termina esta vida física são os materialistas, e a estes não nos dirigiremos neste momento, não nos ocuparemos desta hipótese por não ser objetivo deste texto convencer a ninguém da idéia espiritualista.

Os que aceitam a existência da alma e a sua sobrevivência após a morte são os espiritualistas e é a estes que dirigimos nossas palavras sem nenhuma pretensão de fazer proselitismo ou de convencer quem quer que seja sobre nossas idéias filosóficas. O que queremos é avaliar entre as possíveis idéias sobre vida futura, qual a mais lógica e a que prima pelo maior bom senso.

Tendo por base a sobrevivência da alma após o fenômeno que denominamos morte, podemos dizer que só existem duas hipóteses a serem avaliadas, são elas a da unicidade da existência, e a da pluralidade das vidas, o que se dá com a hipótese da reencarnação.

Os que defendem a primeira possibilidade afirmam que Deus cria as almas no momento da fecundação, que elas têm uma vida na Terra a partir do nascimento e que depois da morte seguem, de acordo com o que tiverem feito, para um tormento eterno ou para o gozo eterno.

Temos já neste momento duas objeções que devem ser meditadas e que segundo pensamos torna mesmo impossível a idéia da unicidade da existência.

A primeira diz respeito ao pouco caso que os defensores desta idéia fazem de Deus. Deus segundo qualquer religião que nele crê é Onipotente, Onipresente, Todo Sábio, e detentor de todas as perfeições; se for ele imprevidente ou imperfeito em qualquer área que seja, já não é mais Deus. Se Deus criasse a alma no exato momento da fecundação perderia Ele um de seus atributos deixando assim de ser Onipotente, pois para criar uma alma ficaria na dependência do casal humano que o ajudaria, ou seja, se em cima da hora surgisse qualquer problema ao casal e este não mantivesse sua relação, haveria um ato falho e Deus teria que adiar aquela criação por simples falta de prevenção. Neste caso, os homens teriam tanta importância na criação de uma alma quanto o próprio Deus, pois este ficaria sempre na dependência daqueles.

É isso lógico? Seria isso possível? Cremos que não, mas fica aqui a idéia para que se pensem a respeito.

A outra objeção a esta idéia esta centrada na lei de causa e efeito. Diz a nossa ciência, que a todo efeito deve existir uma causa anterior. Diz o bom senso que causa e efeito devem ter uma relação que os ligue. Assim, uma causa inteligente gera um efeito inteligente, uma causa finita um efeito finito e assim por diante.

Ora uma existência física por maior que seja tem um tempo determinado, ou seja um dia acaba. É impossível, deste modo, que uma causa finita (vida física) gere um efeito infinito (eternidade). Não pode um curto espaço de tempo determinar uma conseqüência interminável, seja ela boa ou má.

Cremos que só estes argumentos já provam a impossibilidade da unicidade da existência por falta de argumentação lógica, porém, ainda vamos analisar outras situações.

Uma outra questão a ser analisada é a das aptidões inatas.

De acordo com a teoria da unicidade da existência a alma é criada no momento da fecundação, como já dissemos. Aí surge uma grande dúvida, se são criadas por Deus desta forma, por que tanta diversidade entre as mesmas? Por que têm os espíritos de muitas crianças aptidões tão diversas mesmo tendo recebido a mesma educação e procedendo de mesmos pais? Algumas têm grande tendência para a arte, se revelando às vezes grandes gênios, outras para a ciência, outras para os serviços manuais etc.. Existem crianças que desde pequenas revelam serem portadoras de grande maldade, enquanto outras são extremamente bondosas, tudo isso a despeito da educação que receberam ou das virtudes ou defeitos de seus pais.

Aqui não fica dúvida, estas almas são bem diferentes. E se assim são, de acordo com a teoria da criação da alma por ocasião do seu nascimento, é por que Deus as criou diferentes. Não seria um grande erro do Criador, até mesmo uma grande injustiça dar a uns maiores possibilidades que a outros? E aí, depois, ainda exigir que todos tenham que ser virtuosos do mesmo modo para que possam alcançar uma eternidade gloriosa? Será que aquele que tem tendências para os vícios não terá mais dificuldades do que aquele que desde pequenininho mostra-se ser uma alma virtuosa?

Diante da possibilidade de uma existência única estas são questões insolúveis, porém se trabalharmos os mesmos problemas sob a ótica das existências múltiplas tudo fica mais fácil e lógico.

Os Espíritos que mostram sabedoria desde novos, são aqueles que já trabalharam estes conhecimentos em vidas anteriores; o portador de virtudes é que já depurou-se e realizou reforma moral anteriormente, enquanto que o que tem tendência para aos vícios ainda precisa se dispor e realizar a mesma transformação.

Do mesmo modo que há homens maduros e outros imaturos, há entre os espíritos os que têm mais amadurecimento espiritual e os que são mais atrasados em seu processo evolutivo, há também almas infantis e almas amadurecidas.

Tudo isso fica muito claro se analisarmos os fatos à luz da teoria reencarnacionista.

Como dissemos anteriormente não temos a intenção de convencer ninguém, mas apenas de analisar a questão de forma lógica. Não estamos usando argumentos religiosos de uma forma específica, nem a opinião de guias ligados a nenhuma crença particular, partimos apenas do princípio da existência de Deus, da alma e de sua imortalidade, temas esses comuns a todas as religiões.

Muitos outros aspectos poderiam ser ainda por nós analisados, porém para encerrar este breve texto vamos refletir apenas sobre mais um tema para não nos tornarmos enfadonhos no discorrer sobre este assunto. Trata-se da questão levemente abordada anteriormente da justiça de Deus e suas conseqüências.

Como já abordamos Deus para ser Deus tem que ser ilimitado em todas as suas perfeições, se em apenas um item ele assim não for, existe a possibilidade de um outro ser, ser mais do que ele, e aí, este é que seria Deus.

Portanto, do ponto de vista da justiça, Deus é o Justo por excelência, ou dizendo melhor, Deus é a própria Justiça em seu grau máximo.

Deste modo respondamos algumas questões sob a ótica da unicidade, e depois, da pluralidade das existências.

Se nossa conduta numa única vida é que definirá nossa sorte futura, se tormento ou graça eterna, como deverá ser avaliado aquele que tem maiores facilidades em relação ao que tem só dificuldades em sua vida? Nosso mundo é um mundo de contradições, assim temos aqueles que têm plena saúde, outros que passam toda sua vida lutando com várias espécies de doenças, às vezes preso no leito durante toda sua encarnação. Uns têm grande poder econômico, outros são totalmente desprovidos de recursos. Existem ainda aqueles que não têm a mínima oportunidade de estudar e adquirir conhecimentos, outros freqüentam as melhores escolas conseguindo os maiores destaques.

Podemos ainda nos perguntar sobre as crianças que desencarnam na mais tenra idade sem ter a oportunidade de se mostrarem nem boas nem más. Teriam elas o céu sem nenhum esforço de progresso moral, ou estariam destinadas ao inferno sem maiores merecimentos?

Muitos outros exemplos poderiam ser aqui acrescentados mas julgamos desnecessário. O certo é que qualquer ser humano que tenha um pouco de bom senso percebe que de acordo com a proposta de uma vida única, tudo isto soa como grande injustiça. Sendo Deus a Soberana Justiça, estaria tudo isso de acordo com os Seus propósitos superiores? Cremos que não. E se Deus não está errado, a nossa interpretação da vida é que está. Coloquemos a lei das existências múltiplas na análise e tudo fica de acordo com a justiça Daquele que é todo Poder. Qualquer situação de carência atual, denota um anterior mau uso de determinado recurso; as possibilidades que temos são oportunidades de fixação de uma virtude através da boa utilização das mesmas. Essa é a Lei. Lei que está em pleno acordo com a moral, Lei que mostra a grandeza do Criador e nos descortina toda sua Sabedoria.

Dito tudo isso lançamos agora uma outra questão. Por que tudo isso é necessário? Por que tem o espírito após uma dura existência de voltar novamente a habitar uma veste física reiniciando sempre?

Allan Kardec pergunta aos espíritos a respeito e eles nos informam que não conseguindo o espírito atingir a perfeição em uma só existência ele reencarna tantas outras vezes quantas forem necessárias para atingir este objetivo.

Todavia, poderíamos insistir na pergunta, por que é necessário este modelo, não poderíamos evoluir no plano espiritual sem necessitar a volta ao corpo físico? Os espíritos respondem a Kardec que não, é necessário que haja novamente a encarnação, ou seja, a volta à vida física. Foi Pietro Ubaldi quem de forma mais lógica, explicou-nos este porquê, isto é, porque o modelo se dá deste modo.

Segundo este filósofo italiano, a criação original de Deus é puramente espiritual2. Tudo o que conhecemos como criação, ou seja, os mundos físicos, o espaço, o tempo, a forma de um modo geral, surgiu devido ao que ele chamou de “queda”, que aconteceu devido a insubordinação de um grupo inumerável de espíritos. A partir daí o espírito se aprisionou na matéria, tendo que realizar a volta ao estado de original, o que se dá pela evolução.

Esse é um tema polêmico e que não pretendemos discutir nestas poucas linhas, ele está muito bem desenvolvido na obra de Ubaldi, que devido à sua complexidade gastou aproximadamente dez mil páginas no desenvolvimento do tema, portanto, quem quiser elogiar ou criticar tal filosofia, que estude estas páginas. Aqui só pretendemos usar sua teoria para explicar o porquê da necessidade reencarnatória que é o tema deste artigo.

Esta “queda” se deu em dimensões altíssimas em que não temos a condição, com os recursos atuais que possuímos, de compreendê-la totalmente, porém, é fato, que o Sistema, que é a criação original, engloba o anti-sistema que foi o universo criado a partir da queda.

Vivemos segundo Ubaldi num universo que funciona por modelos únicos, em que a repetição do motivo fundamental da criação se dá ao infinito. Assim a queda original se repete em manifestações menores em nossa vida, onde podemos afirmar, inclusive, que isto passa a fazer parte de nosso processo evolutivo. Neste modelo segundo explica Ubaldi,

a evolução não pode dar-se de forma ascendente contínua e retilínea, mas unicamente de acordo com o primeiro momento da queda, isto é, por um caminho interrompido por contínuos retornos ou descidas na matéria, a fim de nela completar um novo trecho de subida, conseqüência das etapas precedentes.3

Assim, a união do espírito com a matéria através do processo de encarnação, e a repetição deste fato, nada mais é do que a repetição do motivo original da criação da forma. Reencarnar-se é entrar novamente num processo de “queda”. No plano espiritual o espírito goza de liberdade, goza de maiores recursos, de uma memória mais ampla; quando encarna-se perde grande parte destes recursos devido a união com a matéria.

Diz Ubaldi,

Esta perda de consciência, no ato da descida na forma material, é um eco do primeiro motivo da queda, que volta e se repete a cada reencarnação4.

A cada existência a consciência desperta cada vez mais reconquistando os valores perdidos, na realidade quando Jesus no “Sermão do Monte” nos disse: resplandeça a vossa luz5, em verdade ele nos dizia da luz que possuímos em estado latente, que se apagou quando da queda. Essa conquista se dá com a evolução, onde a reencarnação é um instrumento essencial, como dissemos alhures, uma Lei Universal que se dá em toda natureza em nosso universo material.

1 Tomaremos neste artigo a palavra alma como sinônimo de espírito, ou seja, como individualidade extra física que sobrevive ao trespasse físico.

2 Esta afirmativa está em pleno acordo com a informação dos Espíritos a Kardec na questão 85 de “O Livro dos Espíritos”, quando nos informam as entidades superiores que o mundo espiritual preexiste e sobrevive a tudo.

3 Problemas Atuais, pág. 257

4 Idem, pág. 263

5 Mateus, 5: 16

quinta-feira, outubro 04, 2007

Ética Espírita

Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Jesus (João, 15: 22)

Estamos vivendo na atualidade momentos de grande importância para a nossa evolução tanto do ponto de vista individual como coletivo.
É comum nestes dias por que passamos, estarmos vivendo uma situação de ampla tranqüilidade, e uma notícia ou fato narrado por um noticiário nos deixar plenamente aborrecido ou até mesmo desequilibrado. Às vezes é um crime hediondo que nos deixa perplexo; outras vezes um ato de corrupção por parte de autoridades que deveriam ter por princípio a manutenção da ordem e dos bons costumes; ou até mesmo um acidente de grandes proporções envolvendo número enorme de pessoas.
Por que estas coisas acontecem na atualidade, quando pregamos que estamos em evolução, e que o planeta já está bem próximo do que denominamos “mundo de regeneração”? Não seriam estas atitudes de violência e de falta de caráter um retrocesso e um atraso na melhoria da humanidade?
Sem termos a pretensão de responder questão de tão grande complexidade, podemos afirmar que deste modo acontece, devido ao momento por que passa o orbe na atualidade. Sabemos que o planeta está passando por um momento de transição. Passamos de planeta de “provas e expiações” para o já citado mundo de regeneração, e por isso acontecem dois fatores que propiciam o quadro que citamos anteriormente e que muito incomoda a todos, indistintamente.
Neste grave momento por que passamos está sendo dado a oportunidade de reencarne a espíritos de grande comprometimento com a moral, e que encontram-se de há muito nas regiões inferiores do mundo espiritual; estes têm esta oportunidade para que possam realizar sua transformação moral, ou conquistarem em definitivo a condição de futuros exilados em mundos mais apropriados à sua pouca condição espiritual.
Outro fator que contribui para que estejamos na condição atual é que em momentos como o da atualidade é necessário que vivamos num clima de total liberdade, pois só assim os espíritos podem se manifestarem dando testemunho do que são e do que querem. Só há progresso se houver liberdade, pois sendo constrangido ninguém pode provar que está apto a ser aprovado ou reprovado diante das Leis Universais.
Estes dois fatores, o encarne em massa de espíritos comprometidos com a ordem, e a necessária liberdade para que cada um possa dizer quem é e a que veio, são sem dúvida decisivos para que estejamos na situação atual.
Vivemos assim várias crises que denominamos crise política, crise econômica, crise na educação, mas que na verdade é uma só, ou seja, vivemos uma grande crise ética, que mais corretamente pode ser chamada de “crise moral”.
Aqui, para que possamos aprofundar um pouco mais nosso estudo cabe definirmos alguns conceitos; são eles os conceito de ética e de moral.
Etimologicamente ética vem do grego ethos; em latim temos com o mesmo significado morale (de onde veio moral), ambas expressões significam conduta, ou relativo aos costumes. Podemos assim concluir que etimologicamente ética e moral são palavras sinônimas, porém não é bem assim.
Para alguns estudiosos do assunto, ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas; ética é permanente, moral temporal; ética é universal, moral é cultural; ética é regra, moral é conduta da regra.
Falando de forma mais simples podemos dizer que ética não é moral, mas que moral é o objeto do estudo da ética, ou seja, ética é a parte da filosofia que estuda a moral.
Concluindo temos que ética é então o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade da moral, por isso temos os códigos de ética que norteiam as diferentes sociedades.
Para nós espíritas estes conceitos mudam um pouco, pois conforme nos dizem os Espíritos na questão 629 de “O Livro dos Espíritos”, a moral funda-se na observância da Lei de Deus. Deste modo, se a Lei de Deus é imutável, em última instância, moral também é. Assim, moral não é um conceito temporal ou cultural, mas definitivo. Moral é então maior do que ética, pois a ética evolui, moral não. Em verdade, quando dizemos moral “disso”, ou moral “daquilo” estamos reduzindo o verdadeiro conceito de moral que como dissemos é imutável, pois fundamenta-se na observância da Lei de Deus como nos dizem os Espíritos superiores.
Só para exemplificar o que estamos dizendo, podemos lembrar que há algum tempo atrás era ético ter-se escravos no Brasil, todavia jamais foi uma atitude moral ter-se escravos em qualquer lugar ou época da humanidade. Em algumas sociedades a prática da poligamia é uma atitude ética, porém jamais será uma atitude moral pois é ato contrário à Lei de Deus.
Dito isso, agora podemos responder à pergunta, qual é a ética espírita?
E assim, com tranqüilidade podemos dizer que a ética espírita coincide perfeitamente com a moral, pois é o ajuste às Leis Universais o que qualifica a ética do ponto de vista espírita, por ser o espiritismo o Cristianismo redivivo.
No Evangelho de Jesus temos a prática mais perfeita de acordo com o nosso entendimento do que seja moral. Jesus como o mais alto representante do Criador na Terra nos deixou através de sua vivência o maior exemplo de como é estar em uníssono com as Soberanas Leis. Sendo, como dissemos anteriormente, repetindo as palavras dos Espíritos orientadores, o Espiritismo a revivência do Evangelho do Cristo, é conclusão acertada dizer que a ética espírita é a vivência pura e simples, e com muita naturalidade do Evangelho de Jesus. Esse é ponto fundamental de nossa querida doutrina, essa deve ser a filosofia espírita, e porque não dizer, a filosofia de vida de todo espírita.
Esta é a ética espírita, ética que o Cristo conseguiu magistralmente sintetizar em apenas um versículo do Evangelho anotado por João:
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. (João 13:34)

terça-feira, março 27, 2007

Sobre as Traduções do Evangelho

Antes de entrarmos no tema principal deste estudo, é importante tecermos alguns comentários que a princípio podem parecer desnecessários para o desenvolvimento deste, mas não é. Gostaríamos de conceituarmos duas expressões que iremos utilizar, para que fique mais fácil a compreensão de nossas idéias.
A obra de Pietro Ubaldi tem em alguns pontos desafiado a comunidade espírita de tal modo, que enquanto alguns espíritas ilustres, estudiosos da codificação kardequiana a apóiam, outros, não menos importantes, também estudiosos da literatura básica do espiritismo, a rejeitam, vendo nela importantes contradições doutrinárias.
Nós temos a nossa opinião a respeito, no entanto, aqui não nos manifestaremos visto não ser do interesse deste estudo, e também por que o que quer que seja que tenhamos a comentar não passará de opinião pessoal, e opinião pessoal tem sempre importância relativa.
Queremos apenas nos apropriar dos conceitos de dois termos usados por Ubaldi objetivando melhor nos expressar. São eles Sistema e Anti-Sistema.
Por Sistema entendemos o Universo original criado por Deus no primeiro instante; o Universo espiritual onde inexiste a matéria e vige exclusivamente a Unidade Divina que se expressa através da Lei Amor. Poderíamos como sinônimo de Sistema falar em Reino de Deus ou dos Céus, conforme o dizer de Jesus, ou ainda Mundo Espiritual como fala a codificação espírita.
Ao optarmos por usar Sistema ao invés dos outros termos aqui citados, é porque com o decorrer dos tempos estas expressões perderam seu significado original. Quando falamos em céu, a primeira coisa que comumente vem no pensamento da maioria das pessoas é a ociosidade, ou ainda, anjos privilegiados que vivem em imensa monotonia. Já Mundo Espiritual, expressão usada pela comunidade espírita, também pode ser confundida com “colônias espirituais” como Nosso Lar, Alvorada Nova, Novos Horizontes, entre outras tão comuns em nossa literatura sobre o mundo invisível.
Não é este também o conceito que queremos usar, pois nas colônias espirituais também existe matéria, mesmo que em diferentes dimensões, e por Sistema entendemos, como já dissemos, o Universo Imaterial inicialmente criado por Deus antes de ser criada a matéria e tudo que veio com o aparecimento desta.
Anti-Sistema é justamente o oposto de Sistema, é o Universo físico propriamente dito. Nele está presente com intensidade a dualidade, as contradições e os paradoxos inerentes à existência material. É o mundo em que vivemos.
Não temos na atualidade devido à nossa pouca evolução espiritual, condições de compreender o Sistema; sua realidade nos escapa pois situa-se em dimensões muito superiores àquela que conseguimos alcançar. Porém, não é por isso que vamos dizer que ele inexiste.
Feito este breve esclarecimento, podemos então entrar no tema de nosso estudo.
Muito temos sido questionado sobre as traduções do Evangelho. Por várias vezes nos perguntam sobre qual a melhor tradução dos textos canônicos, qual a que espelha de forma mais fiel o texto original.
Esta resposta é bem complexa, e nós não nos achamos em condições de respondê-la, pois apesar de nosso constantes estudos e pesquisas no campo do Evangelho, não somos conhecedores em profundidade nem do grego, que é o idioma original em que os evangelhos atuais foram escritos, nem muito menos do hebraico e do aramaico, em que foram vividos.
Deste modo, para que estes que nos questionam não ficassem sem resposta, fomos buscar em nosso orientador Emmanuel a resposta para esta questão.
No Livro o Consolador é feita a mesma pergunta para este iluminado Espírito, como citamos:
Pergunta 321 – Qual a edição dos Evangelhos que melhor traduz a fonte original?
Ao que Emmanuel com a sabedoria que lhe é peculiar inicia respondendo:
A grafia original dos Evangelhos já representa em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus apóstolos...
Esta resposta só neste início, pois ela continua no livro citado, já é bem significativa...
O Evangelho é, ao nosso ver, a Carta Magna do Sistema. Jesus é um Espírito do Sistema e é segundo o dizer do próprio Emmanuel e de outros Espíritos superiores que nos orientam, o responsável espiritual pelo planeta Terra desde suas origens há alguns bilhões de anos atrás.
A Mensagem Crística do Evangelho está, deste modo, em uma dimensão muito acima do que podemos alcançar em matéria de entendimento, por isso dizemos que Jesus teve que adequar esta mensagem para nós Espíritos do Anti-Sistema.
Jesus foi, portanto, o primeiro tradutor do Evangelho, pois decodificou para nós o que não compreenderíamos sem Sua superior adequação.
Assim, o Evangelho que temos é o máximo que cada um de nós pode compreender da revelação definitiva do Céu de acordo com o estado evolutivo individual de cada um. Por isso existem tantas interpretações, tantas filosofias, tantas religiões, todas baseadas no mesmo Texto Sagrado.
A segunda tradução dos Evangelhos foi feita pelos próprios evangelistas, como nos lembra Emmanuel, visto que Jesus mesmo nada escreveu.
Deste modo, mesmo o os textos originais do Evangelho em seu idioma original já eram uma tradução. É Como se hoje após uma palestra de um orador qualquer, fôssemos transcrever sua palestra para o papel; por mais fiéis que fôssemos não conseguiríamos retratar exatamente o que foi dito pelo orador.
Quanto às versões atuais a questão se torna ainda mais complexa. Vejamos...
Jesus, ao que temos aprendido, em suas relações comuns com o povo, falava em aramaico, o que nos leva a crer que ele pensava em aramaico. Quando ele ia comentar as escrituras nas sinagogas o idioma usado era o hebraico, pois a leitura das escrituras só podia ser feita em hebraico. Se, portanto, ele quisesse se comunicar com o povo a respeito da Torá, tinha que ler em hebraico e já traduzir para o aramaico.
À exceção dos primeiros manuscritos de Mateus, escritos em aramaico, os Evangelhos que chegaram para nós, mesmo o de Mateus, foram escritos em grego; ou seja, os evangelistas tiveram que, já na origem traduzir os pensamentos e palavras de Jesus para outro idioma, neste caso o grego.
Àquele tempo não existia a imprensa mecânica, nem, muito menos, a editoração eletrônica, e para que os evangelistas dessem a conhecer a sua obra, não bastava dar um comando no computador para que fossem impressas milhares de cópias idênticas, todas no mesmo formato.
As reproduções tinham de ser feitas manualmente, por copistas nem sempre preparados para tal mister. Os textos eram escritos com palavras sem acentuação gráfica, sem pontuações, e até mesmo sem separação entre elas, o que dificultava em muito o ato de reproduzir cópias, aumentando bastante a chance de erro.
Imaginemos o que poderia acontecer, e o que aconteceu, quando um copista enganava-se no ato de copiar às vezes excluindo uma ou outra palavra, e esta cópia viesse a servir de matriz para inúmeras outras…
Acontecia ainda que alguns estudiosos dos manuscritos realizavam “notas explicativas” ou “notas laterais” nos manuscritos, o que hoje conhecemos como notas de pé de página. Muitas destas notas foram incorporadas ao texto como se fizessem parte dos manuscritos originais.
As reproduções aconteceram assim por séculos, até o surgimento da imprensa.
Mais tardes os textos vieram a ser traduzidos para o latim, e depois para o alemão, francês, inglês, português, etc.
Sem contar os erros ocasionais, ou os interesses de teologias diversas, cada idioma tem as suas características e as suas figuras de linguagem. Deste modo, perguntamos, pode haver uma tradução perfeita dos livros do Evangelho? E o que é mais importante, há como interpretar seus ensinamentos ao pé da letra?
A princípio muitos podem desanimar dos estudos do Evangelho e dizerem que estamos tirando a autoridade dos textos atuais, mas não estamos.
Continuemos lembrando Emmanuel em sua resposta à questão inicial:
Importa observar que os Evangelhos são roteiro das almas, e é com a visão espiritual que devem ser lidos…
Acontece que o Evangelho é uma revelação divina, e Deus para fazer chegar até nós suas Leis, tem prepostos perfeitos, Espíritos dedicados encarregados de inspirar os homens nos momentos certos as realizações certas.
Apesar do respeito e admiração que temos a outros reveladores como Moisés, Buda, Lao Tse, entre outros, particularmente achamos que o Evangelho é de todas a mais importante revelação, deste modo, Os Espíritos evangelistas não faltariam, como não faltaram, no auxílio para que o essencial da Mensagem Superior de Jesus não sofresse qualquer perda.
E para que entendamos e nos apropriemos desta Sua Superioridade, basta nos aproximarmos dele “com intenção sincera de aprender”, aumentando nossa vibração e sintonia com as correntes mentais superiores, para assim alcançarmos cada vez mais a compreensão das lições que dizem respeito ao Reino de Deus ou ao Sistema original para o qual fomos criados.
Assim, continuemos ouvindo Emmanuel:
Sendo razoável estimarmos, em todas as circunstâncias, os esforços sinceros, seja qual for o meio onde se desdobram, apenas considerarmos que, em todas as traduções dos ensinamentos do Mestre Divino, se torna imprescindível separar da letra o espírito.