quinta-feira, dezembro 30, 2010

Educação e Evangelho (II)


"Resplandeça a vossa luz" - Jesus (Mateus, 5: 16)
Dando continuidade aos nossos comentários sobre o tema Educação, podemos agora nos aprofundarmos um pouco mais no porquê de afirmarmos ser a Doutrina Espírita à luz do Evangelho de Jesus não só um ótimo instrumento educativo, mas talvez o melhor. É a Doutrina Espírita segundo esse ângulo de visão a que realmente pode transformar o Ser por tocar nos temas fundamentais da existência, apoiados por uma moral universal.
Para que aja uma melhor compreensão do assunto faz-se necessário retomarmos alguns conceitos do que seja educar, já trabalhados por nós anteriormente.
Extrair ou desenvolver faculdades físicas, intelectuais e morais do educando (Etimologia). O que dá a entender que o educando já as possui latente em sua intimidade, educar assim seria "tirar de dentro".
Educação é a arte de formar caracteres, de suscitar novos hábitos, … educação é o conjunto de hábitos adquiridos. (Kardec, LE Q. 685)
Toda influência exercida por um espírito sobre outro, no sentido de despertar um processo de evolução. (Dora Incontri)
Como primeira conclusão podemos dizer que os potenciais positivos já existem na própria criatura, e que "formar caracteres" como coloca o Codificador do Espiritismo é despertar estes potenciais, é "suscitar novos hábitos", porém hábitos integrados às Leis Universais, pois se o modo de ser de um indivíduo é determinado por uma conduta contrária às legislações cósmicas, estes traços particulares do seu caráter destoam de suas tendências originais, necessitando assim, de uma transformação visando sua harmonia com o andamento natural dos eventos universais.
Allan Kardec, o sábio organizador das verdades reveladas pelos Espíritos superiores, iniciou o estudo da Doutrina Espírita buscando uma compreensão de Deus e de sua creação, só assim poderia ser iniciada uma proposta educacional: pela compreensão das questões máximas da vida.
Seguindo o mesmo caminho, ao dissertarmos, mesmo que de forma singela sobre importante tema, não podemos seguir outro roteiro; assim, faz-se necessário uma mais ampla compreensão de Deus sobre seus aspectos básicos: transcendência e imanência.
É comum nos dias de hoje no meio espírita o saber de cor determinadas conceituações expressas na Codificação. Deste modo, todos sabem que Deus é a Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas conforme o Livro dos Espíritos questão número um. Todavia, quantos são os que entendem o que os Espíritos aqui quiserem dizer? Não basta ler as obras espíritas como se fosse uma novela ou um romance qualquer, é preciso aprender a pensar e formar um entendimento superior. Esta deve ser a tônica de toda proposta educativa.
Afirmam os Instrutores superiores que Deus é "Inteligência Suprema", e daí podemos depreender não ser o Criador um ser inteligente, este é o conceito dado para Espíritos conforme a questão 76 de O Livro dos Espíritos: "seres inteligentes da criação". Deus é a Inteligência Suprema, repetimos, isto é, a "Alma" do Universo e não um Espírito superior como supõe muitas vezes o nosso atavismo antropomórfico. Continuam… "Causa Primária de todas as coisas". Isto quer dizer que Deus é o Creador de tudo, nada do que existe teve outra origem, e assim podemos dizer que tudo o que existe saiu de Deus, pois não há como ser diferente, nada existe exterior à Divindade.
É para que possamos entender melhor e completarmos estes conceitos que temos que abordar os temas transcendência e imanência.
Transcendência é o estado que está além dos limites do possível; um estado do que é superior, sublime, excelso.
Deus, antes de crear era o "Uno-Todo", toda Sua obra ainda não existia, deveria sair de Si. Após a obra feita, passa a existir a distinção Creador e creatura.
Este Deus que permanece acima de sua obra, Inacessível, Invulnerável, Absoluto, Uno, é o Deus transcendente, o Creador do Universo, Causa primária de todas as coisas.
Todavia não podemos deixar de levar em consideração o aspecto imanente da Divindade. Imanência seria assim, a permanência de Deus na obra creada; não podendo nada existir exterior a Deus, Ele está em todas as coisas. É o espírito que se prendeu à forma objetivando sua volta consciente ao Pai; é o impulso creador que leva tudo "para frente e para o alto". Desta forma podemos afirmar que Deus permaneceu no Universo, não exteriormente, mas intimamente, exercendo o ato de crear constantemente com a Sua presença.[1]
Este Deus imanente é o que a psicologia chama de "Self" ou "Eu profundo", os místicos denominam "Cristo interior" ou "Centelha Divina". Não foi por outro motivo que Jesus, o Médium de Deus, asseverou: "resplandeça a vossa luz"[2], que Platão afirmou que aprender é recordar, e que os educadores conscientes dizem ser educação, a arte de despertar no educando suas potencialidades intelectuais e morais disparando assim todo o processo evolucional.
Conscientes dos conceitos expostos acima agora podemos ter uma maior compreensão do por que não ser possível pensar em educação sem um entendimento mais profundo das questões máximas da existência, e qual a utilidade da Doutrina Espírita dentro da atividade educacional. Todavia para que essa função seja cumprida com satisfação, como dissemos anteriormente, não podemos abrir mão do Evangelho de Jesus como norteador de todo este sistema num plano mais abrangente.
É o que passaremos a fazer a partir de agora, mostrar como que o Evangelho entra neste seguimento, tornando o Ser melhor, por ser este o principal objetivo da tarefa educacional.


Notas:
[1] "O Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" Jesus (João, 5: 17)
[2] Mateus, 5: 16

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Educação e Evangelho I


Educar: Promover o Espírito

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Jesus (João, 8: 32)

…o homem conhece o Bem por sua natureza mesma, desde antes da sua encarnação, sendo preciso apenas relembrar-lhe a verdade, através da melhor educação possível, que busque a formação da excelência moral (Sócrates)Os dicionários definem educar como o ato de promover a educação, ou, transmitir conhecimentos a; instruir.
Estes mesmos autores dizem ser educação o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social, e ainda, aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas.[1]
Aproveitando ainda os conceitos dos dicionaristas atuais temos que pedagogia, que é a ciência da educação e do ensino, tem por um de seus significados o estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada concepção de vida, e dos meios mais eficientes para efetivar estes ideais.
Importante esta colocação "segundo uma determinada concepção de vida", pois a partir daí podemos diferenciar o entendimento do que seja educação segundo a concepção de vida daquele que se propõe a ser educador.
Deste modo, podemos falar em educação sob dois aspectos, e faz-se importante saber de que lado estamos, e qual é a idéia que se faz deste ato nobre aqueles que se propõem a educar nossos filhos, ou mesmo nossos companheiros de ideal.
Assim temos:
  • Educação materialista
  • Educação espiritualista
Sendo que esta última classificação ainda pode ser dividida em:
  • Espiritualista tradicional
  • Espírita
Antes de comentarmos sobre cada uma destas classificações é preciso que se fique claro que o objetivo da educação é o educando, desta forma importa saber o que cada educador ou modelo educacional pensa sobre este, ou seja, sobre o homem de um modo geral.
Educação Materialista
O materialismo é uma doutrina que admite que todos os fenômenos que se apresentam à investigação, mesmo os mentais, sociais ou históricos, têm na matéria sua explicação.
Para estes, os materialistas, a vida é voltada exclusivamente para gozos e bens materiais.
A princípio, para o espiritualista, isto pode parecer um absurdo, mas não podemos deixar de ver que o psiquismo do homem atual é todo voltado para este modo de ser, e até mesmo os que se dizem cultores das questões do espírito na maioria das vezes procedem de forma imediatista, falando de um modo e agindo de outro.
Segundo a visão materialista, a vida inicia com o nascimento e termina com a morte, não existindo nada aquém nem além destes dois momentos. Deste modo a educação materialista preocupa em preparar o ser humano somente para este curto ciclo de vida, construindo assim uma ética imediatista onde os interesses são voltados exclusivamente para o bem estar de si mesmo.
Este modelo educacional preocupa-se então em simplesmente informar através da transmissão de conhecimentos, preocupando no máximo com a integração social do educando.
Como consequência deste ato falho temos o alto índice de violência do mundo atual; o culto excessivo à forma e a beleza e a consequente supervalorização do sexo em seu sentido de sensualidade; a busca a qualquer custo do poder e da boa situação financeira; e vários outros comportamentos geradores de psicoses e transtornos psíquicos em geral, pois por não se preocupar com nada que vá além do momento atual o homem materialista só valoriza o que traz vantagem e satisfação imediata para si próprio.
Não temos a menor dúvida ser esse modelo pernicioso que mais promove a antieducação também responsável pela corrupção que cada dia mais aumenta e pelo alto consumo de drogas e alucinógenos, que tanto destroem a família e a segurança individual do homem comum.
Educação Espiritualista
O espiritualismo é uma doutrina que admite que além da matéria há o espírito (alma), e que este tem a primazia sobre aquela, sendo imortal e sobrevivente ao trespasse físico.
Todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita, por isso diferenciamos o espiritualismo tradicional, do espírita.
  1. Espiritualismo tradicional
Essa classificação é meramente didática, e poderia ser de outra forma, pois há uma infinidade de modos de ser espiritualista; em verdade todos os religiosos são espiritualistas.
Aqui abordamos deste modo os religiosos tradicionais, aqueles que aceitam a existência da alma, a sua imortalidade, as penas e gozos futuros, mas que não aceitam a sua preexistência e nem a teoria reencarnatória.
A educação espiritualista desta forma tem uma vantagem sobre a materialista, pois admite uma vida futura, e que esta é consequência da vida atual; assim, o educando teria de compreender a vida sobre um aspecto diferente e não só mais dentro de uma ótica imediatista.
Porém na prática isso nem sempre se dá, e na maioria das vezes não se dá mesmo, pois por não ter explicação para os problemas fundamentais da vida, por não tratar os fenômenos existenciais com a lógica e o bom senso que seria de se esperar, não dá ao seu seguidor a segurança necessária para que ele enfrente a razão e encare a situação não só como uma questão de fé, mas também, e principalmente, de plena adesão à nova proposta educacional.
Como consequência temos, conforme expusemos anteriormente, a condição do religioso tradicional, aquele que com os lábios diz uma coisa e com os atos outra; é espiritualista na teoria, mas na prática, materialista.
  1. Espírita
A Doutrina Espírita é uma filosofia de vida eminentemente educacional. De base científica traz consequências morais, tem por objetivo a melhoria do Ser integral, e essa melhoria segundo o próprio Codificador só pode se dar pela educação; afirma ele:
"…não por esta educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral"[2]
Dizendo ainda em outro ponto: educação é a arte de formar caracteres, de suscitar novos hábitos, … educação é o conjunto de hábitos adquiridos[3]
Uma proposta educativa deste quilate tem que ser ampla, tratar o Ser como um todo, abordando não só sua existência atual, mas dentro de uma prática reencarnacionista. Deve responder e preparar o educando para que ele também responda, compreendendo, as seguintes questões:
  • Por que existimos?
  • Por que nascemos, sofremos, e morremos?
  • De onde vimos e para onde vamos?
  • Como funciona o universo? Quem o dirige? Há uma Lei diretora? Como é ela?
  • Há uma finalidade na dinâmica universal? Qual o resultado de tudo isso? Como alcançá-lo?
Não temos a menor dúvida de que o Espiritismo pode, e bem, responder a todas essas questões. Não foi por acaso que Jesus, do mesmo modo que foi previsto sua vinda por Moisés, o grande legislador hebreu, também adiantou a chegada do Espiritismo para nós, interligando as três revelações divinas dentro do plano operacional do Criador como recurso para a salvação das criaturas e a volta destas em glória para o seu estado de Amor inicial:
Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.[4]
Educação etimologicamente quer dizer ato de extrair ou desenvolver faculdades físicas, intelectuais e morais do educando. Os Druidas consideravam que o papel da educação é levar a criatura a obedecer às leis de Deus, fazer o bem do homem e cultivar em si a força moral.
A educadora espírita Dora Incontri conceitua educação como sendo toda influência exercida por um espírito sobre outro, no sentido de despertar um processo de evolução. Desta forma, para ela, educar é, pois, elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência facilitar o progresso integral do Ser.[5]
Baseado nestes conceitos que estão de pleno acordo com a proposta espírita, é preciso que entendamos, que mesmo diante desta imensidão de recursos que possui a Doutrina codificada por Kardec, temos visto mesmo nas Casas Espíritas uma proposta ineficiente no que diz respeito a transformar as criaturas para melhor.
É que mesmo em nossos meios, temos trabalhado, na maioria das vezes, somente com transferência de informação, esquecendo de que a base de implementação de novos caracteres passa pela reeducação individual do Ser humano, ou seja, pela sua efetiva transformação moral.
Assim, mais do que informar é preciso transformar, e se a escola comum informa, só o Evangelho transforma, por isso a práxis educacional espírita não pode abstrair do Evangelho como elemento a lhe dar segurança e autoridade para a implementação de sua excelente filosofia a nortear o caminho de todos nós à perfeição.


Notas:
1 Dicionário Aurélio
2 O Livros dos Espíritos, nota à questão 917
3 Ver Nota à questão 685 de O Livro dos Espíritos
4 João, 14: 26
5 A Educação Segundo o Espiritismo, cap. IV pág. 42.

sábado, dezembro 04, 2010

Qual o Objetivo de Jesus Ter Vindo Até Nós?

…e andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave. (Efésios, 5: 2)


 

E andai com amor; como já comentamos em outros pontos trata-se de uma expressão simbólica onde andar quer dizer uma forma de conduta. E conduzir-se em amor é o modelo evangélico que tem em Jesus sua expressão máxima.

É objetivo de todo aquele que deseja ser seguidor do Cristo aprender com Ele e viver seus ensinamentos e deste modo tornar-se melhor. Sendo assim viver em amor, andar em amor, é a síntese de todo este processo educativo é a nossa realização finalística que devemos perseguir como meta.

Assim como Cristo também nos amou; esta é a tônica do Novo Mandamento de Jesus, amar como Ele nos amou e ama.

Trata-se de uma nova proposta. O amor humano expressa um desejo de amar e ser amado, este é o amor dos imaturos espiritualmente falando, o que condiciona a atitude de dar à de receber. Em geral só se ama aquele que nos satisfaz os desejos e aquele que de uma forma ou de outra nos é simpático e agradável.

O amor de Jesus - como Cristo também nos amou - é diferente. Ele inaugura uma nova forma de amar que é o entregar-se a si mesmo por amor, e tal fato pressupõe o sacrifício.

A literatura hebraica que é toda simbólica viu em Abraão a prefiguração desta proposta. Para o Novo Testamento os dois maiores sacrifícios são o de Deus que deu o seu Filho amado em sacrifício para que através Dele tivéssemos acesso à Vida Eterna, há aqui uma analogia com o sacrifício de Abraão entregando seu filho Isaac em holocauso; o segundo maior sacrifício é o de Jesus que através de sua própria imolação realizou o projeto de Deus: e se entregou por nós a Deus

O sacrifício a Deus está presente em toda história da humanidade e ele é claramente expresso na literatura judaica. Podemos entendê-lo como expiação, como ação de graças, ou para se obter um favor do Criador. Há na consciência do Espírito em queda uma necessidade de reparação, e desde o princípio ele entende que esta recomposição se dá por meio de uma expiação para obter-se a graça novamente.

Jesus, como divisor de águas, inicia uma nova fase onde o sacrifício deixa de ser exterior para ser o de si próprio. A Doutrina Espírita explica melhor o porquê quando nos ensina que não há transferência de responsabilidades; ora se quem errou foi o Espírito, ele é quem deve expiar visando sua recuperação, não tem função mais o "bode expiatório", cada um é responsável por suas próprias atitudes inadvertidas.

Portanto, é preciso compreender que nada na vida de Jesus foi à toa, tudo tem a sua razão de ser dentro de Sua Pedagogia Superior. Se para atingir a ressurreição, Ele que já era ressurrecto, teve de se imolar na cruz, devemos ver neste passo nossa necessidade de tudo suportar em favor de nossa libertação. Este é apenas o primeiro passo.

Dizemos assim, pois dissemos "tudo suportar" que representa a disciplina que antecede à espontaneidade, conforme observação de Emmanuel, pois o que o Apóstolo da Gentilidade nos traz neste verso já está um pouco adiante: como oferta e sacrifício de odor suave.

Paulo joga muito bem com as palavras, ele tira a expressão - odor suave [agradável a Deus] - do Antigo Testamento, dando a ela um conceito do Novo, representando o amor de Cristo, o que fez com que Ele se sacrificasse em paz e harmonia com Deus.

Isso se dá quando usando da compreensão como virtude superior entendemos o mecanismo universal de redenção do Espírito e o realizamos em nós com espontaneidade. É a oferta de Abel que se sublima em Jesus, o dar de si mesmo, caminhar a segunda milha…

Podemos ainda como a título de breve conclusão valorizarmos ainda mais a frase que destacamos como a mais importante do versículo: entregou por nós a Deus.

Vemos a aí a síntese da trajetória de Jesus, e se assim analisamos, não é para termos um melhor conhecimento da história e deste personagem admirável, mas para que O pudéssemos ter como exemplo, o que aliás é um diferencial da Doutrina Espírita. Por ela Jesus deixa de ser mito ou ídolo a ser cultuado para tornar-se Guia e Modelo.

O verbo "entregar" - se entregou - deve ser por nós analisado e vermos em tudo oportunidade de nos entregarmos àquilo que estamos realizando. Ou seja, é o ato de nos doarmos por inteiro às nossas atividades, é tudo fazermos de coração, com alma. Só assim faremos o Bem, bem. E este é um dos objetivos, qualidade total.

Com Jesus esta entrega ganha um novo caráter, por quê? Porque ele se entrega por nós, isto é pela humanidade. É um ato de amor, onde o que é levado em conta não é o interesse pessoal. Jesus não se entregou para fazer a alegria de Deus e assim evoluir um pouco mais, não, ele se entregou por nós, o objetivo Dele era através do exemplo nos instrumentalizar para que pudéssemos alcançar nossa própria libertação. Foi um ato supremo de doação, e como temos insistido é preciso encararmos tal situação como exemplo a aplicarmos em nossa vida, senão, qual o objetivo do Evangelho ou de Jesus ter vindo a nós?

E para fechar a conclusão temos que Ele se entregou a Deus. Não foi uma entrega qualquer, nem a qualquer pessoa ou objetivo, mas a Deus, no sentido de andar dentro de Sua Lei.

Existem aí vários exemplos a serem seguidos, mas por enquanto vamos ficar com apenas um. Quando tudo fizermos por algo, e sentirmos que não temos a condição de nada mais realizarmos, ou seja, que nos escapa a possibilidade de mais fazermos, é sinal que devemos entregar o processo a Deus, é aí que Ele vai começar a falar e a operar mais efetivamente. Quando depende de nós, nós somos quem devemos fazer, mas quando não, é Ele quem age, e é nesse momento que na maioria das vezes é de maior angústia e sofrimento, é que Ele mais se faz presente.

Nos entreguemos a Deus e aquietemos o nosso coração.

Feliz Natal...

Nota:

  1. Levítico, 4: 31

domingo, novembro 28, 2010

Visão Espírita do Natal

Conceito:

Dia do nascimento; natalício.

Festa do nascimento de Jesus, celebrada no dia 25 de dezembro desde o séc. IV pela Igreja ocidental e desde o séc. V pela Igreja oriental

As Origens do Natal

Antes de Cristo

A celebração do Natal antecede o cristianismo em cerca de 2000 anos. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico que simbolizava a passagem de um ano para outro, o Zagmuk. Para os mesopotâmios, o Ano Novo representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam que os monstros do caos enfureciam-se e Marduk, seu principal deus, precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em sua batalha.

A Mesopotâmia inspirou a cultura de muitos povos, como os gregos, que englobaram as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais tarde, através da Grécia, o costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo festival chamado Saturnalia (em homenagem a Saturno). A festa começava no dia 17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro, comemorando o solstício do inverno. De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava mais fraco, porém pronto para recomeçar a crescer e trazer vida às coisas da Terra.

Durante a data, que acabou conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e ninguém trabalhava, eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram oferecidos aos amigos e árvores verdes - ornamentadas com galhos de loureiros e iluminadas por muitas velas - enfeitavam as salas para espantar os maus espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos outros.

Depois de Cristo

Nos primeiros anos do cristianismo, a Páscoa ou a ressurreição era o feriado principal. O nascimento de Jesus não era celebrado.

No século IV, oficiais da Igreja decidiram instituir o nascimento de Jesus com um feriado. Mas havia um problema: a Bíblia não menciona a data de seu nascimento.

Apesar de algumas evidências sugerirem que o nascimento de Jesus ocorreu na primavera, o Papa Julius I escolheu 25 de dezembro.

Alguns estudiosos acreditam que a Igreja adotou esta data num esforço de absorver as tradições pagãs do festival da Saturnália.

A maior parte dos historiadores afirma que o primeiro Natal como conhecemos hoje foi celebrado no ano 336 d.C.. A troca de presentes passou a simbolizar as ofertas feitas pelos três reis magos ao menino Jesus, assim como outros rituais também foram adaptados.

Hoje, as Igrejas Ortodoxas grega e russa, celebram o Natal no dia 6 de janeiro, também referido como o Dia dos Três Reis, que seria o dia em que os 3 Reis Magos teriam encontrado Jesus na manjedoura.

Mantendo o Natal no mesmo período dos tradicionais festivais de solstício de inverno, os líderes da Igreja aumentaram as chances de que o Natal se popularizasse.


 

Leia o texto completo em:


 

http://www.slideshare.net/fajardo1960/viso-esprita-do-natal

terça-feira, novembro 16, 2010

Fé e Obras


(Retirado do Livro "Carta de Tiago" a publicar)
Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhe disser: " Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento.
De fato, alguém poderá objetar-lhe: " Tu tens fé e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. (Tiago, 2: 14 a 18)
Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo?
A partir deste versículo até o final deste capítulo Tiago irá expor alguns conceitos a respeito de fé e obras.
Alguns estudiosos têm visto neste passo divergências entre os ensinamentos de Tiago e de Paulo, outros, ainda mais disseminadores da discordância entre os apóstolos têm dito que Tiago escreveu estas linhas para refutar as anotações de Paulo sobre a fé, principalmente as que expôs na carta aos romanos.
Não temos a erudição destes estudiosos, porém, além de analisar como temos feito em relação aos outros textos tentaremos mostrar o contrário, ou seja, que existem muito mais concordâncias de Tiago com Paulo do que discordâncias; discordâncias estas que se bem analisadas talvez nem existam.
Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que aproveitará isso? Aqui surgem as possíveis primeiras divergências.
Tiago afirma claramente que não há proveito em uma fé sem obras, e Paulo teria afirmado que é a fé mais importante.
Em primeiro lugar é preciso tentar descobrir o que cada um deles entendia por fé e por obras. E mais, será que temos a possibilidade de julgar alguém no que diz respeito às obras que realiza em sua intimidade pelo simples fato de ter fé?
Ampliemos estas colocações. Tiago, como temos repetido, estava a falar em primeiro lugar para cristãos vindos do judaísmo, elementos que traziam em seu inconsciente a necessidade da prática religiosa através da observância de atitudes exteriores. A manifestação de fé destes não levava em conta as atitudes em coerência com o que pregavam nas reuniões para estudo das Escrituras. A nova doutrina nascente, a partir dos ensinamentos de Jesus, ensinava totalmente o oposto, ou seja, as atitudes exteriores pouca valia têm, o que importa é o sentimento que vai ao coração e a aplicabilidade dos ensinos cultuados no plano intelectivo. Desta forma ele escreve: Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que aproveitará isso?
Este alerta do evangelista é extremamente atual. Vivemos um momento de crescimento das propostas religiosas e de grande expansão do próprio cristianismo. As correntes espiritualistas se ampliam através de divulgação em massa neste nosso mundo hoje globalizado.
Mas de que adianta tudo isso se a criatura que é o objetivo de maior cuidado do próprio Cristo, não implementa em si estes valores renovados e não melhora o nível de seus sentimentos? O Evangelho não pode ser ponto de discórdia entre seitas diferentes, mas antes ponto de união entre seus divergentes seguidores.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Não foi isso o que ensinou Jesus?
É como se dissesse, a verdadeira obra é a da transformação da criatura em Homem de Bem.
Dizem os estudiosos que Paulo prioriza a fé em detrimento das obras. Será isto verdade ou está havendo uma má compreensão do que disse este valioso apóstolo?
Será que houve algum elemento nestes dois primeiros milênios de cristianismo que tenha tido obras tão valiosas quanto o convertido de Damasco? Têm-se chegado à conclusão que se não fosse o apóstolo Paulo, nós hoje não estaríamos aqui num estudo tão amplo de divulgação do Evangelho. Na melhor das hipóteses teríamos que ter tido outro "vaso escolhido" para realizar o que ele fez. Não foi a sua obra, então, maravilhosa, e coroada de frutos dignos de sua grande missão?
É o próprio Paulo quem afirma de modo explícito sobre o juízo de Deus e na mesma epístola aos romanos:
…o qual recompensará cada um segundo as suas obras.
Não tem ressonância com o que diz Tiago?
Mas este não é o ponto, poderão dizer alguns. Paulo também é claro quando expressa também em Romanos, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.
Prestemos atenção, as Escrituras jamais podem se contradizerem em pontos fundamentais. Se em algum passo assim acharmos que isto ocorreu, avaliemos nossa interpretação, pode ser que o engano esteja aí.
É diferente quando Paulo fala em obras como exteriorização que a criatura faz dos ensinos do Cristo e de quando ele fala em obras da lei se referindo a uma manifestação legalista comum no judaísmo daquele tempo.
Obras da lei significam ações fundamentadas em impositivos marcados por observâncias de atitudes exteriores, o que ele condena e ao que tudo indica, Tiago compreendeu no fim de sua vida missionária.
É como se Paulo fizesse uma diferença entre obras da fé significando a atitude implementada pela transformação íntima realizada pela criatura que aderiu à proposta do Cristo, e obras da lei significando uma atitude impositiva da ortodoxia religiosa.
Neste ponto podemos responder à pergunta que nós mesmos fizemos no início destas considerações:
Será que temos a possibilidade de julgar alguém no que diz respeito às obras que realiza em sua intimidade pelo simples fato de ter fé?
Sabemos que a evolução da consciência se realiza aos poucos, gradualmente, no âmbito de muitas encarnações.
Muitas vezes alguém que hoje, por invigilância, julgamos como sem obras dignas da fé que esposa, é um elemento que traz em si complicações de vulto na área da sexualidade, das drogas, ou mesmo da criminalidade. Hoje este elemento estando ajustado a uma fé, mesmo que contraditória, está desativando componentes de grande importância em seu psiquismo e se preparando para num próximo instante, mais oportuno, realizar transformações de base.
Não podemos qualificar esta transformação que opera silenciosamente na intimidade da criatura, como sendo uma boa obra no campo da fé? Não terá ela ótimas implicações no desenvolvimento de sua evolução?
É preciso compreender a necessidade de termos paciência quando o assunto é educação do Espírito para Deus. O bom educador jamais pode ter ansiedade em relação ao seu educando, o aperfeiçoamento é fruto dos séculos.
Concluindo cremos ser certo afirmar que fé e obras são temas a serem trabalhados com muito cuidado e que um não pode ser dissociado do outro. Tiago expôs de um ponto de vista essencial; Paulo, outro não menos importante. Onde a divergência?
Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia…
A atividade cristã deve primar pelo ensinamento de amor deixado pelo Mestre.
Como compreender este amor? Tiago alerta-nos para a necessidade de atender o semelhante naquilo que ele necessita. O próprio Jesus já definira:
Dá a quem te pedir
Isto, no entanto, é muito amplo, daí a necessidade de estabelecermos prioridades. Qual a necessidade mais imediata daquele grupo por quem somos responsáveis?
Os Espíritos nos informando sobre a importância do espiritismo como filosofia a estabelecer um novo paradigma no que diz respeito ao comportamento do seu seguidor, isto tudo dentro da possibilidade dela – a revelação espírita – ser uma volta ao cristianismo da era apostolar, intuíram Kardec a dizer:
Fora da caridade não há salvação…
Como uma ampliação do que já haviam dito na obra básica:
Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas."
Dito isto, notamos aqui a harmonia existente entre a proposta kardequiana e a mensagem de Jesus tão bem divulgada por seus primeiros seguidores, a despeito daqueles que não qualificam o espiritismo como filosofia cristã.
A religião pura e sem mácula conforme as palavras do próprio autor desta carta no final do primeiro capítulo, não é aquela que ensina seus seguidores a adoção de práticas exteriores, mas a que leva estes a aderirem em espírito e verdade, aos ensinamentos de seu revelador implementando em si a ética que surge com a prática destes.
…e alguém dentre vós lhe disser: " Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?
…e alguém dentre vós lhe disser; esta expressão define a atenção que devemos ter no que dizemos. A invigilância que às vezes temos com o nosso verbo muitas vezes destrói conquistas que demoramos tempos em realizar como fruto de muito esforço.
Cremos que mais uma vez a repetição não se faz vã. A atitude é que é o fator essencial a definir o nosso comportamento essencial em matéria de religiosidade.
"Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos". Desejar a paz do outro, o seu bem, é atitude nobre. Porém, aqui, o autor da carta nos orienta a refletirmos no "como" temos realizado este desejo. Será que temos pensado mesmo neste bem estar de nosso semelhante? Ou quando demonstramos este sentimento temos preocupado em primeiro lugar com o atendimento aos nossos próprios desejos?
A expressão que fica subtendida quando assim fazemos é: "ide em paz… e me deixe em paz". Como se nos livrarmos daquele incômodo fosse para nós o mais importante.
E note-se que o apóstolo, pelo seu próprio amadurecimento devido ao trabalho incessante na caridade, amplia o bem estar do semelhante quando mostra que devemos preocupar de uma forma completa com ele conforme expressa os verbos aquecei-vos e saciai-vos. Mostrando-nos que sabemos da importância de outros fatores no atendimento ao semelhante como o reconforto que a ele devemos oferecer e o suprir de suas primeiras necessidades.
Todavia será esta uma atitude falsa, ou que pouco efeito terá se não lhes der o necessário para a sua manutenção.
E nesse ponto devemos ampliar a compreensão. O que representa este necessário para a manutenção?
É bem lógico que Tiago falasse das primeiras necessidades do indivíduo em relação à manutenção física. Pois havia àquele tempo uma distinção muito severa entre as classes, o que hoje ainda existe, mas em proporção menor. Assim é de bom senso realizar o questionamento que citamos anteriormente: Qual a necessidade mais imediata daquele grupo por quem somos responsáveis?
Porém na prática cristã a que hoje estamos ajustados não podemos para por aí, lembremos que a orientação do Senhor é para que "caminhemos a segunda milha".
Já expusemos alhures, que a Vida em sua expressão de manifestação divina é muito apropriadamente um processo de educação do Ser criado para integração deste em Deus.
Até a vinda de Jesus, e que em nossa intimidade pode representar a vinda do Cristo em nós, este processo educativo fala mais diretamente ao homem biológico. Há a necessidade prioritária de comer, beber, vestir; de manter-se de um modo geral. O advento da Boa Nova marca uma nova fase, a da construção, ou da reeducação, do homem espiritual já em bases mais amplas dentro de uma nova conceituação, onde os valores do Ser imortal são os prioritários.
Este processo pedagógico tem que levar em conta o que fomos, como estamos, mas principalmente no que deveremos nos tornar a partir de então. Hoje é muito usado o termo "educação continuada", e aqui esta expressão cai bem, pois o processo é contínuo objetivando uma evolução cada vez mais dinâmica.
Fundamentado nesta visão ampla da vida é que o cristão, tão bem representado pelo espírita que compreendeu a necessidade de adequação à proposta evangélica, deve preocupar-se em relação à caridade. Ao que é necessário não só para a manutenção do homem, conforme expressa o texto original de Tiago, mas também para efetiva educação do Ser integral, onde vida física e vida espiritual, passado, presente e futuro, se conjugam num só plano de existência.
Se nos mantermos fixados a uma só abordagem, aos interesses só do homem biológico, que proveito haverá nisso? Todo materialista que se preze, mesmo travestido de bom religioso, não é isso que faz rotineiramente?
Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento.
Assim; conjunção conclusiva que liga esta oração à anterior. Portanto, o que aqui está exposto é uma continuidade do que estava sendo colocado.
Faz-se importante recapitular que as considerações iniciais de Tiago que deram origem a esta abordagem sobre a relação fé e obras diziam respeito a como deve ser a prática religiosa autêntica. Aqui ele continua no mesmo diapasão. então tem o sentido de crença religiosa. E neste caso estando ela dissociada das obras, que representam o plano operacional da fé, não atinge o seu objetivo.
Vejamos que em versículo já comentado, a palavra fé, dita pelo mesmo missivista, tem outra conotação:
Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?
Obras, que como já dissemos representa o plano aplicativo da fé; são dentro deste contexto atitudes coerentes com o que se crê.
Na própria religião judaica as obras tinham grande significação. Dentro do judaísmo tornar-se justo era o mesmo que ser praticante de boas obras; as mais importantes eram dar esmola, a oração, e o jejum.
Vejamos que Jesus já tocara nestes três pontos conforme as anotações de Mateus. (Cf. Mateus, cap. 6)
Assim, não era novidade para eles o que Tiago estava a dizer, porém, é preciso que sejamos sempre lembrados, pois ainda temos a facilidade de esquecer o que não implementamos em nosso íntimo como conquista.
Sem querer retornar ao assunto, pois já nos fizemos claros nos comentários anteriores, só para que fique patente este ponto de vista, é diferente de quando Paulo falava na relação fé e obras, sendo a primeira o sentimento interior da criatura que a leva à transformação moral e obras em se referindo a obras humanas que mais diziam respeito às aparências.
Portanto, a fé tem de ser complementada pelas obras, e as obras têm que ter fundamentação na fé para que possam ser validadas pela consciência em sua trajetória para a Unidade Divina.
…eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. É o que dirá o apóstolo no próximo versículo.
E o Cristo disse:
Quem me vê a mim vê o Pai…
…o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.
A expressão está morta em seu isolamento, é importante para confirmar a complementaridade de uma em relação à outra, e também a definir o caráter dinâmico e coletivo da Criação Universal.
Tudo está interligado, nada existe que esteja isolado na obra de Deus. Vida, que é um dom divino, é sempre uma somatória de muitos fatores, morte, que é oposição, se dá pela inércia, pela desagregação, pelo isolamento.
Assim, quando qualquer atitude nossa esteja dissociada do interesse comum, ou sendo mais claro, atendendo somente ao interesse pessoal, esta obra está fadada a morrer em seu isolamento.
O sangue tem de circular, a moeda do mesmo modo. Água parada vira lodo, e a nossa fé, ou mesmo as nossas ações?
Se não tiverem em conexão com o Dinamismo Universal, que é amor, estarão mortas em seu isolamento.
Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer.
De fato, alguém poderá objetar-lhe: " Tu tens fé e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras.
De fato, alguém poderá objetar-lhe; Tiago dizia isto aos interlocutores dos versículos anteriores, o 14 e o 16 deste capítulo. Porém esta é uma atitude natural no mundo dual em que vivemos, sempre alguém tem algo a dizer contrariando as nossas propostas, por melhor sejam elas.
Isto é bom quando o nosso objetivo é reeducativo, pois nos deixa sempre alerta, entretanto, nem sempre podemos dar ouvido às objeções já que muitas vezes elas vêm com o único propósito de desestabilizar nosso encaminhamento ao bem.
Assim, é preciso estar seguros de realizarmos o melhor e tranqüilos em matéria de harmonia consciencial, pois se assim fizermos que nos tirará a tranquilidade?
"Tu tens fé e eu tenho obras…"; o pior da contradita é quando somos pegos em contradição ou realmente no engano que nos afasta ainda mais do objeto de nossa existência que é a harmonização com a Lei do Eterno.
Dissemos pior pelo motivo de que quando isto se dá será necessário o esforço corretivo que é sempre mais doloroso que caminhar dentro da ordem natural. Porém, se houve o erro o chamamento de atenção é sempre benéfico, mesmo que ainda não muito bem aceito pela nossa psicologia comodista.
Quando alguém nos interpõe com uma corrigenda justa, não nos revoltemos, o que aliás tem sido a nossa histórica conduta, pois a rebeldia é um dos sentimentos que mais atrasa a escalada evolutiva do Ser que transita para Glória Divina. É muito comum vermos nas obras que retratam com fidelidade a vida no Domínio Espiritual, algozes em ajustamento em melhores condições do que suas vítimas que não perdoaram e que insistem em permanecer em projeções mentais de conflito. Bem aventurados os pacificadores, disse o Sábio dos sábios, não é pacificar aceitar com humildade o erro e exemplificar a correção do mesmo?
Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. Não poderia ser mais claro o evangelista nesta colocação. E quando a argumentação se fundamenta na lógica, no bom senso e na razão, por que insistir em fazer oposição?
Insistimos nestas observações porque este tem sido um de nossos maiores erros, a rebeldia. Na maioria das vezes somos como aquele elemento que sofre horrores tentando empurrar uma porta, fazendo grandes esforços neste sentido e não obtendo sucesso, quando uma sinalização na mesma já lhe apontara o caminho: "puxe".
Parece engraçado, mas essa tem sido a nossa triste trajetória evolucional.
Ansiamos em subir, mas não abrimos mão das gorduras que nos prendem ao solo; temos por meta a espiritualidade, porém nos esforçamos muito mais pelas conquistas transitórias; a porta estreita é nossa recomendação aos amigos, todavia, será que a adentraremos carregando tudo que insistimos em não abrir mão?
Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?
"Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras"

sábado, outubro 23, 2010

A Outra Margem

Disse-lhes naquele dia, ao cair da tarde: passemos para a outra margem. Deixando a multidão, eles o levaram, do modo como estava, no barco; e com ele havia outros barcos. (Marcos, 4: 35 e 36)

E Disse-lhes naquele dia, ao cair da tarde: passemos para a outra margem.

A julgar pela cronologia de Marcos, a passagem da "Tempestade Acalmada", da qual retiramos estes versículos em epígrafe, se deu após um ensino público de Jesus em que o Mestre narrava algumas parábolas.

Em Mateus temos a mesma passagem após uma série, também pública, de curas.

Seja lá como for, o certo é que Jesus estava atuando em meio ao povo e convidou seus discípulos mais íntimos a afastar um pouco da multidão e passar para a outra margem.

Marcos, mais detalhista, ainda nos informa que tal acontecimento se deu ao cair da tarde.

Tudo no Evangelho tem a sua razão de ser, Jesus após um trabalho público, onde a sua abordagem tinha de estar ao alcance de todos, viu que era hora de dar um ensinamento mais profundo àqueles que estavam mais amadurecidos para as questões do espírito, que naquele momento eram seus discípulos mais próximos. Isto porque estes, em matéria evolucional, já estavam ao cair da tarde.

É importante que aqui façamos uma análise mais cuidadosa das expressões.

Tudo na vida se dá em etapas ou ciclos, que se fecham e se abrem em períodos maiores formando um todo cada vez mais completo. É uma manifestação da Lei das Unidades Coletivas.

Assim podemos dividir o dia em quatro ciclos que são: madrugada, manhã, tarde e noite; períodos que se ampliam nas semanas, nos meses, anos, e assim por diante.

Se na madrugada temos o início do processo caracterizado pelas trevas da ignorância, porém, uma ignorância devido à simplicidade e ao desconhecimento, na manhã temos a chegada da claridade e a possibilidade de iniciarmos o trabalho edificante; todavia este é um trabalho ainda em fase infantil que chegará ao amadurecimento justamente na tarde, que é o momento que nos interessa para o estudo que ora realizamos.

Assim, após o trabalho inicial com a multidão, que representa os que ainda estavam na manhã da infância espiritual, Jesus convida aqueles que já estavam mais maduros para um ensinamento de maior complexidade. E isto só poderia acontecer ao cair da tarde.

Deste modo, faz o Mestre mais um convite significativo: passemos para a outra margem.

Que outra margem seria esta?

Geograficamente poderia ser a margem oriental do lago de Tiberíades, todavia espiritualmente sua localização nos leva a meditações mais profundas…

A grande missão de Jesus era educar o nosso espírito, e assim nos conduzir a um porto mais seguro; desta forma, nos convoca a avançar e passar para uma margem diferente da que nos situamos atualmente. Uma margem onde cultivaremos os valores eternos, imutáveis, menos sujeitos às instabilidades ocasionadas pelos interesses imediatistas.

Esta margem é o campo operacional daquele que deseja realizar-se como uma criatura a integrar-se no serviço do Senhor Supremo em favor de todos.

Sempre que terminamos uma etapa de nossa vida, passamos para uma outra margem.

Para aquele que terminou o ensino médio a universidade é a outra margem, que no futuro poderá ser a pós-graduação, o mestrado, etc.. Na repartição de trabalho uma chefia pode ser esta margem significando promoção e mais responsabilidade.

Porém, a outra margem caracterizada pelo nosso amadurecimento com o Cristo é sem dúvida o momento mais sublime de nossa realização espiritual, e nós que já meditamos sobre estas considerações anotadas neste que é o Livro da Libertação não podemos fugir às nossas responsabilidades; já nos situamos na boa margem da nossa redenção, basta para isso conscientizarmo-nos e realizarmos sob o aval de nossa consciência.

Muitos podem pensar que estamos divagando em cima dos textos evangélicos, todavia podemos com segurança afirmar que não estamos. É preciso compreender que Jesus é um Espírito Perfeito, e suas possibilidades estão "séculos-luz" à nossa frente. Por termos uma psicologia ainda materialista, não conseguimos alcançar o que Ele pode realizar. Ele há bilhões de anos, quando o nosso Orbe estava no início de sua gênese, já era o Cristo Planetário, supervisionando, assim, todos os processos de formação tanto da matéria quanto dos seres que viriam no momento oportuno aqui habitar. Deste modo, não podemos reduzir suas possibilidades. Ele é um educador com uma pedagogia avançadíssima; escolhia lugares e momentos didaticamente perfeitos para os ensinamentos que queria levar aos seus educandos. Portanto, tudo e todas as sua ações devem ser consideradas quando tratamos de nossa auto-educação.

Levemos então, Ele, em nosso barco, e todas as tempestades que por necessidade ainda ocorrerem no mar de nossa vida, serão acalmadas na medida de nossa capacidade de colocá-Lo na direção.

Todavia é preciso termos fé e perseverar, pois a outra margem que já intuímos ainda não pode ser plenamente visualizada, e a fé é justamente o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem.

Deixando a multidão, eles o levaram, do modo como estava, no barco; e com ele havia outros barcos.

Ao comentar o versículo anterior chamamos a atenção para o significado do convite do Mestre quanto ao "passar para a outra margem". Dando continuidades às anotações, o autor de Marcos, foi intuído pelos evangelistas da espiritualidade a informar-nos como deveria se dar esta passagem: deixando a multidão.

O que podemos entender por deixar a multidão? Será mesmo necessário este afastamento em vistas de ser o Evangelho a maior mensagem de inclusão de que já tivemos notícia?

Reflitamos sobre o significado do termo multidão sob dois aspectos: o exterior, e o íntimo.

Do ponto de vista exterior, podemos entender como multidão todos os elementos vinculados à proposta do mundo. São os que sem ter noção ou intuição de que existe algo para além da matéria, cuidam somente dos interesses ligados a esta. Aqui podemos incluir até mesmo muitos dos que se dizem espiritualistas, pois não são poucos os que se enquadram nesta condição, mas que vivem em função de mamom.

Deixar a multidão quer dizer fazer novas opções de encaminhamento de nosso livre arbítrio, é deixar hábitos passados que dizem respeito simplesmente aos interesses imediatistas. Quantas vezes em nosso dia a dia somos convidados a nos manifestar, seja no ambiente de família, seja no campo profissional, ou mesmo entre desconhecidos, e simplesmente repetimos atos passados mostrando que ainda estamos presos à retaguarda?

Devemos lembrar que segundo a orientação do Mestre, o cristão deve ser o "sal da terra", a "luz do mundo", devendo deste modo se diferenciar da maioria, ser incomum no meio em que convive.

Não estamos com isto querendo dizer que devemos ser elitistas, não é isso. Devemos conviver com todos, servir sem fazer acepção de pessoas, sermos inclusivos; todavia não podemos seguir a orientação da massa e nos fazer simplesmente mais um no meio da multidão.

Muitas vezes este distanciamento se dá até mesmo em relação aos nossos familiares, pois nem tudo os que estes desejam, nem todos os caminhos tomados por estes, podem ser adotados por nós como direção de conduta; vivemos em um mundo onde impera a dualidade, onde as forças do Sistema e do Anti-Sistema convivem lado a lado, cabendo deste modo, discernirmos e adotarmos a conduta que mais nos diz respeito quanto ao que desejamos em matéria de conquista.

Não devemos nos iludir, nem nos queixarmos, mas o sentimento de solidão é muito comum entre cristãos e não pode ser de outro modo. Quando falamos de solidão não estamos dizendo da falta de pessoas no convívio, pois disto até que não podemos nos queixar, visto que, se muito trabalhamos, muitas pessoas existem ao nosso redor, seja na condição de atendidos seja na de colaboradores; porém, falamos de uma solidão profunda, a que sentimos na intimidade por não sermos compreendidos em nossos anseios e em nossa busca.

Aquele que verdadeiramente adota a mensagem do Cordeiro naturalmente se deixa imolar em favor do outro, e esta postura, em desacordo com o sentimento da maioria, só pode nos levar a sermos incompreendidos e até sermos chamados de loucos. Porém não esqueçamos da orientação do apóstolo Paulo de que aquilo que é loucura para os homens é poder de Deus, enquanto que o que é sabedoria neste mundo é loucura para Deus.

Não foi outro o motivo que levou Jesus a exemplificar quanto à necessidade de estarmos sós; é o que depreendemos do abandono sofrido por Ele no momento final de sua missão entre nós, justamente no ponto culminante da crucificação.

Mas nem tudo são dores, a Misericórdia do Pai é sempre maior, após a crucificação vem a ressurreição, e esta sim, é que é definitiva; para sempre com o Criador no Reino original.

Entendido a necessidade de avançarmos, de deixar a multidão no plano exterior de nossas adesões, é preciso termos cautela e tolerância conosco mesmo, pois o processo de autoconhecimento que deve ser o norteador deste avanço, nos conduz com toda certeza à identificação da multidão mais difícil, a que existe dentro de nós mesmos, aquela que segundo o apóstolo Tiago nos leva a ser tentado, quando atraído e engodado pela própria concupiscência.

Não podemos esquecer que não nascemos ontem, ou seja, somos espíritos milenares que há muito tempo optamos por evoluirmos numa linha de ascensões e quedas, construindo, assim, um "Zé ninguém" herdeiro de um passado terrível. Portanto, se hoje queremos ter uma atitude diferente mais condizente com nossas necessidades espirituais, ainda somos influenciados por nossas próprias atitudes passadas que estão mais próximas do erro e das paixões.

Este conflito íntimo foi magistralmente percebido por Paulo de Tarso quando em sua carta aos Romanos nos alerta:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.

Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço.

E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.

De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.

Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.

Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.

Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.

Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.

Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus.

Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.

Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?

Todavia não desanimemos, a multidão que nos impede de deixar a multidão é transitória por não ser criação divina nem ser herança natural; quando a vida nos propõe um esforço no sentido do progresso, é sempre uma oportunidade de criarmos uma nova história, hábitos novos que vão sendo pouco a pouco incorporados em nosso modus vivendi e que vão substituindo nosso estado anterior.

Quando em nossa angustia pedimos aos Céus um guia e modelo, os habitantes das esferas superiores nos disseram ser Jesus o maior entre todos os outros. Temos em nossas mãos Sua Boa Nova repleta de consolo, de alegria, e de exemplos. Por que então não seguirmos aqueles que à nossa frente perceberam a maravilhosa oportunidade de redenção e de reencontro contida em sua mensagem?

Ouçamos, deste modo, o Mestre a falar na acústica de nossa alma:

Eu sou Jesus… não recalcitre contra os aguilhões.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Arrependei-vos


Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. - João Batista (Mateus, 3: 2)

 
Tem-se pregado nas igrejas a necessidade do neófito cristão se batizar, pois assim fez João Batista preparando a todos para o Reino dos Céus.
Entretanto é preciso considerar que o grego metanoeo, em português "arrepender", tem o sentido de "mudar a mente", e esta mudança mental leva a novas atitudes, diferentes das anteriores. Trata-se de uma mudança radical, pois o sentido é mudar a mente para melhor, é uma ação que tem uma finalidade moral.
Deste modo, se desejamos estar com Jesus e fazer parte de sua equipe de trabalho, é preciso antes estar com João e transformar o nosso modo de ser. Muitas vezes falamos assim, "todo mundo faz por que é que eu não vou fazer também?" "todo mundo aproveita da situação por que é vou ser diferente?"
Se desejamos o Reino dos Céus é preciso fazer diferente, mudar a mente… esta é mensagem do Batista.

domingo, outubro 10, 2010

Morrer Uma Só Vez

E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento… (Hebreus, 9: 27)

Este versículo da carta de Paulo aos hebreus tem sido muito usado pelos adversários da ideia da reencarnação para condená-la. Dizem eles que claramente está escrito no Novo Testamento que o homem morre apenas uma vez não sendo assim, admissível, a teoria palingenésica, pois esta contraria o texto do Evangelho.
Como em todos os textos sagrados é preciso interpretar e seguindo as orientações do próprio apóstolo dos gentios ficar com o espírito que vivifica ao invés de valorizar mais a letra que mata.
Não podemos dissociar nenhum versículo das escrituras do contexto em que eles estão inseridos, se assim fizermos corremos o risco de desfigurarmos a ideia original de seu autor, portanto faz-se imprescindível ver o que Paulo queria dizer aos seus leitores naquele momento.
Segundo Emmanuel esta carta foi escrita pelo próprio Paulo, ao contrário do que dizem os estudiosos do assunto, e mais, que muitas vezes ele era visto escrevendo em lágrimas, pois escrevia com o coração, dedicando-a a seus irmãos de raça fazendo vê-los que Jesus era o Messias prometido nas Escrituras Hebraicas e que era inclusive superior a Moisés.
Nos capítulos oito e nove desta carta nosso Paulo faz uma relação entre a primeira aliança feita por Deus com Moisés e a nova aliança, a definitiva, feita por Deus com o homem através do próprio Cristo, mostrando a todos a superioridade desta última.
Paulo sabia que o objetivo último do Espírito era entrar na intimidade de Deus através do tornar-se perfeito. E coerente com esta ideia, ele mesmo, dezenove séculos depois volta através da mediunidade e diz que "Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade."
Assim, ele faz ver a seus leitores que o ritual realizado pelo sumo sacerdote ao entrar no Santo dos Santos uma vez por ano é um símbolo do que deveria ser a comunhão do Espírito com Deus. Diz ele:

Há nisso um símbolo para o tempo de agora.
Mais à frente ele diz sobre os ritos e os sacrifícios da primeira aliança:
Portanto, se as cópias da realidade celestes são purificadas com tais ritos, é preciso que as próprias realidades celestes sejam purificadas com sacrifícios bem melhores que estes! Cristo não entrou no santuário feito por mão humana, réplica do verdadeiro, e sim no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor. E não foi para oferecer-se a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote que entra no Santuário cada ano com sangue de outrem. Pois se assim fosse deveria ter sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas foi uma vez por todas, agora, no fim dos tempos, que ele se manifestou para abolir o pecado através de seu próprio sacrifício.
Neste ponto, dando sequência à sua exposição é que ele afirma:
E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento, Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão.
Deste modo vemos que a mensagem de Paulo é muito mais profunda do que supomos após uma leitura rápida do texto. Morte para ele, aliás como em quase sempre em toda literatura bíblica, não tem o sentido de cessação da vida física, de desencarnação, como muitas vezes tratamos o assunto.
Esta morte, a da desencarnação, tem importância restrita, pois ela é apenas parte do processo. Trata-se de morte biológica quando o objetivo da mensagem cristã é a vida eterna do Espírito.
A morte a que Paulo se refere é a morte gerada pelo pecado, e aqui podemos ver também a morte do homem velho cheio de viciações para que em Cristo nasça uma Nova Criatura.
O apóstolo diz através deste texto e também de outros de sua belíssima inspiração, que antes de Jesus éramos um, mortos pelo pecado, após o Cristo operar em nós, outro, possuidor da Vida Eterna.
Toda a literatura bíblica nos mostra a necessidade do sacrifício para agradar a Deus; o Converso de Damasco vem mostrar-nos que este era o entendimento por se referir a uma cópia da realidade celeste, mas que a verdadeira realidade celeste exigiria algo mais, o sacrifício de si mesmo. E que por ser praticante do rito simplesmente exterior o sumo sacerdote fazia isto todo ano e nunca tinha o verdadeiro acesso a Deus; como a missão de Cristo era reestabelecer definitivamente a conexão com o Pai ele tinha de ensinar um processo definitivo de estar na Presença de Deus, que era o de doar de si mesmo pelo plano aplicativo do Evangelho, este o verdadeiro significado da aliança pelo sangue do cordeiro. Só assim, seria reestabelecida a Vida, esta a mensagem.
Assim, ao dizer é um
fato que os homens devem morrer uma só vez, o apóstolo está a dizer que nós só morremos uma vez, isto é, quando nos afastamos de Deus pelo "pecado", que nada mais é que o desvio de Sua Lei. Quando pelo processo de redenção compreendemos a lição e elegemos o Evangelho como norma de vida e aderimos ao Cristo definitivamente, neste momento adquirimos a Vida Eterna e não morremos mais, nem mesmo reencarnaremos mais, por termos atingido aquela condição de Espírito Puro e atingido a meta finalística da Perfeição.
Concluindo temos que, morrer uma só vez é o símbolo da queda consciencial pelo nosso afastamento do Campo de Deus; o que uns chamam de infração da Lei Divina e outros de pecado. Após este momento vem o juízo, ou julgamento, em grego krisis,que representa bem o projeto evolucional que leva o Espírito à sua recomposição íntima pelo aperfeiçoamento moral.
Não esqueçamos que o vocábulo krisis pode também ser traduzido por "justiça", ou seja, após o erro que nos distanciou do Criador vem a justiça que é o mesmo que a Lei que nos leva à evolução.
Assim, podemos melhor compreender que o autor de Hebreus em nada quis defender a ideia da unicidade da existência com o versículo em epígrafe, mas dizer que como Cristo, se nos ajustarmos ao Plano de Deus, não teremos mais a necessidade de morrer novamente pois teremos a Vida Eterna, mas se como o sumo sacerdote insistirmos apenas em sacrifícios exteriores, ou na ilusão da vida material, o que ele definiu como cópia da realidade celeste, ainda teremos que nascer, morrer e renascer muitas vezes, esta é a Lei.
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Referências:
XAVIER, Francisco Cândido / Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª Ed. Rio de Janeiro: FEB. 2004, 2ª parte, cap. 10.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB. 1980, Questão 1009
Hebreus, 9: 9
Hebreus, 9: 23 a 26
Id., Ib., 27 e 28

quarta-feira, setembro 29, 2010

Gálatas 1 1 a 9

Paulo, apóstolo, não da parte dos homens nem por intermédio de um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai que o ressuscitou dentre os mortos; e todos os irmãos que estão comigo: às igrejas da Galácia.
A graça e a paz vos sejam dadas por Deus Pai e Nosso Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados a fim de nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai. A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém
Admiro-me que tão depressa abandoneis aquele que vos chamou pela graça de Cristo, e passeis a outro Evangelho. Não que haja outro, mas há alguns que vos estão perturbando e querendo corromper o Evangelho de Cristo.
Entretanto, se alguém – ainda que nós mesmos ou um anjo do céu – vos anunciar um Evangelho diferente do que vos tenho anunciado, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, volto a dize-lo agora: se alguém vos anunciar um Evangelho diferente do que recebeste, seja anátema.
Paulo, apóstolo, não da parte dos homens nem por intermédio de um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai que o ressuscitou dentre os mortos; e todos os irmãos que estão comigo: às igrejas da Galácia.

Jesus tinha estado entre os homens determinando o início de uma nova era através de sua proposta reeducativa de cunho eminentemente espiritual.
Usando o alimento fornecido pelos judeus representado pelos cinco livros da Torá, o aperfeiçoou propondo uma Lei Amor, muito mais ampla e completa, pois revelava-nos o Criador em uma nova dimensão: Misericórdia.
Entretanto, os líderes religiosos da época não o compreenderam, e mesmo entre os convertidos ao cristianismo houve uma tendência à permanência do cultivo dos rituais e das formalidades exteriores.
Paulo visitara a Galácia na sua segunda e terceira viagem missionária, segundo depreendemos de Atos, 16: 6; 18: 23.
Anunciou aos gálatas o Evangelho (cf. Gl, 4: 13) e foi não só compreendido, como também muito bem recebido.
Todavia certos cristãos judaizantes incitam os fiéis da Galácia a uma dissidência, dizendo a estes que eles não se salvariam a não ser se observassem os ritos e cerimônias cultivados pelos judeus, em especial a circuncisão; e mais, diziam que Paulo não tinha autoridade como os discípulos que participaram dos colégio dos doze, seu Evangelho não estava de acordo com o dos apóstolos primeiros, e sua doutrina tinha sido recebida de homens.
Talvez por isso estas saudações (Vers. 1 a 5) sejam em tom mais seco e sem louvores a seus leitores, pois Paulo vê a necessidade de rapidamente esclarecer estes quando à verdadeira autoridade dada a ele não por homens, mas pelo próprio Cristo, conforme consta do livro Atos dos Apóstolos, 9: 15.
Jesus o tinha chamado diretamente na estrada de Damasco, e dito a Ananias que ele, Paulo, era um instrumento de escol ou um vaso escolhido para levar os seus ensinamentos para as nações pagãs, aos reis, e aos próprios filhos de Israel.
Assim, já nos primeiros movimentos desta carta, Paulo faz ver a todos quem ele era, vindo de quem, e porquê. Fora chamado por Jesus, diretamente, e Jesus era o Enviado Máximo e representante autêntico do próprio Deus; então, por que descrer de Paulo?
A palavra apóstolo refere-se a um título de origem judaica quer dizer enviado, do grego apostoloi que traduz o hebraico shelihims.
No texto evangélico refere-se aos doze (Mateus, 10: 2), ou em sentido mais amplo a todos missionários do Evangelho. Paulo se enquadra perfeitamente na condição de apóstolo.
Após este ligeiro comentário histórico avancemos nosso entendimento buscando os dia de hoje…
Muitos espíritas têm tentado nos dias atuais subtrair a autoridade do Espírito Emmanuel para questões doutrinárias e de ciência. Dizem estes colegas de fé, que Emmanuel vai muito bem quando se propõe a aconselhamentos na área da moral, mas que em matéria de doutrina e de ciência apresenta importantes contradições.
Felizmente não são muitos os que assim pensam, mas são em número considerável, e muitos, sérios estudiosos da letra espírita.
É preciso analisar com lógica e bom senso. Não se trata de mitificar o Espírito Emmanuel, mas vejamos…
A codificação espírita é fruto de rigorosa programação e de participação importante da espiritualidade superior, aliás, é doutrina dos Espíritos.
Kardec deu os primeiros passos e estabeleceu princípios e metodologia eficiente com que os seus seguidores puderam avançar doutrinariamente, pois a doutrina espírita é evolucionista.
Algumas décadas depois, surge no Brasil a mediunidade de Francisco Cândido Xavier que não só confirma Kardec, como na prática amplia as informações sobre o mundo invisível.
A obra do médium mineiro é de tal importância que hoje podemos falar em espiritismo antes e depois de Chico Xavier.
O Espírito Emmanuel deixou claro já nas primeiras comunicações, que se qualquer mensagem sua contradissesse Kardec ou Jesus, que deveríamos esquece-lo e ficar com Kardec e com Jesus, porém, isso não aconteceu nos princípios fundamentais da doutrina, pois Emmanuel é dentre os Espíritos que se manifestaram na Pátria do Cruzeiro, um dos que melhor conhece a obra do mestre lionês, e o maior exegeta do Evangelho que temos notícia.
Basta para confirmar o que estamos dizendo, fazer o seguinte raciocínio; a obra espírita, como já dissemos, é fruto de programação dos Espíritos superiores orientados pelo Espírito Verdade.
Tendo em vista que Emmanuel é o guia espiritual do médium Xavier,e sabedores que somos da importância da obra vinda através de sua mediunidade, poderia a espiritualidade superior destacar para a missão de dirigir a obra deste iluminado médium, um Espírito que não fosse preparado para tal?
A obra espírita é ciência, filosofia, e traz-nos também um conteúdo de profunda religiosidade; portanto, na escolha de um Espírito que tivessem a missão de coordenar a implantação desta filosofia riquíssima no ambiente planetário, não poderia ser escolhido um Espírito que fosse falho em quaisquer destes aspectos.
Daí concluímos, que se a obra de Chico Xavier, importante como é, teve a orientação de Emmanuel, é porque este tem autoridade dada pelo Espírito Verdade para tal, e como Paulo pôde dizer – aliás Paulo é orientador espiritual de Emmanuel como podemos depreender de obras confiáveis da literatura espírita -, ser servo de Cristo Jesus, chamado para apóstolo, escolhido para o Evangelho de Deus[1]; do mesmo modo tem esta autoridade o Espírito Emmanuel, autoridade dada não por homens, nem por intermédio de um homem, mas por Jesus Cristo, e Deus Pai…

A graça e a paz vos sejam dadas por Deus Pai e Nosso Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados a fim de nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai. A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
 
Paulo inicia a saudação a seus leitores da Galácia com o desejo sincero de graça e paz para todos. E graça e paz segundo Deus e o entendimento de Jesus o Cristo.
Já neste início Paulo coloca o que pensava a cerca da missão do Cristo. Ele viera libertar-nos de nossos erros e desvios –pecados. E para que isso acontecesse, qual foi a posição de Jesus? Entregou-se a si mesmo.
Aqui temos duas colocações importantes que devem ser por nós meditadas. O que significa Jesus nos libertar de nossos pecados? E o que é entregar-se a si mesmo?
De quem eram os pecados? Ou seja, quem eram os pecadores? A resposta está no próprio texto: “nós.” Portanto, a libertação destes por Jesus não significa que Ele por ser a autoridade máxima de nosso orbe, tenha o poder de tirar com as mãos os nossos erros. Não é esse o sentido. Jesus nos liberta, a partir do fato de que Ele revelou para nós os instrumentos que se fizéssemos uso nos libertariam. Fomos nós quem desviamos do caminho, deste modo, só nós podemos a ele retornar.
Para isso é preciso em primeiro lugar reconhecer o erro e saber nossa verdadeira situação (autoconhecimento). Não são poucas as vezes em que insistimos no erro por achar que estamos corretos e somos “os tais” da evolução.
A partir do reconhecimento é preciso fazer uso de outra virtude lembrada por Jesus, a vontade. Só de posse do desejo sincero de mudar podemos transformar-nos como se faz necessário. E mudar que dizer deixar posições cômodas, em que já estamos acostumados, e aceitar o desafio do novo com restrições do que até agora era para nós importante.
Aí é que entra outro passo importante, a atitude. Nada conseguimos realizar se não partirmos efetivamente para o campo das ações. Existem projetos belíssimos em todas as áreas, que infelizmente não saem do papel, todos nós conhecemos vários destes. E o projeto mais importante de nossa vida não pode ficar parado em nenhuma prancheta esquecida: o de nossa transformação moral.
Neste ponto é importante avaliar o “como” fazer representado pela atitude de Jesus: entregou a si mesmo.
Já dissemos, o objetivo maior de Jesus era o da nossa educação moral. Ele nos ensinou que, se o objetivo é importante não devemos medir esforços para sua realização; assim, Ele entregou a si mesmo para que se realizasse o seu projeto educativo.
Devemos compreender que Jesus não necessitava passar pelo que passou, se Ele assim fez, era para dar exemplo. Ele não ia deixar as Esferas Superiores em que habitava, e vir até nós à toa, assim, tudo o que fazia ou falava, nos mínimos detalhes, era para ensinar; em todos os seus passos ou palavras há ensinamentos vários, em tudo há exemplo a ser seguido como condição para nossa libertação.
Portanto, nesta entrega de si mesmo há importante lição.
Ao traçar um objetivo, e por isso devemos avaliar bem qual é o nosso objetivo em tudo o que realizamos, devemos a ele nos entregar de corpo e alma, não foi isso que fez o Cristo?
No decorrer da análise desta carta, vamos comentar sobre a importância da fé no processo reeducativo do Espírito, pois este é um dos temas principais deste texto que ora estudamos.
O que é fé senão fidelidade a uma proposta escolhida? O que é fé senão adesão a esta proposta? E indo mais além, existe fidelidade e adesão sem entrega total de nós mesmos?
Portanto, o ato de entregar-se (a si mesmo) para a realização do objetivo maior, como Jesus fez, deve ser a nossa primeira meditação a respeito do ato de termos ou não fé. Sem fé não há como obter iluminação espiritual; e nós, estamos dispostos a vivenciar a fé a partir da entrega total de nós mesmos?
A proposta da evolução como sendo a realização da vontade de Deus tem sido por nós sempre comentada em outros textos, por isso não vamos aqui nos estendermos para não repetirmos em demasia. Mas é isso que Paulo quer dizer quando nos afirma que esta entrega de si mesmo por parte de Jesus era para realizar a Vontade de Deus, nosso Pai.
Resta-nos ainda uma palavrinha sobre a nossa libertação deste mundo mau.
Em última instância podemos afirmar que Deus não cria mundos físicos como chegamos a supor um dia. Isso é tarefa para os Espíritos superiores conforme depreendemos dos textos da codificação espírita.
Deus cria Espíritos, e determina uma Lei para que estes possam estar em harmonia com Ele, e se, se desarmonizarem possam a Ele retornar em glória.
Deste modo, em se tratando do mundo exterior em que nos encontramos, nos achamos de acordo com a condição que criamos. Estamos no ambiente que melhor se faz para o atendimento de nossas necessidades reeducativas, portanto, se ele nos parece mau, é porque ainda há maldade em nós.
Jesus ensinou-nos que o Reino de Deus está em nós, que ele não vem com aparência exterior, e podemos acrescentar que o inferno é do mesmo modo. Assim, se estamos nesta ou naquela posição vibratória é questão pessoal e de escolha paraticular, e a nossa libertação deste mundo mau, perverso, diz respeito só a nos mesmos.
Não esqueçamos do que já dissemos e do que já vem sendo dito há dois mil anos, Jesus trouxe para nós os instrumentos de nossa libertação, já nos capacitou para tal, portanto, cabe exclusivamente a nós, fazendo uso de nossa vontade, realizá-la.
Quando isto se der, será a glória Dele, por ter-se cumprido todo o projeto de nossa evolução, neste momento teremos vencido a necessidade dos séculos e dos séculos, amém.

Admiro-me que tão depressa abandoneis aquele que vos chamou pela graça de Cristo, e passeis a outro Evangelho. Não que haja outro, mas há alguns que vos estão perturbando e querendo corromper o Evangelho de Cristo.
 
Como já comentamos, certo dia, Paulo recebeu a visita de alguns seguidores seus da Galácia, que comentavam que alguns elementos ligados ao judaísmo de Jerusalém, apesar de já convertidos à nova doutrina, vindos da parte de Tiago, estavam na nova comunidade dos gálatas, desenvolvendo uma oposição a Paulo, dizendo que o Evangelho ensinado por este não era o verdadeiro Evangelho do Cristo; o de Paulo era incompleto e não abordava a necessidade dos cristãos de adotar a lei mosaica.
Paulo surpreso e entristecido lembra aos neófitos da Galácia como foi que eles aceitaram bem os ensinamentos do Cristo que receberam por ele, e que se sentia admirado como que de uma hora para outra pudessem eles mudar de opinião a respeito não só dele, Paulo, mas o que era pior, a respeito dos ensinamentos evangélicos. Tinham eles sido chamados por Deus.
Aqui cabe ressaltar que a palavra Evangelho não se refere ao conjunto de livros que hoje conhecemos por este nome, neste tempo eles ainda não existiam na forma conhecida. Havia apenas os manuscritos aramaicos de Levi (Mateus), e provavelmente só as duas cartas aos Tessalonicenses escritas por Paulo.
Então, como entender aqui a palavra Evangelho?
É importante lembrarmos que tanto o que conhecemos por Novo Testamento, quanto por Antigo Testamento, antes de existirem em sua forma escrita existiram de forma oral; portanto, Evangelho aqui representa os ensinamentos de Jesus que foram disseminados entre os judeus, e a partir daquele momento também aos gentios, por seus seguidores mais próximos, entre eles Paulo, que como vimos tinha recebido sua missão diretamente de Jesus.
Os gálatas tinham aceitado rapidamente a essência da mensagem cristã que lhes fora ensinada por Paulo, então, por que agora estavam voltando atrás?
Não existe outro Evangelho, dizia o apóstolo, compreendia ele que a mensagem do Cristo era única e essencialmente espiritual, tudo o que fosse exigência da forma a manter necessidades de aparência, era exclusivamente de origem humana. Paulo foi sem dúvida alguma, entre os discípulos da primeira hora, um dos que melhor compreendeu a profundidade da mensagem do Meigo Rabi Nazareno.
Ele mostra que estes elementos na realidade estavam querendo desvirtuar a mensagem e corromper o Evangelho, seja por ignorância, ou pelo que for. Era preciso que os discípulos da Galácia praticassem a lição do vigiai estando atentos para o discernimento necessário.
Hoje a coisa se dá do mesmo modo, estejamos, portanto, atentos. Há no meio espírita, mesmo com toda a gama de conhecimento que esta doutrina nos felicita, elementos que querem desvirtuar a mensagem cristã do Espiritismo como Kardec entendia que fosse; e querem até mesmo, alguns, dissociar a Doutrina do Evangelho.
Não esqueçamos a verdadeira posição do Codificador, quando em O Livro dos Médiuns nos afirma claramente que o verdadeiro espírita é o espírita cristão, por ser cristã a essência da mensagem espírita. Emmanuel vai mais além; segundo este iluminado Espírito, espiritismo sem Evangelho é nau sem rumo, é pura expressão fenomênica sem a verticalização necessária que nos conduz ao objetivo maior de iluminação própria.
Podemos ainda transcender mais dizendo que, do mesmo modo que o ensino oral antecede a lição escrita, o Espírito é anterior à matéria e as conquistas daquele devem ser prioritárias em relação às desta.
Quando desejamos avançar sob a ótica de espiritualidade a retaguarda que ainda grita em nós tenta de toda forma perturbar corrompendo nosso estado de alma superior. É o homem velho, que no texto está representado pelos judaizantes, que não conseguindo mais deter o avanço do que é espiritual busca diminuir nossas conquistas e subverter nossos valores essenciais. Há necessidade nestes momentos de vigilância e oração, pois se até em nossa intimidade temos estas dificuldades, o que não poderemos então dizer no que diz respeito às pessoas com quem convivemos?
Não nos enganemos, só há um Evangelho, o do Bem, e é a este que devemos seguir.

Entretanto, se alguém – ainda que nós mesmos ou um anjo do céu – vos anunciar um Evangelho diferente do que vos tenho anunciado, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, volto a dize-lo agora: se alguém vos anunciar um Evangelho diferente do que recebeste, seja anátema.
 
Para Paulo o mais importante, o que está acima de tudo, é o Evangelho; é a essência da mensagem deixada pelo Cristo. Portanto, afirma ele, se alguém, seja quem for, até mesmo ele ou um anjo do céu, não importa quem, contradisser o Evangelho, seja este excluído como mensageiro do Senhor. Não ele como pessoa, mas a idéia que defende. Em sua primeira carta aos coríntios[2] deixa claro que mesmo estes serão redimidos no Dia do Senhor. Portanto, é a mesma idéia veiculada por Jesus, não devemos condenar aquele que erra, mas o erro.
Paulo estava assim, ensinando aos gálatas, como a todos os cristãos, que não importa quem traz o ensinamento, o que vale é a qualidade deste. Para que possamos avaliar, tenhamos sempre por norma o cerne da mensagem de Jesus, que para nós, particularmente, está no Sermão do Monte. Assim, dizemos, se contraria o Sermão do Monte, tenhamos cuidado, se está de acordo com o que o Cristo proclamou no iluminado texto narrado por Mateus, sigamo-lo com dedicação.
A mesma norma vale hoje para nós os espíritas que sempre estamos a avaliar mensagens que nos são trazidas por espíritos diversos. Se estiverem coerentes com o ensinamento de Jesus e com a Codificação Espírita, não façamos oposição, todavia, se houver contradição com a moral espírita cristã, avaliemos melhor, pois nem todos os Espíritos são mensageiros de Deus conforme já nos alertava o discípulo amado em sua primeira epístola.
Para mostrar a gravidade daquele que usa do próprio Evangelho para contrariar o que Jesus realmente ensinou – e isso é mais comum do que possamos supor – Paulo usa uma forte expressão: seja anátema.
No antigo Testamento esta expressão deriva do hebraico herem que significa que toda presa de guerra deveria ser sacrificada e atribuída a Deus, era um ato religioso, uma regra da guerra santa, que cumpre uma ordem divina (Bíblia de Jerusalém, pág., 344). No Novo Testamento representa uma maldição que se volta sempre contra aquele que age contrariamente à Lei de Deus. Devemos entendê-la como uma reprovação enérgica, aqui no caso, a todo aquele que contraria o Evangelho, e em especialmente o que usa do próprio Evangelho para justificar suas posições de interesse pessoal.

[1] Cf.  Romanos, 1: 1
[2] 1 Coríntios, 5: 5

Extraído do Livro "O Evangelho de Paulo" (A publicar)

sexta-feira, julho 02, 2010

MATEUS, 24: 7 A 14



Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. 8 Mas todas essas coisas são o princípio das dores. 9 Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome. 10 Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. 11 E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. 12 E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. 13 Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. 14E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.

Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino … - Nação é um agrupamento humano, mais ou menos numeroso, cujos membros, geralmente fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos ou linguísticos. Reino é uma monarquia governada por um rei, regente, rainha, etc.
Trazendo para o campo íntimo, podemos colocar nação como representando nossos sentimentos mais sedimentados, e reino como os valores passageiros que cultivamos. Os reinos são normalmente mais suscetíveis de mudança, basta cair um rei para que, muitas vezes a monarquia fique comprometida, entretanto a nação continua sendo a mesma.
Neste momento predito pelo Cristo como final de ciclo, analisando o campo íntimo, vamos observar - mesmo entre aqueles sentimentos que já cultivamos a mais tempo e que julgamos estarem em um bom patamar em termos morais -, uma tendência a um conflito, como dissemos anteriormente, pois a evolução é infinita, e a cada nova conquista, nossa consciência realiza uma aferição própria selecionando o que devemos continuar cultivando, e o que devemos mudar. Nestes dias haverá guerras, rumores de guerras, lutas entre nações e reinos no plano exterior, mas tudo isso como consequência destas lutas interiores; aliás, são estas que importam serem analisadas, pois resolvendo as inquietudes íntimas, tudo o mais será devidamente administrado e compreendido. Esta mensagem é a mesma que está contida no dizer do Mestre:

Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
A espada aqui dizendo-nos não do instrumento cortante que fere o próximo, mas daquele que leva-nos à luta contra nossas próprias imperfeições.
…e haverá fomes, e pestes…Fome significa carência de alimento, miséria, falta do necessário; peste é doença contagiosa, epidemia. Ambas significam para o Espírito momentos de grandes dificuldades, de dores, de testes sem os quais ele não pode passar de uma etapa evolutiva a outra. Por isto são características destes dias de transição.
Tanto a fome, quanto a peste têm sua gênese na imperfeição moral, pois se não houvesse o desequilíbrio gerado por ela, não haveria a necessidade do resgate e dos ajustes provocados pelos momentos de calamidades. É a ira no dia da ira de que nos fala Paulo:
Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus
Ou de outra forma, a Lei de Deus nos dando a oportunidade do encontro com as nossas próprias obras.
Nestes dias de grandes aferições reconheceremos que o grande alimento de que temos necessidade é aquele dito pelo Mestre no capítulo 4 do Evangelho de João:

Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
É deste alimento que temos grande fome, e por causa disto estamos sujeitos a pestes de todas as espécies.
…e terremotos, em vários lugares. – Se o tremor de terra no plano exterior é algo que nos atormenta pelas consequências advindas dele, no plano íntimo é ainda pior. A falta de segurança gerada pelo afastamento do Ser das Leis Divinas é algo que aterroriza o Espírito onde quer que ele esteja, em vários lugares… Pois o Deus presente quer manifestar-se, e impossibilitado pelas ações contrárias ao bem, gera na consciência uma angústia só superada, quando restabelecida a paz do dever cumprido, ou da volta aos caminhos do Senhor.

…mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu (…) este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

Mas todas essas coisas são o princípio das dores.

Mas todas essas coisas… - Todas essas coisas são as situações enfrentadas pela criatura no plano de sua evolução, haverão de acontecer estas narradas por Jesus, e muitas outras; só aquele que passa pela situação é que sabe a dor e a alegria de ser o que é.
…são o princípio das dores. – Segundo o Professor Pastorino a tradução correta é o princípio das dores do parto, não simplesmente dores. Segundo ele, o termo grego arché ôdinôn exprime uma dor que tem, como resultado, um evento feliz, um avanço, uma criação física ou mental.

Desta forma, a interpretação que estamos fazendo, está coerente com o dizer de Jesus; ou seja, as lutas necessárias que marcam este momento de transição, sejam no plano íntimo ou exterior, são motivos de alegria, pois, como a dor do parto, é prenúncio de um nascimento; do novo homem em bases renovadas por uma moral superior.

Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome.

Então,… - Como consequência. A transformação de uns, gera, por inveja ou incompreensão, a insatisfação de outros.
…vos hão de entregar para serdes atormentados… - O Ser menos evoluído não consegue por sua natureza, e pelo seu grau de entendimento, saber o que move aquele que é mais espiritualizado a agir, buscando valores, que para ele são incompreensíveis; desta forma, não entendendo condena. Julga que, aquele que age diferente de si, e também da maioria, é um alienado, e chega a taxá-lo até mesmo de deficiente mental. E quando este, mais espiritualizado, consegue atrair a atenção de outros, fazendo-os ver a realidade da vida, ele sente-se ameaçado, e como, por ter lutado pelo poder transitório, o conseguiu, usa-o para fazer sofrer aquele que lhe opõe; atormenta-o, jogando contra ele toda a multidão, que por achar-se também em condição inferior, do mesmo modo não o entende, fazendo-o desta forma, passar por momentos de dor e sofrimento.
…e matar-vos-ão… - Buscarão eliminá-lo. Como para eles só o que é físico importa, tentarão de toda forma sacrificá-lo fisicamente. Assim agindo, pensam ficar livre da incômoda posição; não sabem que a Lei é justiça, mais cedo ou mais tarde estarão defronte da mesma necessidade, só que aumentada; e também desconhecem, que extirpando o físico, fortalecem o espiritual; o que vai por vias indevidas, volta ainda mais soberano.
…e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome. – Aquele que age visando as questões espirituais – por causa do meu nome -, pratica a Sabedoria, opõe-se aos valores do mundo. Assim, é por ele odiado, isto é, por todas as gentes. É que agir em nome do Cristo, é viver como ele viveu, ou seja, amando acima de todos os limites, não valorizando em nada, o que é transitório. Em um tempo que só a riqueza dava poder, Ele disse:

Bem aventurados os pobres
Bem aventurados vós, que agora tendes fome…
Bem aventurados vós, que agora chorais…
Por isso Ele foi taxativo:
Sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome.
E isto aconteceu antes, aconteceu àquele tempo, e acontece hoje, nestes dias em que chamamos, final dos tempos.

Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão.


Nesse tempo…- É quando estas coisas acontecerem, é um tempo demarcado, exato: nesse.
Se no plano exterior elas aconteceram numa determinada época, e ainda acontecem, no plano íntimo vige em cada um de acordo com seu momento evolucional. Porém, serão sempre marcadas por dificuldades que visam, não simplesmente trazer sofrimento, mas testar cada um despertando a potência espiritual latente. É o aguilhão promovendo o progresso em bases espirituais.
…muitos serão escandalizados… - Muitos é indefinido, não se sabe quantos, mas não serão poucos, muitos significa em grande número. Serão escandalizados, isto é, ofendidos, melindrados, ou ainda, ridicularizados. É que nestes momentos, tudo vem à tona:

Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.
Serão escandalizados porque têm ainda algo a resgatar. Para que possamos passar de uma fase a outra, é preciso quitar o que ficou para trás; só nos é dado mais crédito, se liquidarmos com as antigas dívidas. Este é o ensinamento simbólico da virgem que deu à luz o Cristo; para que o Filho do Homem possa nascer em nós, é preciso nos fazer virgens, isto é, sem pecado.
…e trair-se-ão uns aos outros… - A traição é uma deslealdade praticada onde existe confiança, é uma quebra de contrato, um débito gerado de difícil quitação. Muitas vezes por um momento de invigilância, ou por um interesse obsessivo, geramos dores que serão resgatadas somente no desenvolver dos séculos, às custas de sofrimentos ainda maiores.
Como o instante – este predito por Jesus - é de definição, muitas amizades também serão testadas. Será o momento em que as falsidades aparecerão, e que muitos, para não perderem sua posição privilegiada no "mundo das coisas", lutarão contra seus próprios aliados, visando salvar o que julga ser seu. Assim, trair-se-ão uns aos outros, lutarão entre si; o pai estará dividido contra o filho, e o filho, contra o pai, a mãe, contra a filha, e a filha, contra a mãe, a sogra, contra sua nora, e a nora, contra sua sogra.
…e uns aos outros se aborrecerão. – Não será um aborrecimento unilateral, pois os interesses sendo contrários todos se sentirão incomodados. Do mesmo modo que o que está em atraso importuna o que vai adiante, este também perturba aquele.
Daí a necessidade da seleção, dos olhos de ver, pois todos os nossos sofrimentos foram gerados por nosso próprio proceder, e o aborrecimento que julgamos injusto, se analisarmos bem, tem sua razão de ser. O que é bom para nós hoje, terá de ser também amanhã, caso contrário, é melhor buscarmos outra situação.

E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.
 E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. – Mais uma vez Jesus nos convida à vigilância. Em versículo anterior, ele já nos dissera que muitos viriam em Seu nome dizendo ser o próprio Cristo, e que estes enganariam a muitos. Aqui ele nos alerta contra os falsos profetas, o que parece ser a mesma coisa, não é. No primeiro caso, aqueles que assim agem, demonstram uma certa imaturidade, pois tentam se passar pelo próprio Cristo, sendo desta forma mais fácil reconhecermos o engano, mas mesmo assim Jesus disse que enganariam a muitos. Aqui, a questão é mais sutil, estes se dizem profetas, podem na realidade fazer-se de mensageiros do Senhor, dizendo que pregam a mesma doutrina, tentando deste modo arrebanhar as massas. Só que Jesus diz serem estes, falsos profetas, e que também enganarão a muitos. Deste modo, tenhamos cautela, antes de nos vincularmos a qualquer pessoa, seita, ou nova filosofia; lembremos que importa-nos analisar não só as palavras daqueles que se dizem enviados, mas principalmente seus atos. Se em qualquer atitude contrariarem a Mensagem do Monte, ou os virmos agindo em interesse próprio, contra o bem geral, lembremos do alerta do Mestre:

Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos.
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.


E, por se multiplicar a iniquidade… - Iniquidade é uma ação contrária à equidade, ou à justiça.
Mesmo antes de Jesus, já nos ensinava o belo livro Eclesiástico:

Quando um homem é feliz, mesmo aquele que o odeia é seu amigo; na sua adversidade até o amigo desaparece.
Nos momentos de dificuldade que marcam estes "finais de tempos", a grande maioria das criaturas, por ainda não estarem familiarizadas com a vivência evangélica, tendem a defender somente os próprios interesses, desta forma, quando se veem privados de algo que valorizam, ou em alguma situação embaraçosa, esquecem as noções de justiça, e agem buscando impor-se pela força ou pelo poder de que dispõem. Tal atitude faz crescer a maldade, principalmente porque aqueles que detêm a autoridade, e que deveriam dar o exemplo de procedimento moral, são os primeiros a agirem de forma inequívoca, fazendo assim, como afirma o próprio Mestre, multiplicar a iniquidade.
Assim, temos hoje na humanidade:
A corrupção dominando corações tanto em cima, quanto em baixo;
A má distribuição de renda, fruto do amor não praticado, alimentando a violência e cerceando o processo educativo;
A pobreza e a fome caracterizando o nosso orbe, como ainda bastante atrasado.
…o amor de muitos se esfriará. – Tais acontecimentos criarão, entre aqueles que ainda não estão amadurecidos, ou entre aqueles que iniciam-se no caminho do bem, um mal estar que os levará a, em nome da justiça – que ainda não é a verdadeira – a agirem do mesmo modo; ou seja, a esquecerem o amor evangélico que ensina que em qualquer situação deve-se esquecer o mal e fazer somente o bem.
Por isso, Jesus afirma que o amor de muitos se esfriará, mas é preciso que levemos em conta, que tal só acontece com aqueles que ainda não possuem o amor verdadeiro que tudo releva.
A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho…
A caridade jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá.

Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.


Mas… – A conjunção mas, aqui expressa uma oposição ao que estava sendo dito. Haverá um esfriamento do amor de muitos, mas…; isto é, todavia…
Mostrando-nos, desta forma, que sempre há uma maneira de nos comportarmos positivamente; que se seguirmos o Evangelho, sempre nos daremos bem. Aliás, o que distingue o seguidor do Cristo das outras criaturas, é justamente o amor que ele manifesta mesmo quando atacado, ou, quando a situação não lhe é favorável de modo algum.
…aquele…– Não será qualquer um, mas aquele que agir do modo proposto.
…a cada um segundo as suas obras. É a particularidade do processo evolutivo.
…que perseverar até ao fim será salvo.Perseverar é manter-se firme e constante, persistir. Jesus aqui se refere àqueles que, mesmo sofrendo a iniquidade, mantêm-se no Bem, na vivência evangélica. É imperioso perseverar, porém nas boas atitudes.
Persistir, prosseguir, até quando? Até quando devo ser injustiçado e me manter equilibrado?
Jesus é taxativo: até ao fim; isto é, até vencermos a dificuldade que ainda impera em nossa intimidade. Não podemos esquecer, que se algo ainda nos incomoda, se ainda nos sentimos injustiçados, é porque, de uma forma ou de outra ainda achamo-nos vinculados ao problema. Quando vencemos a situação, ela não mais nos perturba.
Será salvo, isto é, se libertará. Será salvo, porque superou a dificuldade, porque trocou o mal pelo bem, porque mudando de atitude, fez-se merecedor de algo melhor.
Não há magia no desenvolvimento da vida, muito menos imparcialidade ou protecionismo, se alguém consegue algo, é porque fez jus; se, se libertou é porque venceu a etapa proposta.
A partir desta compreensão, Jesus deixa de ser o salvador de fora para dentro, passando a ser o que indica o caminho por já tê-lo percorrido; na realidade, será salvo aquele que perseverar até o fim, ou seja, a própria criatura, cristianizando-se, é que se salva.

Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.
E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.


E este evangelho do Reino… - A palavra Evangelho vem do grego euangélion, que quer dizer boa nova, ou boa notícia. Ao dizer, este evangelho do Reino, Jesus falava da Doutrina que Ele ensinava; portanto, do mesmo modo que não podemos confundir o mapa com o território, ou a partitura com a música, não podemos entender por Evangelho, o livro, e sim o conteúdo do livro, ou ainda, a essência da mensagem. Esta mensagem é a do Amor Universal, não importa vestido de qual religião está, em qual tradução ou língua.
Toda vez que referirmos a uma moral coerente com a mensagem do Sermão do Monte, é deste Evangelho do Reino que estamos falando.
…será pregado em todo o mundo… - Será pregado ou proclamado a todas as pessoas, isto é, Jesus será reconhecido por todos e a Sua missão será finalmente entendida. Hoje, apenas uma parcela da humanidade conhece Jesus, mas haverá um momento em que todos O terão como Guia e Modelo.
No plano íntimo isto se dará quando definitivamente acolhermos em nosso interior, como verdade, a mansa e revolucionária Notícia trazida pelo Meigo Rabi da Galileia. Aí, todo o nosso mundo íntimo estará renovado, e como consequência, o exterior também modificará, e para melhor.
… em testemunho a todas as gentes…
- Aqui, Jesus dá-nos a forma correta de divulgar o Seu Evangelho: em testemunho a todas as gentes, ou seja, testemunhando o que se prega, vivenciando a mensagem libertadora, simplesmente sendo coerente. E para que ele seja "pregado em todo o mundo", a vivência tem de ser com todas as gentes, sem acepção de pessoas, de credos ou de cor. Não é só, sermos cristãos com aqueles que comungam nossos ideais não, é principalmente praticar a caridade com os que nos são desafetos, com os que pensam diferente, com aqueles que de nós mais exigem.

Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
…e então virá o fim. – Todos os acontecimentos estão dentro da Ordem Natural, sendo assim, tudo tem o seu tempo; começo, meio e fim. O fim só vem quando é chegado a hora, ou, depois do começo e do meio.
Anteriormente analisamos a expressão fim do mundo, conforme anotado pelo evangelista no versículo três deste capítulo, como sendo fim de um tempo, ou de um ciclo. Este tempo só chegará ao seu final quando já tiver cumprido o seu papel diante da vida, tudo acontece desta forma. Ora, o objetivo da Vida é nos impulsionar para adiante; despertar de nosso interior, o espiritual que lá existe. Ao dizer que o fim se dará quando o Evangelho for pregado em todo o mundo, Jesus quer justamente dizer, que só quando estivermos amadurecidos o suficiente, e vivenciando plenamente Seus Ensinamentos, é que seremos promovidos a uma nova etapa, então virá o fim, não do mundo, mas do nosso mundo ainda egoísta, mesquinho e pessoal.

Se hoje, com toda a evolução das leis sociais, sair em defesa dos menos favorecidos gera problemas, imagina o que não aconteceu há dois mil anos?

(Extraído do livro "O Sermão Profético", Editora Itapuã)